Guerra dos Farrapos: diferenças entre revisões
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Revisão das 20h28min de 31 de maio de 2004
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Guerra dos Farrapos
A estratégia das águas
por Aldo Tedesco
A Revolução
Farroupilha marcou para sempre a hitória do Rio Grande do Sul.
Parte dos acontecimentos ocorreram
nas águas deste estado,
o que consideramos ser do interesse dos navegadores.
Às vésperas da Semana Farroupilha, aí vai uma oportuna
compilação de Aldo Tedesco.[popacombr]
A Guerra
A revolução separatista
durou 10 anos no Brasil Imperial do século XIX.
O movimento foi deflagrado por
causas político-econômicas como os altos impostos nas charqueadas,
A escassez de moeda circulante no Rio Grande durante todo o período
colonial, e o pagamento das dívidas do governo central na província.
Politicamente, o principal motivo da insatisfação era a centralização
do poder decisório na Corte, além da aceitação
ampla das ideais liberais.
Os Farrapos
Este apelido foi dado aos rio-grandenses sublevados contra o Império
do Brasil, por não disporem de uniformes e de equipamentos militares.
Maltrapilhos, faltavam armas e botas. Muitos dos soldados, peões
de estância e negros, traziam suas garruchas e adagas.
Os imperiais
Os Imperiais governavam o Rio
Grande do Sul, recebendo ordens do Império. Eram também chamados
pelos Farrapos, de conservadores, restauradores, retrógrados, caramurus
e galegos. Ocupavam os principais postos nos órgãos públicos
e no exército.
As armas dos Farrapos
<img src="F05_2.jpg" width="495" height="427" align="right">
Eram imbatíveis nos combates a cavalo e usavam trabucos, pistolas e espadas.
A cavalaria utilizava principalmente a lança.
A artilharia empregava canhões e obuses tomados dos inimigos (ou fornecidos por uruguaios).
Imagem - Carga da temida cavalaria farrapa, retratada por Litran, pintor francês.
O atalho dos farroupilhas
para o mar
<img src="F03_2.jpg" width="403" height="317" align="right">Os imperiais
tinham o controle das águas, do Guaíba à Lagoa dos
Patos (até a Barra de Rio Grande). Os revolucionários farrapos
queriam navegar pelo oceano, tomar Laguna em Santa Catarina e fundar a República
Juliana.
Garibaldi e Canabarro cortaram árvores em Camaquã, próximo ao rio, nas terras da Estância Cristal, onde Bento Gonçalves vivera alguns anos, e construíram os dois lanchões que seriam usados na invasão de Laguna - o Seival e o Farroupilha (ou Rio Pardo), e os conduziram até Capivari.
Foram construídos seis pares de rodas, três para sustentar cada lanchão e atreladas cem juntas de bois, requisitados junto aos fazendeiros locais. Era 17 de julho de 1839, a maré atingiu a altura desejada na barra do rio Tramandaí. O velho Carpinteiro - vento retalhador de barcos - fez das suas, pois o lanchão-capitânea Farroupilha, com Garibaldi e mais 14 soldados, foi à pique. Salvaram-se por pouco, nadando até o Seival! Todos a postos, navegaram até Laguna, SC, onde Garibaldi comandou ataques em 22 de julho e 15 de novembro de 1839. [Leia um pouquinho mais sobre isso no diário de bordo do Phantasy, "<a href="http://www.popa.com.br/imagens/casamento/poa-palmares.htm">De Porto Alegre a Palmares</a>"]
Principais batalhas
<img src="F07_2.jpg" width="488" height="538" align="right">
Ocorrem 118 confrontos entre os farrapos e os imperialistas, com 59 vitórias
para cada lado. Na verdade, não foi uma guerra nos moldes clássicos,
já que o exército rebelde não estava organizado nos
moldes convencionais. Suas táticas mais se assemelhavam às
guerrilhas.
Os números de mortes em combates não são precisos, mas, em 1881 o Governo Imperial deu publicidade aos fatos, divulgando informações sobre a Revolução Farroupilha.
A estimativa é de que morreram 3.400 homens. Os farrapos perderam quase que o dobro dos legalistas.
Cena da Guerra dos Farrapos. Reprodução parcial de óleo do acervo da Prefeitura de São Paulo.
Personagens
<img src="F04_2.jpg" width="250" height="325" align="right">Bento
Gonçalves da Silva
(1788-1847) - Nasceu no atual município de Triunfo, a 23 de setembro
de 1788. Seu pai era dono de vastas terras. Participou das campanhas contra
os espanhóis (1811 e 1812) e a Argentina (1827), alistado nas forças
brasileiras. Em 1814 casou-se com a uruguaia Caetana Garcia, com quem teve
oito filhos. Morando em Cerro Largo, começou a ocupar cargos militares.
Foi credenciado pelo Império a comandar o 29º Regimento de Milícias,
tornando-se Tenente Coronel e Comandante do 39º Regimento de Milícias.
Comandou a Revolução Farroupilha (1835 a 1845), tendo sido
presidente da República Rio-grandense. Morreu em Pedras Brancas,
no dia 18 de julho de 1847, tendo sido sepultado no cemitério do
Cordeiro, no município de Camaquã.
Giuseppe Garibaldi, o Herói
dos Dois Mundos
(1807-1882) - O guerreiro italiano conheceu Bento em 1837, no Rio de Janeiro.
Construiu os barcos e atacou as embarcações a serviço
do Império. Com ele, cerca de cinqüenta outros italianos, seus
companheiros e como ele, refugiados políticos, também participaram
da Guerra dos Farrapos. No Uruguai se casou com Anita. Esteve na Argentina,
retornando para a sua Itália, lutando pela Unificação.
Morreu em 1882, aos 75 anos.
David Canabarro
(1793-1867) - Nasceu David José Martins, a 22 de agosto de 1793,
no atual município de Taquari. Mais tarde conhecido por David Canabarro.
Lutou nas guerras contra o Uruguai e Argentina, ao lado de Bento.
Bento Manoel Ribeiro
(1783-1855) - Paulista de Sorocaba, veio para o Rio Grande com cinco anos
de idade. Lutou contra o Urugai e Argentina.
Morreu em Porto Alegre, como marechal-de-exercíto.
Domingos José
de Almeida Souza Netto
(1801-1866) - Riograndino, Antonio de Souza Netto proclamou a independência
do Rio Grande do Sul a 11 de setembro de 1836, fundando a República
do Piratini.
João Manoel de
Lima e Silva
(1805-1837) - Tio de Duque de Caxias. Lutou na Bahia e Pernambuco.Era major
do Império, mas aderiu à causa dos farrapos. Ferido e morto
em combate com apenas 35 anos.
João Antonio
da Silveira
(1795-1872) - Nasceu em Rio Pardo e lutou nas guerras contra o Uruguai,
Paraguai e Argentina. Aderiu à causa farrapa, levando inúmeros
voluntários.
Cronologia da Guerra
1835
<img src="F06_2.jpg" width="500" height="358" align="right">Aqui na Fazenda
das Pedras Brancas começou o levante para a criação
da República do Pampa.
O cipreste resiste ao tempo..
Vista de Porto Alegre
da época da Revolução Farroupilha, a partir da zona
sul
<img src="F01_2.jpg" width="750" height="394">
A cidade tinha nesta época -
1830 - entre 12 e 15 mil habitantes, cinco igrejas, uma alfândega,
dois quartéis, um hospital, um asilo de pobres e uma cadeia, diversos
jornais. À noite, as ruas eram iluminadas com candeeiros que utilizavam
óleo de peixe,
O ataque a Porto Alegre foi articulado na Fazenda das Pedras Brancas, de
propriedade de José Gomes Jardim, primo de Bento Gonçalves,
onde hoje é o centro de Guaíba.
Cerca de 100 rebeldes tomaram pequenos barcos e partiram da praia da Alegria na madrugada do dia 18 para o dia 19 de setembro de 1835. Era preciso atravessar o Guaíba na altura do Porto das Pedras Brancas sem que uma canhoneira imperial percebesse a manobra.
Concentrados no morro da Azenha, os
rebeldes farroupilhas invadem Porto Alegre na madrugada de 20 de setembro
- onde ficam até 15 de junho de 1836 - tomando nos meses seguintes
Piratini, Rio Pardo e Rio Grande.
A importância da Marinha Imperial revelou-se desde cedo. Porto Alegre
se manteve livre dos farrapos porque utilizavam as vias navegáveis
- principalmente estuário do Guaíba e Lagoa dos Patos - para
trazer tropas, mantimentos e equipamentos. E foi graças à
ela que Bento Manoel conseguiu aprisionar Bento Gonçalves na Ilha
do Fanfa, em 4 de outubro de 1836.
Depois da retomada da cidade pelos legalistas, Porto Alegre enfrentou mais
três sítios, feitos a partir de Viamão, em junho e julho
de 1836, depois de 1837 até 1840, em meses alternados.
1836
<img src="F02_2.jpg" width="491" height="331" align="right">
Os imperiais expulsam os farroupilhas de Porto Alegre, mas o cerco continuou
por mais quatro anos. Antonio de Souza Netto, no dia 11 de setembro proclama
em Seival, a independência do Rio Grande do Sul e a sede da república
é instalada em Piratini. Bento Gonçalves é preso na
batalha da Ilha do Fanfa, no rio Jacuí, próximo de Triunfo
e é levado para a Bahia.
Declaração da República Rio-grandense. Òleo do acervo do Governo do RS
Ilha do Fanfa e a Revolução Farroupilha
Os dois primeiros anos de combates
da Revolução Farroupilha - que duraria dez anos - entre as
tropas legalistas e federalistas, tiveram como cenário as margens
do Rio Jacuí e Lago Guaíba como estratégia para a tomada
de Porto Alegre.
Triunfo, terra de nascimento do general Bento Gonçalves, foi palco
de várias batalhas e a mais sangrenta delas ficou conhecida como
Combate do Fanfa. Teve início na tarde do dia 02 de outubro de 1836.
Bento Gonçalves acampou na Ilha do Fanfa (foto) com mil e quinhentos
homens. Tinha como meta encontrar a brigada do coronel Domingos Crescêncio,
na margem direita do Rio Jacuí.
<img src="ilha_do_fanfa.jpg" width="489" height="128" align="right">A esquadra
do almirante Greenfell encurralou Gonçalves, ao mesmo tempo que a
artilharia abria fogo de terra.
O combate encerrou na tarde do dia 4 de outubro, com a rendição
de Bento Gonçalves para o comandante Bento Manoel Ribeiro, com baixa
de duzentos soldados feridos, cento e vinte mortos. Foram presos, ainda,
Onofre Pires, Marciano Ribeiro, Pedro Boticário, José Calvet
e outros.
"Origens do Rio Grande", ZH, 04 dez 1996.
A foto foi feita na foz do Rio Taquari, em Triunfo. A ilha
do Fanfa está à direita. À esquerda vê-se um
pequeno estaleiro em São Jerônimo, às margens do Jacuí,
onde o Taquari desemboca.
1837
Carta de corso para Garibaldi
Giuseppe Garibaldi, italiano, recebeu a carta de corso - autorização
do governo Farroupilha para atacar, de barco, navios e propriedades inimigas,
apossando-se de seus bens. Recebeu o posto de capitão-tenente e foi
determinado que coordenasse o armamento de dois lanchões que estavam
sendo construídos no estaleiro farroupilha em Camaquã. Cada
um deles, depois de pronto, tinha duas peças de bronze e tripulação
de 35 homens. Garibaldi comandou um e John Griggs, americano engajado na
luta, o outro.
Com estes dois barcos ele iniciou sua guerra de corso na Lagoa dos Patos.
Como eram embarcações pequenas, podendo transpor os bancos
de areia que dificultava a navegação dos navios de maior porte
da Marinha Imperial, Garibaldi agia rápido e atacava as estâncias
de legalistas que estavam nas margens da lagoa, passando a mão nos
cavalos, mantimentos, etc.
A fuga de Bento
Em 10 de setembro Bento foge do Forte do Mar, na Bahia, onde se encontra
aprisionado.
1838
Rio Pardo
Depois de violentos combates, os farroupilhas dominam Rio Pardo em 30 de
abril.
"Povo
que não tem virtude acaba por ser escravo"
O maestro Joaquim José
de Mendanha compõe a música, e Francisco Pinto da Fontoura
a letra do Hino da República Rio-grandense, a pedido dos rebeldes.
Hino Rio-grandense Como
a aurora
precursora Mostremos
valor constância, Mas
não basta p’ra ser livre Mostremos
valor constância, <a href="Hino_Rio-grandense_32kbps_popa.mp3" target="_blank">Escute o Hino em MP3</a> (734KB) |
Efetivos farrapos
Calculava-se em seis mil homens os efetivos dos Farrapos neste ano, estando
em Viamão de 1.500 a 1.600 homens. Bagé deveria ter mais uns
400 homens, comandados por Antonio Neto. Domingos Crescêncio comandava
mais outros 600 perto de Piratini. Na região da Campanha, mais 500
eram comandados por Bento Manoel e David Canabarro. Vários grupos
dispersos estavam espalhados pelo território.
Forças legalistas
As forças legais tinham
também seis mil homens, contando os da Marinha.
1839
Sede da república em Caçapava
A sede da república é instalada em Caçapava, a 14 de
fevereiro.
Lanchões pelo campo
Ilustração bico de pena
Em julho, Garibaldi e sua tropa transportam
dois lanchões - o Seival e o Farroupilha, por terra, tracionados
por cem juntas de bois, até o Rio Tramandaí. Um dos barcos
naufraga no mar e Garibaldi nada até o Seival que se encontrava próximo,
para se salvar. O Seival chega a Laguna, SC, para ajudar David Canabarro
que atacava por terra, a proclamar a República Juliana, irmã
gêmea da República Rio-grandense.
Um dos mais arrojados
planos militares
Para realizar todas estas façanhas,
Garibaldi colocou em execução um dos mais arrojados planos
militares já idealizados em qualquer época.
Como as embarcações farroupilhas estavam cercadas pela Marinha
Imperial na Lagoa dos Patos, que dominava a entrada e a saída, ele
deslocou os seus lanchões mais leves, o Farroupilha e o Seival, por
terra.
"Não existe a menor dificuldade na expedição por
mar a Laguna. Mande-me o general alguns carpinteiros e a madeira necessária
para a construção de quatro grandes rodados e cem juntas de
bois carreiros para a tração das rodas, e eu farei transportar
os lanchões até Tramandaí, se Deus quiser", disse
Garibaldi numa reunião do alto comando farroupilha. Os dois lanchões
foram levados por Garibaldi até cerca de dois quilômetros adentro
do Rio Capivari, antes de sua foz na Lagoa do Casamento, e em menos de sete
dias comandou a montagem dos rodados e das pranchas sobre as quais os lanchões
foram colocados para serem movimentados por terra até Tramandaí..Eles
foram
puxados, cada um, por juntas de cem bois.
Alguns reparos que não
levaram três dias e os lanchões foram para água, no
Rio Tramandaí. Entre o Rio Capaviri e o rio Tramandaí, através
de campos, areias e banhados, foram percorridos cerca de cem quilômetros
nos dias 5 de junho pela manhã e à tardinha do dia 11. Os
legalistas não suspeitavam de nada. Para quem vai de Porto Alegre
em direção a Capivari, há um marco logo depois da ponte
sobre o Rio Capivari, à esquerda
1840
São José do Norte é atacada por Bento, Garibaldi e
mais 1200 homens. Os 600 combatentes da vila repelem o ataque. Baixas de
630 pessoas, entre mortos e feridos, de ambos os lados.
Termina em dezembro o sítio a Porto Alegre.
1841
Garibaldi abandona a Província e a revolução e vai
embora com a sua Anita (a catarinense Ana de Jesus Ribeiro).
Porto Alegre recebe do Governo Imperial, em outubro, o título de
"Leal e Valorosa" por ter rechaçado os Farrapos.
1842<font size="2" face="Comic Sans