Usuário(a):Ricardo Camões Coutinho/Testes

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Dos seis filhos que o cavaleiro Vasco Fernandes Coutinho (vassalo régio e figura próxima da Corte de D. Fernando l) deixa quando falece, fruto do casamento com Beatriz Gonçalves Moura, notabiliza-se o primogénito, Gonçalo Vasques Coutinho(c. 1358 - d. 23 de Março de 1421) que, recebida a herança e após ter tomado como esposa D. Leonor Gonçalves de Azevedo, segue na peugada do pai ao canalizar a sua atenção para a Beira, onde o senhorio que seu pai possuía triplicará. Através da Chancelaria de D. Fernando podemos perceber o amplo património que foi acumulando. Ocorre entretanto a crise dinástica. Indeciso sobre quem apoiar, leva a sério a prudência, preocupação e conselho maternos que lhe sussurravam: “Filho com os necios e com os trigosos gaanham os homees. E nas cousas que som pera esguardar, sempre a trigança he os reis e os poderosos, muitas vezes cuidam d’acabar cousas de que ham gram desejo, e as vezes se lhe nom segue como elles desejam . Inteligentemente, Gonçalo Vasques apoiou o mestre de Avis nas cortes de Coimbra, o que lhe valeu a prazo amplas doações do futuro D. João I. O seu prestígio era notório, a sua preponderância regional também. Os inúmeros conflitos em que se envolveu e dos quais saiu com êxito, não apenas com o bispo e cabido de Lamego, mas também com os antigos padroeiros de S. Paio de Caria, com os moradores de Sernancelhe a propósito dos tributos sobre a caça, e com os da Cunha e Pachecos, evidencia-o. O ter chefiado os efectivos portugueses que alinharam na célebre Batalha de S. MarcosTrancoso em 29 de Maio de 1385, denota-o também, vitória que a linhagem trataria logo de reivindicar. Dir-se-ia da sua pessoa, na época em que viveu: “este senhor he homem grande he poderoso e não podem com ele alçar direito.” Além de Senhor do Couto de Leomil, era vassalo del Rei, foi seu conselheiro, Alcaide-mor de Lamego, Alcaide-mor de Trancoso, copeiro-mor da Rainha, 2º Marechal do Reino, fronteiro na comarca da Beira. Fora, sem sombra para dúvidas, um dos mais esforçados e corajosos cavaleiros de D. João I. Chefiou inúmeras frentes de batalha contra os castelhanos, obtendo como troféu, numa delas, a cidade.

Nascido, seguramente na segunda metade da década de 1360, vassalo régio e figura próxima da Corte de Fernando I, e Beatriz Gonçalves Moura, Gonçalo Vasques Coutinho é, pese embora a circunstância de ter sido um dos mais prestigiados comandantes militares do seu tempo, um herói cujos primeiros anos de vida permanecem totalmente desconhecidos em virtude do silêncio das fontes. Ainda assim, é legítimo pensar que, apesar das ligações paternas à região da Beira, o seu nascimento pode ter ocorrido no Alentejo, provavelmente na zona de Serpa e de Moura, de onde era oriunda a família de Beatriz Gonçalves Moura e onde o pai, Vasco Fernandes Coutinho, foi constituindo um importante núcleo patrimonial, em parte doado pelo rei. Uma outra possibilidade é a de ter nascido já na cidade de Évora, cuja Alcaidaria fora entregue por D. Fernando I a Vasco Fernandes Coutinho. Terá sido, pois, nesta região que passou os seus primeiros anos de vida e onde certamente terá começado a receber a educação marcial que faria dele um guerreiro de renome, seguindo, as pisadas do pai que se destacara, em 1369, na conquista de Monterrey. Mas o regresso de Vasco Fernandes Coutinho à Beira, onde recebera em 1374 o castelo e a terra de Penedono, era inevitável.

Com efeito, os Coutinho descendem de um couteiro, Estêvão Martins, que ascendeu à nobreza por casamento com uma dama da família Fonseca, D. Urraca Rodrigues, que era detentora do couto de Leomil. Dessa forma, Estêvão Martins tomou posse de algumas jurisdições nas terras do couto, cuja grandeza diminuta terá dado origem à alcunha “Coutinho”, com que passaram a ser conhecidos os seus descendentes.

É a partir do neto, Vasco Fernandes Coutinho (f. 1384), escudeiro de D. Pedro I, que a família progressivamente ascende até conseguir um lugar entre as principais famílias do reino.

É também o mesmo Vasco Fernandes Coutinho,que procurou reatar a relação dos seus antepassados com o mosteiro de Salzedas – uma sua tia bisavô, Sancha Vicente, fora aí tumulada –, o responsável por ter escolhido esse espaço cisterciense para panteão da linhagem, iniciando uma tradição familiar que perduraria no século XV. Assim sucedeu com a sua primeira mulher, Dona Beatriz Gonçalves de Moura, cujo funeral, em 1418, se transformou num verdadeiro acontecimento nacional, trazendo praticamente quase toda a corte ao mosteiro de Salzedas, testemunhando a importância social e política da linhagem. Ainda que frugal-mente, e ofuscado por notícias do primeiro ataque pelos mouros a Ceuta, o episódio ficou documentado por Gomes Eannes de Zurara, na Chronica do Conde D. Pedro de Meneses:

Elrey estava indo nos Paços da Serra … e tanto que o recado passou per Lisboa, logo os Infantes forom com Elrey. E por quan// quanto naquelle encejo se finara Beatris Gonçalves de Moura, que fora mulher de grandes parentes, e criados, easy a mayor parte da corte forom com ella, até que a pozerom no mosteiro de Salzedas, onde tem sua sepultura (ZURARA, 1792: 461-462)

Tal manifestação de solidariedade deve-se ao destaque que os Coutinho usufruíam na corte, com vários dos seus membros a ocupar cargos na casa da rainha: a própria Dona Beatriz fora aia de D. Filipa de Lencastre, tendo o filho, Gonçalo Vasques, ocupado o cargo de camareiro-mor, uma das filhas, Teresa, o de camareira-mor, encontrando-se outra das filhas, de nome Leonor, entre as cinco donzelas da rainha.

A actual configuração do castelo de Penedono remonta aos fins do século XIV, quando D. Fernando (1367-1383) incluiu a povoação no termo de Trancoso. Diante da intenção da edilidade de arrasar o Castelo de Penedono, os homens-bons desta vila insurgiram-se, logrando a sua autonomia. Esses domínios foram então doados a D. Vasco Fernandes Coutinho (Marialva), senhor do couto de Leomil, que fez reconstruir o castelo. Acredita-se que, no Castelo de Penedono, tenham nascido os filhos deste alcaide e, dentre eles: o primogénito, Vasco Fernandes Coutinho, 1º conde de Marialva, que integrou a malfadada expedição a Tânger (1437); e Álvaro Gonçalves Coutinho, o cavaleiro alcunhado Magriço, herói da narrativa dos Doze Pares de Inglaterra, imortalizado por Camões no Canto VI de Os Lusíadas; D. Isabel Coutinho esposa de Gomes Freire de Andrade, 3º senhor de Bobadela e André Gonçalves Coutinho.

No contexto da crise de 1383-1385, tendo falecido na Primavera de 1384 o alcaide de Penedono, Vasco Fernandes Coutinho, sucedeu-o na função o seu filho, Gonçalo Vasques Coutinho. Leal ao partido do Mestre de Avis, foi-lhe confiado, no início de 1385 o encargo de chefiar as forças do Porto que conquistaram o Castelo da Feira. Posteriormente, distinguiu-se, por mérito, na batalha de Trancoso (Maio de 1385), o que lhe valeu a promoção ao posto de marechal. Em 1377, Vasco Fernandes Coutinho é nomeado meirinho-mor nessa comarca, estabelecendo residência em Lamego e reforçando, assim, a sua influência e peso regional. E numa altura em que desempenha um papel cada vez mais importante, também o seu filho Gonçalo Vasques Coutinho que o terá acompanhado nesse regresso, começa a adquirir uma visibilidade crescente. De facto, em 1379 e por intercessão de Leonor Teles, que por esses anos patrocinou a realização de muitos outros casamentos nobres, casa com Leonor Gonçalves Azevedo, filha do prestigiado 1º Marechal do reino, Gonçalo Vasques Azevedo, recebendo então de Fernando I, em regime de morgadio, os reguengos de Rio Maior. Contudo, tal como o pai, também os seus interesses começam a orientar-se cada vez mais para a região beirã onde, naturalmente e enquanto primogénito, viria a herdar boa parte do património de Vasco Fernandes Coutinho. Sinais dos laços que então começa a consolidar nessa mesma região são, por um lado, o facto de em 1381 receber do rei Fernando I, a terra de Armamar e, por outro, a troca do património ribatejano que havia recebido em 1379, por outros bens fundiários localizados nas regiões de Lamego e de Viseu, como que preparando o seu regresso em força à zona de onde a sua família paterna era oriunda para assumir o lugar de seu pai na chefia da linhagem.

Sinal dessa autêntica passagem de testemunho é a circunstância de ter sido já Gonçalo Vasques Coutinho, que entretanto recebera o cardo de alcaide do Trancoso, a mobilizar e liderar as mesmas de seu pai no Verão de 1382, quando o monarca Fernando convocou a hoste régia para a zona do Alto Alentejo, a partir de onde pretendia avançar contra território inimigo e defrontar o exército castelhano em batalha campal. Apesar de Vasco Fernandes Coutinho se encontrar ainda vivo, mas muito provavelmente já bastante doente ou debilitado pela idade, virá a morrer nos finais de 1383, foi o seu filho, que na altura não passaria de um escudeiro, a apresentar-se ao rei em Évora, ao comando de perto de 150-200 lanças de cavalaria. Mas o que Gonçalo Vasques Coutinho não podia imaginar era que a chegada àquela cidade o poria de imediato em contacto com as tramas que assolavam a corte régia, designadamente com a conspiração urdida por Leonor Teles com o objectivo de fazer desaparecer dois dos seus principais opositores: o Mestre de Avis, D. João, e Gonçalo Vasques Azevedo, recentemente elevado à condição de marechal do reino. Com efeito, assim que o rei foi informado, segundo Fernão Lopes, através de cartas forjadas por iniciativa da rainha, dos planos do Mestre e do marechal que, alegadamente, planeavam traí-lo e bandear-se para Castela, ordenou a prisão imediata de ambos. Surpreendido pela notícia, Gonçalo Vasques Coutinho ainda terá chegado a sugerir ao seu sogro que fugisse. Contudo, com receio que o genro viesse a ser alvo de represálias e convicto da sua inocência, este recusa a proposta e deixa apenas que o acompanhe até ao alcácer de Évora onde deveria, tal como o Mestre João, ser executado. Acabarão, no entanto, por passar apenas um ou dois dias na prisão, sendo libertados por intercessão de diversos nobres, nomeadamente de João Afonso Telo e do conde Edmundo de Cambridge. Ainda que as fontes nada adiantem, é muito natural que, de Évora, Gonçalo Vasques Coutinho se tenha então reunido à hoste régia portuguesa que, nas imediações de Badajoz, se preparava para defrontar o exército de Juan I de Castela nas margens do Caia. Terá sido armado cavaleiro pelo rei, conforme era prática corrente antes das batalhas, concedendo essa dignidade a outros 24 escudeiros fidalgos, entre portugueses e ingleses. Contudo, após uma espera de duas semanas e em resultado da assinatura de um acordo de pazes entre os dois reinos, que viria, poucos meses depois, a dar origem ao Tratado de Salvaterra, a batalha campal para a qual Gonçalo Vasques Coutinho se preparara acabou por não ter lugar, pelo que é muito possível que tenha regressado à Beira logo que Fernando I, já bastante doente, desmobilizou as suas forças.

Na Batalha de Trancoso, essa que ocorreu no dia 29 de Maio de 1385, entre forças Portuguesas e Castelhanas. No contexto da crise de 1383-1385, ao final da Primavera de 1385, ao mesmo tempo em que D. João I de Castela invadia o país ao Sul, pela fronteira de Elvas, forças castelhanas invadiam a Beira por Almeida, passavam por Trancoso, cujos arrabaldes saquearam, até atingir Viseu, cidade aberta, também na ocasião saqueada e incendiada. Ao retornarem da incursão com o esbulho, saiu-lhes ao encontro o Alcaide do Castelo de Trancoso, Gonçalo Vasques Coutinho, com as forças do Alcaide do Castelo de Linhares, Martim Vasques da Cunha e as do Alcaide do Castelo de Celorico, João Fernandes Pacheco. Estando os dois primeiros fidalgos desavindos à época, o terceiro promoveu a reconciliação de ambos, e assim concertados, com os respectivos homens de armas e as forças que conseguiram arregimentar, fizeram os arranjos para o combate. De acordo com estudos que levaram afixar o feriado municipal em 29 de Maio, ocorreu o encontro entre as forças de Castela e as de Portugal, no alto da Capela de São Marcos, em Trancoso. A sorte das armas sorriu para os nacionais, que desse modo recuperaram as posses, alcançando a liberdade dos cativos. D.João I reúne o conselho, e ouvidas as varias opiniões divergentes, decide manter a ocupação de Ceuta. Para governador, sugere figuras como o Condestável Nuno Alvares Cabral, o 2º marechal do reino Gonçalo Vasques Coutinho, Martim Afonso de Melo. A ocupação de Ceuta era como uma pequena ilha crista "num mar muçulmano", que ao mínimo descuido atacariam os portugueses para reconquistar a cidade - fizeram-no em 1418 e 1419, sem sucesso.

Gonçalo Vasques Coutinho na posição de marechal do reino, obtivera da coroa a aldeia de Ervilhao, no termo de Pinhel, na qual viviam aproximadamente 20 homens. Tal poder sobre as terras levaram Gonçalo a exigir dos habitantes que aceitassem determinadas vontades proprias. Sucedia-se que, os moradores desta aldeia, opunham-se a que este fidalgo fosse seu vizinho, do que resultou, uma demanda que motivou uma sentença em que se proclamava que o Marecha nao gozasse do estatuto de vizinho. A referida sentença irritou de tal forma Gonçalo Vasques Coutinho que este tornou a vida impossivel aos de Pinhel e Ervilhão. Reza o documento que tal comportamento provocou o total despovoamento da aldeia, que ficou «herma» e para tal «meteoa toda em coutada lamçando em ella egoas e vacas.» Ao mesmo tempo ordenava ao seus homens que se algum morador de Pinhel fosse encontrado naquele couto pastando os seus rebanhos incorreria na multa de 6.000 soldos. Cansados, os moradores requeriam ao rei a indemnização no caso de seus pães e frutos serem danificados pelas éguas e vacas pertencentes aos dois fidalgos. Argumentaram que recebiam represálias por parte de Gonçalo Vasques Coutinho e seu filho Vasco Fernandes Coutinho(Marialva), portanto pedriam o levantamento da coutada, mas o infante D.Pedro, prudentemente respondeu que seria necessário obter informação do corregedor da Beira para confirmar se Gonçalo Vasques Coutinho possuía carta de D.João I para que pudesse fazer coutada, bem como as confirmações de D.Afonso V e D.Duarte. D.Pedro defenido por uma mentalidade senhorial ao dizer que «os fidalgos virem aa çidade he homrra e nobreza della, desde que non fazendo mal ou danos». Gonçalo Vasques recusou-se decididamente obedecer ao terminal foral. O que levou o rei a sentencia-lo.