Usuário(a):Alebizerra/Predação

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Formiga comendo cigarra, jjron 22.11.2009

Predação é uma relação ecológica em que determinado indivíduo consome outro indivíduo, matando-o frequentemente no processo, por vezes requerendo perseguição ativa do primeiro indivíduo, o predador, em relação ao segundo indivíduo, a presa.[1]

No seu sentido mais amplo, predador pode ser definido como qualquer organismo que consome todo ou parte de outro organismo vivo (sua “presa” ou “hospedeiro”). Dessa forma, ele se beneficia, porém, reduz o crescimento, a fecundidade ou sobrevivência de sua presa. No sentido mais estrito, a predação é o consumo de um organismo (a presa) por outro organismo (o predador), em que a presa está viva quando o predador a ataca pela primeira vez. Isso exclui a detritivoria, consumo de matéria orgânica morta. A predação abrange uma ampla variedade de interações e uma extensa gama de predadores.[1]

A condição de predador pode mudar inclusive com o estágio de desenvolvimento do indivíduo, há muitos exemplos de inversão de papéis em predadores e presas, onde presas adultas atacam predadores jovens vulneráveis. Isto implica, que a presa juvenil que escapar do predadores e se tornar adulta pode matar os predadores juvenis.[2] Neste sentido há inclusive sugestões de que a presa reconhece as espécies de predador a que foram expostas durante a sua fase juvenil, mostrando que a experiência juvenil afeta o comportamento adulto depois desta reversão de papéis.[2]

Talvez a interação ecológica mais óbvia de todas é a predação, e por isso não é de estranhar que, desde muito cedo na história da pesquisa ecológica, tem sido uma prioridade documentar-se o que come o que[3], de modo que cadeias alimentares expressam as relações de predação e herbivoria dos indivíduos consumidores, e detritivoria dos decompositores.[1]

Lagarto de cobra


Classificação[editar | editar código-fonte]

Ninfa de PercevejoCimex lectularius

A classificação da predação têm caráter elucidativo, mas as interações em si não são sempre tão claras. As distinções entre predadores “verdadeiros”, pastejadores, parasitoides e parasitos, têm sido estabelecidas em grande parte por conveniência, e muitos organismos não se ajustam perfeitamente a uma, ou a somente uma categoria.[1]

Predadores verdadeiros[editar | editar código-fonte]

Matam invariavelmente suas presas, e imediatamente após atacá-las. Incluem portanto, tigres, leões, ursos cinzentos, mas também formigas que consomem sementes (cada semente é um organismo individual), plantas carnívoras etc.[1]

Pastejadores[editar | editar código-fonte]

Consomem partes de suas presas no curso de suas vidas. Não matam suas presas. Incluem, portanto, ovinos, bovinos, sanguessugas hematófagas, gafanhotos, etc.[1]

Parasitos[editar | editar código-fonte]

Consomem itens de sua presa (geralmente denominado “hospedeiro“). Também não matam suas presas, porém atacam um ou poucos itens da presas no curso de suas vidas, assim, formam uma associação relativamente íntima com as suas presas. Dessa forma os parasitos incluem tênias, patógenos de plantas, como o mosaico do fumo, bem como as pequenas vespas que formam “galhas” nas folhas de árvores.[1]

Parasitoides[editar | editar código-fonte]

Larvas da vespa Brachnoid fazem seus casulos no exterior da larva Hypercompe scribonidepois de sair do seu corpo

São moscas e vespas cujas larvas consomem por dentro as larvas dos insetos hospedeiros, tendo sido lá depositados pelas mães sob a forma de ovo. Os parasitoides, portanto, não se ajustam à categoria de “parasito” nem à de “predador verdadeiro”(único indivíduo como hospedeiro, o qual é sempre morto).[1]

Valor Adaptativo da Presa[editar | editar código-fonte]

Predadores pastejadores e parasitos são semelhantes na obtenção de recursos de que necessitam, pois reduzem a fecundidade ou chance de sobrevivências das presas, podendo assim diminuir a abundância delas. Os predadores verdadeiros tem um efeito de difícil ilustração, pois as presas sempre morrem.[1]

Embora a classificação de animais em predadores e presas seja feito rotineiramente por biólogos, o papel ecológico de um individuo é bem menos claro.[2] Demonstrar que as reduções na sobrevivência e fecundidade de indivíduos-presas correspondem a reduções na abundância de presas não é uma tarefa fácil, pois se faz necessário comparar as populações de presas na ausência e presença de predadores. Predadores de todos os tipos podem causar a redução de abundância de suas presas.[1]

Predação e sua interação com outros fatores[editar | editar código-fonte]

À predação tem sido reivindicada tanto o aumento, diminuição, ou a pouco eficácia sobre o impacto da competição interespecífica.[4] Os pastejadores e parasitos alteram negativamente o valor adaptativo das presas de forma diferente dos predadores verdadeiros, pois eles não matam imediatamente a presa, mas tornam-na vulneráveis a outras formas de mortalidade. Com a presença dos pastejadores e parasitos ocorre uma alteração na interação entre as presas e outros indivíduos do mesmo nível trófico. Assim sendo, a presença da competição é acentuada, podendo diminuir o valor adaptativo do indivíduo que está sendo predado em relação aos outros que convivem no mesmo ambiente. A infecção por parasitos também pode tornar os hospedeiros mais suscetíveis a predação.[1]

Grau de especialização[editar | editar código-fonte]

Argiope bruennichi

Predadores enfrentam graves restrições energéticas que afetam muitos aspectos da sua ecologia e evolução[5], devido aos custos inerentes a atividade de procura e captura do alimento, previstos pela Teoria de forrageamento ótimo. Em relação ao grau de especialização da dieta, os predadores podem ser:

  • Monófagos: consomem apenas um tipo de presa
  • Oligófagos: consomem poucos tipos de presas
  • Polífagos: consomem diversos tipos de presas

A situação em que a frequência da presa na dieta do predador é diferente da frequência da presa no ambiente constitui uma predação seletiva.[6][7][8][9][10][11][12], onde o predador escolhe items alimentares durante o forrageamento, ou seja onde o predador tem preferências no forrageamento (como por exemplo itens mais nutritivos ou presas mais fáceis de se abater). Entretanto, a preferência e a “acessibilidade” as presas não podem ser claramente distinguíveis, podem inclusive ser influenciadas simultaneamente por um mesmo aspecto.[12]

Importância dos Predadores[editar | editar código-fonte]

Os predadores podem aumentar a biodiversidade das comunidades, impedindo uma única espécie de tornar-se dominante.[13] Estes predadores são conhecidos como espécies-chave e podem ter uma profunda influência sobre o equilíbrio dos organismos em um ecossistema particular. Introdução ou remoção deste predador, ou alterações na sua densidade populacional, pode ter efeitos em cascata drástica sobre o equilíbrio de muitas outras populações no ecossistema.

Presas[editar | editar código-fonte]

Gazela

Presas podem reduzir o risco de predação de várias maneiras, por exemplo por meio de alterações morfológicas.[14][15][16][17][18][19] ou através de alterações no comportamento.[20][21][22][23][24]

Estratégias anti-predação[editar | editar código-fonte]

Morfológicas Comportamentais Fisiológicas
Defesas Mecânicas Agressividade Defesas Químicas
Coloração Aposemática Postura de Intimidação
Camuflagem/Mimetismo Finfimento de Morte
Polimorfismo Período de Atividade.

[25]


Em alguns casos, os adultos matam os juvenis das outras espécies, mas não os consomem, sugerindo que a morte serve para reduzir o risco de predação ou competição futura.[20][23][26]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k Begon, M., Townsend, C.R & Harper, J.L. (2007) Ecologia:de Indivíduos a Ecossistemas. 4. Edição. Porto Alegre : Artmed.
  2. a b c Choh, Y., Ignacio, M., Sabelis, M. W., & Janssen, A. (2012). Predator-prey role reversals, juvenile experience and adult antipredator behaviour. Scientific Reports, 2.
  3. Hall, Stephen J., and Dave G. Raffaelli. Food webs: theory and reality. Academic Press, 1993.187-236.
  4. Chase, J.M., Abrams, P.A., Grover, J.P., Diehl, S., Chesson, P., Holt, R.D. et al. (2002). The interaction between predation and competition: a review and synthesis. Ecol. Lett., 5, 302–315.
  5. Carbone, C., Teacher, A. & Rowcliffe, J. M. (2007b). The costs of carnivory. PLoS Biology 5, e22 (doi:10.1371/journal.pbio.0050022).
  6. Chesson, J. 1976. A non-central multivariate hypergeometric distribution arising from biased sampling with application to selective predation. Journal of Applied Probability 13:795-797.
  7. Manly, B. F. J., P. Miller, and L. M. Cook. 1972. Analysis of a selective predation experiment. American Naturalist.106:719-736.
  8. Manly, B. F. J. 1972. Tables for the analysis of selective predation experiments. Researches on Population Ecology Kyoto. 14:74-81.
  9. Manly, B. F. 1973. A linear model for frequency-dependent selection by predators. Researches on Population Ecology Kyoto 14:137-150.
  10. Manly, B. F. 1974. A model for certain types of selection experiments. Biometrics 30:281-294.
  11. Chesson ,J. 1978 .Measuring preferences in selective predation Ecology, Vol. 59, No. 2 , pp. 211-215
  12. a b Ivlev, V. S. 1961. Experimental ecology of the feeding of fishes. Yale University Press, New Haven, Connecticut, USA.
  13. Davic, R. D. 2003. Linking keystonespecies and functional groups: a new operational definition of the keystone species concept. Conservation Ecology 7(1): r11. [online] URL: ttp://www.consecol.org/vol7/iss1/resp11
  14. Lima, S. L. & Dill, L. M. Behavioral decisions made under the risk of predation - a review and prospectus.Can. J. Zool.68, 619–640 (1990)
  15. Lima, S. L. Stress and decision making under the risk of predation: Recent developments from behavioral, reproductive, and ecological perspectives.Stress Behav.27, 215–290 (1998).
  16. Losey, J. E. & Denno, R. F. The escape response of pea aphids to foliar-foraging predators: factors affecting dropping behaviour.Ecol. Entomol.23, 53–61 (1998).
  17. Pallini, A., Janssen, A. & Sabelis, M. W. Predators induce interspecific herbivore competition for food in refuge space.Ecol. Lett.1, 171–177 (1998).
  18. Magalhaões, S., Janssen, A., Hanna, R. & Sabelis, M. W. Flexible antipredator behaviour in herbivorous mites through vertical migration in a plant.Oecologia 132, 143–149 (2002).
  19. Choh, Y. & Takabayashi, J. Predator avoidance in phytophagous mites: response to present danger depends on alternative host quality.Oecologia151, 262–267(2007).
  20. a b Saito, Y. Prey kills predator: counter attack success of a spider mite against its specific phytoseiid predator.Exper. Appl. Acarol.2, 47–62 (1986).
  21. Barkai, A. & McQuaid, C. Predator-prey role reversal in a marine benthic ecosystem.Science 242, 62–64 (1988).
  22. Polis, G. A., Myers, C. A. & Holt, R. D. The ecology and evolution of intraguild predation - potential competitors that eat each other.Annu. Rev. Ecol. Syst.20,297–330 (1989).
  23. a b Palomares, F. & Caro, T. M. Interspecific killing among mammalian carnivores.Am. Nat.153, 492–508 (1999).
  24. Janssen, A., Faraji, F., van der Hammen, T., Magalha˜es, S. & Sabelis, M. W.Interspecific infanticide deters predators.Ecol. Lett.5, 490–494 (2002).
  25. http://www.ib.usp.br/ecologia/populacoes_interacoes_print.htm (modifcado)
  26. Aoki, S., Kurosu, U. & Usuba, S. First instar larvae of the sugar-cane wooly aphid, Ceratovacuna lanigera(Homotera, Pemphigidae), attack its predators.Kontyuˆ52, 458–460 (1984).