Sintaxe Diacrônica/Sintaxe Histórica
Sintaxe Diacrônica
[editar | editar código-fonte]AUTOR: Leonardo de Oliveira Schneider (UFSC) — (outros artigos)
Disciplina relacionada à Linguística Histórica, a Sintaxe Histórica se volta ao estudo de fenômenos linguísticos de mudança e variação em nível morfossintático, ou seja, no espectro da ordenação estrutural/sintática dos constituintes em uma sentença.
Em algumas pesquisas, pode aparecer também sob a terminologia de Sintaxe Diacrônica, em menção à metodologia que carrega consigo e à dicotomia entre sincrônico e diacrônico de Saussere (1926)[1]. Nesse sentido, diacrônico condiz à comparação entre diferentes recortes contextualizados de um sistema linguístico, ao passo que o sincrônico reduz-se a um mesmo recorte, para investigar a mudança em dada língua natural.
Arcabouço Teórico
[editar | editar código-fonte]Advinda do gerativismo, é importante ressaltar que a preocupação maior para esta disciplina é o fator da aquisição da linguagem sobre as mudanças e como elas podem influenciar na variação em nível discursivo/estilístico, quando o falante passa a optar por uma ou outra forma linguística disponíveis a si no uso cotidiano em diferentes contextos linguísticos.
Dentre os axiomas teóricos e metodológicos que a entornam, estão:
- Teoria de Principios e Parâmetros;
- Modelo de Competição Gramatical;
- Hipótese de Efeito de Taxa Constante;
- Teoria da Aquisição da Linguagem.
Logo, pode-se sintetizar o teor desta disciplina como sendo a intenção de investigar estruturas anteriormente permitidas nas línguas naturais e posteriormente limitadas, bem como as antes inexistentes e em novos tempos categóricas/frequentes para argumentar a questão da mudança paramétrica, em que novas possibilidades gramaticas são geradas em novos falantes em fase de aquisição e passam a vigorar em ascensão na língua enquanto antigas formas categóricas passam a mirar o desuso. Logicamente, dentre os fatores extralinguísticos que mais importam para a condição destas pesquisas, como os sociais, históricos e econômicos, está o tempo e sua influencia sobre questões intralinguísticas.
Fenômenos Linguísticos na Língua Portuguesa
[editar | editar código-fonte]Dentre alguns dos fenômenos de mudança linguística mais investigados no português, estão:
- Inversão de sujeito;
- Interpolação de grupos clíticos;
- Topicalização e fronteamento;
- Contração de grupos clíticos;
- Variação entre próclise e ênclise;
- Sujeito nulo e objeto nulo.
Problema Metodológico[1]
[editar | editar código-fonte]O principal problema metodológico para os estudos em sintaxe de um ponto de vista histórico-evolutivo, segundo Paixão de Souza (2001), é realmente a questão da intuição dos falantes, pois essa linha teórica não lida somente com dados expressos em documentos, mas também, e principalmente, com os julgamentos dos falantes sobre que estruturas devem ou não ser veiculadas em determinados contextos.
Melhor ilustrando: um problema central para a sintaxe diacrônica é justamente um dos fatores que mais importam — o tempo —, pois; se só se tem acesso à escrita dos falantes e a língua escrita em si é mais conservadora do que a falada, como acessar a intuição por meio dos registros de sentenças que não nos denotam o traço discursivo que permeou em dado momento seus juízos discursivos? Trata-se de uma questão que vem sendo muito discutida nos campos teóricos que entornam a disciplina e que, como parte de uma metodologia qualificável, livre de certezas e/ou absolutismos, necessita de leituras mais aprofundadas para uma melhor compreensão paralela à interpretação por parte do leitor. Para tanto, ficam as indicações de leitura na bibliografia que segue.
Referências
- ↑ PAIXÃO DE SOUZA, Maria. Introdução às Ciências da Linguagem: Linguagem, História e Conhecimento. 2001.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- GALVES, Charlotte; NAMIUTI, Cristiane; PAIXÃO DE SOUSA, Maria Clara. Novas perspectivas para antigas questões: A periodização do português revisitada. In: A. Endruschat, R. Kemmler, B. Schäfer-Prie. (Org.). Grammatische Strukturen des europäischen Portugiesisch: Synchrone und diachrone Untersuchungen zu Tempora, Pronomina, Präpositionen und mehr. Tübingen: Calepinus Verlag, 2006.
- GALVES, Charlotte. Periodização e competição de gramáticas: o caso do português médio. LOBO, Tânia; CARNEIRO, Zenaide; RIBEIRO, Silvana; SOLEDADE; Juliana, p. 74 – 88, 2012.
- GIRÓ, José. El cambio lingüístico: sus causas, mecanismos y consecuencias. Síntesis, 2015.
- JUBRAN, Clélia et al. (Ed.). Gramática do português culto falado no Brasil. Editora Unicamp, 2009.
- KROCH, Anthony; CAVALCANTE, Silvia. Mudança sintática. Working Papers em Linguística, v. 22, n. 2, p. 23 – 61, 2021.
- MACKENZIE, Ian. Language Structure, Variation and Change: The Case of Old Spanish Syntax. Palgrave Macmillan, 2018, ISBN 9783030105662. p. 10 – 21 et. 23 – 73
- MARTINS, Marco et al. Análise diatópico-diacrônica dos clíticos em jornais brasileiros dos séculos XIX e XX e especificidades da escrita em Santa Catarina. In: MONGUILHOTT, Isabel de Oliveira e Silva et al. (org.). Aspectos sócio-históricos e linguísticos do português escrito em Santa Catarina nos séculos XIX e XX. Florianópolis: Editora UFSC, 2021. Cap. 7. p. 247–274.
- MARTINS, Marco. A Sintaxe dos Pronomes Pessoais Clíticos na História do Português Brasileiro. In: Castilho, A. T.; Morais, Maria A. T.; Cirino, Sonya; et al. História do português brasileiro — Vol. VI: mudança sintática do português brasileiro: perspectiva gerativista. Editora Contexto, 2018. p. 152–208.
- MARTINS, Marco; CAVALCANTE, Silvia.; COELHO, Izete. Ordem do sujeito e colocação de clíticos na escrita brasileira dos séculos XIX e XX: reflexos da gramática do Português Brasileiro. Cadernos de Estudos Linguísticos, v. 62, p. e020005-e020005, 2020.
- PARCERO, Lúcia. Português Arcaico: movimentos de constituintes, variação e mudança linguística. 2016.
- SANTOS, Carlos; NAMIUTI, Cristiane. O fronteamento do objeto direto na diacronia do português europeu. Working Papers em Linguística, v. 22, n. 2, p. 105-117, 2021.
- SILVESTRE, Juan. Sociolingüística histórica. Madrid: Gredos, 2007.