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Cordeirópolis: diferenças entre revisões

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Revisão das 01h47min de 18 de maio de 2004

Uma nova proposta para a história de Cordeiro(polis)

I – A Formação (1817-1885) 
        O início da ocupação do território do atual município de Cordeirópolis se deu com a formação das primeiras grandes propriedades rurais, destinadas ao cultivo de cana para exportação de açúcar e, mais tarde, café para exportação. Existiam duas formas de apropriação da terra na região, dependendo da posição social do pretendente: para os grandes proprietários, em busca de terras férteis para início de cultura, a requisição de uma carta de sesmaria era o passo para oficialização da posse.
        A legislação sesmarial, que teve início em 1375, em Portugal, e, com a descoberta do Brasil, foi transferida para cá, concedia terras incultas, despovoadas a quem, teoricamente, provasse ter condições de cultivá-la e provasse sua ocupação. Sesmaria era como a legislação antiga chamava uma porção de terras concedida pelo Governo, que geralmente media 3 x 3 léguas, isto é, um quadrado ou um losango de 6,6km x 6,6km que, com o tempo, e a lei permitia, poderia ser divida a quem pedisse uma “rata”. Como um dos requisitos para a oficialização das terras era a prova de utilização, geralmente as datas que encontramos, marcando o período de concessão, não indicam o início do cultivo em si, mas a oficialização de um processo anterior.
        As sesmarias que depois, originaram as principais fazendas da cidade (Morro Azul, Ibicaba, Cascalho, Cordeiro, Santa Maria, São Joaquim), foram concedidas num período que vai de 1817 a 1821, sendo que, no ano seguinte, o sistema foi suspenso, por ordem do Imperador D.Pedro I.
        A outra forma de apropriação da terra era realizada pelos homens livres e escravos libertos que, numa região onde o centro urbano mais próximo era Piracicaba (elevada a Vila – município em 1821), consistia em ocupar terras distantes das sedes das fazendas, evitando ser expulso pelo “legítimo” proprietário da sesmaria, formando um “sítio”, onde ele cultivava produtos de subsistência. Havia também propriedades que plantavam cana para serem moídas no engenho, produzindo açúcar, isto no período açucareiro paulista (fins do século XVIII – primeira metade do século XIX).
        No estágio atual da pesquisa, podemos afirmar que o território histórico de Cordeiro(polis), que não compreendia os acréscimos posteriores a 1938, como a Fazendas do Bosque, Santa Teresa, S. Jerônimo, Santa bárbara, etc., se compunha das seguintes sesmarias (ou fazendas): na divisa com o que depois se chamou Santa Gertrudes, a Fazenda São Joaquim, que tem origem na sesmaria de mesmo nome, concedida à família Godoy em 1818 e que entra no território da cidade até aproximadamente a rua 13 de Maio; a Fazenda Ibicaba, que tem origem na Sesmaria do Morro Azul, oficializada em 1817; a Fazenda Santa Maria que, segundo consta, surgiu da Sesmaria da Água Branca, a qual, ainda, não sabemos a quem foi concedida; as Fazendas Cordeiro e Cascalho que, pelo menos a partir de 1880 pertenceram aos herdeiros do Barão de Porto Feliz, e, que (a segunda certamente) têm origem na sesmaria concedida aos irmãos Ferraz de Campos, um dos quais se tornou em 1867  Barão de Cascalho.
        As estradas da região, no período compreendido por esta parte, e diante do estágio atual das pesquisas, deviam compreender, basicamente, a estrada do interior, que atualmente é a SP-316, a estrada que ligava a sesmaria da Água Branca à estrada geral (Atual Rua do Barro Preto), a ligação entre a Fazenda Ibicaba e a estrada do interior (rua Toledo Barros), citada em documentos antigos e a continuação da estrada que vinha de Campinas a Limeira, que seria a atual estrada vicinal para Limeira e sua continuação antiga (a rua Guilherme Krauter), cruzando com a estrada que demandava à estrada S. Joaquim, ou Bairro do Ouro Preto. (confirmar sobre a Hist. da viação pública no Est. de S. Paulo).
        A Lei Imperial n. 601, de 18 de setembro de 1850 criou um novo regime de concessão de terras devolutas, isto é, as públicas que não eram de uso dos municípios nem dos terrenos da marinha, etc. Segundo esta lei, somente poderia se adquirir terra através de compra, e não mais de concessão gratuita, como era anteriormente. Além disso, criou-se o Registro de Terras, regulamentado em 1854, que deveria existir em cada paróquia do país onde os proprietários deveriam declarar as suas terras, como a conseguiram e onde se localizavam. Mesmo assim, devido à imprecisão das localizações e a má-fé de alguns proprietários, os problemas judiciais continuaram ocorrendo, se estendendo, no nosso caso, até o início deste século, com a questão da divisão judicial da Fazenda S. Joaquim.
        Segundo algumas fontes, José Ferraz de Campos, depois barão de Cascalho, além de um grande produtor de café, tinha uma tropa de burros, necessária para levar o café até o porto de Santos. Para apoio desta tropa, deveria existir um rancho, local elas eram alimentadas, se fazia à manutenção dos arreios e outros apetrechos necessários para a viagem. Talvez, e supondo que a chamada Fazenda Cordeiro pertencesse , àquela época, ao mesmo dono da Cascalho, podemos propor que o lugar, que em alguns textos é chamado “Pouso do Cordeiro”, se refira a este local onde paravam as tropas e burros, de propriedade do barão.
        A iniciativa do Senador Vergueiro, proprietário da Fazenda Ibicaba e morador a partir de 1825, de trazer imigrantes europeus para diminuir a dependência da mão-de-obra escrava, em 1840, e, com mais intensidade, a partir de 1847, contratada através do sistema de parceria, fez comeste ficasse famoso em todo o país e fosse, até a revolta de Davatz (1856), tomado como experiência bem sucedida na substituição da força de trabalho cativa. A partir desta época, o sistema se manteve, sem o mesmo brilho, até ser substituído pela contratação através de pagamento de salário, sendo que, depois da década de 1880, a base dos trabalhadores da fazenda foi de imigrantes italianos ou portugueses, além de alguns nacionais.   
        Visando diminuir o custo de transporte do café, da plantação até o porto, os proprietários rurais de S. Paulo fizeram gestões para a construção de uma linha ferroviária que ligasse estas duas regiões, Em 1867, foi inaugurada, ligando Jundiaí ao porto, a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, conhecida como S. Paulo Railway, ou a “Inglesa”.
        Diante da considerável redução dos custos e do aumento das quantidades embarcadas, os fazendeiros da região se mobilizaram no sentido de criar uma companhia ferroviária que ligasse a região produtora de Campinas à “ponta de trilho” de Jundiaí. Em 1872, chega a Campinas a ferrovia, inaugurada a 11 de agosto.
        A partir de Campinas, era necessário continuar a ligação até Rio Claro, um grande centro produtor, que concentrava muitos proprietários capitalizados. Garantindo, pelo governo, a possibilidade de aumentar as tarifas até o limite de retorno de 7% sobre o capital, e contando com a desistência da “Companhia Inglesa” do privilégio de zona que tinha sobre a região, a ferrovia foi expandida, sendo aberta ao tráfego em 30 de junho. Em 11 de agosto de 1876 as estações de Limeira, Cordeiro e Rio Claro foram inauguradas oficialmente. Durante o período de construção, cogitou-se em construir a linha de bitola larga em direção a Araras, com um ramal de bitola estreita para Rio Claro, mas, no fim, pela racionalidade do traçado, foi construído o ramal principal até esta cidade, mantendo o ramal secundário até Araras, que terminava em Descalvado.

Na década de 1870, surgiram colônias nas propriedades do Barão de Porto Feliz, Cândido José de Ferraz, filho do Barão de Cascalho. Domingos José Nogueira Jaguaribe, depois casado com uma filha de Cândido, era um imigrantista e abolicionista, nascido no Ceará, filho do Visconde de Jaguaribe, vereador e deputado provincial no período do Império. Escreveu livros defendendo a utilização da mão-de-obra estrangeira, criticando a escravidão e apoiando o abolicionismo, além de fazer propaganda das colônias de seu sogro. As boas relações que ele tinha com a administração que provincial foram decisivas na criação do Núcleo Colônia de Cascalho.

O problema da substituição da força de trabalho na agricultura, com a crise da escravidão, durante a década de 1880, preocupou fazendeiros e políticos em S. Paulo. A tendência majoritária, na Assembléia Legislativa Provincial, era a de considerar a imigração européia como solução para a falta de mão-de-obra iminente, com o advento da lei abolicionista parcial e as revoltas que pipocavam por todo o país

Em 1884, o governo provincial promulgou a lei n. 29, de 28 de março, que subvencionava a imigração para S. Paulo do pagamento antecipado de passagens para o trabalhador, custo que deveria ser reembolsado, posteriormente. No projeto, existia um artigo que autorizava a criação de cinco núcleos coloniais próximos a estradas de ferro ou rios navegáveis. Nesta lei se encontram as duas estratégias mais comuns para a atração de imigrantes para S. Paulo. A primeira consistia em atrair o imigrante com a perspectiva de um emprego garantido, na lavoura, onde, ao final de seu contrato, o lavrador teria um pecúlio acumulado e, se quisesse, poderia ir para a cidade mais próxima trabalhar no comércio ou prestar serviços. A segunda defendia que, para fixar o imigrante a terra, era necessário dar a ele um lote onde ele pudesse plantar. É essa concepção que tinha um dos autores do projeto inicial, o deputado Antonio Prado. A sua aprovação teve como conseqüência à criação do Núcleo Colonial do Cascalho, fator de desenvolvimento da região situada em torno da Estação de Cordeiro, origem da nossa cidade.

II – De povoação a distrito (1885-1899)

        Entre agosto de 1883 e junho de 1885, oito pessoas, com passagens pagas pela Hospedaria do Imigrante, lugar onde eram abrigadas até que fossem contratadas por algum fazendeiro, tiveram como destino final à estação de Cordeiro, antes de aportarem os trabalhadores enviados para o Núcleo do Cascalho. 
        A Lei Provincial n. 96, de 1880, transferiu para Rio Claro o território das fazendas Cordeiro e Cascalho, e, como vemos, quando o núcleo foi criado, em 1884-5, e a povoação surgiu, ambos pertenciam a esta cidade. É de supor que, com a afluência considerável de trabalhadores ao Núcleo, e a própria circulação de riquezas que se estabeleceu entre a estação, as fazendas e o Cascalho, o movimento fosse realmente atraente para quem quisesse abrir seu comércio. Um documento fundamental para tentar compreender o período inicial da cidade é o relato de Evaristo José Rodrigues, publicado pela Prefeitura Municipal em 1995. Ainda assim, é necessária uma pesquisa apurada em cartórios e arquivos da região. 
        Desde 1887 foram feitos pedidos para que Cordeiro voltasse a pertencer a Limeira; um ofício enviado à Assembléia Legislativa em janeiro de 1889 foi acolhido e transformado em projeto de lei, aprovado em 23 de março e vetado em 10 de abril, com a alegação de que seria inconveniente mexer nas divisas dos municípios. Com a mudança para o regime republicano, o pedido foi atendido, sendo expedido o Decreto Estadual n. 39, que restaurou as antigas divisas. 
        Parece ter apoio documental a afirmação de Evaristo Rodrigues, sobre o papel da família Barbosa Guimarães no desenvolvimento da povoação. Nas poucas escrituras da época restantes, aparece como vendedor um componente da família, e, como testemunhas, pessoas citadas em suas memórias, publicadas em 1995. Insistimos que é necessária uma pesquisa diligente nos cartórios de Registro de Imóveis de Rio Claro e Limeira, e nos Fóruns destas localidades, para se esclarecer à origem do município. 
        O Núcleo Colonial do Cascalho (NCC), o primeiro criado pelo Governo Provincial, obedecia ao critério legal: estar localizado próximo a estrada de ferro, que era a Cia. Paulista, para evitar, como já tinha acontecido com outros de iniciativa federal, as dificuldades de comunicação e escoamento de produtos. O projeto de núcleo previa a formação de uma povoação, no meio de um ambiente de grandes fazendas, onde a mão-de-obra livre fosse utilizada na sua totalidade. Ela estava dividida em lotes urbanos, com área aproximada de 3000 m2, lotes suburbanos com área de 10.000m2, e lotes rurais, de mais ou menos 100.000 m2. A idéia era formar um centro urbano onde se concentrassem as atividades de comércio e residenciais dos colonos, uma área de chácaras e outra de cultivos de subsistência. 
        As primeiras famílias a se instalarem no NCC eram da Europa Setentrional. Dos primeiros ocupantes, citados em um relatório do Presidente da Província de S. Paulo, somente os descendentes de Joseph Hubner, que se instalou a 7 de janeiro de 1886, e de Gaspar Lucke, comprador de um lote a 14, ainda se encontram na cidade. A primeira família italiana a ser incluída nas estatísticas é os Maronese, entre 1887 e 1889. 
        Os habitantes do Cascalho, mesmo depois de sua emancipação, em 1893, sempre tiveram problemas com o grande proprietário rural da região na época, José Quinteiro. A legislação dizia que, quando um imigrante não pagasse o seu lote em dia, esgotado todos os modos de cobrança, ele seria leiloado, e o valor apurado revertido na quitação de sua dívida. Nos primeiros anos do Núcleo, diversas vezes o vemos como proprietário de lote, conseguido certamente através de arrematação. Os colonos em dificuldade pediam à administração um prazo maior para pagar suas dívidas, argumentando que, se assim ela não procedesse, contribuiria para que o Cascalho se tornasse terra de um dono só. Dois anos depois, colonos do Cascalho reclamaram contra o fechamento de um caminho pelo proprietário, mas a Câmara de Limeira considerou a reclamação improcedente, dizendo que a estrada não era de uso publico, mas um caminho particular. 
        O processo de apropriação da terra em volta do Núcleo, através de ações judiciais ou outros procedimentos, culminou com a adjudicação destas propriedades à firma Quinteiro e Cia., que, posteriormente, as dividiu e vendeu a imigrantes que trabalhavam nas fazendas próximas. A partir disso, o quadro fundiário normalizou-se, pondo fim a pendências que surgiram na segunda metade do século XIX. 
        A povoação de Cordeiro, nos seus primórdios, viveu também os problemas decorrentes do desmantelamento do sistema escravista, como as ações de abolicionistas. As grandes fazendas da região deveriam usar dois tipos de mão-de-obra, escrava e imigrante, como podemos perceber em uma citação da época: “na Fazenda Ibicaba; na noite de 23 para 24 de junho de 1885, foi assassinado o escravo chamado Theodoro por Ângelo de Tal, italiano e empregado na mesma fazenda”. 
        O importante depoimento de Evaristo Rodrigues dá conta da existência de uma feira de escravos artífices, próxima à estação de Cordeiro e, já em 1883, existem indícios de que os caifases, grupos que promoviam fugas de escravos das fazendas e os abrigavam em quilombos, como os de Cubatão e de Jabaquara, estiveram por aqui. Interessante é reparar que uma das praças da cidade, que atualmente abriga a Prefeitura e a Câmara, até pouco tempo se chamava Antonio Bento. Este nome foi adotado em 1890 e homenageava Antonio Bento de Souza Castro (1843-1898), jornalista e advogado, que fazia propaganda abolicionista através do jornal “Redenção” e era chefe dos caifases,. 
        A chamada “proclamação” de 26 de fevereiro de 1886, que tornava livres os escravos do município de Limeira (do qual a subdelegacia de Cordeiro fazia parte), pareceu ter um efeito mais ou menos retórico, na medida em que tal “libertação” era realizada não pelo convencimento dos proprietários, mas pela situação explosiva do meio, devido à crise no fornecimento de escravos, rebeliões, ação dos “baderneiros”, pressões legislativas, etc. Já em 1883 encontramos “sintomas de insurreição de escravos na fazenda do tenente-coronel Mendes Costa”. 

Evaristo José Rodrigues, autor das memórias publicadas pela Prefeitura Municipal em 1995, diz que, com a abolição da escravatura, aquela feira, onde eram vendidos artigos de madeira, acabou. Disse também que, com o avanço dos trilhos da Paulista para além de S. Carlos, muitas pessoas saíram de Cordeiro em busca de outro lugar para exercer suas atividades.

Nesse período, ocorreu uma certa mobilização dos poderes públicos. As Atas das Câmaras de Limeira mencionam um relatório, que indicava que o município, do qual Cordeiro fazia parte, tinha sido atingido pelas grandes epidemias de 1889,1890, 1892 e 1894. Casos isolados de febre amarela, reportados em dezembro de 1895, evoluíram para mais uma epidemia, em 1896. Medidas paliativas foram adotadas, mas o problema principal, que era criar um sistema de abastecimento de água potável para a cidade, não foi resolvido até a primeira metade do nosso século.

Não foi só a febre amarela que atacou a região. Em dezembro de 1892, relatório dá conta de que uma epidemia de varíola tinha sido debelada. Em 1894, há indicações de casos de tifo em Cascalho.

A precariedade das condições da povoação pode ser atestada através do pedido, feito pelo subdelegado de Cordeiro à Câmara Municipal de Limeira, em agosto de 1891, onde solicita e um relógio para controlar o turno dos guardas.

Mesmo com estes problemas, a povoação conseguiu, em 7 de agosto de 1899, através da Lei Estadual n. 645, a sua elevação a distrito. A partir daquela data o lugar passaria a contar com um juiz de paz, destinado a resolver conflitos de pequenas causas e um cartório de registro civil e de notas. Era o primeiro passo para a sua separação de Limeira que só ocorreria em 1948.

III – Período Distrital (1899-1948)

        Com a criação do distrito, é instalado o juízo de paz, meses depois da lei autorizativa. Instalado o cartório de Notas, os proprietários tiveram mais facilidade em legalizar suas posses, apesar de todos os problemas causados pela questão da Fazenda São Joaquim, que começara em 1896. 
        Em 1902, é resolvida a divisão judicial desta fazenda, que causará problemas ao ordenamento urbano do distrito até a década de 1940. No ano seguinte, através de um acordo com a Central Elétrica de Rio Claro, é estendida a energia elétrica do distrito, mas não a Cascalho, que só a terá em 1913. 
        Um setor que cresceu continuamente no período foi o de classes escolares. Em 1890, no primeiro indício de legislação que se refere ao ensino na cidade, vamos encontrar uma disposição do governo indicando que a classe masculina da estação de Cordeiro, que já estava sem professor desde as férias do meio de ano, seria transformada em mista, isto é, admitindo alunos de ambos os sexos. Em 1895, a classe mista foi substituída por duas classes masculinas, denotando uma demanda de ensino masculino desproporcionalmente maior do que o feminino. Em 1899, talvez devido a um aumento na demanda feminina ou redução na presença masculina, a segunda classe masculina foi transformada em feminina e, no alvorecer do século XX o distrito possuía uma classe de ensino público estadual para os alunos do sexo feminino e outra para o masculino. 
        O desenvolvimento da povoação, no setor religioso, foi também importante. Fato é que, em 1901, a Capela de Santo Antonio do Cordeiro, como tinha sido criada em 1885-6, foi elevada a Freguesia ou Paróquia, isto é, a partir desta data, ela contaria com um padre residente e suas rendas não seriam mais destinadas à outra paróquia, como acontecia até aquela data. Não conseguimos saber, até agora, se existia templo ou casa de outras religiões, ou como ela eram tratadas pelo catolicismo. 
        Apesar de as grandes epidemias de febre amarela, tifo ou varíola terem acontecido principalmente no final do século anterior, existem indícios que, em 1905, houve casos de tifo em Cascalho, sem indicação das medis adotadas ou da extensão da doença. 
        Até agora, conseguimos indicações da existência de escolas estaduais e municipais no distrito, quando, em 1906, em 7 de outubro, um jornal de Limeira indicava que “a escola estadual masculina funcionava sob a direção do Sr. Durval Barros” e que o secretário da Câmara e diretor de um jornal tinha visitado “as escolas municipais e estaduais” de Cordeiro. A amplitude e a expansão das escolas primárias no distrito está ainda para ser pesquisada.
        Em 1906, foi aprovada uma lei estadual que criava o cargo de subprefeito, em cada distrito de paz, vinculado e nomeado diretamente pelo Prefeito. No caso de Cordeiro, suspeitamos que o primeiro titular deste cargo tenha tomado posse do primeiro prefeito de Limeira, primeiro governante municipal que adotou este nome. Geralmente, até a década de 1930, a escolha deveria recair ou no Capitão Joaquim Manoel Pereira ou no Coronel José Levy. 
        A subprefeitura de Cordeiro funcionou, até 1942, na Rua Saldanha Marinho, n.1, esquina da rua visconde do Rio Branco, quando foi transferida para o atual prédio, na Praça Francisco Orlando Stocco,antiga Praça Antonio Bento. 
        Encontramos indícios da presença de comerciantes de origem libanesa no distrito, no início do século, como Abrahão Mussi e Elias Abrahão. Com o passar do tempo, diminuem os registros e, salvo o último, não podemos afirmar qual o destino que tomaram e se sua família se fixou no distrito. 
        Em 1911, com o provável crescimento da demanda, é criada uma escola masculina e uma feminina, anexadas às já existentes. Segundo a legislação da época, quando um lugar atingisse um certo número de alunos, que freqüentavam as isoladas, estas seriam agrupadas num estabelecimento único e coordenadas nas chamadas Escolas Reunidas, o que aconteceu em 1913 em Cordeiro. Para Cascalho, as Reunidas só foram surgir dez anos mais tarde. 
        A delegacia e cadeia do distrito, de que já tínhamos informações nada animadoras no fim do século passado, parecem ter despertado a atenção dos dirigentes da época. Em 1912, é doada uma área de terra na esquina das ruas Santos Dumont e Visconde do Rio Branco para a construção de um “posto policial” que, logo é posto em funcionamento. 
        A travessia da linha férrea na altura da rua Toledo Barros deveria ser um problema, e com o aumento do tráfego, foram feitas gestões visando à sua resolução. Em 1914, a Companhia Paulista de Estrada de Ferro anuncia a construção do viaduto sobre seus trilhos que com algumas reformas, está aí até hoje. 
        Como foi dito anteriormente, desde 1913 foram tomadas atitudes visando à construção de uma sede própria para as Escolas Reunidas de Cordeiro. Em uma publicação da Secretaria de Educação do Estado, vemos que o projeto que resultou no prédio antigo da atual Escola “Levy” foi feito no mesmo ano, mas só inaugurado em 1924. O governo estadual destinava verba para sua construção a intervalos irregulares, o que atrasou a sua concretização. No ano em que foi posta em funcionamento, um redator de um jornal de Limeira reclamava que a obra já estava pronta, esperando somente a inauguração oficial. Pelo que vimos, ela não ocorreu, e os alunos foram transferidos para seu prédio durante este ano letivo, sem nenhuma outra menção especial. 
        No início da década de 20, as autoridades locais demonstraram interesse em formar, no território do distrito, um estabelecimento que fosse plantado de amoreiras, para criação de bicho-da-seda. Apesar de toda a dedicação do poder público local, e das complicadas negociações entre a Indústria de Seda Nacional, que adquiriu a gleba de terra, os vendedores e os representantes da administração do distrito, isto não representou a criação de uma indústria de seda, o que só ocorreria mais de dez anos depois. 
        A busca de culturas alternativas para o café, devido a crises de superprodução e outros motivos, no distrito de Cordeiro, resultou em duas experiências: o cultivo das amoreiras para criação de bicho da seda e a expansão da citricultura. Apesar disso, a criação da Estação Experimental de Citricultura, atual Centro de Citricultura Sylvio Moreira, não visava beneficiar  o distrito. Somente com a mudança de suas divisas, no fim da década de 30, e que as propriedades próximas da atual Via Anhanguera passaram a pertencer ao distrito, como a Fazenda do Bosque, Santa Teresa, São Jerônimo, etc. 
        A crise de 1929, causada pela quebra da bolsa de Nova York, e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, fizeram com que o panorama político do país e, conseqüentemente, da região, se alterasse. Desde 1927, já existiam divisões internas no Partido Republicano Paulista de Limeira, e a crise econômica, aliada à nova realidade imposta pela Revolução de 1930, fizeram com que novos grupos políticos aparecessem. 
        No distrito, no estágio atual das pesquisas, podemos perceber que, ao iniciar-se a década de 30, a sociedade encontrava-se melhor estruturada, mais orgânica, inclusive, segundo depoimentos, chegando a existir representantes dos dois pais partidos paulistas no pequeno período democrático de 1933-1937, o Partido Republicano Paulista e o Partido Constitucionalista, antigo Partido Democrático. 
        As circunstâncias políticas favoráveis e o grau de organização da sociedade permitiram, em 1934, a criação da “Aliança Autonomista”, que visava criar o município de Cordeiro, emancipando-o de Limeira. Por motivos a serem apurados, esta  movimentação foi em vão, pois não foi aprovada a separação, tendo a aliança fracassado nos seus objetivos, apesar da ruidosa campanha. 
        Por essa época, encontramos indícios da existência das primeiras tentativas de industrialização, com a Fioseda, empresa de beneficiamento de fios, de iniciativa de um dos pioneiros da industrialização local, Francisco Orlando Stocco. 
        Juntamente com as Policítricas, pequenas indústrias que produziam óleo de laranja, o pequeno parque industrial de Cordeiro, até à sua emancipação, resumiram-se em indústria de fiação e tecelagem, para produção de seda e, posteriormente, seda sintética. 
        No estado atual das pesquisas, conseguimos localizar, no período compreendido entre o início do século e da década de 30, somente indústrias de fogos de artifício, como representantes do setor terciário da economia no território do distrito. Com o tempo, e devido, talvez, a acidentes, todas elas fecharam e, pelo que se sabe, até agora, nada se achou que possa contar sua história. 
        Apesar da crise do café e do aparecimento de indústrias, a cidade não se expandiu além do centro original até meados da década de 40, quando os loteamentos da Vila Pereira e da Vila Barbosa significaram, antes de tudo, uma demanda para a habitação urbana, certamente de trabalhadores vindos do campo para a cidade, início de um processo de urbanização tardio e muito lento, que vai marcar a história do distrito, depois município, até hoje. Antes desse, temos como indícios da criação de moradias, destinadas exclusivamente a operários fabris, das chamadas “casas do Jafet”, na rua Guilherme Krauter, e das próprias “casas do Krauter”, na mesma rua, esquina com a Sete de Setembro. 
        Em 1944, por determinação do Governo Federal, foi realizado um plebiscito destinado a renomear lugares que tivessem nomes iguais, como Cordeiro, por exemplo. Nessa oportunidade, o professor Bento Avelino Lordello, principal agitador do fracassado movimento emancipador de 1934, sugeriu o atual nome de Cordeirópolis para substituir o original, conseguindo vencer outras sugestões, como Jupiá, Itapema, Citrópolis, denominação oficializada em novembro do mesmo ano. 
        Quatro anos depois, com a redemocratização, as circunstâncias políticas favoráveis permitiram o surgimento de um novo movimento emancipador, em 18 de março, visando criar, agora, o município de Cordeirópolis. Realizado o plebiscito em outubro, a proposta emancipadora foi vitoriosa, sendo oficializada a autonomia municipal pela Lei Estadual n°.233, de 24 de dezembro de 1948. As eleições para a Prefeitura e a Câmara Municipal foram realizadas em 13 de março de 1949 e o município instalado em 28 de março. 

IV – O MUNICÍPIO (1948 – 1998)

        O PSB (partido Social Progressista), de Adhemar de Barros, governador do Estado, comandou o processo de emancipação, tendo como líder Jamil Abrahão Saad. Apesar disso, venceu a eleição Aristeu Marcicano, do PSD, candidato do partido do Prefeito de Limeira e do seu líder na Câmara, Bento Avelino Lordello. 
         Lordello não participou do movimento emancipador de 1948 porque foi liderado por outro partido, que não o seu. Se ele era filiado ao Partido do Prefeito de Limeira, era muito improvável que ele liderasse um movimento secssionista. 
        O candidato do PSP era Huberto Levy, proprietário da fazenda Ibicaba e descendente do grande chefe político local da Primeira República, o Cel. José Levy. Apesar de toda a tradição da família e de uma campanha intensiva, o partido de Aristeu conseguiu cooptar os eleitores com uma tática mais silenciosa, o que causou surpresa. 
        Como a prática do Governador Ademar de Barros era prestigiar os municípios onde tivesse prefeitos de seu partido, diz-se que todos os melhoramentos conseguidos no período da administração do primeiro prefeito da cidade, o foram pela influência do diretório municipal do PSP, e não especificamente pelas suas gestões como chefe do Executivo. 
        Nesta época, a cidade conseguiu diversas obras públicas  importantes, como Centro de Saúde, agência da Caixa Econômica Estadual, Coletoria, etc. Por outro lado, a economia baseava-se essencialmente na agricultura, nas indústrias de tecelagem e a cidade estava tendo um crescimento populacional, com contingentes vindos de outras cidades e da zona rural. Os loteamentos Vila Pereira e Vila Barbosa eram as opções para as famílias recém-formadas e para os que quisessem sair do campo. 
        No final do mandato de Aristeu, houve uma cisão no diretório municipal do partido de Ademar, o PSP , que resultou na criação do PDC, liderado por Moacyr Dias. Este primeiro partido, novamente, lança seu inegável líder, Jamil Abrahão Saad, para prefeito. Apesar da tentativa frustrada de arranjo entre as facções partidárias da época, o candidato “abençoado”, Dr. Cássio de Freitas Levy, acabou sendo eleito. 
        No primeiro mandato de Cássio, foi autorizado o loteamento da parte urbana daquilo que deveria ser a “Estação Experimental de Sericicultura”, mas que foi doada pelo Estado para o município, que, durante muitos anos, contou com uma fonte de renda considerável. Nessa época, aparece o loteamento da Vila Santo Antonio e o chamado “loteamento das irmãs Neves”, uma parte de terra próxima ao Estádio Municipal “Huberto Levy”, que foi fracionada com a abertura de uma rua. 
        Cássio de Freitas Levy, advogado que nunca exerceu a profissão, nasceu em Santos, trabalhou na empresa exportadora da família nesta cidade, e, em 1949 mudou-se definitivamente para cá. Além da aquisição desta parte das Amoreiras, Cordeirópolis conseguiu uma reforma para o Grupo Escolar “Cel. José Levy” e a construção de dois poços artesianos. O abastecimento de água potável sempre foi um problema para as administrações municipais, devido ao poder de investimento não acompanhar o crescimento populacional. Foi inaugurado, também, nesta época, um sistema de transporte ligando a cidade a Limeira, a famosa “jardineira”. 
        Embora do surgimento de um novo líder político, Pedro Antonio Hespanhol, que tinha conseguido unir o PDC de Cássio , o PSD de Bento e Aristeu e a UDN de Moacyr Bráulio de Mello, a sua desistência em concorrer ao cargo de prefeito proporcionou uma eleição mais fácil ao líder do PSP, Jamil Abrahão Saad, que derrotou o ex-prefeito Aristeu Marcicano. 
        A doação da maior parte do que seria a Estação Experimental, a atual Vila Nova Brasília, para o município fez com que a Prefeitura tivesse uma fonte de renda considerável, representando um período de progresso para a cidade. Muitas obras importantes foram feitas nesta época, e o asfaltamento da cidade é um marco que a memória popular reconhece. Por esta época, foi aprovado projeto de lei criando o Ginásio Estadual de Cordeirópolis, que só teve prédio próprio em 1970, e foi aprovada uma lei que proibia o trânsito de carroças com rodas de metal pela parte asfaltada, não se sabe se pela necessidade de se preservar o asfalto recém colocado ou qualquer outra razão. 
        Novamente, o grupo formado por Moacyr Dias, Cássio Levy e Aristeu se uniu em torno de uma candidatura de consenso, a do ex-prefeito Cássio. Devido ao seu competente governo, e de uma relativa fragilidade do candidato adversário, que foi o professor, a essa época, aposentado, Bento Lordello, Cássio venceu novamente a eleição para prefeito. 
        O ex-prefeito Cássio tinha tido um papel importante no período anterior, pois sendo do mesmo partido do Governo Jânio Quadros, conseguiu, através de sua ação, facilitar as concessões do Estado para a cidade. Em seu governo, a cidade sofreu os efeitos de um processo recessivo, o que levou a administração 1961 – 1965  a ter muitas dificuldades. Apesar disso, construiu a sede própria da Casa da Agricultura e inaugurou o Parque Infantil, na Avenida Presidente Vargas. Em uma de suas últimas entrevistas, ele reclamou da inflação da época e do seu subsídio, que sofreu  uma corrosão durante todo seu mandato. O eterno problema da falta d’água também atingiu esta administração, que teve que suportar a seca da Represa do Cascalho, restando somente os poços artesianos para abastecimento da cidade. 
        Apesar disso, notamos que no seu período inicial, a cidade (1949 – 1965) contava com mais opções culturais e de lazer, como a existência de dois cinemas no núcleo urbano (Cine Paulista, ativo desde pelo menos 1913 e o Cine da Sede Social Católica, de iniciativa do ex-padre Mário Pazotto), um grupo teatral amador consistente (liderado por Manoel de Souza Loureiro) e dois times de futebol com atividade constante, o Brasil Atlético Clube, fundado em 1958, pelo seu presidente perpétuo Moacyr Ribeiro e outros, e do Clube Atlético Juventus, fundado em 1953, segundo consta, continuação do antigo time chamado “União Cordeirense”. 
        A formação de um setor industrial na cidade, em governos anteriores, no fim do loteamento Vila Nova Brasília, fez com que a cidade obtivesse um desenvolvimento considerável, com formação de loteamentos, proporcionando o crescimento do município. Entre as décadas de 50 e 60, a relação entre a população urbana e rural se inverteu, completando um processo que vinha desde antes da emancipação. 
        A eleição de 1965, a última realizada sob o sistema multipartidário, referendou o nome Luiz Beraldo, ex-vereador e industrial, para prefeito, contra Mario Zaia, líder do PTB. Com o bipartidarismo, as tendências anteriores se dispersaram, e novos agentes políticos entram no jogo. A sucessão de administrações chefiadas por industriais, beneficiadas pelo alinhamento político e por condições sociais favoráveis, fizeram com que a cidade experimentasse um período de florescimento. Em 1973, no governo de José Alexandre Celoti, realizou-se uma tentativa de industrialização da cidade, que proporcionou a vinda de novas empresas para o que se chama hoje “Distrito Industria I” . As maiorias das obras públicas necessárias ao bem estar do cidadão foram realizadas nesta época, que findou com a eleição, em 1982, de José Geraldo Botion, diversas vezes candidato de oposição, no período bipartidário. 
        A partir daí, a cidade, paulatinamente, conseguiu ter os equipamentos urbanos indispensáveis para o bem público, apesar da retratação dos equipamentos de lazer, como o fechamento dos cinemas e a desativação do grupo teatral. A sucessão de administrações alinhadas com o governo estadual conseguiu trazer benefícios para a cidade, mas a crise do início desta década provocou o declínio da atividade de tecelagem, abrindo espaço para indústria cerâmica. O quadro social se deteriorou, mas a cidade ainda pode se considerar em boa situação. Certamente, a cidade de agora não é nem a sombra daquilo que era no início do século e, em certa medida, há cinqüenta anos atrás, quando o movimento liderado por Jamil Abrahão Saad conseguiu a vitoriosa emancipação de Limeira. 
        Por fim, gostaríamos de registrar a composição do Movimento pró-Município de Cordeirópolis, que, em 18 de março de 1948, lançou seu manifesto, visando à separação de Limeira: “Presidente – Jamil Abrahão Saad; Vice-Presidente: Durval Alves; Secretário: Moacyr Dias; Tesoureiro: Sebastião Pereira de Morais. Membros: Dr. Antonio Junqueira Filho, Ângelo Pagotto, Adolpho Hubner, Antonio Beraldo, Carlos Hespanhol, Carlos Buscatto, Constante Peruchi, Felipe Camargo, Guilherme Krauter, Gabriel Jafet, Gabriel Saad, Dr. Huberto Levy, Jacob Tomazella, Laurentino Fonseca”. 

Esta é a História de Cordeirópolis – por Paulo César Tamiazo (1998) Publicado no jornal "A Tribuna" em 13.06.1998