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I Torneio de Paris, França: diferenças entre revisões

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Revisão das 15h50min de 6 de fevereiro de 2005

Mais um grande título do Expresso da Vitória. A vítima ? O poderoso Real Madri


Ademir Menezes havia se aposentado em 1956, a Seleção Brasileira disputava as eliminatórias da Copa com alguns titulares do Vasco convocados, e sem outros jogadores do elenco que haviam ficado no Rio para formar o combinado Vasco-Santos onde um jovem de 16 anos, Pelé, ostentaria a cruz de malta no peito.


Mesmo com diversos desfalques, o time do Vasco embarcou para uma longa jornada de amistosos e torneios internacionais.

A excursão de meio de ano havia começado em 5 de junho no Caribe (vitória por 2 a 1 sobre a Selecão de Curacao). A seguir, uma parada em Nova York, onde em 9 de junho derrotou com facilidade o Hakoach por 6 a 2. Assim, o time de Martim Francisco partiu para a Europa, onde faria mais 11 partidas.

O primeiro compromisso em solo europeu seria o I Torneio de Paris (criado em 1957 para ser o grande evento do calendário internacional do futebol francês) que contou com a participação do Racing Club de Paris, um dos melhores times franceses da época; o Vasco, campeão carioca de 1956, representando a escola sul-americana; o Rot Weiss Essen, uma das mais poderosas equipes da Alemanhã; e, como grande atraçao, o Real Madrid, considerado pelos europeus o melhor time do mundo.

Segundo os espanhóis o Real era um timaço: Bi-Campeão Europeu, tinha o “péssimo” habito de golear seus adversários. A defesa era uma muralha e o ataque avassalador (destaque para o francês Raymond Kopa e para o craque do time, Alfredo Di Stefano). O Real seguiria vencendo a Copa dos Campeões Europeus até 1960.

Vasco e Real Madri já haviam se enfrentado quase um ano antes, em julho de 56, na Venezuela. Na oportunidade, em 3 partidas, houve um empate e uma vitória para cada lado. No Torneio Pequena Taça do Mundo, vitória do Real por 5 a 2 e empate de 2 a 2. Apesar do empate, a partida foi tão boa que Vasco e Real foram convidados a realizar novo encontro, em que a equipe cruzmaltina venceu por 2 a 0.

Don Alfredo (Di Stefano) era velho conhecido, pois havia jogado a final do Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões de 1948 pelo River Plate, quando o Saeta Rubia foi incapaz de evitar o título invicto do Vasco da Gama, mesmo sem Ademir em campo. Na época Di Stefano fora anulado pela defesa cruzmaltina.


O Torneio de Paris


Na partida de abertura, o Vasco pegou o Racing, na noite de 12 de junho de 1957, e, para surpresa geral, o botou os franceses na roda, deixando a torcida e a imprensa boquiabertos a tal ponto da vantagem de 1x0 (gol de Livinho aos 22 minutos) ser considerada um presente para o adversário ao fim do primeiro tempo. No final, os 3x1 (com Pinga aos 13 e Vavá aos 22, descontando Senac aos 44) fora considerado injusto, pois não refletia os brasileiros haviam feito em campo.

Na partida de fundo, o Real massacrou o time alemão por 5x0, com uma bela exibição de Kopa e Di Stefano.

A final ocorreu em 14 de junho, no Parc de Princes, com os espanhóis considerados amplos favoritos pela imprensa francesa. (Em seu livro O Expresso da Vitoria - Uma Historia do Fabuloso Club de Regatas Vasco da Gama, Abraham Bohadana conta com detalhes o que ocorreu):

Após uma partida preliminar em que o Racing venceu o Rot Weiss pelo surpreendente placar de 7x5, Vasco e Real entraram em campo para a final, diante de um público de 38 mil pessoas, ávidos por fortes emoções.


O Jogo


Logo aos 4 minutos, o time espanhol marcou com Di Stegano, pegando o Vasco ainda frio, aproveitando uma indecisão de Viana. Nas palavras de Abraham Bohadana, “criou-se o cenário ideal para um europeu: um jogo agradável, uma noite maravilhosa, uma equipe brasileira habilidosa, mas perdendo”.

Então, como num passe de mágica, o Vasco passou de dominado a dominador, tocando a bola com tal habilidade que a partida foi se transformando em uma brincadeira de gato e rato.

O gol de empate era questão de tempo, e aos 20 minutos o lateral direito Dario fez um longo passe transversal para Ortunho que, de primeira, enfiou para a corrida de Pinga, que chegou a linha de fundo e cruzou para trás: Valter soltou uma bomba e estufou a rede espanhola.

Surpresos e encantados, os franceses aplaudiram, sem saber que o ainda viria. Mesmo com inúmeros desfalques (já mencionados) o Vasco continuou a jogar seu belo futebol como um rolo compressor, botando o grande Real Madrid na roda, assim, ninguém mais se surpreendeu quando em nova jogada de Pinga pela esquerda, aos 32 minutos, Vavá (o “Peito-de-aco”) recebeu na área e chutou entre os zagueiros espanhóis. Encantados, os franceses ensaiaram um Vascô, Vascô.

Humilhado pelo banho de bola, o time espanhol voltou agressivo para o segundo tempo, e logo aos 8 minutos Mateos empatou ao concluir bela jogada de Kopa.

Empolgados e novamente com o apoio da torcida (que esquecera a bela exibição do Vasco no primeiro tempo), os jogadores do Real resolveram ganhar no grito. Gento agrediu Pinga com uma cabeçada e durante 10 minutos o pau comeu. Na briga, o negão vascaíno Ortunho, praticamente sozinho botou o time espanhol pra correr.

Quando o jogo recomeçou e a temperatura esfriou, Ortunho entrou duro sobre Mateos, obrigando o jogador do Real a deixar o gramado. Os espanhóis já haviam feito as duas substituições possíveis, por isso, os dirigentes do Vasco impediram a substituição de Mateos, numa atitude que não contribuiu em nada para acalmar os ânimos.

Com Mateos fazendo número (ou fingindo), a partida recomeçou sem grandes alterações em seu panorama, pois o domínio do jogo já era do Vasco. Aos 21 minutos veio o terceiro gol, uma verdadeira obra de arte: “Uma pintura digna de ser exposta no Louvre (ou numa vitrine da Rua do Ouvidor)”. Em uma sensacional jogada, Valter enfiou de curva para Livinho na meia esquerda. Cercado de espanhóis por todos os lados, não se fez de rogado, “simplesmente optou pelo impossível, e com um toque leve e sutil, quase diáfano, tocou pelo alto encobrindo o goleiro espanhol”.

Conquistados, os franceses aplaudiram. Desesperados, os espanhóis tentaram, na raça, reagir. Mas o Vasco, com a partida nas mãos, ampliou aos 39 minutos com o meia Válter em uma jogada acrobática que provocou sua contusão, colocando 2 gols de vantagem sobre o Bi-Campeão Eurpoeu.

Completamente abatido, o Real, num sobressalto de orgulho, se lançou a frente com todas as forcas, conseguindo diminuir o marcador aos 44 minutos com Kopa . A torcida, que no primeiro tempo tinha vibrado com o Vasco mas que durante a briga apoiara os espanhóis, vaiou quando apos a saída a bola foi atrasada para o goleiro Carlos Alberto.”

No dia seguinte, de cabeça fria, os franceses entenderam que tinham presenciado um espetáculo raro, embora doloroso para eles: o baile que os “sambistas” negros haviam aplicado no bi-campeão europeu, considerado o melhor time do mundo.

No dia seguinte, escreveu Jacques Ferran no jornal l'Equipe: “E então, bruscamente o Real desapareceu literalmente. Seriam as camisas de um vermelho pálido ou os calções de um azul triste que enfraqueciam a soberba equipe espanhola? Não; é que, antes, apareceram subitamente do outro lado os corpos maravilhosos, apertados nas camisas brancas com a faixa preta, de onze atletas de futebol, de onze diabos negros que tomaram conta da bola e não a largaram mais. Durante a meia hora seguinte a impressão incrível, prodigiosa, que se teve é que o grande Real Madrid campeão da Europa, o intocável Real vencedor de todas as constelações européias estava aprendendo a jogar futebol”.

Gabriel Hanot, o jornalista que mais tarde chamaria Pelé de Rei, admitia que o poderoso Real Madri fora totalmente dominado. No time do Vasco, a defesa com 4 zagueiros tinha causado uma ótima impressão (o único titular da defesa do Vasco era Orlando, pois Coronel estava contundido, e Paulinho e Bellini estavam na Seleção), mas os destaques eram o meio e o ataque, onde Laerte, Livinho e Pinga tinham dado um show de bola. Do Real, apenas Kopa e Mateos haviam escapado. Di Stefano após marcar o primeiro sumiu de campo, e mais uma vez restara a frustração de cair diante do Vasco. “Nessa suave noite de gloria para o futebol brasileiro, a grande estrela argentina tinha sido ofuscada por um astro maior: Valter Marciano. O que ele fez nesse jogo não pode ser descrito por palavras. Quem viu, viu, quem não viu, não viu.” Foi um futebol tão mágico que levou Hanot a dizer que “jogou um jogo de ataque tal como há muito tempo não se via na Europa”.


Vasco: Carlos Alberto; Dario, Viana, Orlando e Ortunho; Laerte e Valter; Sabará, Livinho, Vavá e Pinga.

Real: Alonso; Torres, Marquitos (Santamaria), Lesmes e Munoz; Ruiz e Mateos; Kopa, Di Stefano, Rial (Marshal) e Gento.


Uma fase Mágica


Após conquistar o Torneio de Paris, o Vasco partiu para a Espanha, onde venceu o Atletico Bilbao por 4x2 em La Coruña, na disputa do Troféu Teresa Herrera.

Em seguida, caíram o Valencia (3 a 1), em Valencia; o Barcelona, humilhado com uma goleada de 7x2 em pleno Nou Camp; e novamente o Valencia, por 2x1. Em Portugal, caíram Benfica (5 a 2) no Estádio da Luz; e, de volta a Barcelona, o Espanyol (3 a 1).

Nos cinemas espanhóis, os gols e lances das vitórias vascaínas eram aplaudidos quando exibidos nos jornais da tela.