Procissão do Senhor dos Passos da Graça
A Procissão do Senhor dos Passos da Graça, organizada pela Real Irmandade da Santa Cruz e Passos da Graça[1], é uma das mais antigas e importantes procissões religiosas que se realiza anualmente na cidade de Lisboa, em Portugal, no segundo domingo da Quaresma. A procissão realiza-se ininterruptamente desde 1587.
O cortejo público, entre a Igreja de São Roque e o Convento da Graça, faz a memória do trajecto percorrido por Jesus durante a Paixão, parando em sete passos que correspondem a alguns dos episódios do caminho doloroso de Cristo entre a sua condenação à morte no Pretório e o Calvário: Igreja de São Roque ("Jesus é condenado à morte e pregado na Cruz"), Igreja da Encarnação ("Jesus cai sobre o peso da Cruz"), Igreja de São Domingos ("Jesus encontra a Mãe", onde se junta à procissão o andor de Nossa Senhora da Soledade), Ermida de Nossa Senhora da Saúde ("Jesus consola as mulheres de Jerusalém"), Passo do Terreirinho na Rua dos Cavaleiros ("Verónica limpa o rosto de Jesus"), Casa de São João de Brito na Calçada de Santo André ("Jesus é ajudado por Simão de Cirene a levar a Cruz") e Igreja da Graça ("Jesus é crucificado, morto e sepultado").[2][3] O percurso da procissão reproduz a extensão da Via Dolorosa, em Jerusalém.
História
[editar | editar código-fonte]A Procissão do Senhor dos Passos da Graça terá tido início com a iniciativa de Luís Álvares de Andrade, pintor régio, de instituir uma irmandade de devoção à Santa Cruz em 1586: com o seu crescimento e grande distinção dos seus irmãos, institui-se o hábito da realização da procissão dos Passos. Diz Jorge Cardoso no Agiológio Lusitano que fora o próprio arcebispo D. Miguel de Castro, acompanhado de Luís Álvares, que terá definido nas ruas do percurso da procissão os locais onde haviam de ser as estações dos Passos.[4]
Entre 1910 e 2013, a Procissão passou a realizar-se num percurso mais pequeno, confinada à freguesia da Graça, em consequência das perseguições à Igreja realizadas durante a 1.ª República, tendo-se mantido dessa forma ao longo do século XX e início do século XXI. Deste período ressalva-se a excepção de 1987, pelos 400 anos da Irmandade. Em 2013, coincidindo com um período de renovação dos recursos humanos da irmandade, foi retomada a 'Procissão Grande', com o percurso original entre a igreja de São Roque e a Igreja da Graça.[5]
Em 2021, em virtude da pandemia provocada pelo Covid-19, a procissão, que deveria ter saído à rua no dia 28 de fevereiro não se realizou pela primeira vez em 434 anos. De acordo com as instruções da Conferência Episcopal Portuguesa, a Exma. Mesa Administrativa da Irmandade decidiu realizar uma cerimónia reservada a um reduzido grupo, tendo sido presidida pelo Bispo Auxiliar de Lisboa, D. Américo Aguiar, tendo sido transmitida pela via digital e pela rádio[6]. No final da Missa, o Senhor D. Américo Aguiar realizou a tradicional bênção à cidade. A cerimónia contou com a presença de S.E. o Senhor Presidente da República, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.[7]
Recuperação do Passo de Santo André
[editar | editar código-fonte]A Real Irmandade de Santa Cruz e Passos concretizou a 6 de Agosto de 2019 a aquisição do Passo de Santo André, no Largo Rodrigues de Freitas, à empresa Topázio Temático, Lda., recuperando a sua posse 107 anos após a sua perda. Nesta capela, inserida na muralha Fernandina e na casa onde nasceu São João de Brito, realiza-se o 6º Passo da Procissão do Senhor dos Passos da Graça, nesta passagem, Jesus é ajudado por Simão de Cirene a levar a Cruz.
A escritura de aquisição foi realizada por um valor simbólico de mil euros, estando a irmandade representada pelo seu Provedor, Francisco de Mendia, e a empresa vendedora pelos seus sócios.[8]
A recuperação do Passo de Santo André era uma ambição muito antiga da irmandade, que havia perdido a sua posse numa batalha judicial com a proprietária do edifício em 1912. Após essa data, o edifício teve vários proprietários, tendo acabado na posse da Câmara Municipal de Lisboa. No ano de 2014, a CML decidiu vender o edifício, mas salvaguardou em reunião de Assembleia Municipal de 29 de Julho de 2014 o usufruto da capela para a Real Irmandade.
O Passo de Santo André foi restaurado e reinaugurado no dia 8 de Março de 2020 por S.E.R. o Senhor Cardeal D. Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa e Aio do Senhor dos Passos, durante a Procissão do Senhor dos Passos. O Passo foi alvo de um profundo restauro, tendo a irmandade encomendado uma pintura ao Arq. João de Sousa Araújo com o tema da leitura que ali é realizada - encontro de Jesus com as mulheres de Jerusalém.[9]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Senhor dos Passos da Graça, Lisboa
- ↑ Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa. «Procissão do Senhor dos Passos da Graça "De São Roque até à Graça"». Consultado em 8 de Março de 2020
- ↑ Morgado, Miguel (13 de Março de 2017). «Esta procissão sai à rua há 430 anos. E, desta vez, também o cidadão Marcelo se fez ao caminho. Veja as imagens». Sapo24. Consultado em 9 de Março de 2020
- ↑ Garcez, Costa (1962). «Culto lisboeta: Duas procissões tradicionais em Lisboa». Revista Municipal. XXIII (95): 41-51. Consultado em 9 de Março de 2020
- ↑ «Procissão do Senhor dos Passos, em Lisboa, faz o percuso original 25 anos depois». TSF. Consultado em 8 de Março de 2020
- ↑ «Pela primeira vez em 434 anos, a Procissão do Senhor dos Passos não sai à rua — mas haverá bênção à cidade de Lisboa»
- ↑ «Cerimónia do Senhor dos Passos da Graça 2021». senhorpassosgraca.blogs.sapo.pt. Consultado em 17 de março de 2021
- ↑ «Real Irmandade dos Passos da Graça recupera posse do Passo de Santo André após 107 anos da sua perda». senhorpassosgraca.blogs.sapo.pt. Consultado em 17 de março de 2021
- ↑ «Procissão do Senhor dos Passos da Graça 2020». senhorpassosgraca.blogs.sapo.pt. Consultado em 17 de março de 2021