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Serra do Caldeirão: diferenças entre revisões

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Revisão das 13h10min de 19 de janeiro de 2005

Características Físicas A Serra do Caldeirão faz a fronteira entre o litoral e barrocal algarvios e as peneplanícies do baixo Alentejo. Faz parte do maciço antigo, sendo constituída por xisto-grauvaque, rocha que origina solos finos e pouco fertéis. O seu ponto mais alto localiza-se no Baixo Alentejo, próximo da fronteira com o Algarve, onde atinge os 580 m de altitude; nos concelhos de Tavira e de Loulé possui diversos pontos em que ultrapassa os 500 m. A serra do Caldeirão, apesar da sua modesta altitude, forma uma paisagem muito peculiar, onde elevações arrendondas, os cerros, são cortadas por uma densa rede hidrográfica que na sua maior parte é constituída por cursos de água temporários, o relevo é por este motivo muito acidentado em diversos pontos. A influência climática da Serra do Caldeirão é muito grande. Constitui uma barreira física à passagem dos ventos frios do quadrante Norte e às depressões de Noroeste, contribuindo para a existência de um clima mediterrânico no litoral algarvio, com fracas precipitações anuais e temperaturas suaves no Inverno. Por outro lado, é também uma barreira de condensação para os ventos húmidos do quadrante Sul. As precipitações médias anuais variam; nas zonas mais altas dos concelhos de Loulé são superiores aos 800 mm anuais, mas à medida que nos aproximamos da fronteira estas vão descendo, até serem inferiores a 500 mm anuais nas regiões do Nordeste algarvio.

Vegetação A vegetação natural é influenciada pelas variações climáticas. Nas regiões mais ocidentais da serra predominaria o sobreiro (Quercus suber), associado ao carvalho-cerquinho (Quercus faginea)e ao medronheiro. Nas vertentes próximas do Vale do Guadiana predominaria a azinheira (Quercus ilex) associada ao sobreiro, que nestas regiões surgiria nas vertentes úmbrias próximas dos barrancos (linhas de água), à aroeira e à palmeira anã. O Homem ao longo dos séculos alterou esta paisagem,destruindo as florestas naturais para criar terrenos agrícolas e pastagens para o gado, resultando a paisagem actual, quase sem vegetação onde predominam os arbustos do género Cistus, adaptados aos solos entretanto destruídos pela erosão. A principal causa desta erosão foram os incêndios e as campanhas do trigo, na primeira metade do século XX; ao destruirem a vegetação natural, os solos ficaram expostos às chuvas torrenciais que os arrastaram ficando exposta apenas a rocha nua, processo acelarado pela inclinação dos solos típica das serras. Por este motivo a desertificação natural é muito preocupante nomeadamente nas vertentes mais a Leste da serra do Caldeirão. Os cursos de água principais seriam ladeados por galerias rípicolas, onde predominaria o freixo associado a outras espécies menos frequentes como o amieiro. Nos cursos de água mais pequenos predominaria a adelfeira.


Fauna A fauna seria constituída essencialmente pela lontra (Lutra lutra), pelo lobo-ibérico, lince-ibérico, saramugo, sapo-parteiro-ibérico, águia-de-bonneli, águia-imperial-ibérica, cegonha-negra, abetarda, veado, javali, coelho, lebre, gineta, bufo-real, entre outras. O lobo-ibérico desapareceu em meados do século XX, bem como a águia-imperial-ibérica. O lince-ibérico pensa-se que desapareceu nos finais do século passado; quanto à cegonha-negra, nidificava nas fragas da Foupana e do Vascão, mas de momento já não o faz. A abetarda surgia nas estepes planálticas do Nordeste, e a águia-de-bonneli nidifica de momento em alguns pontos da serra.

Acção Humana As culturas agrícolas predominantes são as de sequeiro, a amendoeira, a alfarrobeira e a oliveira, surgindo a cultura de árvores de fruto como a laranjeira e a nespereira próximo dos vales de alguns cursos de água. São ainda cultivados tremoços, grão-de-bico, trigo, aveia, cevada e centeio. O gado predominante é o caprino. Existem registos antigos que afirmam que a raça de vaca algarvia já foi frequente na região, mas de momento está praticamente extinta. O povoamento na serra do Caldeirão remonta ao Neolítico, como testunham a grande quantidade de vestígios pré-históricos existentes na região. Existem diversas antas, tholos e vestígios de povoações pré-históricos, como a Anta da Mealha, próxima de Cachopo, (concelho de Tavira) ou o castelo de Santa Justa (concelho de Alcoutim). Ocorreu muito a exploração mineira nesta serra desde o Neolítico, existindo vestígios de minas em bom estado no concelho de Alcoutim. Os árabes exerceram uma grande influência na serra do Caldeirão. Introduziram a amendoeira e a laranjeira, e estão na origem do actual tipo de povoamento da serra, constituído por aldeias dispersas de pequenas dimensões, os montes, com toponímias curiosas, normalmente de origem árabe ou baseadas em características físicas ou da vegetação locais como Alcarias, Azinhal, Cabeça Gorda, Cumeada, Barranco do Velho ou Ameixial. Existem ainda muitos vestígios dos árabes, tanto a nível arquitectónico, de que são exemplo o castelo velho de Alcoutim ou o povoamento do Cerro Das relíquias, como a nível cultural- regionalismos de origem árabe, contos e lendas envolvendo mouras e mouros encantados. A população da serra do Caldeirão viveu durante séculos isolada. Raramente ia ao litoral, e ainda hoje os serrenhos (designação pela qual são tratados os habitantes das serras algarvias) chamam às zonas baixas do litoral e barrocal algarvios o Algarve. Durante séculos as notícias de fora eram trazidas pelos almocreves, que traziam produtos do litoral como peixe e sal. Ainda na actualidade existem muitas marcas do modo de vida antigo, como azenhas, levadas, açudes, moinhos de ventos ou fornos. As casas típicas da serra do Caldeirão são feitas de pedra, caiadas de branco e o telhado é feito de cana, sendo normalemnte de uma só água. As divisões são muitas das vezes feitas em edifícios separados, tendo que se entrar por vezes em cada divisão apenas por uma porta que dá acesso ao exterior. Os fornos e os palheiros por vezes não são caiados.