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Monte d'Assaia: diferenças entre revisões

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Revisão das 18h15min de 1 de novembro de 2004

Localização

O monte d’Assaia – também se escreve monte da Saia – localiza-se no Concelho de Barcelos e prolonga-se no sentido norte-sul, desde as Carvalhas e Silveiros até Grimancelos e Viatodos. Do lado nascente, ficam Silveiros e Monte de Fralães; do poente, Chorente e Chavão. Até há uns 80 anos, era despido de manto florestal, mas desde há muito que se apresenta densamente arborizado. A sua área pertence maioritariamente a Monte de Fralães; esta freguesia chamou-se aliás durante muito séculos S. Pedro do Monte. A própria igreja paroquial se encontrava no topo do monte d’Assaia ainda em 1560.

A Citânia de Lenteiro e outros locais de interesse arqueológico

As Inquirições de D. Afonso III assinalam no monte d’Assaia um reguengo. Ao delimitá-o, falam da «porta da cidade de Lenteiro» (portam civitatis de Lenteiro). De facto, houve aí uma citânia. Nunca tendo sido explorada, dela se recolheram alguns pequenos achados de interesse arqueológico, como moedas romanas, cossoiros, rojões de ferreiro, etc. Referem-se a essa citânia, ainda que sem mencionar já o seu nome, o Pe. Carvalho da Costa na sua Corografia Portuguesa e a «Memória Paroquial» de 1758, da freguesia de Silveiros. Esta última informa que: Junto à dita ermida (de Nossa Senhora do Livramento, no topo de monte) está um pedaço de terra chã, cercado de fortes jeitos antigamente de erra, e há indícios de que houve nele castelo e casas, de que ainda aparecem alicerces e se tiram deles pedras lavradas de pico e muito tijolo e telhas quebradas, e por comum tradição habitaram neste sítio os mouros, e chamavam a este sítio cidade de Citânia ou Citaina e Campo do Ouro, e ainda hoje muitas pessoas lhe chamam assim, e deste monte não sei nem alcanço coisa mais alguma das contidas no interrogatório nem dignas de memória. Sem dúvida tinha relação com a Citânia de Lenteiro o «esconderijo de fundidores» de Viatodos», encontrado no monte d’Assaia, em Fonte Velha; eram «quinze machados de talão, com duplo anel e dupla canelura, junto a quatro meniscos de metal em bruto e outros fragmentos de machados, visivelmente destinados a ulterior produção de similares instrumentos». Também neste monte foi encontrada uma pulseira de ouro e mais alguns outros objectos igualmente de ouro, datáveis do séc. IV a.C. A pulseira guarda-se num museu de Guimarães.

A Fonte da Pegadinha da Senhora e a Laje dos Sinais

A «Pegadinha da Senhora» de facto não era da Senhora, mas, segundo a tradição local, da ferradura do burro que a levou para o Egipto; o desenho de tal ferradura era visível junto à Fonte da Pegdinha; Martins Sarmento ligou-o à ferradura ao cavalo Pégaso da mitologia. A Fonte da Pegadinha da Senhora fica já nas Carvalhas; próximo dela, há os restos de um monumento megalítico, um tholos. A Laje dos Sinais, com um original conjunto de inscrições rupestres, não fica longe. É um penedo rente ao chão onde se podem ver, bem nítidas, gravuras duma suástica, fossetes e espirais. Nas proximidades também, houve um cemitério talvez galaico-romano, donde o Sr. José Lobarinhas, recolheu parte de três aras romanas, uma lucerna e outros artefactos que se guardam na casa que lhe pertenceu em Chorente. Quer o tholos quer a Laje dos Sinais foram adquiridos pela Sociedade de Martins Sarmento.

Um Paço

Na encosta de Monte de Fralães, a uns 300 m da Igreja Paroquial, houve em tempos o lugar do Paço. Tratava-se, segundo um perito, dum palácio de origem romana. Deveria ficar no mesmo lugar o paço medieval dos Correias. O Pe. Carvalho descobriu no actual Solar dos Correias uma lápide, a que falta um pequeno canto e que hoje se guarda no Museu de Martins Sarmento, que fala dum soldado que a dedica a seu pai Aurélio Patrício. A leitura correcta do latim da lápide, desenvolvidas as abreviaturas, seria: Aurelio Patricii filius miles legionis… Isto é, «A Aurélio, filho de Patrício, (dedica) o filho, soldado da legião…» No antigo lugar do Paço, há a chamada «Campa da Moura», que será acaso um túmulo medieval, quem sabe se de Paio Soares Correia, o avô de Paio Peres Correia, a quem a posse do Paço parece ser ainda atribuía em tempos de D. Dinis. Conservam-se no monte também as ruínas de alguns antigos moinhos de vento.

Um documento de 965

Nos Documenta et Chartae dos Portugaliae Monumenta Historica, transcreve-se um documento do ano 965 que fala do monte d’Assaia e da Vila de Silveiros. É uma «Cedência de certos bens, no lugar de Silveiros, território bracarense, no sopé do monte d’Assaia, entre o Cávado e o Este». No lugar onde ficara essa vila foi descoberto um túmulo antiquíssimo formado com tegulae romanas.

Lendas

Como complemento a esta informação arqueológica, devem lembrar-se duas lendas. Uma, comum às tradições doutros lugares, fala duma moura encantada, meia mulher meia cobra, cuja captura facilitaria o acesso a grandes tesouros que se esconderiam na área desse monte. Para vencer encontro, era preciso ir ao monte, de noite, fazer a leitura seguida e sem falhas do Livro de S. Cipriano… Muito mais concreta é a de Maria Fidalga. A sua história ter-se-ia passado entre o Souto e Fonte Velha, na encosta do monte, lá pelos séculos XVI ou XVII.

Certo fidalgo de Arcos de Valdevez andava intrigado com o desaparecimento do anel de sua mulher, e já lhe nasciam suspeitas sobre a sua fidelidade. Como a fama de Maria Fidalga lá chegara, vem então o fidalgo, acompanhado de um criado preto, em demanda do Assaia para deslindar o caso. Chegado ao Herbatune, é recebido pela bruxa e informado de que só poderia regressar na manhã seguinte, uma vez que ela apenas à meia-noite receberia do próprio Diabo, a informação desejada. O fidalgo sujeita-se e a bruxa prepara-lhe dormida e aguarda a meia-noite. Tem então lugar o oráculo. O Diabo informa-a de que o anel está no bucho do «ruço», o porco do fidalgo, mas proíbe-a de lho revelar; a ele, confirmar-lhe-ia as suspeitas sobre a infidelidade da esposa. Por artes do próprio Diabo, porém, o criado negro, para quem o agasalho contra o frio da noite fora apenas a proximidade da lareira, por uma fresta do tablado da cozinha, presenciou a entrevista. Na manhã seguinte, a bruxa comunica ao fidalgo a tramóia engendrada pelo Diabo. O fidalgo parte a galope para vingar a afronta. O negro, por sua vez, lança-se no seu encalço para o prevenir do logro e salvar a ama; depois de muito esforço, consegue transmitir-lhe o que escutara. Furibundo, sentencia o fidalgo: — Mato o porco, mas mato-te a ti com ela se não encontrar o anel. O negro confirma o que ouvira. Chegados a Valdevez, esventram o porco e aparece o anel. Então o fidalgo regressa ao Assaia. Uma vez aqui, prende Maria Fidalga ao rabo do cavalo e arrasta-a até à morte pelas lajes do Assaia. O Diabo traíra a sua aliada. José Ferreira