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Prática

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Prática é um conceito amplo que reúne diversos significados, sempre relacionados ao ato de realizar, executar ou aplicar conhecimentos na realidade. Em contraste com a teoria, embora complementar a ela, a prática representa o campo do concreto, do que se faz e se experimenta. Pode designar tanto a execução objetiva de uma ação, como a prática de um exercício, de um procedimento ou mesmo de um crime. Refere-se também a um hábito consolidado, refletido em costumes sociais ou modos comuns de agir.

A prática também se manifesta como exercício regular de atividades que exigem envolvimento físico, mental ou ambos. É pela repetição e pelo uso constante que habilidades são aperfeiçoadas: aprende-se a tocar um instrumento, melhora-se a escrita, fortalecem-se músculos pelo treino e desenvolvem-se capacidades desde a infância, quando a criança passa a pronunciar e escrever palavras com crescente domínio. Assim, a prática constitui um processo contínuo de aprendizado que transforma conhecimento em competência.

Na Sociologia, o termo prática refere-se às ações sociais concretas realizadas pelos indivíduos e grupos dentro de determinados contextos históricos, culturais e estruturais. Essas práticas não são apenas comportamentos isolados, mas expressões de normas, valores, relações de poder e hábitos coletivamente construídos.

Prática para Bourdieu

Bourdieu  descreve as práticas sociais como regularidades objetivas, isto é, como ações que apresentam padrões reconhecíveis e estabilidade ao longo do tempo. Contudo, essa regularidade não deve ser confundida com obediência consciente a normas ou regras explícitas. As práticas não derivam de um cálculo racional nem de um conjunto de prescrições formalizadas que os agentes consultam antes de agir. Ao contrário, elas são produzidas por disposições incorporadas ,o habitus,  que orientam a percepção, a avaliação e a ação de modo pré-reflexivo. Isso permite que as práticas pareçam “reguladas” e “coerentes” sem serem resultado de um ato deliberado de seguir normas.

Da mesma forma, essas práticas mostram-se ajustadas a objetivos,  elas parecem eficazes, apropriadas e orientadas a certos fins. No entanto, esse ajuste não depende de um “apontamento consciente aos fins” nem de um domínio explícito das operações necessárias para alcançá-los. Os agentes não elaboram planos estratégicos detalhados e tampouco dominam racionalmente as etapas que suas ações deveriam seguir. Ainda assim, suas práticas produzem efeitos que, do ponto de vista sociológico, são funcionalmente consistentes. Trata-se, portanto, de uma racionalidade prática.

Essas práticas são coletivamente orquestradas sem serem produto da ação coordenada de um maestro. Agentes que compartilham condições sociais semelhantes incorporam disposições parecidas e, por isso, agem de formas convergentes, sem jamais terem combinado explicitamente tais ações. Essa “harmonia sem maestro” explica por que grupos inteiros apresentam padrões culturais, educacionais, econômicos e simbólicos semelhantes sem que exista qualquer coordenação intencional entre seus membros. A convergência é produzida pela socialização e pela posição ocupada no espaço social, não por um planejamento consciente.

Para Bourdieu, a  prática emerge da articulação entre habitus e estruturas objetivas. O que parece resultado de regras ou planos é, na verdade, produto de disposições incorporadas e historicamente formadas, sendo  uma ação estruturada, mas não mecânica; orientada, mas não racionalizada; coletiva, mas sem coordenação explícita.

BOURDIEU (1977, p. 72) afirma:

“…objectively ‘regulated’ and ‘regular’ without in any way being the product of obedience to rules, objectively adapted to their goals without presupposing a conscious aiming at ends or an express mastery of the operations necessary to attain them, and, being all this, collectively orchestrated without being the product of the orchestrating action of a conductor.”

…objetivamente “reguladas” e “regulares” sem de modo algum serem o produto da obediência a regras, objetivamente adaptadas a seus objetivos sem pressupor uma intenção consciente de fins ou um domínio explícito das operações necessárias para alcançá-los e, sendo tudo isso, coletivamente orquestradas sem serem o produto da ação orquestradora de um maestro.

Referências

  • Equipe editorial de Conceito.de. (29 de Julho de 2012). Atualizado em 16 de Outubro de 2020. Prática - O que é, conceito e definição. Conceito.de. https://conceito.de/pratica Consultado em 10 de novembro de 2025
  • BOURDIEU, Pierre. Outline of a Theory of Practice. Translated by Richard Nice. Cambridge: Cambridge University Press, 1977. (Cambridge Studies in Social Anthropology, 16).
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