Usuário(a):Angelo Pinto

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Um sonho chamado Observatório Astronômico Antares - Sua origem

Na década de sessenta, o idealizador Augusto César Pereira Orrico, um amante da Astronomia e que alimentava o sonho de construir um grande observatório astronômico em Feira de Santana, bem como torna-lo um centro de estudos e pesquisas referência na Astronomia, já que no norte e nordeste do Brasil não existiam observatórios astronômicos, procurou o já fotógrafo Antônio Ferreira Magalhães para que fosse seu parceiro neste projeto e tudo começou em frequentes reuniões na residência de Antônio Magalhães e as observações em cima de uma laje com um pequeno telescópio amador, com experiências fotográficas do céu. A notícia se espalha, inclusive na imprensa e o interesse de outras pessoas pelo assunto fez se juntar à eles José Olímpio Mascarenhas, Raimundo Gama, Egberto Tavares Costa, Carlos Bacelar, Antônio Gonçalves da Silva, Dival da Silva Pitombo e Franz Reuter, que juntos a César Orrico e Antônio Magalhães concretizam este sonho chamado Fundação Observatório Astronômico Antares, fundado em 25 de setembro de 1971.

Com o advento e consequentemente aproximação do Cometa Kohoutek que se daria em 1973, o primeiro grande evento astronômico após a fundação do Antares, César Orrico planeja com Antônio Magalhães, já Diretor de Fotografia do observatório, as formas possíveis para fotografar o famoso cometa, caso este fosse visto nos céus de Feira de Santana. Assim, conseguem as chamadas “Predições Astronômicas” da sua passagem e fazem esta divulgação para a comunidade feirense através de uma publicação impressa e lançamento numa noite memorável, no interior do Feira Tênis Clube. Infelizmente por questões climáticas, quando o cometa foi avistado, o mesmo já havia passado (dado sua volta ao redor do Sol) e estava indo embora, não se concretizando o grande espetáculo astronômico que todos esperavam.

Uma luta para a construção deste ousado sonho e através da Prefeitura Municipal de Feira de Santana, é doado um terreno no bairro Jardim Cruzeiro, um quarteirão inteiro, local mais elevado da cidade e que na época não existia interferência da iluminação pública da cidade, por ser uma área praticamente desabitada e afastada. Com a aquisição do terreno, o fotógrafo Antônio Magalhães e seus dois filhos Antônio e Jorge Magalhães, começam a capinar o terreno e posteriormente construir a cerca de estacas e arame farpado para limitar a área. Para que o projeto fosse aos poucos se concretizando, sempre que necessitava de recursos financeiros, o então Presidente da Fundação Observatório Astronômico Antares, César Orrico, juntamente com Antônio Magalhães, José Olímpio e Egberto Costa, acompanhados dos Deputados feirenses Áureo Filho e Augusto Matias se dirigiam ao então Governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães para solicitar ajuda e o Antares começou a construção da sua sede.

A fim de aprimorar estes conhecimentos, Antônio Magalhães e César Orrico foram até Minas Gerais para fazerem o curso de Fotografia Astronômica no Observatório Astronômico de Juiz de Fora. Lá conheceram o Astrônomo Nelson Alberto Soares Travnik, um dos fundadores do Observatório Astronômico Flammarion (1954-1976) na cidade mineira de Matias Barbosa, que possuía um telescópio refrator de médio porte e que colocou à venda para ser o primeiro equipamento profissional do Observatório Antares. De volta à Feira de Santana, o grupo retornou ao Governador Antônio Carlos Magalhães para pedir ajuda financeira para esta aquisição, o que foi imediatamente atendido e que junto do então proprietário do Banco Econômico Sr. Angelo Calmon de Sá, se tornaram os maiores benfeitores do Observatório Antares. Este sonho foi se concretizando e se juntam à eles José Angelo Leite Pinto, Ulisses Lemos Bezerra, Gemicrê do Nascimento Silva e Antônio Carlos da Graça Souza, que também como amantes da astronomia buscavam contribuir na concretização deste projeto e passaram a trabalhar diariamente à noite de forma voluntária e sem nenhum salário.

Com a aquisição e instalação deste telescópio, deu-se prioridade às observações astronômicas, até mesmo para começar a produzir os resultados tão esperados por todos, bem como a instalação na parte térrea do observatório, de um Laboratório Fotográfico em preto e branco, para revelação das fotografias feitas durante os eventos observados. Assim, a Fundação Observatório Astronômico Antares, passou a publicar o Anuário Astronômico, com todas as efemérides do ano, o Boletim mensal Contribution, com os resultados das observações astronômicas referentes às Ocultações de Estrelas pela Lua, Trânsito dos Satélites de Júpiter, além dos fenômenos astronômicos ocasionais, estes sob a responsabilidade diária de César Orrico, Angelo Pinto, Ulisses Bezerra, Gemicrê Nascimento e Antônio Carlos Souza. Foi lançada e distribuída a Carta Celeste “O Céu da Bahia”, que obteve grande repercussão nos meios científicos, de navegação, etc., bem como forma de manter uma relação mais próxima da comunidade, passou a ser divulgado nos jornais impressos de Feira de Santana, as Previsões Astronômicas, Fases da Lua, Tábua de Marés e outros comunicados. Também nesta mesma época foi instalado no terreno do observatório uma Estação Climatológica, montada com os instrumentos existentes no antigo Campo de Aviação de Feira de Santana, localizado no bairro Campo Limpo, hoje bairro George Américo, a qual diariamente fornecia informações sobre o tempo e clima da cidade ao Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

O Observatório Antares passou assim a ter um reconhecimento no meio astronômico, levando o nome de Feira de Santana a diversos lugares do Brasil e exterior. Chegando a realizar observações astronômicas do satélite Iapetus do planeta Saturno para o Royal Greenwich Observatory, em Londres, recebeu o astrônomo Belga Henry Debeiogne, o astrônomo Argentino Jayme Garcia, além de frequentemente receber astrônomos do Brasil como Ronaldo Rogério de Freitas Mourão do Observatório Nacional, Antônio Rezende Guedes do Observatório Astronômico da Universidade Federal de Juiz de Fora, Nelson Travnik e Jean Nicolini do Observatório Municipal de Campinas, Padre Johannes Michael Antonius Polman, fundador do Clube Estudantil de Astronomia – CEA em Recife-PE, dentre muitos outros que passaram por aqui, além de enviar para Bruxelas, Ulisses Bezerra para pesquisa conjunta no Royal Observatory of Belgium.

Como a credibilidade das pesquisas astronômicas dependem fundamentalmente dos horários e tempos registrados, César Orrico convida o feirense Drance Matos Amorim (irmão de Amélio Amorim), médico e engenheiro eletrônico, que inclusive havia trabalhado na equipe da NASA, para fazer parte da equipe e este construiu um Relógio à Quartzo, através da sua empresa ECNARD, com uma precisão de atraso de 01 segundo a cada 750 anos, independentemente de haver ou não energia elétrica, o que alavancou a autonomia do Observatório que até então utilizava a Hora Legal do Brasil através do número telefônico 130.

A Diretoria do Observatório Antares foi informada que existia na alfândega em Manaus um telescópio para observações solares chamado Fotoheliógrafo e através de um processo junto à Receita Federal, solicitou a doação deste equipamento, o qual foi deferido e chegou à Feira de Santana, sendo construído um anexo circular com cúpula giratória junto ao prédio central para sua instalação e utilização, passando o Antares a realizar também observações e fotografias das Manchas Solares, resultados estes que eram publicados no Boletim Mensal Contribution. Por último, o Observatório recebeu de doação um Telescópio Laser, que também foi construído para sua montagem e instalação uma grande Sala retangular com teto móvel ou roll-off, anexo ao prédio principal, onde com este novo e mais potente equipamento foram implementadas novas pesquisas no observatório.

Diminuíram as doações e outras ajudas financeiras ao observatório, inclusive sendo necessário a partilha das despesas entre os próprios membros da Diretoria, o que causou diversas dificuldades para ampliação das pesquisas, bem como aquisição de melhores equipamentos, o que foi causando uma estagnação e em algumas vezes interrupção dos trabalhos. O último grande evento astronômico registrado no Observatório Antares, foi a passagem do Cometa Halley em 1986, onde foram instalados inúmeros stands de souvenires ligados ao cometa, diversos telescópios abertos ao público para observação de planetas, estrelas, aglomerados, nebulosas, lua, etc, palestras e projeção de filmes em seu confortável e climatizado auditório, sendo um período marcante pela estrutura montada e pelos milhares de visitantes da capital e de outras cidades do interior que se dirigiam para cá, inclusive obtendo ampla divulgação através de jornais, rádios e televisão.

Passado este período, com a crise financeira se agravando cada vez mais e sem condições de manter a estrutura em funcionamento, o Observatório foi fechado, ficando por um significativo período em completo abandono. Então, a Diretoria da Fundação Observatório Astronômico Antares, baseado em seu Estatuto decide doar todo seu patrimônio à Prefeitura Municipal de Feira de Santana, a qual responde não ter condições, nem interesse na aquisição. Assim, em 27 de Agosto de 1992, através do Decreto Governamental nº 1.456 e publicado no Diário Oficial do dia 28 de agosto de 1992, o Observatório Antares é doado oficialmente à Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, pertencendo até os dias atuais à esta unidade de ensino superior, ligada ao Governo do Estado da Bahia.

Assim, uma longa história de aproximadamente 21 anos se passaram entre sua origem até a doação à UEFS, e o principal motivo que me levou como testemunha ocular a abordar este tema, foi a escassez de informações tanto em publicações impressas, quanto nas redes sociais e sites da internet sobre a origem e história deste importante patrimônio, que tanto orgulho deu aos feirenses e que levou o nome de Feira de Santana à diversos recantos da Terra. Para os mais novos ou menos informados, o Observatório Astronômico Antares pertence à Universidade Estadual de Feira de Santana, foi criado por ela e todos os louros são destinados à ela, e que neste breve relato da história faço questão de deixar registrado para as futuras gerações esta importante memória de tantos que se dedicaram para a concretização deste sonho.

José Angelo Leite Pinto – Ex-pesquisador do Observatório Astronômico Antares, Professor, fotógrafo e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana (04.09.2017) com Fotografias de Antônio Ferreira Magalhães.