Ilusão de Jastrow

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Ilusão de Jastrow.
Dois segmentos de arco que afunilam para uma extremidade, de forma e tamanho idênticos, dispostos um acima do outro e de modo a que os limites esquerdos de cada um estejam alinhados, provocando a ilusão que o segmento inferior é maior.
Ilusão estudada por Jastrow (1892)
Nesta imagem nota-se que estas imagens são do mesmo tamanho

Ilusão de Jastrow é um fenómeno percetivo, que consiste na ilusão de percecionar figuras isométricas com dois limites curvos como sendo de tamanhos diferentes, quando alinhadas verticalmente, sendo que a figura no topo parece menor. É também conhecida por Ilusão Segmento de Anel, Ilusão Área de Wundt ou Ilusão Wundt-Jastrow.

Principais Enquadramentos Teóricos[editar | editar código-fonte]

Dois segmentos de arco de forma e tamanho semelhantes, dispostos um acima do outro e de modo a que os limites esquerdos de cada um estejam alinhados, provocando a ilusão que o segmento inferior é maior.
Ilusão de Jastrow, em The World of Wonders (1873)

A primeira referência à ilusão é no livro The World of Wonders, onde é ilustrada por dois segmentos de arco de tamanho semelhante. A interpretação dada pelos autores é simplesmente que, como as figuras parecem ser concêntricas, se continuada a linha direita que limita o arco superior, esta iria cortar o arco inferior, pelo que este deve ser maior.[1]

Em 1892, a ilusão foi estudada por Joseph Jastrow, em conjunto com outras ilusões semelhantes, descrevendo-as como ilusões de discernimento e não de perceção e interpretando-as como o resultado de avaliar o mundo relativamente ao que o rodeia ao invés de em termos absolutos.[2]

Principais Estudos Empíricos[editar | editar código-fonte]

Em 1960, Imai estudou diferentes combinações de medidas para observar quando é que a ilusão seria maior e verificou que o efeito máximo se observa quando o raio interno é 60% do raio externo, quando o ângulo de abertura é 80º, o ângulo de corte é 0º e as figuras estão dispostas horizontalmente, uma acima da outra.[3]

Em 1992, Kennedy et al verificaram que, quando era fornecida mais informação acerca das figuras, ao alterar as suas posições relativas, a ilusão mantinha-se, mas os participantes estavam conscientes do tamanho real das figuras.[4] Em 1993, Pick e Pierce estudaram as diferenças e semelhanças entre a ilusão de Jastrow e a ilusão de Ponzo, comparando teorias usadas para explicar ambas e modificando os arcos para estudar a perceção do comprimento das linhas, em vez da perceção das áreas dos arcos.[5]

Em 2008, Maniatis publicou uma dissertação onde apresentou a ilusão da Torre Inclinada como sendo uma variante da ilusão de Jastrow. A ilusão da Torre Inclinada ocorre quando duas imagens idênticas da torre inclinada de Pisa são situadas lado a lado e a segunda aparenta ter uma maior inclinação. Maniatis declara que isto acontece devido aos contornos do topo das torres serem divergentes.[6]

Em 2015, Tomonaga demonstrou que a ilusão se verifica tanto em humanos como em chimpanzés. Estes resultados surgiram ao tentar comparar a ilusão de Jastrow com a ilusão Face Gorda (Fat Face), que consiste em alinhar duas imagens idênticas da mesma cara verticalmente, e percecionar a cara de baixo como sendo mais gorda. O estudo pode indicar uma dissociação entre as ilusões ou entre os processamentos de faces entre humanos e chimpanzés.[7]

Implicações Teóricas, Práticas e/ou Aplicadas[editar | editar código-fonte]

Em 1987, Massironi et al estudaram o efeito da ilusão em pacientes com negligência unilateral, ou negligência hemiespacial, verificando que pessoas com esta condição não percecionam a ilusão quando as figuras estavam alinhadas epsilateralmente com a lesão cerebral, o que revelou a possibilidade do uso da ilusão modificada como teste diagnóstico para a condição.[8]

Em 2016, Chouinard et al estudaram a suscetibilidade de pessoas com transtorno do espetro autista a várias ilusões visuo-espaciais, concluindo que, maioritariamente, os sujeitos percecionavam a ilusão, o que veio contrariar estudos anteriores.[9]

Referências

  1. The World of wonders: a record of things wonderful in nature, science, and art. [S.l.]: London, Cassell, Petler, and Galpin. 1873 
  2. Jastrow, J. (1892). «Studies from the Laboratory of Experimental Psychology of the University of Wisconsin. II». The American Journal of Psychology. 4 (3): 381-428 
  3. Imai, Shogo (1960). «Experiments on Jastrow illusion». The Japanese journal of psychology. 30 (5): 350–356. ISSN 1884-1082. doi:10.4992/jjpsy.30.350 
  4. Kennedy, John M.; Green, Christopher D.; Nicholls, Andrea; Liu, Chang Hong (1992). «Illusions and Knowing What Is Real». Ecological Psychology. 4 (3): 153–172. ISSN 1040-7413. doi:10.1207/s15326969eco0403_2 
  5. Pick, David F.; Pierce, Kent A. (1993). «Theoretical Parallels between the Ponzo Illusion and the Wundt-Jastrow Illusion». Perceptual and Motor Skills. 76 (2): 491–498. ISSN 0031-5125. doi:10.2466/pms.1993.76.2.491 
  6. Maniatis, Lydia M (2008). «The Leaning Tower Illusion is Not a Simple Perspective Illusion». Perception. 37 (11): 1769–1772. ISSN 0301-0066. doi:10.1068/p6102 
  7. Tomonaga, Masaki (2015). «Fat Face Illusion, or Jastrow Illusion with Faces, in Humans but not in Chimpanzees». i-Perception. 6 (6). 204166951562209 páginas. ISSN 2041-6695. doi:10.1177/2041669515622090 
  8. Massironi, Manfredo; Antonucci, Gabriella; Pizzamiglio, Luigi; Vitale, Maura Viviana; Zoccolotti, Pierluigi (1988). «The Wundt-Jastrow illusion in the study of spatial hemi-inattention». Neuropsychologia. 26 (1): 161–166. ISSN 0028-3932. doi:10.1016/0028-3932(88)90039-5 
  9. Chouinard, Philippe A.; Unwin, Katy L.; Landry, Oriane; Sperandio, Irene (25 de fevereiro de 2016). «Susceptibility to Optical Illusions Varies as a Function of the Autism-Spectrum Quotient but not in Ways Predicted by Local–Global Biases». Journal of Autism and Developmental Disorders. 46 (6): 2224–2239. ISSN 0162-3257. doi:10.1007/s10803-016-2753-1 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]