Usuário(a):Marinaestelagraca/Criação de Imagens Animadas por crianças

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Em Portugal, o corrente modelo de ensino não é motivador para muitas crianças que até sabemos serem criativas e que, por isso mesmo, poderiam vir a ser profissionais valiosos. Algumas delas abandonam a escola ou permanecem alunos problemáticos. A exclusão escolar conduz à exclusão social: as crianças que abandonam a escola ou que não vêm as suas capacidades detectadas e desenvolvidas, tornam-se adultos impreparados e pouco inclinados à participação social e laboral activas.

A realização de projectos de ensino com recurso a técnicas de imagem animada cria condições para o desenvolvimento da criatividade e da literacia (não apenas audiovisual) na expectativa da sociedade altamente mediatizada que se avizinha e no sentido das recomendações e objectivos europeus. Permite um processo pedagógico simultaneamente concreto, inclusivo e apoiado, no universo digital e com alunos individualmente distintos.
O projecto de filme pertence àqueles que o realizam. As dificuldades porque passam são suas, tal como as soluções que encontram. As aprendizagens vão-se construindo a partir das estratégias e respostas que advêm da sua determinação no projecto. Pelo meio, aprendem a questionar; a improvisar ferramentas, processos e materiais; a identificar relações entre conceitos e procedimentos aprendidos e a aplicá-los convenientemente, reforçando interdisciplinaridades e transdisciplinaridades. Aprendem a aprender.

Para realizar filmes animados são necessários equipamentos de processamento, registo e reprodução gráficos, fotográficos e videográficos. Podemos fazer um desenho e digitalizá-lo com um scanner; ou 'capturá-lo' com uma câmara vídeo associada a um computador; ou, até, fazê-lo usando uma aplicação informática e uma interface (o teclado, o 'rato' ou uma mesa digitalizadora) adequada.
Por vezes, é mais interessante trabalhar com materiais que podemos manipular: barro, recortes de papel, objectos, ou o nosso corpo. Nestes casos, podemos usar uma máquina fotográfica ou uma câmara vídeo (associada a um computador), apoiada num tripé. Precisamos, também, de iluminação. A escolha técnica depende da questão inicial que deu origem ao projecto.

Um filme é uma sequência de fotogramas que aparenta movimento. A realização de um filme animado parte da concepção de fotograma enquanto unidade mínima, material, individualizada e manipulável da composição sequencial. Cada segundo de uma projecção vídeo normal (europeia) é composto por 25 fotogramas.
Na base da ilusão de movimento animado está o modo como o animador manipula a diferença entre fotogramas. É a relação de diferença/semelhança gráfica entre cada duas imagens que, na sucessão regular e rápida destas no ecrã, produz a impressão de movimento no sistema de percepção visual do espectador.
Actualmente já não é comum usar película. É mais fácil e barato usar programas informáticos, alguns instalados de origem em todos os computadores. Para vermos o filme basta converter a sequência de fotogramas num formato que possa ser lido pelo computador, pelo leitor de dvds ou pelo telemóvel. Podemos, finalmente, mostrá-lo a uma audiência ligando o computador ou o leitor de dvds a um projector vídeo ou descarregando-o na internet.

Metodologia essencial
Um projecto de filme tem origem numa questão inicial, a partir da qual o grupo de crianças deverá estruturar ideias e tarefas.
Primeiro, deve aprender-se a compor movimento. A construção da ilusão de movimento tem origem não apenas na observação do movimento dos seres e das coisas ou do nosso corpo no mundo, mas, igualmente, no modo como ele é sentido. Trata-se sempre (e em todo o processo) de construir um conhecimento complexo, simultaneamente científico, artístico e tecnológico: o desenvolvimento integrado de uma consciência e de uma sensibilidade críticas assim como o conhecimento das linguagens (signos visuais e respectiva articulação) e tecnologias que suportam o processo de discurso. Sabendo compor movimento e usar os equipamentos, será possível escolher entre contar histórias ou, simplesmente, coreografar processos de transformação.

Em seguida, a turma será organizada em grupos e o processo de produção em fases. Estas são as mesmas que a indústria usa: pré produção; produção; pós-produção.
Na organização dos grupos, a imagem animada permite ter em conta as sensibilidades, estilos de aprendizagem e idiossincrasias de cada criança. As tarefas são diferenciadas e cada um poderá desenvolvê-las a partir das suas próprias capacidades iniciais. Até mesmo trabalhar individualmente. De forma natural, cada criança verá o seu esforço conjugado no resultado final: o processo é instaurador de cumplicidades, de relações de afecto.

Na fase de pré-produção, são desenvolvidos conceitos em função da ideia inicial. Ao mesmo tempo, é fundada a gramática do projecto: personagens, acções e lugares; cores, luzes, figurinos, diálogos, espaços e ritmos. Conjuga-se tudo num pequeno texto, a sinopse, que é depois desenvolvida em argumento e em guião gráfico (storyboard): a sequência de planos desenhados e enquadrados segundo a informação que se quer comunicar, à qual se juntam notas sobre movimentos de câmara, movimentos dos personagens e sons. O resultado parece banda desenhada. Após rectificação, o storyboard será transformado em guião fílmico (animatic). Este é o rascunho do filme: é uma sequência de planos ainda fixos, na duração planeada, com sons que podem ser simulados com a voz, usando o microfone da câmara vídeo ou do computador: diálogos, efeitos, ambiente sonoro e, eventualmente, música. O animatic permite verificar se o que queremos contar é compreensível e ter uma ideia da duração e ritmo do filme.

A seguir, na fase de produção, cada equipa deve executar graficamente e animar cada um dos planos. É um trabalho lento. Primeiro, os movimentos são analisados em função do significado e articulação na acção específica e na narrativa geral e, depois, segundo a respectiva trajectória e duração. Num projecto mais documental, constroem-se modelos analíticos e processuais que permitem representar a realidade (não apenas visual). As crianças aprendem a investigar mas, também, a encenar: teatro articulado com ciências; com muitos, muitos gestos e gargalhadas à mistura (mimamos para compreender). Devagarinho, cada movimento é desmontado em imagens e cada imagem é registada pela câmara (ou processada pelo computador). A sequência vai sendo visionada pelo grupo à medida que aumenta: o filme cresce e a motivação também. Os sons podem realizar-se em simultâneo: é mais fácil animar sobre sons. O efeito de sincronia obtido quando os ‘bonecos’ se movem ou falam de acordo com o som é mágico e produz uma ligação afectiva fundamental no grupo de crianças.

Finalmente, na pós-produção, associamos os planos animados na justa sequência, de acordo com o animatic. Juntamos todas as sequências e sons, um título e os créditos, visionamos e corrigimos.

Podemos, enfim, converter o nosso filme em formato DVD de modo a mostrá-lo à escola toda, à família ou propô-lo a um dos muitos festivais com categorias para filmes escolares.

Artigos e listas relacionados[editar | editar código-fonte]

Manual (em inglês)
Teaching with Animation[1] (2007). Manual para a realização de instrumentos de ensino/aprendizagem com base em técnicas fílmicas de imagem por imagem destinado a professores de todos os grupos disciplinares e para ser usado em todas as fases etárias dos alunos do ensino básico. Projecto financiado pelo Programa Leonardo da Vinci da Comunidade Europeia e realizado por uma parceria de equipas europeias (CVU Midt-Vest; Ciclope Filmes Lda; Danish University of Education; Kinobuss; University of the West of England; 9 Zeros - Centro de Estudios de Técnicas de Animación de Catalunya).

Graça, M. E. (2008). "Creative Animation Methodologies With Children: State of the Research", in Hana Repse (ed.), Zbornik Slon - The Elephant Anthology, Anthology on Education in Animation Film, Pedagogical Materials for Teachers and Parents III (edição bilingue em esloveno e em inglês). Ljubljana (Eslovénia): Two Reels - Association for the Reanimation of Storytelling/Javni zavod Kinodvor, pp. 22-29, ISBN 978-961-92264-3-8. Em pdf (3,9 Mb)[2]
Graça, M. E. (2008). "Imagens animadas realizadas por crianças na sala de aula: motivação, literacia e criatividade", Convergências, Revista de Investigação e Ensino das Artes, n.2, ISSN 1646-9054.[3]

LAPIS[4] (Laboratório de Pesquisa em Imagem e Som, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil)