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Cruzada: diferenças entre revisões

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Revisão das 14h48min de 5 de abril de 2004

As cruzadas como fenómeno duraram séculos. Começaram pela tentativa de conquista de Jerusalém, mas não se limitaram a isso. Conquistaram-se reinos e feudos e fez-se o saque de um império cristão. Para terminar tudo em nada. Depois de Maomé falecer (632), as vagas de exércitos árabes que tinham servido como exércitos mercenários lançam-se com um novo fervor à conquista dos seus antigos senhores, os bizantinos e persas sassânidas que passaram décadas a guerrear-se. Estes depois de algumas derrotas esmagadoras, demoram 30 anos a ser destruídos, mais graças à extensão do seu império do que à resistência: o último Xá morre em Cabul em 655. Os bizantinos resistem melhor: cedem uma parte da Síria, a Palestina, o Egipto, o norte de África, mas sobrevivem e mantém a sua capital. Num novo impulso, os exércitos conquistadores lançam-se então para a Índia, a Península Ibérica, o sul de Itália e França, as ilhas mediterrânicas. Tornado um império tolerante e brilhante do ponto de vista intelectual e artístico, o império muçulmano sofre de um gigantismo e um enfraquecer guerreiro e político que vai ver aos poucos as zonas mais longínquas tornarem-se independentes ou então serem recuperadas pelos seus inimigos, que guardavam na memória a época de conquista: bizâncios, francos, reinos neo-godos. No século X, esse desagregar acentua-se em parte à influência de grupos de mercenários convertidos ao islamismo e que tentam criar reinos próprios. Os turcos seljúcidas (não confundir com os turcos otomanos antepassados dos criadores do actual estado da Turquia), procuraram impedir esse processo e conseguem unificar uma parte desse território. Acentuam a guerra contra os cristãos, conquistam Jerusalém e esmagam as forças bizantinas em Mantzikiert em 1071 conquistando assim o leste e centro da Anatólia. Estes, depois de um período de expansão no séc. X e XI estão em sérias dificuldades: vêm-se a braços com revoltas de nómadas no norte da fronteira, e a perda dos territórios italianos, conquistados pelos normandos. Do ponto de vista interno, a expansão dos grandes domínios em detrimento do pequeno campesinato, resultara numa diminuição dos recursos financeiros e humanos disponíveis ao estado. Como solução, o imperador Aléxis Commeno decide apelar ao ocidente para o envio de mercenários que o ajudem enfrentar a ameaça seljúcida. Assim começavam as cruzadas.

Ao pregar e prometer a salvação a todos os que morressem em combate contra os pagãos (leia-se, muçulmanos) em 1095, o Papa Urbano II estava a criar um novo ciclo. É certo que a ideia não era totalmente nova: parece que já no séc. IX se declarara que os guerreiros mortos em combate contra os muçulmanos na Itália mereciam a salvação. Mas desta a salvação não era prometida numa situação excepcional. As várias versões que nos restam do seu apelo, mostram que Urbano relatou também os infortúnios dos cristãos do oriente, e sublinhou que se até então os cavaleiros do ocidente habitualmente combatiam entre si perturbando a paz, poderiam agora lutar contra os verdadeiros inimigos da fé, colocando-se ao serviço de uma boa causa. O apelo foi feito a todos sem distinção, pobres ou ricos. E foi de facto o que sucedeu. Mas os ricos e pobres rapidamente formaram cruzadas separadas. A dos pobres, sob o impulso de Pedro o eremita, mal equipada, mal alimentada, massacrou judeus pelo caminho, pilhou e destruiu; sendo mal recebidos e atacados, a maior parte morreu antes de chegar à Ásia; aí foram dizimados pelos turcos e só um reduzido número consegui juntar-se à cruzada dos cavaleiros. A cruzada dos cavaleiros possuindo recursos, embora progredindo devagar, fez um acordo com o imperador de bizâncio de lhe devolver os territórios conquistados aos turcos. Liderada por grandes senhores, levava quer proprietários, quer filhos segundos da nobreza. Esse acordo seria desrespeitado, à medida que o mal-entendido entre as duas partes cresceria. Os bizantinos pretendiam um grupo de mercenários solidamente enquadrados de que se pagasse o soldo e obedecesse às ordens e não aquelas turbas indisciplinadas; os cruzados não estavam dispostos depois de tantos sacrifícios entregar o que obtinham. Antioquia, a 1ª cidade conquistada depois de um longo cerco e um saque terrível (1098), foi guardada por Bohemundo, o chefe dos normandos. Godofredo de Bulhão conquistou Jerusalém em 1099, ficando só com o título de protector; à sua morte Balduíno seu irmão proclamou-se rei. Muitos dos combatentes retiraram-se uma vez conquistada Jerusalém (incluindo os grandes senhores), mas um núcleo ficou (cálculos chegam a falar de algumas centenas de cavaleiros e um milhar de homens a pé). As cidades principais (como Antioquia, Edessa) tornarem-se capitais de principados e reinos (embora Jerusalém fosse de certo modo o centro político e religioso), com outras marcas a protege-los. O sistema feudal foi transplantado para oriente com algumas alterações: muitas vezes em vez de receber feudos, os cavaleiros eram pagos com direitos ou rendas (modalidade que existia também na Europa aliás). As cidades mercantis italianas vão-se tornar fundamentais para a sobrevivência desses estados: permitiram a chegada de reforços e interceptar os movimentos das esquadras muçulmanos, tornando o mediterraneo novamente um mar navegável pelos ocidentais. Mas rapidamente os muçulmanos iriam reagir.


De qualquer modo, nos anos seguintes, com a euforia da vitória, mais voluntários seguiram para oriente. Os contingentes seguiam por nacionalidades, continuando pouco organizados. As motivações eram variáveis: se alguns pretendiam obter novos feudos, ou redimir-se das suas faltas, havia também aqueles que "apenas" pretendiam ganhar batalhas, cobrir-se de glória, bênçãos espirituais, e voltar para a sua terra. Por volta do ano 1100, nova expedição parte. Chegados a Constantinopla levantam-se discussões com os bizantinos que estavam fartos de ter aqueles vizinhos incómodos que pilhavam a terra, portavam-se de uma forma muito mais brutal em guerra, e ficavam com o que conquistavam (para além das diferenças culturais e religiosas). Entretanto os turcos estavam a unificar-se para tentar fazer face a estas ameaça. Evitando combates directos até ao último momento contra a cavalaria pesada cristã, usaram tácticas de emboscadas. Em Mersivan, esmagaram um dos exércitos cristãos (o dos lombardos e francos) que fora abandonado pelos seus líderes e cavaleiros (que fugiram). Estes foram severamente criticados pela fuga, assim como Alexius imperador de Bizâncio por não ter dado apoio. Outro grupo, o exército de Nivernais, também foi destruído de forma similar (com fuga de líderes incluído). A expedição da Aquitania, portou-se melhor: ao menos os cavaleiros ficaram a combater e morrer juntamente com o povo. Os poucos que conseguiram, fugiram para Constantinopla. Três exércitos aniquilados em dois meses, enquanto que o pequeno exército de Jerusalém (com o membros da 1 cruzada) derrotava um exército egípcio. Por alguns anos, não foram pregadas mais cruzadas, e os territórios cristãos no oriente tiveram de se aguentar por conta própria. Em 1145 é pregada uma nova cruzada por Eugénio III. Desta vez foram reis que responderam ao apelo: Luís VII de França, Conrado da Alemanha, para nomear os mais importantes. Curiosamente, os contingentes flamengos e ingleses acabaram por conquistar Lisboa e voltar para as suas terras na sua maioria, uma vez que eram concedidas indulgências para quem combatia na Península Ibérica. O exército de Conrado acabou esmagado pelos turcos num momento de repouso. O que sobrou, juntou-se aos franceses e com o apoio dos templários. Com algumas dificuldades de transporte, mais uma vez uma parte do exército teve de ser abandonado para trás (sobretudo os plebeus a pé), e estes tiveram de abrir caminho contra os turcos. Luís VII e Conrado em Jerusalém depois de algumas discussões acabaram por ser convencidos a atacar Damasco, mas ao fim de poucos dias tiveram retirar perante a ameaça de uma parte dos nobres faze-lo por conta própria. O resultado desta nova cruzada fora miserável (se exceptuarmos a conquista de Lisboa). Nenhuma nova cruzada foi lançada até a um novo acontecimento: a conquista de Jerusalém pelos muçulmanos em 1187. Os cristãos enfrentavam um adversário decidido, Saladino. A III cruzada começava. O imperador Frederico Barbaroxa partiu com um contingente alemão, mas o seu afogamento representou o fim prático desse núcleo. Os reis de França e Inglaterra, passaram o tempo todo a querelar-se, até que aquele se retirou. Se Ricardo coração de Leão conseguiu alguns actos notáveis (a conquista de Chipre, Acre, Jaffa e uma série de vitórias contra efectivos superiores) também não teve pejo em massacrar prisioneiros (incluindo mulheres e crianças). Com Saladino, teve um adversário à altura, combatendo e travando um subtil táctico. Em 1192 acabou-se por chegar a um acordo: os cristãos mantinham o que tinham conquistado e obtinham o direito de peregrinação a Jerusalém (que ficava em mãos muçulmanas). Se esse objectivo principal falhara, alguns resultados tinham sido obtidos: Saladino vira a sua carreira de vitórias iniciais entrar num certo impasse e o território de Outremer (o nome que era dado aos reinos cruzados no oriente) sobrevivera.

A quarta cruzada... Pode-se-lhe verdadeiramente chamar cruzada? O Papa Inocêncio III apelou a uma cruzada em 1198 para conquistar Jerusalém (o objectivo falhado da III cruzada), mas os preparativos começariam 2 anos depois. Vários grandes senhores trouxeram exércitos e estipularam um acordo com Veneza que transportaria essas tropas na sua frota em troca de uma quantia. O problema é que muitos dos senhores acabaram por não ir, e os que foram não tinham condições para pagar o valor estipulado (que era fixo). Foi criado um novo acordo então: os cruzados conquistariam Zara, uma cidade veneziana na Dalmácia que se revoltara em troca de um adiamento do pagamento. Entretanto chegaram notícias de Bizâncio. O Imperador Isaac II fora derrubado pelo seu irmão Alexius III e fora cegado. Ora o filho de Isac II, de nome Alexius IV conseguira fugir e apelara aos cruzados para o ajudarem: em troca de o colocarem no trono prometia-lhes dinheiro e os recursos do império para a conquista de Jerusalém. Ainda hoje os historiadores discutem se as coisas se passaram assim ou se foi uma justificação para o que se iria suceder. Os cruzados aceitaram imediatamente uma vez que isso parecia resolver os seus problemas. Partiram em 1202. O Papa considerou que se atacassem território cristão (nomeadamente Zara) ficariam excomungados. A cidade foi conquistada e depois de deixarem passar o Inverno atacaram Constantinopla. A cidade resistiu, mas o imperador Alexius III acabou por fugir com o tesouro da cidade. Com novos impostos a ser lançados para pagar as promessas feitas aos cruzados, rapidamente a população ficou à beira da revolta. Alexius V, um parente afastado fez um golpe matando Alexius IV e colocando novamente na prisão Isaac II que fora libertado pelos cruzados e governara com o filho. Os cruzados decidiram então conquistar em proveito próprio o império, nomear um imperador latino e dividir os territórios. Alexius V fugiu com algum tesouro e a cidade foi saqueada pelos latinos durante 3 dias. Estátuas, mosaicos, relíquias, riquezas acumuladas durante quase um milénio foram pilhadas ou destruídas durante os incêndios. A cidade sofreu um golpe tão terrível que nunca mais conseguiu se recompor, mesmo depois de voltar a ser grega em 1261. E assim terminou a IV cruzada, pois ninguém pensou mais em dirigir-se para Jerusalém: a maioria regressou com o que roubara, alguns ficaram com feudos no oriente. O Papa Honório III pregaria uma nova cruzada que arrancaria em 1217 (a V). Decidiu-se que para se conquistar Jerusalém era necessário conquistar o Egipto primeiro, uma vez que este controlava esse território. Desembarcados em Acre, decidiram atacar Damietta, cidade que servia de acesso ao Cairo, a capital. Depois de conquistar uma pequena fortaleza de acesso aguardaram reforços e meteram-se a caminho. Depois de alguns combates, e quando tudo parecia perdido, uma série de crises na liderança egípcia, permitiam os cruzados ocupar o campo inimigo. O sultão acabou por oferecer o reino de Jerusalém e uma enorme quantia se os cristãos retirassem; o cardeal Pelágio que se tornara num dos chefes da expedição acabou por convencer os restantes a recusar. Começaram a cercar Damietta e depois de algumas batalhas sofreram uma derrota. O sultão renovou a proposta, mas foi novamente recusada. Depois de um longo cerco que durou de Fevereiro a novembro a cidade caiu. Os conflitos entre os cruzados agudizaram-se e perdeu-se tanto tempo que os egípcios recuperaram forças. Reforços até 1221 chegaram aos cristãos. Lançaram-se numa ofensiva, mas os muçulmanos foram retirando e levando os cruzados a uma armadilha; sem comida e cercados acabaram por ter de chegar a um acordo: retiravam do Egipto e tinham as vidas salvas. A VI cruzada foi protagonizada pelo Imperador Frederico II. Partiu com um exército que foi diminuindo com as deserções, e uma semi-hostilidade das forças cristãs locais devido à sua excomunhão pelo Papa. Com negociações conseguiu que Jerusalém e outras cidades fossem entregues, embora fosse muito criticado por não ter combatido. Algum tempo depois de se ir embora, a cidade seria novamente perdida. Finalmente a VII cruzada foi novamente obra de um só soberano, Luís IX de França (ou S. Luís como foi recordado), em 1249. Desembarcou directamente no Egipto e depois de alguns combates, conquistaram Damietta. Novamente o sultão ofereceu Jerusalém e novamente foi recusado. Em Mansurá, depois de quase terem vencido, os cruzados são derrotados pela imprudência do irmão do rei, Roberto de Artois. Depois de uma retirada desastrosa, o exército puramente rendeu-se. Só a resistência da rainha francesa em Damietta, permitiu que se conseguisse negociar com os egípcios. Luís ficou mais algum tempo e conseguiu salvar o território de Outremer (indirectamente, as invasões mongóis deram o seu contributo), e décadas mais tarde preparou uma nova cruzada, mas morrendo na expedição. Deste modo terminavam as cruzadas no oriente. Alguns grupos ainda partiram para, mas nunca mais se gerou entusiasmo nem foram preparadas grandes expedições. Rapidamente os poucos territórios que restavam seriam reconquistados pelos muçulmanos.

Informação retirada de [1]