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Martiniano Eliseu do Bonfim: diferenças entre revisões

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Revisão das 23h49min de 23 de maio de 2004

Martiniano Eliseu do Bonfim Ojé L’adê foi o grande precursor do retorno às raízes africanas e da busca de elementos capazes de fortificar as práticas religiosas dos negros ex-escravos. O professor Júlio Braga analisa como esse processo de re-africanização da religião afro-brasileira na Bahia termina por reforçar o conceito de "pureza nagô" e alimentar o prestígio dos candomblés do povo de ketu, da nação iorubá. "O redescobrimento da África acontece inicialmente com Martiniano Eliseu do Bonfim que vai a direção aos yorubás da Nigéria, com quem conviveu durante 11 anos", destaca no livro Na gamela do feitiço - repressão e resistência nos candomblés da Bahia. Tendo por volta dos 14 anos de idade (aproximadamente em 1875), Martiniano do Bonfim faz uma viagem com o pai à África e aí aperfeiçoa seu iorubá e inglês, que aprende numa escola de missionários ingleses. Quando volta ao Brasil, 11 anos depois, Martiniano já é um babalawô. "As leituras de Martiniano em Lagos sobre as tradições yorubás, além de vasto corpo de tradição oral, que sem dúvida se familiarizara, é que lhe permitiram recriar os títulos de obás", conclui Braga. Nagôs Para entendermos o predomínio da etnia yorubá-nagô na Bahia é necessário recordarmos que, nas últimas décadas do tráfico negreiro, um enorme contingente de escravos dessa região foi trazido para Salvador. Nesse momento, os núcleos familiares também não foram tão desmembrados como no início da escravatura, permitindo uma maior manutenção da cultura e dos costumes. Nos dizeres de Edson Carneiro, no clássico “Candomblés da Bahia”: "Os nagôs logo se constituíram numa espécie de elite e não encontraram dificuldade de impor à massa escrava a sua religião". E complementa: "Quanto aos negros muçulmanos (malês), uma minoria entre as minorias, que poderiam ser êmulos (rivais) dos nagôs, pelo seu sectarismo, afastavam não só os escravos como toda a sociedade branca". A própria Aninha era filha de um casal de africanos da etnia grunci, os negros Aniyó e Azambiyó, mas fora iniciada no candomblé pelos nagôs da Casa Branca. A presença de Xangô, seu orixá, solidificou ainda mais as tradições yorubás em sua trajetória. Com a dispersão ocasionada pelo tráfico, diversos cultos praticamente desaparecem em seus locais de origem. Em 1886, Ketu foi completamente destruído pelas guerras do Abomey e o orixá Oxóssi, tão importante na Bahia, aí é praticamente esquecido. Um comentário de Verger, citado por mestre Didi, Deoscóredes Maximiniano dos Santos, no livro Axé Opô Afonjá, dá conta da surpresa do rei de Oshogbo ao presenciar um ritual para Oxum no Afonjá. Ele "mostrou-se impressionado pelo profundo conhecimento que ainda se tem na Bahia dos detalhes do ritual do culto àquela divindade", conta. O próprio título de Iyá Nassô de mãe Senhora "é um posto destinado em Oyó, à sacerdotisa encarregada do culto a Xangô, no interior do palácio do Alafin", completa Mestre Didi, que era filho carnal de Mãe Senhora.