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Sibéria: diferenças entre revisões

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Revisão das 15h09min de 5 de abril de 2004

A conquista e colonização da Sibéria pelos cossacos, e pelos russos em geral, tem muitos paralelismos com a conquista do Oeste americano. Um destes é o modo como os povos autóctones foram “assimilados” pelos invasores. Culturas inteiras desapareceram do mapa, muitas vezes sem deixar qualquer rasto. Os russos, como é óbvio, não precisavam de grandes desculpas para massacrar sem dó nem piedade os nativos siberianos. Mas se, porventura, tal fosse necessário, rapidamente invocavam a superioridade da sua cultura e religião. Provas não faltavam, assim pensavam eles. Vejam-se os ritos funerários. Os koryaques e os chukchis dissecavam os seus mortos; os yukaghires desmembravam-nos “afectuosamente”, e depois distribuíam as várias partes, já secas, pelos familiares mais próximos; estes pedaços do ente querido eram apelidados de “avós”, e funcionavam como amuletos (custa-me a imaginar o que fariam eles aos inimigos); os kamchadales, pelo seu lado, tinham em mente as necessidades de transporte no Além: davam os cadáveres a comer aos cães, para que os falecidos tivessem uma boa equipa de cães a puxar-lhes o trenó. Os russos tinham, assim, encontrado os seus “bárbaros”. Curiosamente, nesta mesma altura (séculos XVII e XVIII), a Europa olhava para o czar e os seus súbditos de uma forma bem semelhante. Apesar do se sentirem superiores relativamente aos nativos, os cossacos rapidamente aprenderam que lhes sairia muito caro desprezar toda a experiência acumulada pelos siberianos ao longo de gerações. (Imagine-se que seria (sobre)viver na Sibéria há trezentos, quatrocentos anos...) Um dos aspectos onde eles rapidamente adoptaram os costumes locais foi na alimentação, e pelo que chegou até aos nossos dias da culinária local há mesmo que lhes tirar o chapéu. Os ostyaques e voguls bebiam o sangue das renas fresquinho; quando tal não era possível, aproveitavam-no para fazer panquecas ou para engrossar a sopa. O peixe geralmente era comido cru, e para acompanhar bebia-se seiva de bétula. Os quirguizes, buriates e yakutes adoravam kumis - nada mais, nada menos que leite de égua fermentado. Os yakutes orgulhavam-se particularmente do seu “alcatrão de leite” (não garanto a fidelidade da tradução). Tratava-se de uma mistura cozida de carne, peixe, raízes, ervas e casca de árvores. Tudo isto era bem triturado e misturado, juntando-se-lhe depois farinha e leite. Uma delícia... Mas o grande pitéu dos siberianos era a rena. Os nómadas da tundra aproveitavam tudo, mas mesmo tudo: os globos oculares eram engolidos avidamente como se fossem azeitonas; os lábios e orelhas eram especialmente apreciados; o conteúdo semi-digerido dos intestinos (fibras de plantas) era utilizado para fazer “pudins negros” (os outros ingredientes eram a gordura e o sangue coagulado).

Informação retirada de Tempore [1]