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Figuração livre: diferenças entre revisões

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Revisão das 10h25min de 22 de outubro de 2004

Figuração Livre/Novas Figurações

Fim dos anos 70, principio dos anos 80. Século XX. O mercado da arte na Europa e Estados Unidos começa aos poucos a dar sinais de saturação em relação ao que se vem produzindo até então. As novas vanguardas dos anos sessenta e setenta começam a dar sinais de quebra. Depois de 30 anos de Conceptualismo (termo onde se podem englobar todas as tendências avant-garde da altura), em que o panorama artístico era dominado por várias tendências conceptuais, as quais tinham em comum o desejo de superar a pintura, começa a existir um movimento de regresso à denominada pintura-pintura. As vanguardas dos anos sessenta e setenta tiveram como principal fonte de inspiração o Dadaísmo. Marchel Duchamp, famoso pelos seus objectos ready-made, foi o grande impulsionador deste movimento. Defendia a superioridade do pensamento do artista em relação à execução da obra, como se a obra existisse já na mente do seu criador. Deste modo, dava primazia à ideia em detrimento da materialização da mesma, a qual aconteceria apenas para benefício do espectador. No apogeu do Conceptualismo, o artista passava mais tempo a escrever à maquina do que no seu atelier, e as galerias, por vezes tinham mais livros para vender do que quadros. Tudo isto devia-se ao facto de a arte conceptual dar mais primazia à ideia do que ao objecto material. Deste modo, sendo este secundário, é exigido ao observador uma participação intelectual, menos emotiva ou contemplativa, de modo a descobrir o sentido do que lhe é apresentado. As novas figurações surgem precisamente como o oposto de tudo isto. Surgem como uma necessidade de voltar atrás, á pintura propriamente dita, com tudo o que de novo isso poderia trazer. Este movimento teve tantas denominações como os diferentes países onde surgiu: Novos Expressionistas ou Novos Fauves na Alemanha, Trans-Vanguarda em Itália, Bad-Panting nos Estados Unidos e Figuração Livre em França. Em comum, o já referido regresso à pintura-pintura, ao cavalete, à paleta, aos pincéis, às cores a óleo. Os artistas representantes deste movimento, demonstraram um retorno às preocupações politico-sociais, à questão da sexualidade, ao humor, às expressões mais populares, sendo estas transmitidas para a tela. Dão primazia à figuração, á fantasia, à liberdade de expressão com formas familiares em vez da abstracção e do conceito. Este movimento surge também como um verdadeiro milagre para o mercado da arte, pois as galerias já não tinham praticamente nada para vender. Desta forma, alguns dos representantes da figuração livre saltam para as galerias e começam a ser as estrelas do momento. Esta nova forma de expressão está directamente relacionada com alguns dos movimentos estéticos anteriores, tais como o expressionismo, o grupo Co.Br.A. (Coopenhaga, Bruxelas, Amsterdão), a denominada Arte Bruta ou mesmo a arte popular, ao mesmo tempo que vai buscar a sua inspiração à cultura dos jovens, à cultura popular dos mass-media, a fenómenos como a banda desenhada, à musica rock, ou ao vídeo. Enfim, toda uma cultura emergente que serve de base a este movimento. Neste contexto, importa também destacar, a cultura da arte de rua ou a arte urbana à qual as novas figurações estão directamente ligadas: o graffiti, os Tags (espécie de assinatura, onde o autor tenta apenas deixar a sua marca, sem qualquer intenção de fazer uma obra de arte), os Pochoirs (técnica em que o negativo de um desenho ou fotografia é afixado numa parede), as casa ocupadas funcionando como ateliers colectivos ou individuais. Este tipo de expressão(que por vezes ainda não é considerada arte entre nós) surge nos anos 60 em Nova Iorque, acabando por atrair a atenção de todo o universo artístico. Esta, manifesta-se nos corredores do metropolitano e nas paredes dos bairros degradados, acabando mais tarde por ser absorvida pelas galerias e pelo mercado da arte. Jean Michel Basquiat é o mais ilustre representante deste movimento nos Estados Unidos. Na Europa, este tipo de expressão está também intimamente ligado às novas figurações, sendo vários os exemplos de intervenções colectivas ou individuais, nos metros e ruas de cidades como Paris ou Berlim. A figuração livre é então um retorno renovado à pintura, podendo esta ser quase naif, primitiva ou mais elaborada. Representa a vontade que o artista tem de se exprimir através da matéria, da cor, da figuração, de comunicar aos outros aquilo que o preocupa, de demostrar que a arte não deve estar confinada somente aos museus e às galerias. O homem comum também é capaz de fazer, compreender e admirar a arte do seu tempo.