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Resenha do texto Enciclopédia de Alfredo Salsano
O texto procura traçar uma história do fenômeno da enciclopédia. Segundo Salsano, a validade do texto enciclopédico já está tão difundido na nossa sociedade que não se presta atenção no trajeto histórico que está ligado ao estabelecimento dessa forma escrita. Assim, levanta a necessidade de abordar este tema.
Salsano apresenta a Enciclopédia como uma publicação que procura organizar os vários saberes de campos diferentes em um mesmo sistema. "As exigências de totalidade" e "sistemática"são apresentadas como os principais elos do projeto enciclopedista. A enciclopédia é a publicação que reúne o "saber de um dado momento". O texto levanta o "carácter nunca definitivo" do projeto enciclopédico, que será sempre modificado pela mudança de paradigma no estudo das ciências. A história da enciclopédia estaria assim ligada à história da classificação das ciências.
O autor compreende a publicação da Enciclopédia como um fenômeno do mundo moderno, que se relaciona com um novo modo de pensar sobre o conhecimento. Apresenta a "encyclopédie" publicada no século XVIII por Diderot e D'Alembert como a primeira enciclopédia moderna.
Em determinado momento do texto, Salsano procura tratar das "enciclopédias" que vieram antes da enciclopédia. Ou seja, ele trata daquelas compilações que procuraram abordar a totalidade do conhecimento humano que surgiram antes do modelo moderno de enciclopédia. São destacadas compilações advindas de diferentes momentos históricos que compartilharam com o mesmo objetivo da enciclopédia moderna: agregar a totalidade de conhecimento humano. Ele apresenta as antigas "enciclopédias" como produções ligadas aos ideais de duas instituições: a biblioteca e a escola. A biblioteca no que cabe à conservação do conhecimento e a escola no que cabe à transmissão desse conhecimento.
A enciclopédia do Século XVIII se diferencia das publicações posteriores uma vez que se voltou não apenas para a conservação e transmissão de saber, mais também para a produção de um novo conhecimento.
Salsano explica que no Século XVIII a enciclopédia recebe também a função de produzir o saber, à medida que ela busca "uma intervenção ativa sobre uma situação cultural que se quer modificar".
O autor aponta que a adoção da ordem alfabética contribuiu para o "distanciamento" da função pedagógica da enciclopédia. Esta nova sistematização tornaria tal publicação uma fonte de consulta para pesquisa, e não necessariamente um instrumento pedagógico em que todo conhecimento estivesse fixado.
O sistema de organização alfabética utilizado pela "encyclopédie" serviu de modelo para a edição de outras enciclopédias, entre elas a enciclópedia "Britannica".
No Século XIX, há uma transformação no modo como se compreende o papel da enciclopédia. Diferente de no Século XVIII, onde esta estava associada ao Iluminismo e a um processo de transformação revolucionário do conhecimento, no Século XIX o projeto enciclopédico passa a se relacionar com a ideia da simples exposição do conhecimento que deve procurar ser o mais "objetivo" e "imparcial" possível.
Nas últimas décadas, surge um novo olhar sobre as ciências e logo sobre o papel da enciclopédia. Não se compreende mais o estudo científico como um processo "cumulativo" que implica no progresso da humanidade. Em vez disso, entende-se que o saber humano é sempre incompleto e logo as definições enciclopédicas também o são. Além disso, compreende-se que a imparcialidade total é impossível, todo texto sempre conta com questões ideológicas. A enciclopédia não procura apenas expor um conhecimento, mas também "participar da investigação crítica e seletiva" desse conhecimento.
Para concluir, gostaria de dizer que achei o texto de linguagem muito erudita e de difícil compreensão. O autor cita muitos filósofos e intelectuais, dificultando a leitura para aqueles que não possuem conhecimento prévio sobre o tema. Além disso, utiliza-se de um vocabulário muito rebuscado.