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Usuário(a):Pedro med/Testes/texto 2

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Fonte:PEREIRA, Mateus Henrique de Faria. Nova direita? Guerras de memória em tempos de Comissão da Verdade (2012-2014). Varia hist. [online]. 2015, vol.31, n.57, pp.863-902.

O texto tem como objetivo, aproveitar a chegada da comissão nacional da verdade, para por em discussão o impacto da comissão e compreender os discursos negacionistas, a negação e o revisionismo sobre a Ditadura Militar. É importante salientar o significado de algumas palavras bastante presentes durante o texto, detre elas temos:

  • Negação: Distorção dos fatos, com o objetivo de negar algum determinado acontecimento;
  • Revisionismo: Uso da interpretação livre que de certa forma não nega os fatos de algum acontecimento, mas que tenta justificar os fatos através de uma história alternativa, com o objetivo de legitimar suas ações;
  • Negacionismo: Radicalização da negação e do revisionismo.

O autor utiliza a discussão entre o usuário conhecido como "Tigre do Oeste" e o usuário de IP "189.78.72.125", para pôr em questão a chamada "guerra de memória" sobre a Ditadura Militar nas inter-relações entre o "virtual", o "real" e o "atual". A partir disso é possível considerar a internet, o meio virtual, como um "veículo de memória" ao trazer para o espaço público os conflitos de memória, estes conflitos são questionamentos feitos no presente, sobre violências de um "passado-presente", neste caso a Ditadura-Militar. A "guerra de memória" não um conflito maniqueísta entre o bem e o mal, mas sim um conflito de multiplicidades de memórias fragmentadas, historiografias e temporalidades.

O texto também aborda o revisionismo sobre o golpe militar, onde a justificativa para a legitimação do golpe, seria uma possível invasão comunista no país. Há também outra justificativa que o texto menciona e que começa a misturar o revisionismo com o negacionismo, uma vez que a explicação seria que os militares impediram a invasão comunista e a invasão militar estadunidense, ou seja, basicamente essa justificativa tenta legitimar o golpe através da prevenção da invasão comunista e ao mesmo tempo negam a responsabilidade do golpe e do contra-golpe, colocando a culpa nos Estados Unidos, ou seja, é utilizado manipulação, dissimulação e justificativa, uma vez que é sabido que o golpe foi apoiado pelos Estados Unidos e não um golpe para impedir a invasão estadunidense.

Com a utilização do documento Ofício n° 10.944 e mais três anexos, o autor propõe um exercício, onde suprimos as palavras "não" presentes nesses trechos, com a finalidade de averiguar a lógica da negação no sentido freudiano. O resultado deste exercício mostra uma certa dificuldade em aceitar o ocorrido e suas consequências, ao mesmo tempo em que há uma tomada de consciência, no entanto o excesso da palavra "não" mostra um dificuldade institucional de aceitar os acontecimentos. Na perspectiva freudiana não há uma aceitação afetiva do erro, uma vez que não há aceitação da culpa, ou arrependimento ou remorso, ou seja, no final apesar dos acontecimentos e suas consequências ainda há uma negação do ocorrido e um revisionismo, uma vez a justificativa é que que tudo foi feito para evitar o comunismo.

O autor afirma que o autoritarismo é uma forma de negação ideológica, uma vez que negam a igualdade dos homens e destacam a hierarquia. No ponto de vista da ideologia, ao analisar as negações e revisionismos temos o paradoxo da ideologia na qual há um questionamento: "haveria uma instância crítica capaz de colocar em distância o fenômeno da ideologia?" (p.878). Para exemplificar essa questão o autor utiliza uma imagem onde temos o deputado Jair Bolsonaro e acima dele há uma faixa que parabeniza os militares por terem impedido que o Brasil se tornasse Cuba. A partir dessa imagem, o autor mostra que o processo ideológico está ligado ao confronto contra os adversários na luta ideológica, e a partir do uso de distorções de imagens, através das seletividades das narrativas, isso dá um caráter de revisionismo, uma vez que, a manipulação e distorção são usadas para legitimar uma movimento.

O revisionismo e/ou a negação são muito mais amplos do que a memória, no entanto é importante salientar que "ele é fundado em uma retórica que idealiza, distorce, dissimula, justifica e milita por algum tipo de absolvição." (p.880). Ao contrário do que pensa Ricoeur, conhecer os fatos acontecidos anteriormente através da lembrança pode acarretar em mais ódio, ressentimentos, rixas.

"A internet e as tecnologias digitais criam e recriam outras(novas e velhas) formas de sociabilidade, ação, identidade e ativismo político." (p.881). Os atores dessa "comunidade" usam de discursos, ocupam posições e funções que são mutáveis dentro da rede, dessa forma misturam-se, associam-se e se tronam porta-vozes de certos fundamentalismos, que torna o Brasil no tempo presente muito polarizado. Para o fundamentalista de certa tradição, a memória em si é mais importante do que a verdade que aconteceu anteriormente, mesmo que ela negue e/ou revise, ou construa interpretações que sejam utilizadas no combate do presente do que a compreensão da experiência histórica.

A negação e/ou o revisionismo são entraves que não permitem a construção de uma "memória justa". Os "conflitos de memória" são disputas de poder, especialmente quando envolve um "passado" que ainda é atual, no caso deste texto temos a Ditadura Militar. Os conflitos de memória juntamente com o combate à negação e/ou revisionismo, tem contribuído para revelar as marcas, cicatrizes do passado-presente, permitindo a inscrição destas marcas na memória coletiva de uma nação.