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Usuário(a):Liliana Eira/Testes

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1. Introdução[editar | editar código-fonte]

A Era digital em que nos encontramos é comumente caracterizada pelo desenvolvimento das tecnologias digitais e por todas as transformações que advêm desse fenómeno, que, indubitavelmente, conduzem a uma alteração de paradigma em vários domínios da sociedade contemporânea.  A evolução exponencial das tecnologias digitais alterou a forma como os indivíduos acedem e procuram informação, como constroem e partilham o conhecimento, e como comunicam, num mundo globalizado e em constante mutação[1].

É neste contexto de democratização do conhecimento que a educação aberta ganha um papel de destaque, mormente os recursos educacionais abertos (REA), e constitui-se como um fator transformador do sistema educativo das instituições de ensino (IE). Os REA, pela sua gratuitidade e licenciamento aberto, possibilitam a criação e co-criação de conhecimento, e estimulam o trabalho colaborativo que, não tendo o impedimento geográfico pela utilização das tecnologias digitais, pode ser efetuado a nível global[2][3].

Se por um lado as tecnologias digitais e a educação aberta podem despoletar aquilo a que Levy[4] chamou de “dilúvios de informação”, por outro lado as mesmas possibilitam uma nova conceptualização da investigação científica, principalmente em questões metodológicas, dado que pressupõe uma pesquisa, seleção, análise e tratamento de dados com contexto online.

Desta forma, surge o conceito de e-research que, não tendo a pretensão de substituir métodos de investigação tradicionais, pretende conferir à investigação científica novas possibilidades de construir e partilhar evidência/conhecimento científico à escala global, de forma colaborativa, e congruente com as exigências e particularidades da contemporaneidade[5][6].

Este artigo pretende desenvolver e aprofundar as especificidades da e-research, considerando as suas especificidades e adequação às necessidades da sociedade contemporânea.

2. Conceito de e-research[editar | editar código-fonte]

Segundo Wishart & Thomas[7], o conceito de e-research refere-se ao uso abrangente de tecnologias digitais para recolher, gerir, analisar e disseminar resultados de pesquisas em diversos campos do conhecimento. O termo também é conhecido como pesquisa electrónica e engloba metodologias que utilizam ferramentas digitais e internet para facilitar os processos de pesquisa científica e académica. Abrange as várias etapas do processo de investigação, desde a recolha de dados online e a análise dos mesmos, até à colaboração virtual entre investigadores de diferentes zonas geográficas.

3. Princípios fundamentais:[editar | editar código-fonte]

O conceito de e-research assenta em três perspetivas [8]:

  • o acesso uma elevada quantidade de dados que estão disponíveis em rede e que, através de meios tecnológicos, podem facilmente ser tratados e analisados;
  • a comunicação e a colaboração com outros investigadores, criando comunidades que se apoiam em torno de um objetivo comum;
  • a multidisciplinaridade e a internacionalização das equipas de trabalho, o que permite a gestão de dados de natureza diversa por pessoas geograficamente dispersas.

4. Ferramentas e Tecnologias[editar | editar código-fonte]

  • Plataformas de Colaboração Online: Ferramentas como Google Drive, Microsoft Teams, Slack e Zoom permitem que pesquisadores colaborem em tempo real, compartilhando documentos, trocando mensagens e realizando videoconferências.
  • Repositórios e Bancos de Dados: Plataformas como Figshare, Zenodo, Dataverse fornecem infraestrutura para armazenar, compartilhar e preservar dados de pesquisa. Esses repositórios facilitam a descoberta e o acesso aos dados por outros pesquisadores.
  • Ambientes de Análise de Dados: Software estatístico como R, Python com bibliotecas como Pandas e NumPy, SPSS e SAS são utilizados para análise de dados quantitativos. Para análise de dados qualitativos, ferramentas como NVivo, MAXQDA e Atlas.ti são populares.
  • Plataformas de Questionários e Pesquisas: Ferramentas como Qualtrics, SurveyMonkey e Google Forms permitem a criação e distribuição de questionários online, além de facilitar a análise dos resultados.
  • Visualização de Dados: Ferramentas como Tableau, Power BI, matplotlib e D3.js permitem criar visualizações interativas e informativas a partir de dados brutos, facilitando a compreensão e interpretação dos resultados da pesquisa.
  • Ambientes de Modelagem e Simulação: Ferramentas como AnyLogic, NetLogo e MATLAB são usadas para criar modelos computacionais e simulações em uma variedade de domínios, desde ciências sociais até engenharia.

5. Metodologia de investigação em contextos online[editar | editar código-fonte]

- Comparar com metodologias tradicionais

4. Vantagens e limitações do e-research[editar | editar código-fonte]

 São várias as vantagens que podem ser associadas ao e-research:

  • acesso rápido a uma base de dados e fontes de informação muito amplos [9], sendo disponibilizada na internet uma vastíssima oferta de livros e artigos científicos[10];
  • possibilidade de pessoas oriundas de diferentes regiões e realidades participarem em pesquisas e inquéritos, enriquecendo a informação obtida [9];
  • maior e melhor colaboração e comunicação entre investigadores do mundo inteiro [11], não existindo barreiras temporais ou físicas para a concretização dos trabalhos;
  • recurso a novas técnicas de produção e recolha de dados, que permitem alcançar um leque muito maior e diversificado de inquiridos[11].
  • redução, de forma significativa, dos custos associados à pesquisa ou recolha de dados, em relação aos métodos tradicionais de investigação.[9]

O e-research altera significativamente a forma que a comunidade académica pode realizar as suas pesquisas e investigações, porém, é necessário considerar alguns aspetos menos positivos que configuram ser limitações ao recurso ao e-research:

  • levanta muitas questões relacionadas com privacidade e ética[11], causando, também, ceticismo em muitas pessoas[9];
  • recorrendo às tecnologias e à internet, parte da população é logo excluída, o que pode levar a viés nas amostras ou nos próprios resultados;
  • podem surgir falhas técnicas ou serem usados softwares obsoletos que colocam em causa a qualidade dos resultados obtidos[9];
  • existe falta de controlo da qualidade das respostas dadas pelos inquiridos online, pois o investigador não consegue controlar o ambiente em que a recolha dos dados é efetuada;
  • verifica-se a exclusão da população que se encontra fora da sociedade em rede [12] ou que não possui os conhecimentos técnicos necessários para participar nas investigações;
  • o excesso de informação atualmente disponível na internet também pode ser um entrave pois, pode tornar-se difícil distinguir as informações relevantes das restantes, bem como, verificar a veracidade dos dados obtidos.

5. Plataformas virtuais de investigação[editar | editar código-fonte]

6. Questões éticas[editar | editar código-fonte]

Uma autora que aborda questões éticas do e-research de maneira abrangente é Markham (2012), no seu livro "Internet Research: Theory and Practice". Ela destaca várias preocupações éticas específicas que devem ser consideradas pelos pesquisadores, quando conduzem pesquisas online. Passo a referir algumas delas:

  1. Consentimento informado: Os pesquisadores devem garantir que os participantes estão plenamente informados sobre os objetivos da pesquisa, os métodos utilizados, os potenciais riscos e benefícios envolvidos e o direito de retirarem o consentimento a qualquer momento.
  2. Privacidade e anonimato: Os pesquisadores devem respeitar a privacidade dos participantes, garantindo que as suas identidades e informações pessoais estão protegidas. Pode envolver a utilização de pseudónimos ou a remoção de informações identificáveis.
  3. Confidencialidade: Os pesquisadores devem garantir que as informações fornecidas pelos participantes são tratadas com confidencialidade e que não sejam compartilhadas com terceiros sem o consentimento dos participantes, a menos que seja exigido por lei ou por razões de segurança.
  4. Equidade e inclusão: Os pesquisadores devem garantir que as suas pesquisas online sejam acessíveis e inclusivas para todos os grupos, evitando discriminação e promovendo a participação equitativa.
  5. Integridade da pesquisa: Os pesquisadores devem conduzir as suas pesquisas de maneira ética e honesta, evitando práticas como plágio, falsificação ou fabricação de dados.
  6. Responsabilidade social: Os pesquisadores devem considerar o impacto das suas pesquisas na sociedade e nas comunidades estudadas, buscando minimizar qualquer dano potencial e maximizando os benefícios para os participantes e a sociedade em geral.

Estas são algumas das questões éticas destacadas por Markham, (2012) que os pesquisadores devem ter em mente ao realizarem pesquisas online. É crucial que os pesquisadores estejam cientes destas questões e sigam as diretrizes éticas apropriadas ao conduzirem as suas pesquisas. [13]

Outro autor que também aborda questões éticas do e-research é Luciano Floridi, um renomeado filósofo da informação. No seu trabalho, destaca a importância de uma abordagem ética para a pesquisa na era digital. Floridi (2013) argumenta que, num contexto digital, os pesquisadores enfrentam desafios únicos relacionados com a privacidade, segurança e o uso responsável dos dados.

O autor realça a necessidade de os pesquisadores considerarem além dos aspetos éticos tradicionais da pesquisa, como o consentimento informado e a confidencialidade, focarem-se também em questões mais amplas relacionadas com a ética da informação e da responsabilidade social.

Floridi (2013) defende a ideia de que os pesquisadores têm a responsabilidade moral de garantir que as pesquisas respeitam os direitos e interesses das pessoas envolvidas e que possam de alguma forma contribuir para o bem-estar da sociedade como um todo. Este autor, destaca a importância da transparência na pesquisa digital, argumentando que os pesquisadores devem ser transparentes sobre os seus métodos, resultados e possíveis impactos, tendo que estarem dispostos a responder pelas suas ações.

Em suma, Luciano Floridi oferece-nos uma perspetiva abrangente sobre as questões éticas do e-research, destacando a importância de uma abordagem ética e responsável nas pesquisas da era digital. [14]


  1. Buffardi, Annalisa (2011). «Open knowledge and e-research in the digital era». Italian Journal of Sociology of Education (June 2011): 215–227. ISSN 2035-4983. doi:10.14658/pupj-ijse-2011-2-11. Consultado em 1 de abril de 2024 
  2. Nobre, Ana; Mallmann, Elena Maria (julho de 2016). «Recursos educacionais abertos: transposição didática para transformação e coautoria de conhecimento educacional em rede». Indagatio Didactica. Tecnologias da Informação em Educação: 151–165. ISSN 1647-3582. Consultado em 1 de abril de 2024 
  3. «The Access Compromise and the 5th R – improving learning». opencontent.org. Consultado em 1 de abril de 2024 
  4. Lévy, Pierre (1 de janeiro de 2000). «La cibercultura y la educación». Pedagogía y Saberes (14). ISSN 2500-6436. doi:10.17227/01212494.14pys23.31. Consultado em 1 de abril de 2024 
  5. Buffardi, Annalisa (2011). «Open knowledge and e-research in the digital era». Italian Journal of Sociology of Education (June 2011): 215–227. ISSN 2035-4983. doi:10.14658/pupj-ijse-2011-2-11. Consultado em 1 de abril de 2024 
  6. Gupta, Shivam; Müller-Birn, Claudia (1 de janeiro de 2018). «A study of e-Research and its relation with research data life cycle: a literature perspective». Benchmarking: An International Journal (6): 1656–1680. ISSN 1463-5771. doi:10.1108/BIJ-02-2017-0030. Consultado em 1 de abril de 2024 
  7. Wishart, Jocelyn; Thomas, Michael, eds. (3 de outubro de 2018). E-Research in Educational Contexts (em inglês) 0 ed. [S.l.]: Routledge 
  8. Piñol, Mar Cruz (2 de abril de 2021). Piñol, Mar Cruz, ed. «e-Research». Routledge (em inglês): 1–23. ISBN 978-0-429-43352-8. doi:10.4324/9780429433528-1. Consultado em 25 de março de 2024 
  9. a b c d e «E-research - Documentos de Investigación - Santiago Páez». www.clubensayos.com. Consultado em 29 de março de 2024 
  10. Hine, Christine (setembro de 2005). «Internet Research and the Sociology of Cyber-Social-Scientific Knowledge». The Information Society (em inglês) (4): 239–248. ISSN 0197-2243. doi:10.1080/01972240591007553. Consultado em 29 de março de 2024 
  11. a b c Estatella, A.; Ardévol, E. (2011). (2011). «E-research: desafíos y oportunidades para las ciencias sociales.». Convergencia Revista de Ciencias Sociales (55) 
  12. Selwyn, Neil (2004). «The Internet and Education: Realities and Issues.» (PDF). E-Learning and Digital Media (1(1)): 3-20 
  13. Markham, A. N. (2012). Internet Research: Theory and Practice. Los Angeles, CA: SAGE Publications.
  14. Floridi, L. (2013). The Ethics of Information. In L. Floridi (Ed.), The Philosophy of Information (p.p. 41-69). Oxford University Press.