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Impacto da Primavera Árabe na Europa

A Primavera Árabe e os movimentos de cidadãos que estiveram na sua origem, induziu a que na Europa, embora num contexto totalmente diferente, grupos de cidadãos se organizassem e mobilizassem através da internet e suas redes sociais, à semelhança da Primavera Árabe, em busca de mudanças políticas.

As razões que despoletaram as manifestações nos países árabes[editar | editar código-fonte]

É fácil identificar o que levou a que os árabes, inicialmente às dezenas de milhar e posteriormente aos milhões, saíssem às ruas clamando indignação, nas principais capitais do Médio Oriente e que conduziu à chamada Primavera Árabe. Há muito que era conhecida a governação vigente nestes países, uma monocracia/oligarquia ditatorial pautada pela falta de dignidade, oportunidade e liberdade, onde se verificavam claras violações de direitos humanos bem como a proliferação da corrupção. Até agora estas manifestações tiveram como repercussão o derrube dos regimes em quatro países: Tunísia, Egipto, Líbia e Iémen.

A internet como elemento mobilizador[editar | editar código-fonte]

O inédito nestas rebeliões de hostes jovens no mundo árabe em países há muito martirizados pela falta de voz não se prende com a existência inegável de motivos, nem pelo facto de um dos poderosos propulsores destas terem sido as brutais auto-imolações por parte de cidadãos comuns que partilhavam o mesmo sentimento de desespero da maioria da população mais jovem. O principal elemento inovador foi a forma como estas manifestações se organizaram e os meios utilizados para tal. Estes incipientes mas determinados movimentos tomam forma através da internet. Através desta eram expostos vídeos, depoimentos, fotos e vários materiais que denunciavam as atrocidades da governação até então vigente e por via desta partilha de informação foi possível sintonizar os conterrâneos, delineando manifestações de largo número e simultaneamente sensibilizar a opinião internacional para a real motivação dessa contestação.

Movimentos inspirados pela Primavera Árabe[editar | editar código-fonte]

Na Europa, instigadas pela coragem de expressão, organização e acção através da contestação em regiões reconhecidas pela falta de liberdade, as adormecidas aspirações dos jovens europeus, também elas desanimadas e frustradas pela conjuntura de precariedade e instabilidade económica, ganham fôlego. Apesar de bastante díspar da situação árabe, também a população europeia principalmente a mais jovem, bastante instruída a nível académico e bem informada, que domina tecnologias e meios informáticos, sente-se também ela insatisfeita com a realidade, não se sentido identificada com as políticas da classe governativa em geral e defrontando sérias dificuldades no que respeita à sua inserção no mercado laboral. Devido a esse facto emergiram então várias contestações em solo europeu, inicialmente em Portugal e Espanha, às quais se juntaram outros países europeus tais como o Reino Unido e a Grécia, e mesmo em países fora da Europa, como o caso do Canadá e dos Estados Unidos da América com o célebre acampamento frente a Wall Street.[1]

Portugal[editar | editar código-fonte]

Em Portugal, a geração mais jovem consciencializa-se da crise instaurada e de que as condições já por si precárias se iriam intensificar, caso o governo não apontasse reais soluções de mudança. Desta forma é criado na internet, através das redes sociais, um movimento apartidário, denominado por Geração à Rasca desvinculado de qualquer foro religioso e assumido como pacífico, no qual é redigido um manifesto adoptado posteriormente enquanto concertação inter-geracional na medida em que não exclui ninguém e apela sinteticamente a 3 questões importantes: qualquer governo deve validar-se enquanto actor que desempenhe funções de melhoria de vida dos seus eleitores, apresentando soluções às questões prementes e importantes; a necessidade da intensificação da acção da população, onde a acção democrática do cidadão não deve limitar-se ao exercício do direito de voto e que deve ser claramente mais interventiva, apelando à formação de associações e de movimentos de intervenção social; a terceira vontade trata-se de um conceito que se interliga com os dois anteriores e que se traduz no controle à corrupção através de fiscalizações públicas onde sejam simultaneamente apurados e expostos os verdadeiros beneficiários de todas as políticas aprovadas, que devem ser as populações.[2]

Ainda não houvera manifestação prática e já rios de tinta corriam na imprensa com vozes marcadamente contra ou a favor a este movimento.[3] O ambiente de descontentamento prolifera e após a manifestação de dia 12 de Março de 2011, que teve uma afluência eclética de larga escala nas principais cidades do país e da qual resultaram várias propostas com sugestões para melhorar a conjuntura da altura solicitadas aos próprios manifestantes intervenientes com o objectivo de entrega-las a quem de direito.[4] Após o inegável impacto desta manifestação outros movimentos do mesmo carácter germinam via internet.

Outros países europeus[editar | editar código-fonte]

Também importantes foram os protestos de 2011 na Espanha, criados a partir de uma plataforma digital apelidada de Real Democracia Ya, denominados por indignados pela impressa, tendo como referência o movimento árabe, mas mais concretamente o português, auto-denominando-se também eles apartidários reivindicam o fim da corrupção e bipartidarismo político e mais preocupação com a população e o impacto das políticas tomadas, exigindo soluções funcionais para as questões reais. A 15 de Maio de 2011 a primeira manifestação espanhola tivera lugar simultaneamente em várias cidades não só espanholas como também em Lisboa, Paris, Amesterdão, Londres entre outras. Posteriormente algumas delas metamorfosearam se em acampadas que serviram de palco a debates sobre os passos e medidas a tomar a seguir.

Consequências das manifestações[editar | editar código-fonte]

São várias as leituras que se podem fazer dos resultados práticos das manifestações que decorreram ao longo do ano de 2011.Posteriormente à primeira manifestação em Portugal por exemplo o governo da altura caiu e em Espanha nas eleições, ainda em 2011, o partido que na altura ocupava o poder perdeu as eleições. Face a esta situação as opiniões divergem ora sustentando que tudo se manteve igual na medida em que houve de facto uma apropriação destes movimentos pelos partidos opositores que assim encontraram um meio eficaz para obter e favorecer as suas próprias aspirações partidárias ora apresentado o aparecimento de novas organizações de participação pública como um poderoso reforço democrático e um inegável legado das contestações. Em Portugal, já no ano de 2012 acesas manifestações tiveram lugar realçando o descontentamento com o rumo e medidas impostas já pelo novo governo e consequentemente as agendas de manifestações sucedem-se e multiplicam-se.

A posição da Europa face à Primavera Árabe[editar | editar código-fonte]

A importância da Primavera Árabe a nível da democracia foi reconhecida a nível europeu pelo parlamento europeu, que entregou o no final de 2011 o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2011 a cinco activistas da Primavera Árabe.[5]

Mas já previamente a União Europeia havia manifestado a sua posição como é o caso do presidente do Parlamento Europeu, Jerry Buzek, que em Outubro de 2011 apoiou os avanços da democracia no Médio Oriente e manifestou preocupação com a repressão, nomeadamente na Síria e no Iémen e com a violência no Egipto.[6] Em Março de 2012 Martin Schulz, também presidente do Parlamento Europeu, defendeu que o reforço das estruturas democráticas recém-eleitas no Médio Oriente deve ser uma prioridade da União para o Mediterrâneo (constituída pelos 27 Estados-Membros da União Europeia, Albânia, Argélia, Bósnia-Herzegovina, Croácia, Egito, Israel, Jordânia, Mauritânia, Mónaco, Montenegro, Marrocos, Autoridade Palestiniana, Síria, Tunísia e Turquia).[7]

O Parlamento Europeu elaborou também diversas propostas de resolução neste âmbito, nomeadamente em Julho de 2011 onde na resolução sobre a situação no mundo árabe considera que a Primavera Árabe demonstra claro anseio de democracia por dos povos envolvidos e demonstra solidariedade para com estes, contestando o uso da violência contra manifestantes pacíficos e apoia o direito dos manifestantes a participarem em manifestações pacificas e à liberdade de expressão. Nesta mesma resolução insta ainda as autoridades da região a terminarem com a censura aos meios de comunicação social e restrições impostas á Internet, bem como alerta para que a ascensão do grupo Al Quaeda na Península Arábica constitui uma ameaça para a paz e que a crise política está a ser explorada por estes.[8] Também em Julho de 2011 o Parlamento Europeu emite uma outra resolução sobre a situação na Síria, no Iémen e no Barém no contexto da situação no mundo árabe e no Norte de África solicita aos líderes políticos dos países árabes que iniciem um processo de dialogo político envolvendo todos os partidos e movimentos políticos democráticos e da sociedade civil, para além de enaltecer a coragem do povo e alertar para a necessidade dos Estados-membros da União Europeia em intervirem internacionalmente em defesa dos princípios básicos que presidiram à fundação da União Europeia.[9]

Para além do Parlamento Europeu, também os membros do G8 emitiram uma declaração acerca da primavera árabe[10] em Maio de 2011, onde efectuam um paralelismo entre a luta árabe com a queda do muro de Berlim no final da década de 80, na medida que têm o potencial para provocar o mesmo tipo de transformação, pelo que apoiam fortemente as aspirações da população envolvida e que irão ajudar os países da região a criar um espaço político para a democracia e liberdade se desenvolver. Posteriormente em Setembro de 2011 o G8 anunciou apoio financeiro aos países envolvidos na Primavera Árabe para os ajudar na transição com o intuito de os ajudar na transição para a democracia.[11] Os montantes envolvidos ascenderão a aproximadamente 28 mil milhões de euros e o montante principal virá principalmente de instituições internacionais de crédito. Os países para receber ajudar terão que apresentar planos de desenvolvimento e criação de emprego, comprometendo-se simultaneamente a realizar eleições livres.

Análise comparativa entre a Primavera Árabe e os movimentos europeus[editar | editar código-fonte]

A leitura comum se pode retirar da luta árabe e as contestações europeias contemporâneas que ambas se digladiam com o chamado Big Bussiness.[12] No Egipto, Tunísia e Líbia esse Big business era personificado pelos ditadores que encabeçavam o governo desses países, na Europa os apontados Big business não são tanto os governos diferentes que encabeçam as chefias dos cargos públicos mas, o invisível capitalismo cada vez mais selvagem, o sector bancário por vezes transnacional que parece mobilizar esses poderes a seu favor em detrimento da restante população.

Em toda a Europa, de um modo geral, cada vez mais cidadãos referem não se identificar, nem se sentirem representados com os partidos e as políticas que estes praticam, sentindo que votar seria ter de optar pelo mal menor, afirmando muitos absterem-se desse acto. As políticas de austeridade em toda a Europa mantiveram-se, sustentando-se no período conturbado de grave crise económica que assola o mundo. No entanto da contestação social nasceram diversos movimentos de cidadãos, na maioria deles apartidários, que contribuem agora para uma maior participação e mais plena cidadania, saindo desta forma fortalecida a democracia onde os cidadãos reiteraram a importância e alcance da sua acção e opinião.

As ideias que permanecem inabaláveis são que todas estas contestações, independentemente dos motivos que as desencadearam se caracterizam como detentoras de um carácter espontâneo e despojado à partida de interesses político-ideológicos, apenas de luta pelo afastamento de dirigentes (no caso dos Árabes) e políticas praticadas (no caso europeu) considerados nefastos ao crescimento sustentável dos países e nações correspondentes.

Referências

Ligações externas[editar | editar código-fonte]