Tratado de Granada (1500)

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O Tratado de Granada, assinado em 11 de novembro de 1500, foi um tratado secreto entre Fernando II de Aragão e Luís XII de França, no qual concordaram em dividir o Reino de Nápoles.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Após a morte de Carlos IV de Anjou em 1481, a reivindicação angevina para o Reino de Nápoles passou para Luís XI, depois para seu filho Carlos VIII de França em 1483. Embora Carlos tenha conquistado Nápoles com relativa facilidade na Guerra Italiana de 1494-1495, após seu retorno à França, Fernando II de Nápoles rapidamente recuperou seu reino. Fê-lo com o apoio do seu parente distante Fernando II de Aragão, que como governante do vizinho Reino da Sicília via a expansão francesa no sul da Itália como uma ameaça. Em setembro de 1496, Fernando de Nápoles foi sucedido por seu tio Frederico.[1]

Carlos morreu em abril de 1498 e suas reivindicações sobre Nápoles e o Ducado de Milão foram assumidas por seu sucessor, Luís XII. Ciente da hostilidade causada pelas ambições francesas na Itália, em julho de 1498 Luís renovou a Paz de Étaples de 1492 com a Inglaterra e assinou um tratado confirmando as fronteiras francesas com a Borgonha. Em agosto, assinou o Tratado de Marcoussis com Fernando de Aragão; embora não tenha abordado as disputas territoriais pendentes entre os dois países, concordou que os dois países "têm todos os inimigos em comum, exceto o Papa".  Depois de capturar Milão em 1499, Luís retornou à França e iniciou negociações com Fernando de Aragão, oferecendo-se para dividir o reino de Nápoles entre os dois.[2][3]

Ao fazer isso, Luís esperava evitar uma guerra cara enquanto também contava com a ajuda de Fernando contra Frederico, seu parente e aliado de longo prazo. O acordo foi assinado por Luís em Chambord em 10 de outubro, depois por Fernando em Granada em 11 de novembro. Foi mantido em segredo, embora as duas partes tenham notificado o Papa Alexandre VI, que aprovou a partição e reconheceu Luís como rei de Nápoles.[4]

Território[editar | editar código-fonte]

Divisões administrativas do Reino de Nápoles, 1454

Sob os termos do tratado, Luís adquiriu as regiões setentrionais do reino, incluindo o Abruzzo, a Terra di Lavoro, Gaeta e a própria Nápoles. Fernando recebeu as áreas do sul, notavelmente a Calábria, imediatamente adjacente à Sicília, a Terra di Bari e a Terra di Otranto, ambas agora parte da Apúlia (ver Mapa).[5]

No entanto, três distritos ficaram sem designação, o Basilicata, Principato e Capitanate. Com base na estrutura administrativa anterior, Fernando argumentou que os dois primeiros pertenciam à Calábria, enquanto o terceiro fazia parte da Apúlia, e assim se enquadravam em sua esfera de controle, uma reivindicação contestada pelos franceses. O mais importante dos três era o Capitanato, uma área em grande parte pastoril cujos impostos, ou dogana delle pecore, eram uma fonte primária de receita para o estado napolitano.[6]

O acordo foi severamente criticado por contemporâneos como Nicolau Maquiavel e historiadores modernos, que argumentam que Fernando já havia concordado em permanecer neutro no Tratado de Marcoussis de 1499. Convidar a Espanha para Nápoles, sem demarcar claramente a alocação desses territórios, só poderia funcionar em detrimento de Luís.[7]

Consequências[editar | editar código-fonte]

Os franceses e espanhóis rapidamente invadiram o reino no verão de 1501, especialmente porque o infeliz Frederico estava inicialmente convencido de que a força espanhola que desembarcou na Calábria estava lá para apoiá-lo. Em 24 de julho, o exército francês capturou Cápua e Luís decidiu usá-lo como um aviso do que os outros poderiam esperar se resistissem. Grande parte da cidade foi destruída, mulheres submetidas a estupros em massa e vendidas como escravas, enquanto as estimativas de mortos variavam de 2 000 a 4 000, ações que causaram consternação em toda a Itália.  A resistência desmoronou e, em agosto, Frederico entregou Nápoles aos franceses; foi enviado para o exílio na França, onde morreu em 1504.[8][9]

Com os espanhóis ocupados cercando Otranto, os franceses tomaram o controle das áreas disputadas e se recusaram a entregá-las. As tentativas de resolver a questão através da negociação falharam, em parte porque muitos da nobreza napolitana possuíam terras em ambas as partes do reino e não conseguiram chegar a um acordo sobre uma solução. No final de 1502, pequenas escaramuças entre os dois lados levaram a uma guerra em grande escala; no final de 1503, os franceses foram expulsos de Nápoles mais uma vez e Fernando assumiu o controle de todo o reino.[10]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Mallett & Shaw 2012, p. 32.
  2. Baumgartner 1994, p. 122.
  3. Mallett & Shaw 2012, p. 44.
  4. Romane 2020, p. 188.
  5. Rickard, J. «Treaty of Granada, 11 November 1500». Historyofwar.org. Consultado em 10 de março de 2022 
  6. Romane 2020, p. 206.
  7. Romane 2020, p. 177.
  8. Bowd 2018, p. 61.
  9. Romane 2020, p. 205.
  10. Mallett & Shaw 2012, pp. 68-69.

Fontes[editar | editar código-fonte]

  • Baumgartner, Frederic J (1994). Louis XII. [S.l.]: St Martin's Press. ISBN 0-312-12072-9 
  • Bowd, Stephen (2018). Renaissance Mass Murder: Civilians and Soldiers During the Italian Wars. [S.l.]: OUP. ISBN 978-0198832614 
  • Mallett, Michael; Shaw, Christine (2012). The Italian Wars: 1494–1559. [S.l.]: Pearson Education. ISBN 978-0-582-05758-6 
  • Romane, Julian (2020). The First and Second Italian Wars 1494-1504: Fearless Knights, Ruthless Princes and the Coming of Gunpowder Armies. [S.l.]: Pen and Sword Military. ISBN 978-1526750518