Pensamento computacional
Pensamento Computacional é o processo de pensamento envolvido na formulação de um problema e na expressão de sua solução de forma que um computador — humano ou máquina — possa efetivamente realizar.[1] Diferentes definições e enfoques para o termo podem ser encontradas na literatura e um robusto corpo de pesquisas está em desenvolvimento em diferentes lugares do mundo.
Recentemente, o Pensamento Computacional, juntamente com os eixos Mundo Digital e Cultura Digital foram inseridas na Base Nacional Comum Curricular.[2]
O pensamento computacional é um processo iterativo baseado em três estágios (capturados pela figura à direita):
- Formulação do problema (abstração);
- Expressão da solução (automação);
- Execução da solução e avaliação (análise).
A história do pensamento computacional remonta, pelo menos, à década de 1950, mas a maioria das ideias é muito mais antiga.[3] O termo "pensamento computacional" foi usado pela primeira vez por Seymour Papert em 1980[4] e novamente em 1996[5]. Mas, lendo o artigo "Twenty things to do with a computer" de Seymour Papert e Cynthia Solomon, escrito no ano de 1971[6], pode-se perceber que as ideias do Pensamento Computacional já existiam, porém não tinham sido denominados com esse termo [7]. O pensamento computacional pode ser usado para resolver algoritmicamente problemas complexos e é frequentemente usado para realizar grandes melhorias na eficiência.[8]
Visão Geral[editar | editar código-fonte]
As características que definem o pensamento computacional são decomposição, reconhecimento de padrões / representação de dados, generalização/abstração e algoritmos.[7][9][10] Decompondo um problema, identificando as variáveis envolvidas utilizando representação de dados e criando algoritmos, uma solução genérica é produzida. A solução genérica é a generalização ou abstração que pode ser utilizada para resolver diversas variações do problema inicial. A expressão pensamento computacional foi colocada em evidência na comunidade de ciência da computação como o resultado de um artigo da ACM Communications escrito por Jeannette Wing. O artigo propõe que o pensamento computacional seja uma competência fundamental para qualquer pessoa, não somente para cientistas de computação e argumenta sobre a importância da integração do pensamento computacional em outras disciplinas.[11]
De acordo com Raabe, o simples fato de ensinar a programar não garante o desenvolvimento de habilidades relacionadas ao Pensamento Computacional nos estudantes. Ele defende que deve ocorrer uma mudança nos hábitos e métodos de ensino, baseando-se no Construcionismo, de maneira a permitir que o estudante utilize a computação como forma de compreender e modelar os problemas que vivencia, passando a ser o protagonista de sua aprendizagem [12][13]
Pensamento computacional no ensino fundamental[editar | editar código-fonte]
O pensamento computacional deveria ser parte essencial da educação de crianças e jovens.[11] Entretanto, desde as primeiras afirmações nesse sentido a integração do ensino do pensamento computacional no ensino fundamental e médio (K-12) sofreu diversas mudanças, incluindo a convergência em torno da definição de pensamento computacional.[14][15] Atualmente o pensamento computacional pode ser definido como um conjunto de competências cognitivas e o processo de resolução de problemas que inclui (mas não limitado a) as seguintes características:[15][16]
- Organização lógica e análise dos dados
- Divisão do problema em partes menores
- Abordagem do problema utilizando técnicas de pensamento programático, como iteração, representação simbólica e operações lógicas
- Reformulação do problema em uma série de etapas ordenadas (pensamento algorítmico)
- Identificação, análise e implementação de possíveis soluções com o objetivo de alcançar a combinação mais eficiente e efetiva de etapas e recursos
- Generalização deste processo de solução de problemas para uma grande variedade
Atualmente a integração do pensamento computacional ao currículo do ensino fundamental e médio tem sido realizada de duas formas: diretamente em aulas de computação ou por meio do uso do pensamento computacional em outras áreas. Professores de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) tem incluído o pensamento computacional no conteúdo de suas aulas, possibilitando os alunos praticarem competências relacionadas a resolução de problemas, tais como tentativa e erro[17][14]. Entretanto, Conrad Wolfram argumenta que o pensamento computacional deve ser ensinado como um assunto distinto[18]. A BNCC prevê o aprendizado de rudimentos do Pensamento Computacional integrado à disciplina de Matemática, possivelmente devido às fortes relações[19] que há entre ambas as áreas. Exemplos estão disponíveis no Currículo de Referência em Tecnologia e Computação.
Recursos sobre pensamento computacional[editar | editar código-fonte]
Existem diversas instituições que disponibilizam materiais sobre o pensamento computacional, como currículos, ferramentas e outros recursos para formar estudantes com o pensamento computacional, análise e resolução de problemas antes que eles entrem na universidade. Um dos mais importantes é Carnegie Mellon Robotics Academy, que oferece treinamento para professores e alunos. Outra fonte importante também é o legoengineering.com.[20]
No Brasil diversas iniciativas têm promovido o pensamento computacional, como o Pensamento Computacional Brasil, ExpPC e a Computação na Escola, onde podem ser encontrados materiais e relatos de experiência para ajudar a implantar nas escolas brasileiras e o Guia do Pensamento Computacional que organiza os principais artigos, ferramentas e currículos sobre o tema.[21][22][7]
Críticas[editar | editar código-fonte]
O conceito de pensamento computacional tem sido criticado por ser muito vago e por raramente ser possível diferenciá-lo de outras formas de pensamento.[3][23] Alguns cientistas se preocupam com a promoção do pensamento computacional como um substituto de um ensino mais abrangente de ciência, pelo fato do pensamento computacional representar somente uma pequena parte da área.[24] Outros ainda se preocupam de que a ênfase no pensamento computacional possa encorajar cientistas da computação a pensar de maneira muito fechada e limitada sobre os problemas que eles podem resolver, esquecendo das implicações sociais, éticas e ambientais da aplicação das tecnologias que eles criam.[25][3]
Referências[editar | editar código-fonte]
- ↑ Wing, Jeannette (2014). «Computational Thinking Benefits Society». 40th Anniversary Blog of Social Issues in Computing
- ↑ Computacional (2022). «Computação na Educação Básica». Consultado em 11 de julho de 2022
- ↑ a b c Tedre, Matti; Denning, Peter J. (2016). «The Long Quest for Computational Thinking». Proceedings of the 16th Koli Calling Conference on Computing Education Research (PDF). [S.l.: s.n.]
- ↑ Papert, Seymour. Mindstorms: Children, computers, and powerful ideas. Basic Books, Inc., 1980.
- ↑ Papert, Seymour (1996). «An exploration in the space of mathematics educations». International Journal of Computers for Mathematical Learning. 1. doi:10.1007/BF00191473
- ↑ PAPERT, S.; SOLOMON, C. Twenty things to to with a Computer. Educational Technology Magazine, 1972. Disponível em: <http://www.stager.org/articles/twentythings.pdf>
- ↑ a b c Brackmann, Christian (2017). Desenvolvimento do Pensamento Computacional Através de Atividades Desplugadas na Educação Básica (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
- ↑ Computational thinking:
- Repenning, A.; Webb, D.; Ioannidou, A. (2010). «Scalable game design and the development of a checklist for getting computational thinking into public schools». Proceedings of the 41st ACM technical symposium on Computer science education - SIGCSE '10. [S.l.: s.n.] 265 páginas. ISBN 9781450300063. doi:10.1145/1734263.1734357
- Guzdial, Mark (2008). «Education: Paving the way for computational thinking» (PDF). Communications of the ACM. 51 (8). 25 páginas. doi:10.1145/1378704.1378713
- Wing, J. M. (2008). «Computational thinking and thinking about computing». Philosophical Transactions of the Royal Society A: Mathematical, Physical and Engineering Sciences. 366 (1881). 3717 páginas. Bibcode:2008RSPTA.366.3717W. doi:10.1098/rsta.2008.0118
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- Exploring Computational Thinking, Google.com
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- What is Computational Thinking? CS4FN at CS4FN
- The Sacramento Regional CPATH Team has created a Think CT website with information on CT developed by this NSF-funded project. Arquivado em 31 agosto 2011 no Wayback Machine
- A short introduction to Computational Thinking by the Open University
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CT is a problem solving process...
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