Usuário(a):Rayssa Vieira da Silva/Testes

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Este trabalho tem como objetivo a produção de um documento capaz de explicar um acontecimento internacional pela ótica de teorias das relações internacionais para a obtenção de nota avaliativa na disciplina de Teoria Política e das Relações Internacionais. O acontecimento escolhido para analise foi o êxito da gestão de Jacinda Ardern, primeira�ministra da Nova Zelândia, durante a Pandemia do Covid-19; a teoria que servirá de lente para explicar e entendermos a este acontecimento será a teoria pós-positivista, mais precisamente, a abordagem feminista das Relações Internacionais.


Dessa forma, para a sua elaboração serão retratadas as estratégias e ações de governo da primeira-ministra durante a gestão do covid-19, mas, de forma breve, será primeiramente apresentado a sua gestão anterior a pandemia do Coronavírus, para que se possa fazer uma comparação entre os dois períodos, no qual, o segundo retratada uma administração de emergência e o primeiro uma administração que já estava arquitetada. Paralelo a isto, será redigido sobre a abordagem feministas das Relações Internacionais como lente de interpretação da forma de governar de Jacinda Ardern.


Ardern, do Partido Trabalhista, entrou no governo neozelandês como premiê em 3 de outubro de 2017, aos 37 anos de idade e, desde então, está sob alvo midiático em razão da sua maneira de conduzir as políticas internas e externas de seu mandato. As notícias divulgadas, em sua grande maioria, se referem as conquistas obtidas, um exemplo foi o modo em que procedeu posterior ao atentado terrorista a duas mesquitas na cidade de Christchurch, em 03 de março de 2019, em que deixou 51 mortos, segundo o Jornal CNN Brasil (2020).[1] Ainda, consoante a fonte citada anteriormente, ao comentar os acontecimentos, Ardern optou por não mencionar o nome do responsável ao atentado e pediu para que o seu rosto não fosse revelado, para evitar dar publicidade ao indivíduo.


De acordo com o Jornal CNN Brasil (2020)[1], como alternativa, a premiê formou um grupo pluripartidário para visitar as famílias das vítimas e, seis dias depois do atentado, a primeira-ministra determinou a proibição da venda de fuzis e outras armas semiautomáticas no país e a aplicação de uma multa de 4 mil dólares e até três anos de prisão para quem não entregasse o armamento já adquirido dentro do período de adaptação à lei.


Outro ponto que merece destaque foi a “quebra de padrões” ao levar a sua filha, Neve, de apenas 3 meses na época, a uma Assembleia Geral da ONU em setembro de 2018 e, ao ser questionada sobre o evento, a primeira ministra disse que deseja normalizar estes acontecimentos, pois, caso desejamos tornar os locais de trabalho mais abertos, precisamos reconhecer os desafios logísticos e, quão mais aberto for esses espaços, mais mulheres conseguirão atingi-los. Tradução da autora (CNN International, 2018)[2].


Referente ao contexto apresentado até o momento já é possível verificar e refletir a cerca da abordagem feminista das Relações Internacionais, na qual, em primeira instância, tem-se uma mulher a ocupar o cargo mais elevado no Estado e a ter uma filha durante o seu mandato. Estas duas situações mostram uma ruptura na estrutura patriarcal pelo fato de cargos políticos fazerem parte da hegemonia dominante masculina (Monte, 2013)[3] e em virtude da junção da maternidade e da vida profissional, em que a tendência é a concentração em apenas uma dessas esferas, esse feito danifica a visão que se tem do gênero ligado estreitamente a biologia em vez de uma construção social, neste caso, a mulher não se apresenta como submissa ou frágil, ela está no centro do debate e é atuante nas questões de poder político, segurança internacional, estabilidade e soberania estatal.


Essas atitudes tidas por Jacinda Ardern demostram que, para romper com as estruturas patriarcais dominantes não é preciso, por regra, desistir de seus interesses pessoais ou assumir comportamentos que estejam relacionados a masculinidade para se adaptarem as demandas, pois, de acordo com Peterson e Runyan (citado em Monte, 2013, p.71)[3] "A progressiva, ainda que tímida, inclusão de mulheres nas altas esferas decisórias, nas últimas décadas, demonstra que a presença delas nesses espaços não implica necessariamente uma alteração dos comportamentos estatais. Como apontam Peterson e Runyan, é comum que mulheres em posições de poder adotem uma atitude masculinizada para se adaptar melhor às demandas do contexto da alta política, o que apenas reforça a ideia de que gênero não é apenas um atributo pessoal, mas também de instituições. Logo, a questão seria incluir um diferente ponto de vista, e não apenas mulheres."


Com o que foi exposto anteriormente, já foi possível notar, de forma breve e simplificada, a resistente trajetória da primeira-ministra como componente de um Sistema Internacional delineado para que haja a permanência do domínio patriarcal. No entanto, o evento que afirmou a sua prestigiosa atuação como premiê da Nova Zelandia, foi a sua gestão referente a pandemia do Covid-19, fato este que constitui o objetivo desse trabalho.


Em 21 de Dezembro de 2020 a Bloomberg (2020)[4] atualizou o seu artigo sobre o ranking de resiliência contra o Covid-19 e a Nova Zelândia ficou em primeiro lugar na categoria de melhor gestão de combate aos efeitos da pandemia, segundo o Jornal BBC (2020)[5] “o país alcançou 85,4 pontos no ranking e seu ponto mais negativo é uma queda econômica de 6,1% do Produto Interno Bruto (PIB)”.


Este cenário favorável é fruto não apenas de precoces e rígidas tomadas de prevenção, mas também de transparência de informações que o seu governo, ao longo da crise, buscou passar para a população. Houve, desde o início, constantes atualizações sobre a pandemia através dos meios de comunicação como imprensa e via mensagens de celulares para alertar o povo neozelandês sobre os perigos que o seu Estado e o mundo estavam a enfrentar, esse tipo de atitude acabou por aproximar a população civil a aderirem as medidas impostas pelo governo a cooperarem para o mesmo fim, a diminuição da transmissão do vírus. (Jornal DW, 2020)[6].


A mensagem de texto enviada para os telemóveis dos residentes da Nova Zelândia foi a seguinte: "Esta é uma mensagem para toda a Nova Zelândia. Estamos dependendo de você" (…) "Onde você fica esta noite é onde deve ficar a partir de agora... é provável que [as medidas mais rígidas] permaneçam em vigor por várias semanas." (Jornal DW, 2020)[6].


Além disso, o governo investiu em testes de amostragem em massa para conseguir rastrear os grupos que precisavam de isolamento a medida em que novos casos eram diagnosticados, o país seria capaz de testar até 8 mil pessoas por dia. (Jornal DW, 2020)[6].


Outro episódio característico da governança de Ardern foi a sua responsabilidade empática com os que foram contaminados e a sua liderança firme sobre os descumprimentos da quarentena obrigatória. O ministro da Saúde, David Clark, violou as regras de confinamento para ir a uma praia com sua família, a premiê repreendeu o titular publicamente e chegou a cogitar a sua demissão ao cargo, contudo, constatou que o país não poderia se comprometer com essa mudança abrupta na pasta. Clark foi mantido, mas teve seu status rebaixado e perdeu uma de suas funções paralelas no Ministério das Finanças. (Jornal DW, 2020)[6].


Estas condutas tidas por Jacinda Ardern dão um novo ponto de vista para a formulação de políticas dentro das estruturas do Estado, pois, como foi escrito anteriormente, este perfil de liderança rígida, empática e cooperativista é notado desde os primórdios de sua atuação, a sua forma de atuar na política com diferentes perspetivas e romper com a hegemonia patriarcal não foi ocasionada mediante uma situação emergencial; ocorreu o inverso, o cenário pandémico da Nova Zelândia teve consequências diferentes que nos outros Estados em razão desta perspetiva da primeira ministra. Ou seja, a adesão da sociedade civil as medidas do governo que priorizam o bem-estar e a segurança social, teve efeitos distintos de outros países do mundo justamente por dar continuidade a uma política já existente. Em outros termos, essa não foi uma mudança comportamental que repelisse a população e diminuísse a credibilidade de sua gestão.


Esses comportamentos, dentro da abordagem feminista das Relações Internacionais, vão ao encontro do que defende Peterson e Runyan (citado em Monte, 2013)[3], como foi mencionado anteriormente, em que, para haver uma eficaz mudança na estrutura não basta apenas incluir mulheres, é necessário que elas tenham ferramentas suficientes para implementar um ponto de vista que vá além do tradicional, para que, de fato, ocorra as devidas mudanças institucionais.


Outrossim interpretado pela lente da abordagem feminista é o perfil cooperativo de Ardern, pois, de acordo com Tickner (citado em Ruddick, 1992)[7] as mulheres, historicamente, são mais propícias a socializações ligadas ao comunitário, à cooperação, à não hierarquização, contudo, deve-se ter em mente que este tipo de comportamento cooperativo não pode estar ligado apenas ao fato de que, pela estrutura social, as mulheres estão mais aptas a colaboração e sim pelo fato de que, o Sistema Internacional de Estados vive uma interdependência complexa que, de acordo com Robert Keohane e Joseph Nye (1977)[8], para um Estado manter a sua sobrevivência, ele precisa cooperar com os demais, já que, um país, por si só, não é capaz de prover toda a demanda que a sua população necessita, ele precisa manter e criar alianças.


Dentro da abordagem feminista das Relações Internacionais existe diversas interpretações, como o feminismo radical, liberal, socialista, pós-coloniais, entre outras, entretanto, não se pretende aqui identificar ou classificar Jacinda Ardern dentro dessas interpretações e sim analisar e explicar o seu comportamento e êxito no rompimento dos padrões políticos a luz da abordagem feminista. Êxito este que a proporcionou a sua reeleição, em 17 de outubro de 2020. (Jornal DW, 2020)[9].

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b «Quem é Jacinda Ardern, premiê da Nova Zelândia». CNN Brasil. Consultado em 21 de abril de 2021 
  2. CNN, James Masters. «Jacinda Ardern: Taking baby into UN can inspire change». CNN. Consultado em 21 de abril de 2021 
  3. a b c Monte, Izadora Xavier do (abril de 2013). «O debate e os debates: abordagens feministas para as relações internacionais». Revista Estudos Feministas (1): 59–80. ISSN 0104-026X. doi:10.1590/S0104-026X2013000100004. Consultado em 21 de abril de 2021 
  4. Hong, Jinshan; Chang, Rachel; Varley, Kevin. «Here Are the Best and Worst Places to Be as Vaccinations Take Off». Bloomberg.com (em inglês). Consultado em 21 de abril de 2021 
  5. «Coronavírus: os melhores e os piores países para se estar na pandemia». BBC News Brasil. Consultado em 21 de abril de 2021 
  6. a b c d Welle (www.dw.com), Deutsche. «Os acertos da Nova Zelândia no combate à covid-19 | DW | 08.06.2020». DW.COM. Consultado em 21 de abril de 2021 
  7. «Feminist Perspectives on the Self (Stanford Encyclopedia of Philosophy/Winter 1999 Edition)». stanford.library.sydney.edu.au. Consultado em 21 de abril de 2021 
  8. Nye, Keohane, Joseph, Robert (2011). Power and Interdependence: World Politics in Transition. London: Pearson Education 
  9. Welle (www.dw.com), Deutsche. «Partido de Jacinda Ardern tem vitória esmagadora na Nova Zelândia | DW | 17.10.2020». DW.COM. Consultado em 21 de abril de 2021