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POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO RELACIONADOS A EVENTOS - N400[editar | editar código-fonte]

CONCEITO[editar | editar código-fonte]

O N400 é um “recurso” (componente) do Potencial Relacionado ao Evento (ERP) que tem sido utilizado para analisar os substratos neurais relacionados à linguagem, bem como aspectos cognitivos. O nome deriva do fato que o N400 trata-se de uma onda invertida (Negativa), que atinge o seu pico de amplitude aproximadamente em 400 ms[1][2][3][4], gerado no lobo temporal esquerdo, com pequena contribuição do lobo temporal direito, e cuja distribuição parece ser mais frontal em crianças do que em adultos[1][2][3][4][5].

HISTÓRICO[editar | editar código-fonte]

O ERP do N400 foi descrito em literaturas pela primeira vez em 1980 por Marta Kutas e Steven Hillyard que continuaram analisando esse evento por anos e as relações deste com a leitura de palavras semanticamente incongruentes em relação ao contexto da sentença apresentada[6][7]. A descoberta ocorreu durante uma tentativa de evidenciar o P300 por meio de estímulos raros, porém ao invés de um pico positivo maior, o que apareceu foi um pico negativo tardio em evidência[8].

Após a descoberta do componente N400 do ERP em 1980[7], nos anos 90 o componente foi estudado de maneira mais ampla e aprofundada sendo associado a qualquer correlação regular de verbo + complemento[1].

APLICABILIDADE CLÍNICA[editar | editar código-fonte]

O potencial N400 é gerado no lobo temporal esquerdo, com pequena contribuição do lobo temporal direito, e sua distribuição parece ser mais frontal em crianças do que em adultos[5].  identifica a atividade cerebral nesta região relacionada a um evento auditivo como a integração auditivo-linguístico e informações psicolinguísticas[3][9].

Atualmente, constata-se que o N400 reflete pelo menos dois aspectos: (1) a integração semântica ao contexto; (2) e o acesso à informação da memória de longo prazo[10]. Este componente, segundo a literatura, está relacionado a processos semânticos e está sendo muito utilizado para estudar equivalência sonora e tarefas de escolha[11][12][13].

O N400 sofre influência quanto a sua amplitude e latência de acordo com a característica do estímulo. Estímulos frequentes mostram amplitude reduzida, já durante estímulos que envolvem palavras e não palavras observou-se latência e amplitude superiores[8].

Estudos alegam que esse potencial fornece indícios da relação à linguagem e as representações neurais/funções que suportam seu processamento. Nessa direção, esse efeito pode ser usado como ferramenta metodológica para estudar aspectos específicos da linguagem, por subsidiar a investigação de diferenças sutis no processamento das informações que não podem ser detectadas por meio de medidas comportamentais, tanto em populações típicas, quanto de risco ou transtornos da comunicação[14].

O componente tardio N400 capta informações sobre aspectos psicolinguísticos que não são possíveis de avaliação em nenhuma outra abordagem ou avaliação comportamental e/ou auditiva. Por isso, esse componente é tido como um marcador neurofisiológico da discriminação de sons/palavras e de sua relação de congruência semântica de um estímulo linguístico[1].

O N400 tem sido utilizado para examinar a sensibilidade a características lexicais e contextuais e os substratos neurais relativos à linguagem. Além disso, tem sido promissor para obter respostas sobre a natureza específica das desordens cognitivas, já que é uma ferramenta não invasiva e, por isso, empregada em pacientes com transtornos de aprendizagem e dislexia[5].

LIMITAÇÕES[editar | editar código-fonte]

Desde a descoberta do N400, ficou claro que o ajuste de uma palavra ao contexto da frase tem uma influência crítica na amplitude deste componente para essa palavra[7], tais efeitos refletem o acúmulo de informações semânticas ao longo de uma frase que também pode ser visto na descoberta de que as amplitudes do N400 são sistematicamente reduzidas com o aumento da posição da palavra ao longo de frases congruentes[8].

Essas influências da expectativa não se limitam ao nível da sentença. As restrições que surgem no nível do discurso também reduzem as amplitudes N400[15].

Um crescente corpo de estudo sugere que os efeitos do N400 podem ser obtidos mesmo quando essas manipulações são incidentais à tarefa e quando os próprios estímulos provocam pouca percepção consciente. No entanto, as manipulações que afetam a extensão em que a atenção é alocada aos estímulos eliciadores do N400 influenciam o tamanho dos efeitos do exame[16], sugerindo que esses não são processos completamente imunes à atenção[15].

Notavelmente poucos fatores afetam de forma confiável o início do pico N400 e/ou a latência do pico em qualquer grau significativo. De fato, muitos dos fatores (por exemplo, contextos restritivos, frequência de palavras, repetição, priming) que influenciam a facilidade de acesso/processamento lexical – e, portanto, encurtam ou aumentam os tempos de resposta para vários itens – normalmente não afetam as latências do N400 da mesma maneira . Em vez disso, na medida em que tais fatores impactam a resposta do N400, é mais frequente modulá-la do que não modulá-la. Os poucos fatores que influenciam de forma confiável o momento do N400 incluem idade e proficiência no idioma, processos de doenças e taxa de apresentação[17].

CONCLUSÕES[editar | editar código-fonte]

O efeito N400 possibilita abordar questões psicolinguísticas em diferentes fases do desenvolvimento, não passíveis de serem analisadas por outros tipos de medidas[1], possibilitando a compreensão de aspectos específicos do desenvolvimento da linguagem bem como suas alterações em todas as faixas etárias[18].

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d e Kutas, Marta; Federmeier, Kara D. (10 de janeiro de 2011). «Thirty Years and Counting: Finding Meaning in the N400 Component of the Event-Related Brain Potential (ERP)». Annual Review of Psychology (1): 621–647. ISSN 0066-4308. doi:10.1146/annurev.psych.093008.131123. Consultado em 8 de julho de 2023 
  2. a b Medina-Papst, Josiane. «Desempenho de adultos, crianças com desenvolvimento típico e crianças com transtorno do desenvolvimento da coordenação em uma tarefa de planejamento da ação». Consultado em 8 de julho de 2023 
  3. a b c Medina-Papst, Josiane. «Desempenho de adultos, crianças com desenvolvimento típico e crianças com transtorno do desenvolvimento da coordenação em uma tarefa de planejamento da ação». Consultado em 8 de julho de 2023 
  4. a b Torkildsen, Janne von Koss; Sannerud, Tuva; Syversen, Gro; Thormodsen, Rune; Simonsen, Hanne Gram; Moen, Inger; Smith, Lars; Lindgren, Magnus (novembro de 2006). «Semantic organization of basic-level words in 20-month-olds: An ERP study». Journal of Neurolinguistics (6): 431–454. ISSN 0911-6044. doi:10.1016/j.jneuroling.2006.01.002. Consultado em 8 de julho de 2023 
  5. a b c Romero, Ana Carla Leite; Regacone, Simone Fiuza; Lima, Daiane Damaris Baptista de; Menezes, Pedro de Lemos; Frizzo, Ana Cláudia Figueiredo (junho de 2015). «Potenciais relacionados a eventos em pesquisa clínica: diretrizes para eliciar, gravar, e quantificar o MMN, P300 e N400». Audiology - Communication Research (2): VII–VIII. ISSN 2317-6431. doi:10.1590/s2317-64312015000200001559. Consultado em 8 de julho de 2023 
  6. Kutas, Marta; Hillyard, Steven A. (11 de janeiro de 1980). «Reading Senseless Sentences: Brain Potentials Reflect Semantic Incongruity». Science (4427): 203–205. ISSN 0036-8075. doi:10.1126/science.7350657. Consultado em 8 de julho de 2023 
  7. a b c Kutas, Marta; Hillyard, Steven A. (janeiro de 1984). «Brain potentials during reading reflect word expectancy and semantic association». Nature (5947): 161–163. ISSN 0028-0836. doi:10.1038/307161a0. Consultado em 8 de julho de 2023 
  8. a b c Van Petten, Cyma; Kutas, Marta (julho de 1990). «Interactions between sentence context and word frequencyinevent-related brainpotentials». Memory & Cognition (4): 380–393. ISSN 0090-502X. doi:10.3758/bf03197127. Consultado em 8 de julho de 2023 
  9. Deuschle, Vanessa Panda; Cechella, Cláudio (5 de dezembro de 2008). «O déficit em consciência fonológica e sua relação com a dislexia: diagnóstico e intervenção». Revista CEFAC (suppl 2): 194–200. ISSN 1982-0216. doi:10.1590/s1516-18462008005000001. Consultado em 8 de julho de 2023 
  10. Kutas, Marta; Federmeier, Kara D. (dezembro de 2000). «Electrophysiology reveals semantic memory use in language comprehension». Trends in Cognitive Sciences (12): 463–470. ISSN 1364-6613. doi:10.1016/s1364-6613(00)01560-6. Consultado em 8 de julho de 2023 
  11. Almeida, João Henrique de; Bortoloti, Renato; Ferreira, Paulo Roberto dos Santos; Schelini, Patricia Waltz; Rose, Julio César Coelho de (2014). «Análise da Validade e Precisão de Instrumento de Diferencial Semântico». Psicologia: Reflexão e Crítica (2): 272–281. ISSN 0102-7972. doi:10.1590/1678-7153.201427207. Consultado em 8 de julho de 2023 
  12. Haimson, Barry; Wilkinson, Krista M.; Rosenquist, Celia; Ouimet, Carolyn; McIlvane, William J. (setembro de 2009). «ELECTROPHYSIOLOGICAL CORRELATES OF STIMULUS EQUIVALENCE PROCESSES». Journal of the Experimental Analysis of Behavior (2): 245–256. ISSN 0022-5002. doi:10.1901/jeab.2009.92-245. Consultado em 8 de julho de 2023 
  13. Tabullo, Angel; Yorio, Alberto; Zanutto, Silvano; Wainselboim, Alejandro (maio de 2015). «ERP correlates of priming in language and stimulus equivalence: Evidence of similar N400 effects in absence of semantic content». International Journal of Psychophysiology (2): 74–83. ISSN 0167-8760. doi:10.1016/j.ijpsycho.2015.03.004. Consultado em 8 de julho de 2023 
  14. Friedrich, Manuela; Friederici, Angela D. (agosto de 2010). «Maturing brain mechanisms and developing behavioral language skills». Brain and Language (2): 66–71. ISSN 0093-934X. doi:10.1016/j.bandl.2009.07.004. Consultado em 8 de julho de 2023 
  15. a b George, Marie St.; Mannes, Suzanne; Hoffinan, James E. (1 de janeiro de 1994). «Global Semantic Expectancy and Language Comprehension». Journal of Cognitive Neuroscience (1): 70–83. ISSN 0898-929X. doi:10.1162/jocn.1994.6.1.70. Consultado em 8 de julho de 2023 
  16. Melo, Hiago Murilo de; Nascimento, Lucas Martins; Takase, Emílio (2019). «Adaptações do cérebro durante uma tarefa de longa duração: Um estudo de Potencial Relacionado a Evento.». Psicologia: Teoria e Pesquisa. ISSN 1806-3446. doi:10.1590/0102.3772e3527. Consultado em 8 de julho de 2023 
  17. Kutas, Marta; Federmeier, Kara (2009). «N400». Scholarpedia (10). 7790 páginas. ISSN 1941-6016. doi:10.4249/scholarpedia.7790. Consultado em 8 de julho de 2023 
  18. Lindau, Tâmara Andrade; Giacheti, Célia Maria; Silva, Isabella Bonamigo da; Souza, Deisy das Graças de (setembro de 2017). «Semantic processing in children 0 to 6 years of age: an N400 analysis». Revista CEFAC (5): 690–701. ISSN 1982-0216. doi:10.1590/1982-0216201719513517. Consultado em 8 de julho de 2023