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Break: diferenças entre revisões

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Revisão das 16h38min de 11 de fevereiro de 2005

ELEMENTO FUNDAMENTAL : BREAK

Kool Herc intima os BBoys e Bgirls na pista. James Brown olha por nós.


Hip Hop - com maiúsculas sempre - é o conjunto de quatro formas artísticas distintas chamadas de elementos. Daí a sua complexidade, uma cultura híbrida, sempre em movimento, em evolução constante. Estas formas artísticas foram surgindo no ambiente urbano de Nova York, cidade dos Estados Unidos, na passagem dos anos 60 para os anos 70. O termo foi criado pelo então DJ Afrika Bambaataa, fundador da organização Zulu Nation, referindo-se ao movimento dos quadris. Breaking, Bboying, Rocking, Break – estilo surgido na década de 70, criado pelos jovens negros e hispânicos de Nova York (EUA). Composto pelo Up Rock (Brooklyn Rock), Top Rock, Freeze e Footwork. Popping, Locking, Boogaloo, Eletric Boogaloo – estilos surgidos também na década de 70 só que na costa leste dos EUA (Los Angeles, San Francisco e Bay Area) que se integrou ao Hip Hop no início da década de 80. BBoy/Bgirl – termo criado pelo pai de todos, DJ Kool Herc, para se referir àqueles que dançavam no break das colagens que fazia em suas festas. O DJ brincava perguntando “Onde estão os BBoys e Bgirls?”. Todos já sabiam que Kool Herc iria construir as batidas para o povo dançar. O nome pegou e hoje representa, de modo genérico, o praticante de todos os estilos do Breaking. Mas que fique claro que BBOY e BGIRL são aqueles que dançam o BBOYING, BREAKING. Breakdance – Termo lançado pela mídia quando esta dança teve seu boom nos anos 80 nos EUA.

Dança de rua. Dança da Rua, feita na rua, criada na rua, crescida na rua. Depois de muito ler e conversar com muitos fundadores, chego a uma conclusão: Seja Breaking, Bboying, Rocking, Popping, Locking, Boogaloo, Eletric Boogaloo ou outro nome que queiram dar, todos estes estilos são da Rua! É que sempre rolou uma certa treta entre o povo de Nova York e o povo de Los Angeles sobre quem criou o que, quem faz melhor do que quem e estas desavenças que existem em qualquer lugar do planeta.. Falado isto, me arrisco a dar minha visão sobre como tudo isto foi evoluindo e chegou onde está. James Brown, o Rei do Soul, está por todos os lados influenciando o Break. Estava na cabeça (e no corpo) dos novaiorquinos no surgimento do BBoying no Brooklyn. Brown criou para “Get on the Good Foot”, uma dança espontânea e elétrica, baseada em subidas e descidas, giros e chutes. Os jovens de periferia pegaram o Good Foot e temperaram com a Rua. Surge o Up Rock no bairro do Brooklyn, um estilo de dança baseado no ataque e defesa, coisa que as gangues de rua da época sabiam muito bem fazer para conquistar mais espaço nas ruas. Enquanto isso, na Costa Oeste, em cidades como Los Angeles, Fresno, o Popping, o Locking e o Boogaloo estão por toda a parte fazendo milhares de jovens dançarem. E James Brown estava lá, marcando presença mais uma vez. Boogaloo Sam disse que deu o nome de Boogaloo para o estilo que criou por causa da música “Do The Boogaloo” (déc. 50). Como os movimentos que Sam faziam eram muito estranhos, ele chamou de Boogaloo. Os estilos surgidos na Califórnia, que são mais complexos e em maior número, possuem uma dezena de gêneros irmãos que influenciaram e foram influenciados por eles:

Strutting Hitting Floating Cutting Wacking Punking Showcasing Ticking Hustle Animation Voguing Scarecrow Puppet Waving

Se olharmos para os estilos de Nova York, eles apresentam fortes influências das artes marciais (chinesas), das danças nativas da África e dos EUA e da Capoeira brasileira. São mais combativos e ritualísticos. O próprio Up Rock (Brooklyn Rock) consiste em movimentos de ataque e defesa, representando socos, machadadas, marteladas dentro de uma estrutura de 5 tempos. O Top Rock (originado no Bronx) tem hoje a função de apresentação, ao entrar na roda o Bboy/Bgirl completo, nunca deixa de apresentar o seu Top Rock, é o cartão de visitas apresentando o seu estilo, só depois ele desce ao chão para executar o Footwork. Quem não apresenta o seu Top Rock e o seu Footwork na roda não pode ser considerado um Bboy/Bgirl completo. Voltando, o Footwork (conhecido por nós como Sapateado) é o trabalho realizado pelos pés movimentando o corpo circularmente com o apoio das mãos. O Footwork é a base do BBoying. Após sua rotina, o BBoy sempre termina sua entrada com um Freeze (uma congelada). Um Freeze bem feito deve durar pelo menos dois segundos na posição escolhida, como já me disse a lenda Mr Freeze. Por fim, entram os Moves (movimentos). O giro de cabeça, os saltos, os moinhos de vento, etc. São movimentos influenciados pela ginástica e ginástica olímpica com tempero da Rua. Existe uma grande discussão mundial, sobre o valor real dos Moves. Não há dúvida que um leigo em Hip Hop vai achar um Mortal “melhor” do que um Footwork. Porque o mortal é mais difícil, é mais bonito. O que tem ocorrido é que a última geração de BBoys e Bgirls assitem as fitas de campeonatos e vêem muitos Moves. Na hora de ensaiar, esquecem da base (Up Rock, Top Rock, Footwork) e só ensaiam saltos. Não é conservadorismo da minha parte acreditar que um bom BBoy/BGirl é aquele que é completo, ou pelo menos se esforça para isso. Bem, voltemos a estória da bagaça. Resumindo, eu diria que Nova York é ritual, combate, força; Los Angeles é Funk, é estética, é corpo. Mas quem dançava tudo isto? A televisão influenciou muitas pessoas no início da década de 70 com programas como The Big Show, What’s Happening e o Soul Train, (neste último, havia 2 Lockers (Jeffrey Daniel e Shalamar) que faziam parte do elenco fixo junto com o lendário grupo L.A. Lockers. Podería até afirmar que jovens de Nova York foram influenciados por jovens de Los Angeles, engraçado não? Os fundadores em Nova York não podem ser esquecidos (Nigger Twins; El Dorado; Sasa; Mr. Rock). A primeira geração de equipes quase nunca é citada, pois a maioria dos BBoys e BGirl acham que o BBoying começou com a Rock Steady Crew, o que não é verdade. O portoriquenho Trac 2, lendário membro da equipe Starchild La Rock conta que em 1975-76 já havia gente dançando pelas calçadas do Bronx onde estavam a maioria das equipes e que foram os latinos que mantiveram a chama acesa, pois a maioria dos negros viam o Bboying/Breaking como uma moda e abandonavam a dança logo. Cito algumas equipes desta época e membros de destaque que suavam ouvindo “Apache” e “It’s Just Begun”: Salsoul Crew (vinnie e off); TBB; Zulu Kings (beaver e robbie-rob); Rockwell Association (bgirl mama maribel); Floor Lords (manhattan); Floor Masters (manhattan); Starchild La Rock (trac 2, bos); BBoys in Action; Yoke City Mob ; Young City Boys (freeze, ken swift); Crazy Comanders Crew (spy e shorty); KC Crew; Master Plan;

A rivalidade já existia entre estas primeiras formaçãos de BBoys, o bicho pegava entre: Salsoul Crew X Zulu Kings e Starchild La rock X Rockwell Association. Rachas históricos foram travados entre estas equipes. E as minas? Asia One, Roc-A-Fella, Dandy, Lady Rock, Baby Love, Lady Doze, China, Lisette são as Bgirls que formaram a primeira geração. O tempo passa e muitos Bboys e Bgirls param, casam, vão para a faculdade e uma nova geração surge. É nos anos 80 que o Bboying se transforma em Breakdance (rótulo midiático). O aparecimento de equipes como Floor Masters, Rock Steady Crew, Dynamic Rockers, Magnificent Breakers e The Brooklyn Dinasty entre outras transformaram positivamente e negativamente o cenário do Hip Hop. Cito alguns deles: Pontos positivos: A realização de filmes sobre Hip Hop deram oportunidade às equipes como a Rock Steady Crew de percorrer o mundo mostrando o seu trabalho; A exposição destes filmes auxiliou o crescimento do Rap, já que sempre eram mostrados os 4 elementos que compõem a Cultura; com a possibilidade das turnês, várias regiões do planeta receberam sementes de Hip Hop; Pontos negativos: Jovens que apenas queriam se expressar pela dança foram explorados por indústrias fonográficas (exemplo da RSC); A dança sofreu grande saturação devido a sua má utilização em comerciais e programas de tv. Gente sem o mínimo conhecimento do que é Hip Hop faturando alto; Os filmes feitos por Hollywood nem sempre tinham BBoys de verdade, eram atores se fazendo de Bboys e Bgirls. Gente que representava foi omitida e no lugar, colocavam uns manés que ninguém nunca mais ouviu falar. No fim do túnel sempre há uma luz. E foi assim que Mr. Wiggles, um dos fundadores do Popping/Locking em Nova York, chamou Ken Swift e alguns membros da RSC para montarem um musical chamado “So What Happens Now?”. Este musical falava sobre a vida de BBoys e Bgirls após as luzes do sucesso terem se apagado. Um novo caminho se abriu para a Rock Steady, Wiggles, Fabel e os demais envolvidos neste espetáculo. Magnificent Force, Rythm Technicians e Rock Steady Crew se juntaram para formar o super projeto Getthoriginal. Totalmente dirigido, coreografado e produzido pelos integrantes, e com patrocínio da grife Calvin Klein, o projeto viajou o mundo, passando pelo Brasil em 1996 (Carlton Dance Festival). Outras equipes que fazem parte da segunda geração são: Sure Shot Boys (formada por portoriquenhos); Floor Masters (alguns saíram para formar a New York City Breakers); United States Breakers; New York City Breakers; Fantastic Duo Breakers; Negril; Rhythm Technicians; the Incredible Breakers; Full Circle; Mop-Top Crew entre outras. Enquanto isto, na costa leste, o intercâmbio entre os estilos aumentava e enriquecia a todos. Rockers de Costa Oeste conheciam Boogalooers da Costa Leste. Nova York aprendia sobre Popping/Locking/Boogaloo e Los Angeles aprendia sobre Hip Hop. No final de 1980, duas pessoas seriam os principais influenciadores de Mr Wiggles e Fabel, outros dois mitos do Popping/Locking/Boogie de Nova York (Nova York chama de Boogie, enquanto Los Angeles chama de Boogaloo). Loc-A-Tron John (Carolina do Norte) e Loose Bruce (San Diego) trouxeram de fora seus estilos de dançar. Wiggles e Fabel foram misturando o que viam na tv, com o que a vizinhança os ensinava, e mais o contato com John e Bruce, foram formando seus estilos próprios. A primeira equipe de Eletric Boogie formada pelos dois foi a Eletrickompany Dancers. Eles nem imaginavam, nesta época, que iriam fazer parte de equipes como Rock Steady e Magnificent Force. Mas foi o encontro com Sugar Pop, durante um show de Lionel Ritchie em Nova York, que definitivamente abriu suas mentes, Sugar mostrou a eles os detalhes do Popping e do Locking, contou-lhes a origem e os nomes corretos dos movimentos do que eles chamavam de Eletric Boogie. E também apresentou a nata de Los Angeles: Poppin’ Taco, Shabadoo, Boogaloo Shrimp estavam lá. Os novaiorquinos aprendendo Popping/Locking e os californianos Breaking/Up Rocking. O rapper Kool Keith (conhecido como Activity na época), Supreme, The Shack Crew, Muhammed, Snap Shot, Fortune, Fame, Check, Lil’ Sput, Short Circuit, Kippy Dee são alguns dos pioneiros de do Boogie/Locking em Nova York e devem ser lembrados. A cena em Los Angeles era muito intensa, com vários concursos de dança, espaços para apresentações e até participação e influência em videoclipes como o de Lionel Richie “All Night Long” e “Once in a Liftime” do grupo Talking Heads. Os fundadores são os Eletric Boogaloos, seguidos pelos L.A. Rockers, Blue City Strutters (depois formaram o grupo de rap-metal Boo-Yaa T.R.I.B.E.) e Funky Bunch. Os Eletric Boogaloos foram contratados na década de 80 pelo astro pop Michael Jackson para coreografá-lo nos shows de sua turnê e em vídeos. Só para deixar registrado que na maioria das vezes é Michael Jackson que aprende com o Hip Hop e não o oposto. Por exemplo, foram os irmãos Hekyll and Jekyll que criaram o Moonwalk, uma das marcas registradas da dança de Michael. Sugar Pop, Poppin Taco, Shabadoo, Boogaloo Sam (o principal), Pop´n Pete, Boogaloo Shrimp, Jojo, Lollipop e Puppet são algumas das lendas do Popping/Locking/Boogaloo. O Break se espalhou por todo o mundo e hoje está nos cinco continentes. Equipes tão diversas como Waseda Breakers (Japão), Flying Steps e South Side Rockers (Alemanha), South African Allstars (Africa do Sul), Top 9 (Russia), Black Attack (Nova Zelândia), Crazy New Feeling (Grécia), Nontoper Mielonka (Polônia), Supersonic BBoys, Back Spin Crew, Footwork Crew (Brasil) são exemplos de representantes de qualidade pelo mundo. E o Brasil? Contar a estória do Brasil é coisa para o próximo texto. Mas uma coisa pode ter certeza, Nelson Triunfo, Nino Brown, 24 de Maio, Estação São Bento, Marcelinho Backspin e Banks são palavras chaves para entender como tudo começou por aqui.

POR JUNY KP - FREITAZ - WWW.REALHIPHOP.COM.BR