Saltar para o conteúdo

Edward Lorenz: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
CHRISTINA MARIA PEDRAZZA SÊGA
(Sem diferenças)

Revisão das 00h13min de 2 de dezembro de 2004

CAOS: UMA ODISSÉIA NO TEMPO

Christina Maria Pedrazza Sêga

A princípio parece que pouca coisa mudou na significação da palavra "caos", desde antigamente até hoje. Mas a ciência mostra que não é bem assim. Antes, "caos" significava ausência total de ordem e, hoje, passou a ser interpretada como alguma falta de ordem. Consta na literatura, que a primeira vez que a palavra caos foi empregada data do ano de 800 a.C., no livro Teogonia, escrito pelo poeta grego Hesíodo que foi comparado, pelos gregos, a Homero. Nesse poema mitológico (theos= Deus + genea = origem), Hesíodo descreve a origem dos deuses e dos homens, cuja união resultaria no surgimento dos heróis. Esses deuses e heróis representariam, assim, a natureza básica do homem. O substantivo "teogonia" também é compreendido dessa forma.

Se voltarmos à origem da criação do mundo, vamos chegar ao caos tanto pelo olhar da ciência, como da religião ou da mitologia. É através desta que, por sinal vou tê-la como princípio deste estudo.

Caos e mitologia

Conta-nos uma versão da mitologia que Caos era um deus que se casou com sua filha ( alguns dizem ser sua irmã ) Nix ( noite, em grego), desobedecendo à ordem de um deus superior. Dessa união incestuosa tiveram, três filhos: Destino ( deus cego), Sono e Morte. Fazendo um parêntese aqui, talvez Shakespeare tivesse razão em dizer que o "sono é prenúncio da morte". Esse deus superior, Zeus, castigou Caos e Nix através de seus filhos, pois além da desobediência à ordem superior, eles desorganizaram o cosmo, fazendo com que os outros deuses seguissem o exemplo que deixaram, casando-se entre si por meio de parentesco muito próximo. Por isso que muitas uniões entre os deuses descendentes foram conflituosas e, por que não dizer, caóticas.

A literatura sobre mitologia grega ainda nos mostra que há no universo uma trilogia cósmica, única e inseparável. Essa força cósmica é simbolizada por Caos-Gaia-Eros. O Céu é representado por Caos, A Terra por Gaia e, por último Eros, como Espírito. Em Hesíodo, Caos e Gaia são femininos e Eros é bissexual, por representar o espírito que uniu Caos e Gaia.

Numa referência a um poema babilônico " Enuma Elish," Caos foi mais ressaltado pela figura feminina, chamada Tiamat, do que por seu companheiro Apsu, o deus do caos, responsáveis pela criação do mundo. Depois de governarem durante algum tempo, apareceu um deus mais jovem, Marduk, que resolveu tomar o poder sobre o cosmo, depondo do trono Apsu e Tiamat. Alegava Marduk que havia a necessidade de se criar uma nova ordem mundial. Houve um grande conflito entre os deuses jovens e velhos. Tiamat foi morta e despedaçada por Marduk. Maiores referências a esse poema encontram-se no livro escrito por três autores R. Abraham, T. McKenna e R. Sheldrake (1).

Caos e religião

Afirma-nos a Bíblia, que Adão e Eva também desobedeceram à ordem dada por Deus, desorganizando a ordem por ele instaurada no Éden. Tanto é que foi depois dessa desobediência e, conseqüentemente dessa desorganização, que Deus instituiu como castigo humano, a morte. É neste ponto que a religião e a mitologia se encontram e se afirmam como direções e crenças distintas.

Quando nos lembramos da trilogia Deus-homem-mundo, percebemos que o divino sempre foi ameaçado por um atrator estranho que constantemente rondava essa aura de divindade. Era um caos diabólico perturbando a tranqüilidade, reflexão, introspecção e a reclusão espiritual dos seres. Esse atrator diabólico estava em constantes lutas, embates e tensões com o divino, desorganizando a ordem estabelecida por Deus. Também, conta-nos a Bíblia, que o dilúvio foi um castigo que Deus impôs ao mundo, para que o poder divino pudesse restaurar a ordem que havia sido esquecida pelos homens.

E, se quisermos avançar nossas especulações a respeito do mundo, vamos observar ainda, que o destino continua cego para os homens, sujeito à vontade de Deus.

Caos e ciência

Já sob a óptica da ciência, o caos não se resume assim, em poucas linhas. Não que a ciência complique, mas são necessários vários conhecimentos juntos para se compreender o caos. Sob essa visão científica, ele vem sendo estudado de forma instigante. Acredita-se através desse veio que o mundo tenha surgido a partir do caos.

Quando se fala em ciência, parece que este termo ou esta categoria se refere apenas às Ciências como a Matemática, a Física, Química e Biologia e suas derivações. Contudo, vem se perdendo o preconceito para acrescentar ciências como a Comunicação e outras afins, dentro dessa taxionomia.

Partindo-se, então, das primeiras observações sobre o caos nas ciências, nota-se que no final da década de 40, o matemático e pai da Cibernética, Norbert Wiener (2), empregou a palavra caos falando a respeito de um caos ou vários caos, quando num dado sistema havia a agregação aleatória de moléculas. Também, no final da mesma década, um pesquisador chamado Claude Shannon iniciou seus estudos relacionando matemática e comunicação, cuja combinação resultou num trabalho intitulado "Teoria Matemática da Comunicação" que, posteriormente, chamou-se Teoria da Informação. Tal teoria era um resultado da era eletrônica cuja informação, quer por transmissões de rádio quer por computadores, estaria armazenada em cartões perfurados ou em cilindros magnéticos. Essa informação era constituída por "unidades básicas que não eram idéias nem conceitos, nem mesmo necessariamente, palavras ou números. Essa coisa podia ter sentido ou não - mas os engenheiros e matemáticos podiam medi-la e testar a exatidão da transmissão." (3) A informação era então armazenada em esquemas binários chamados bits que auxiliavam na medição dos ruídos e das interferências aleatórias.

Ultimamente esse conceito de caos através da aleatoriedade é o mais aceito entre os cientistas. Mas há também aqueles que acreditam na existência do caos, mesmo sem condicioná-lo ao aleatório. É o caso de Edward Lorenz. (4) Entre os processos examinados por ele, o pêndulo não obedece a esse critério. Afirma que, "no caso do pêndulo, as variações não são aleatórias, embora pareçam aleatórias".

O caos também vem recebendo outras terminologias como "arranjos aleatórios no espaço", "progressões aleatórias no tempo", "não-linearidade", "complexidade", "fractalidade" entre outras.

As teorias do caos ou da catástrofe tentam compreender a heterogeneidade e a desordem do sistema social, através da imprevisibilidade, das possibilidades e das probabilidades pertinentes no caos. O conhecimento sobre essas teorias vem dos estudos da física, ao observar os fenômenos que ocorrem nas variações climáticas e marítimas, influenciando as previsões metereológicas. Os físicos passaram a estudar os sistemas dinâmicos do imprevisível, denominando-os de atratores estranhos, expressão usada por David Ruelle e Floris Takens, em 1970.. Pelo fato dos atratores não serem nem curvas e nem superfícies lisas, mas objetos de dimensões não inteiras, Benoît Mandelbrot denominou-os de fractais. O conceito que será adotado aqui é que o atrator estranho é um sistema dinâmico atraente e magnético que quando entra em estado de caos passa a ser designado como tal.

A teoria do caos teve sua origem através dos estudos feitos por Mitchell Feigenbaum, que a definiu como sendo o momento no qual uma situação passa da ordem para o caos. Por essa teoria observa-se que os fenômenos têm uma certa linearidade na sua apresentação e, de repente, mudam sua direção desorientando as previsões e cálculos até então supostos ou tidos como certos, pelos estudiosos.

Os sistemas caóticos foram, e ainda continuam sendo, analisados tanto em sistemas simples ou complexos, como: o movimento da fumaça do cigarro, o gotejar de uma torneira, uma folha que cai de uma árvore, além das previsões e variações meteorológicas.

Antes de prosseguir, é melhor que seja definido um conceito geral de aleatoriedade, adotado por Lorenz: "uma seqüência aleatória é simplesmente aquela na qual qualquer um dos vários eventos possíveis pode ocorrer em seguida, mesmo que o evento não ocorra necessariamente. O que realmente é possível de acontecer em seguida depende, do que ocorreu anteriormente." Reiterando sua afirmação, basta que apenas um evento ocorra, não necessariamente todos.

A complexidade dos estudos começa à medida que Lorenz avança suas especulações, adotando o seguinte conceito: "a aleatoriedade pode ser identificada como a ausência do determinismo".

Ora, se algo para acontecer em seguida, depende do que ocorreu anteriormente, como então negar o comportamento determinista desse fenômeno?

Para resolver essa questão, Lorenz (5) acrescenta a observação, definida como: " sensivelmente dependente das condições iniciais". Em função disso, ele define um sistema caótico como sendo aquele que é sensivelmente dependente das condições iniciais nas quais o sistema foi criado. Essa observação foi mais tarde chamada de Efeito Borboleta, que sob esse título acabou merecendo um capítulo especial no livro de James Gleick. O termo "efeito borboleta" surgiu em Washington, em 1972, num encontro que Lorenz teve com seus colegas, onde apresentou um artigo intitulado "O bater de asas de uma borboleta no Brasil desencadeia um tornado no Texas?" Nele, Lorenz se utiliza dessa afirmação, aparentemente absurda, para despertar a atenção dos outros cientistas em relação à dependência sensível das condições iniciais. Todavia, a hipersensibilidade às condições iniciais já tinha sido pesquisada pelo matemático francês Jacques Hadamard, no final do século XIX. Paralelamente, um outro matemático francês, Henri Poincaré, afirmara "uma causa muito pequena, que nos escapa, determina um efeito considerável que não podemos deixar de ver e então dizemos que esse efeito se deve ao acaso."

Voltando às origens de suas investigações, por volta dos anos 60, o metereologista Edward Lorenz compreendeu, melhor que seus colegas, a imprevisibilidade do tempo, tendo trabalhado em tal função na Força Aérea Americana, durante a Segunda Guerra Mundial. Lorenz criou um computador para auxiliá-lo nas previsões do tempo. Um belo dia, programando seu instrumento para fins metereológicos, digitara 0,506 ao invés de 0,506127. Fizera isso para economizar espaço, pensando que a diferença - um para mil - não teria a menor importância. Concluiu que a diferença foi catastrófica.

Na verdade, aquilo que é imprevisível acaba determinando uma turbulência num sistema, ao entrar em entropia, estabelecendo-se ali o caos interno. O aleatório é, portanto, o imprevisível contendo um maior grau de incerteza e favorecendo informações. A entropia ou caos interno é também conhecida como a ciência dos processos irreversíveis, sujeitos à direção do tempo. Ela está associada ao "segundo princípio da termodinâmica" sendo responsável pela distinção entre processos reversíveis e irreversíveis.

"A natureza apresenta-nos ao mesmo tempo processos reversíveis e irreversíveis, mas os primeiros são a regra e os segundos a exceção", afirma Ilya Prigogine (6). É por isso que a maioria dos cientistas contemporâneos prefere compreender a irreversibilidade como um processo de aproximação.

Pela irreversibilidade há a probabilidade dos atratores estranhos, responsáveis pela entropia daquele sistema, multiplicarem-se e não mais voltarem ao estado inicial que aquele sistema se encontrava anteriormente, levando-o à desordem, ou seja, ao caos. Dependendo do caso, pode conduzir a uma nova ordem.

Pelo visto, o caos lembra instabilidade e esta sugere a possibilidade de desenvolver uma situação caótica ou entrópica. A explicação se dirige agora para a distinção entre sistemas estáveis e sistemas instáveis. Num sistema dinâmico estável, se houver uma pequena perturbação, ele retornará ao equilíbrio porque pequenas perturbações das condições iniciais produzem poucos efeitos, fazendo com que ele retome a posição inicial, até reencontrar seu equilíbrio. O pêndulo é um perfeito exemplo disso.

Nos sistemas dinâmicos instáveis, ocorre o contrário. A menor perturbação que houver, desencadeará grandes modificações, a ponto de desorganizá-lo totalmente, ao longo do tempo. Prigogine cita como exemplo o lápis que, na tentativa de fazê-lo ficar em pé sobre sua ponta, o equilíbrio será instável. A menor perturbação o fará cair de um lado para o outro.

Caos e Comunicação

É nesse sistema sujeito a instabilidade, que se encontra a Comunicação, considerada como sistema, ciência, técnica e até mesmo, arte. Todas essas denominações são devidas ao alto grau de imprevisibilidade e de possibilidades que a Comunicação e suas variantes oferecem.

Durante a trajetória de imprevisibilidade, a entropia ou caos interno pode se instalar na comunicação, diminuindo a incompreensibilidade desta através de um ou mais atratores estranhos que venham atravessar esse sistema. Essa instabilidade e, conseqüentemente, essa imprevisibilidade são decorrentes das variantes sócio-psicológicas de seus usuários. Tais variantes são responsáveis, também, pelas interpretações semânticas e ideológicas dos diálogos travados entre seus interlocutores. Essas flutuações podem ocorrer tanto nas formas tradicionais de comunicação - interpessoal, intragrupal, intergrupal e coletiva - como também, através daquelas veiculadas pelas novas tecnologias, ou seja, pelo uso da Internet.

A comunicação entre duas ou mais pessoas pode sofrer interferências das mais variadas, indo desde um simples ruído até um problema de significação do código, gerando turbulências no sistema e, possivelmente o caos.

Para a comunicação social, um atrator estranho nem sempre terá características aleatórias, visto que para haver comunicação deverá haver a intencionalidade da ação comunicativa por parte de um ou mais interlocutores. Isto nos mostra que a intencionalidade determina as possibilidades de significação num ato comunicativo.

A aleatoriedade tem sido identificada, num sentido mais amplo pelos cientistas do caos, como ausência de determinismo, apesar de muitos considerarem o caos determinista.. Na comunicação, a significação é determinada pela intencionalidade, o que nos leva a perceber que não é sempre o aleatório que vai determinar o caos na comunicação. Não é por que o aleatório está presente na informação ( conforme foi explicado na Teoria da Informação) que deverá estar também na comunicação. Esta é mais uma razão para se diferenciar comunicação de informação. Na informação não cabe redundância; portanto há maior grau de aleatoriedade. Já na comunicação, elimina-se o maior grau de aleatoriedade que houver, para se enviar uma mensagem acompanhada de um maior grau de redundância. Por isso a mensagem pode ser mais facilmente compreendida.

Isso justifica a seguinte formulação:

> exposição à mensagem

< informação recebida

No mundo real, os fenômenos podem ser considerados aleatórios ou ligeiramente aleatórios como nos exemplos citados por Edward Lorenz (7): "vamos permitir que os processos do mundo real que parecem estar se comportando aleatoriamente - a queda de uma folha ou o movimento de uma bandeira ao vento - sejam caóticos, uma vez que continuam parecendo aleatórios mesmo que qualquer verdadeira aleatoriedade nesses eventos pudesse ser eliminada de alguma maneira."

A possibilidade que Lorenz levanta de ser eliminada qualquer aleatoriedade nesses eventos, nos induz à afirmação que na comunicação um atrator estranho tem possibilidade zero ou quase zero de ser aleatório ( por parte do emissor), já que existe o aspecto intencional da comunicação . Possibilidade zero não significa impossibilidade. Porém, continuará sendo aleatório para o receptor.

Caos social

Baudrillard (8) foi um um dos primeiros a se preocupar com a presença de atratores estranhos na ciências sociais, observando "uma súbita expansão das técnicas de informação, ligada à indecibilidade do saber que aí circula". O caos pode ser utilizado até mesmo em situações de comportamento onde não se podem prever resultados. Para ele, "o caos começa onde a ciência clássica acaba."

Nas ciências sociais e, particularmente na comunicação, não se pode ver o caos apenas no seu aspecto quantitativo, mas também no qualitativo. Um atrator estranho pode estar voltado ora para o primeiro aspecto, ora para o segundo. Ou para ambos simultaneamente sendo que um não elimina o outro. E nem um exige do outro uma complementação, já que cada um pode ocorrer separadamente. Lembrando que o atrator estranho é um sistema dinâmico atraente e magnético que quando entra em estado de caos passa a ser designado como tal.

Em se tratando se sociabilidade, muitos elementos passam a ser imprevisíveis, pois muitos laços de afinidades são quebrados por situações nunca imaginadas. Até mesmo no relacionamentos afetivos, encontram-se um ou mais atratores estranhos alterando o equilíbrio desse relacionamento, provocando inclusive rupturas.

Na verdade, os atratores estranhos possuem um certa regularidade dentro do irregular, uma desorganização organizada. É por isso que alguns teóricos chegam a argumentar que há previsibilidade dentro do caos em função de uma certa pertinência e constância dessa irregularidade. Poderíamos chamar essa irregularidade constante de sintomas do caos.

Estudar as possibilidades dinâmicas sociais e econômicas, em pleno século XX, também foi preocupação de Max Weber (9) ao escrever sua obra Economia e Sociedade. Apropriando-se do exemplo de Gleick (10) hoje é possível perguntar a um físico: " por que todos os flocos de neve são diferentes?"E ele nos responder que isso é devido à essência do caos, ou seja, que há um equilíbrio entre forças de estabilidade e forças de instabilidade. Weber também se preocupou com possíveis instabilidades sociais e econômicas ao fazer uso freqüente das palavras probabilidade e possibilidade, implicando as possíveis mudanças que poderiam ocorrer, tanto no modo quanto no tempo ( ações do passado, presente ou futuro). Ele sempre esteve pronto para entender a ação social como uma ação dinâmica sujeita a transformações, tanto que procurou estabelecer categorias para organizar a sociedade de forma política, econômica, religiosa, social e cultural.

Caos social e mídia

Para muitos pensadores contemporâneos, como Baudrillard e Vattimo (11) os meios de comunicação de massa ou mídia, têm sido responsáveis pela crise de paradigmas, crise da modernidade e pelo surgimento do caos social. Num pequeno artigo intitulado "Mídia: por uma culpa virtual?" (12) a mídia é colocada em julgamento, diante de tantas acusações feitas aos meios de comunicação de massa. No artigo argumenta-se que " (...) a mídia tem parcela de culpa sim. Mas não totalmente. Há também a Revolução Industrial, o capitalismo, as diferentes especialidades tão mencionadas pelos positivistas nos séculos XVIII e XIX (...)".

Na verdade, a mídia vem sendo vista como um atrator estranho do social. Aquilo que vem atraindo a sociedade de massa para a sua desagregação. No referido artigo é encontrada a seguinte afirmação: " falar da crise da modernidade, decorrente da expansão da mídia com seu papel ideológico e funcionalista é bastante compreensível, mas culpá-la exclusivamente pela atual crise de paradigmas é preocupante. Ainda mais que essa crise irá, com certeza, virar o milênio." (13)

Até mesmo em situações em que a mídia divulga escândalos internacionais,quer de ordem política, econômica ou de outra de natureza, ela é criticada pela dimensão que dá à informação. O fato mais recente, que se tem notícia é o "Caso Monica Lewinsky" envolvendo o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, num escândalo sexual, afetando sua credibilidade como pessoa e como governante. Parece-nos que nesse caso, o atrator estranho tenha sido a própria Monica ou sua amiga Linda Tripp que gravou as confissões e resolveu entregá-las ao promotor.

Os críticos, em geral, deram à mídia a culpa pelo consumo exagerado da sociedade em busca de uma ascensão do status ou da manutenção deste. Afirmam que os meios de comunicação de massa, em particular a televisão com o apoio da publicidade, criam ideologias de consumo para a satisfação do ego do indivíduo, de grupos sociais enfim, da massa. Eles se esquecem que esse impulso compulsivo de ascensão e de consumo vem desde as chamadas revoluções burguesas, principalmente as duas mais significativas que foram a Revolução Francesa ( 1789 a 1799) e a Revolução Inglesa ( 1640 a 1660).

Por outro lado, a sociedade não consegue eximi-la de culpas por disseminar a violência entre crianças, jovens e até adultos.

Caos e novas tecnologias

A complexificação dos meios de comunicação de massa, os avanços das novas tecnologias e seus novos paradigmas têm levado muitos sociólogos e teóricos da comunicação a se preocuparem com a situação do homem e da sociedade num futuro próximo. Adam Schaff (14) vem estudando e buscando soluções alternativas para problemas decorrentes da explosão da informática, onde os avanços da robótica causariam um onda de temível desemprego geral, principalmente nos países do Terceiro Mundo, por não estarem preparados para acompanhar esses avanços tecnológicos. Essas revoluções científicas e técnicas vêm afetando inclusive as relações sociais. Estatísticas estão sendo levantadas em todo mundo sobre o aumento avassalador do desemprego que se desencadeará até o final do século XX.

Há que se considerar também o caos na Internet, com a presença das tribos virtuais entre elas os hackers, ciberpunks, chipherpunks, constituindo uma cidadania virtual, porém com uma participação freqüente no ciberespaço. Essa constância na irregularidade vem desencadeando o caos na Internet. Conhecidos como piratas eletrônicos, entram nos sistemas aleatorieamente alterando a organização de informações armazenadas ou dificultando o acesso a tantas outras. Não se pode esquecer que até mesmo a própria tecnologia pode entrar em caos com ela mesma.

Considerações

Pode-se observar, aqui, que nas Ciências Sociais, entre elas a Comunicação, o atrator estranho não aparece necessariamente em seqüência, mas também pode aparecer como sendo um atrator único.

Tanto na Comunicação como nas outras ciências sociais, o caos pode ocorrer mesmo em situações onde a hipersensibilidade às condições iniciais se apresentam perfeitamente satisfatórias para se manter o equilíbrio ou homeostase do sistema. Isso não implica em dizer que, o sucesso da comunicação social não dependa da hipersensibilidade às condições iniciais. Reitera-se aqui, que há casos em que mesmo quando as condições iniciais são favoráveis ( para a não realização do caos), possivelmente possa ocorrer o caos.

Umberto Eco (15) em seu livro Estrutura Ausente afirma o seguinte: "ordem e desordem são conceitos relativos; somos ordenados em relação a uma desordem precedente e desordenados em relação a uma desordem precedente; desordenados em relação a uma ordem subseqüente, exatamente como somos jovens em relação aos nossos pais e velhos em relação ao nosso filho; libertinos em relação a um sistema de regras morais e retrógrados em relação ao outro mais dúctil".

O homem tem a possibilidade de ser um atrator estranho dentro de seu ecossistema, criando seu próprio caos. Mas há também o lado positivo do caos. E isso é encontrado através da solidariedade entre as pessoas que se predispõem a ajudar as outras a sairem de uma situação caótica. É também nesse momento, que a imaginação humana e toda forma de criatividade vêm à tona. Cabe nessa hora, a frase do renomado pintor Pablo Picasso: "todo ato de criação é antes de tudo um ato de destruição".

O lado otimista do caos é reforçado pelo físico Joseph Ford (16), um dos organizadores da primeira conferência sobre o caos, em 1977 na cidade italiana chamada Como, ano que ele foi instituído como ciência. Ford disse: "(...) para mim, caos é como um sonho. Oferece a possibilidade de atingirmos o veio principal (...)."

Na verdade, compreender o caos é um desafio. Estudá-lo é uma aventura, uma odisséia por ser fascinante, intrigante e instigante.