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História de Faro: diferenças entre revisões

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Faro - História - Resumo (séc. VIII aC. a séc. XVII)
(Sem diferenças)

Revisão das 21h35min de 3 de março de 2004

Período Fenício, Grego e Cartaginês Formação (séc. VIII aC. - séc. III aC.)

Nome: Ossónoba

Características: Estabelecimento de um Entreposto Comercial Integrado no Sistema Mercantilista Mediterrânico.

Faro, primitivamente denomionado Ossónoba, terá surgido por volta do séc. VIII aC., durante a colonização fenícia do Mediterrâneo Ocidental. Tinha então um carácter de entreposto comercial, integrado num vasto sistema mercantilista baseado na troca de produtos afrícolas, pescado e minérios, situação que se manteve nos períodos grego e cartaginês.

A situação dos terrenos em que assenta a actual cidade de Faro era então diferente. O nível médios das águas do mar encontrava-se dois a três metros acima do actual, originando uma linha de costa muito recortada e inundável.

A configuração deste território era resultante de um sistema de colinas ou morros (o da Sé, onde se estabelecera o referido entreposto, o dos Artistas, Santo António do Alto e o conjunto de colinas que vão de S. Pedro ao Alto Rodes, designadas por Alto da Caganita, Alto da Atalaia e Alto da Esperança), separados por canais ou ribeiras e sujeitos, com as marés, à subida e descida das águas do mar.

Dos canais, destacamos uma linha de água principal que corria desde a actual Ribeira das Lavadeiras, percorrendo a Estrada de S. Luís até ao Lethes, daqui para a Praça Alexandre Herculano onde formava um lago - Alagoa - bifurcando, junto ao palácio Belmarço, para contornar o morro da Sé por ambos os lados.


Período Romano e Visigótico De Entreposto a Urbe (séc. III aC. - séc. VIII dC.)

Nome: Ossónoba (Santa Maria de Ossónoba)

Características: Estruturação da Vila-a-Dentro (Núcleo Primitivo)

           Expansão Extramuros em Dois Núcleos
           Descentralização dos Poderes para as Villae
           Cristianização da Cidade                 
           Apogeu e Destruição de Ossónoba

No séc. III aC., altura em que Cartagineses e Romanos lutavam pelo domínio do Mediterrâneo, Roma invade a Península Ibérica, governando-a até ao séc. V dC.

Com os Romanos a cidade perde o carácter de entreposto comercial e transforma-se em urbe. A Vila-a-Dentro estrutura-se segundo dois eixos principais (actuais Ruas do Município e do Repouso), ambos de acesso a uma área central, o Forum, onde se implantavam os edifícios administrativos e religiosos mais importantes. De entre eles salienta-se o Templum, cuja localização coincidia, parcialmente, com a da actual Sé, se bem que a uma cota cerca de três metros abaixo.

A Vila-a-Dentro ocupava então uma área inferior àquela que hoje ocupa e teria sido muralhada sobre o traçado da actual circular interior (Ruas Monsenhor Boto, Rasquinho e antiga Travessa das Freiras).

Pouco a pouco a cidade desenvolve-se e salta para o exterior das muralhas, estabelecendo-se então dois núcleos extramuros: o primeiro, na zona do Lethes - Alagoa-Artistas, acompanhando o traçado dos canais; o segundo, de estrutura linear, sobre o traçado da actual Rua Conselheiro Bivar.

Envolvendo estes núcleos constituiu-se uma vasta zona de construção dispersa, onde se situavam as hortas que abasteciam a cidade.

Inúmeros vestígios de edificações, estatuária, utensílios vários e túmulos são descobertos um pouco por toda esta área.

O desenvolvimento da cidade correspondia à intensa actividade comercial que a agricultura, a pesca e a utilização do seu porto proporcionavam.

Neste período, Ossónoba atinge grande opulência, tendo sido descrita como uma das mais importantes cidades do Império.

A partir do ano 50 dC., desenvolveu-se na cidade uma importante comunidade cristã que foi determinante na sua caracterização. No ano 300 já era sede de Bispado, cujo Bispo Vicente esteve presente, em Granada, no primeiro Sínodo das Hespanhas.

Durante o séc. IV, com o declínio do poder imperial de Roma, a civilização do tipo urbano descentraliza-se para as villae, sedes de grandes latifúndios e centros de poder político, económico e religioso.

Em Ossónoba adaptam-se templos pagãos a templos cristãos, iniciando-se um processo de cristianização, que culmina com a sua conquista pelos Visigodos, no ano de 414.

A ocupação visigoda não vem introduzir alterações de fundo na estrutura da cidade, já que se trata de um povo cristianizado, voltado para as áreas rurais, o que permitiu a continuação do povoamento urbano pelos Romanos.

Nesta altura, Ossónoba adopta o nome de Santa Maria de Ossónoba e é edificada a sua famosa Catedral, igreja a que se refere, posteriormente, o geógrafo Al-Yacute:

Santa Maria é uma cidade antiga; nela existe uma Igreja da qual disse Ahmed, filho de Omar Alodri, que era um soberbo edifício; as suas magníficas e alvas colunas não têm rival em nenhuma outra parte, quer pelo extraordinário comprimento, quer pela largura e um homem não é capaz de se abraçar a uma delas.


Período Árabe Densificação Urbana (séc. VIII - séc. XIII)

Nome: Santa Maria de Ossónoba - Santa Maria do Ocidente - Santa Maria Ibn Harun

Características: Alargamento

           Densificação e Consolidação do Núcleo Primitivo
           Regressão e Densificação dos Núcleos Extramuros

A invasão árabe da Península Ibérica inicia-se no ano 711 quando Tarik atravessa o Estreito de Gibraltar e vence as tropas de Rodrigo na batalha de Guadalete, conquistando de seguida a capital dos Godos - Toledo. No ano seguinte, Mussa Ben Nossair comanda a segunda invasão, conquistando Sevilha e Ossónoba. Com ele vem um poderoso destacamento de árabes iemenitas, comandados por Al-Yamani, a quem é entregue o governo da Província de Ossónoba. A cidade sofre grandes destruições, em virtude também dos efeitos de vários sismos que ocorreram naquela altura.

A cidade que os Árabes vão reconstruir tem por base a Vila-a-Dentro, que manterá a sua estrutura fundamental, se bem que densificada, adquirindo um traçado mais sinuoso - dois eixos, uma circular interior e uma área central a que correspondia apenas parte do actual Largo da Sé, mais concretamente, a zona situada entre o edifício da Câmara Municipal de Faro e a Sé Catedral, já que a restante área era ocupada por construções.

No local do antigo Templum é construída a Mesquita principal, a uma cota de nível mais elevada (cerca de três metros acima).

Extramuros opera-se uma regressão urbana dos seus arrabaldes, que se densificam, mantendo-se os dois núcleos já existentes anteriormente.

A cidade contém, neste período, uma forte comunidade de cristãos e moçárabes, descendentes dos Romanos e Visigodos, havendo notícia da sua participação em concílios de Bispos. É provável a manutenção de locais de culto dedicados a Santa Maria.

No ano 870 eclodiram as revoltas moçárabes no Ocidente do Andaluz. O partido Muladi, composto por antigos cristãos islamizados, os Moçárabes (do árabe Nuss-Arabi - meio árabe), com o apoio da comunidade cristã, toma o poder, tornando-se independente do Emirato de Córdoba, por mais de 50 anos.

Ao revoltoso Yahia Ben Bakr sucede seu filho Bakr Ben Yahia, que executa importantes melhoramentos na cidade. Constroem-se as actuais muralhas, guarnecidas por portas em chapa de ferro, aumentando-se o perímetro da Vila-a-Dentro. Terá sido nesta altura colocada entre as ameias a imagem de Santa Maria, como nos canta Afonso X de Castela, o Rei Sábio. É de crer que neste período a cidade tenha adoptado o nome de Santa Maria do Ocidente ou simplesmente Santa Maria (Xanta Maria).

A revolta Muladi seria esmagada pelo Califa Abd-Al-Rahman III.

Os anos seguintes são marcados pelo poder do Hajibe Almançor, primeiro Ministro do Califa Hixame II, que obtém importantes vitórias sobre os cristãos.

A dinastia Omíada de Córdoba cai no ano de 1016, fraccionando-se o Al-Andalul em vários principados independentes - os Reinos das Taifas. A Taifa de Santa Maria é governada por Abu Othman Said Ibn Harun. A cidade passa a designar-se por Santa Maria Ibn Harun.

Em 1092 o governador da Taifa de Sevilha, Al-Muatamid, natural de Beja e ex-governador de Silves, pede ajuda aos Berberes de Marrocos quando da luta contra as tropas cristãs de Afonso VI de Castela. Yusuf Ibn Tasfin comanda então a invasão Almorávida, derrota as hostes cristãs e conquista todos os Reinos das Taifas, unificando-os de novo e sujeitando-os a Marrocos.

Quando D. Afonso Henriques vence os Almorávidas na batalha de Ourique, sucedem-se os segundos Reinos das Taifas, com o governo da família Banu Mozaíne, em Santa Maria Ibn Harun.

É durante este período que Al-Idrissi, geógrafo árabe ao serviço do Rei de Palermo, em visita de espionagem ao Gharb, descreve a cidade: Santa Maria do Ocidente está edificada na orla do mar e o mar vem bater nos seus muros. É de tamanho mediano e muito bonita. Tem uma Mesquita principal e Assembleia de Notáveis. Pelo seu porto entram e saem navios.

Em 1156 os Almóadas unificam de novo a Península, fazendo a fronteira regressar ao Vale do Tejo.

Seguem-se os terceiros Reinos das Taifas, prenúncio da inevitável reconquista cristã.

Poucos vestígios ficaram daquela época, apesar dos Mouros terem permanecido séculos em Faro. De registar no entanto neste campo, a introdução de centenas de vocábulos, especialmente referentes à toponímia e ao comércio, o que prova uma certa renovação em determinados sectores. Mas, sobretudo, o período árabe deixou-nos vasta obra literária, principalmente poesia. Citaremos alguns grandes poetas de Faro desse tempo: Abu Al-Hassan Ibn Harun (séc. XI), Ibn Al-Alam Al-Xantamari e Ibn Salih Al-Xantamari (séc. XII) e Ibn Al-Murahal (séc. XIII).


Período Cristão - Reconquista Estruturação Urbana (séc. XIII - séc. XV)

Nome: Santa Maria de Faaron

Características: Criação de Novas Áreas Extramuros

           Integração das Novas Áreas na Orgânica Global da Cidade

A cidade de Santa Maria de Faaron é conquistada, no ano de 1249, pelas tropas de D. Afonso III, que lhe viria a conceder duas cartas de Foral. A primeira, em 1266 e a segunda, destinada aos Mouros residentes, em 1269.

Não se sabe ao certo se a conquista de Faaron teve um carácter violento ou se negociado. Há no entanto notícias de que são executadas obras de reparação no castelo e em alguns panos arruinados da muralha.

Os portugueses vão estabelecer a sua cidade na Vila-a-Dentro, cuja estrutura mantém os seus aspectos fundamentais, apesar de uma simplificação no traçado das vias secundárias, à semelhança de outros aglomerados urbanos da época.

A mesquita é purificada e adaptada, provisoriamente, a igreja, após o que sofre obras de reconstrução, dando lugar, em 1277, à Igreja de Santa Maria.

Sobre a Porta da Vila surge a Capela de Nª. Srª. de Entrambalas Águas, mais tarde de Nª. Srª. do Ó, quem sabe se no local onde anteriormente fora colocada a imagem de Santa Maria.

No sítio da actual implantação do edifício da Câmara Municipal de Faro, foram construidas as Casas da Câmara, edificação em forma de "L", com escadaria exterior.

Extramuros, processa-se uma considerável expansão do tecido edificado motivada pela criação dos bairros da Mouraria e da Judiaria, situados, respectivamente, a norte e sul da Rua de Santo António. A Mouraria ocupava a área definida pelo quarteirão que hoje integra o cinema Santo António, constituindo uma importante zona de hortas. A Judiaria, situada a sul, confinava com a Alagoa e continha ainda no século XIX duas sinagogas.

Ao cimo da Rua de Santo António do Alto, no local da Praça da Liberdade, ficavam as Alcassarias, principal mercado da cidade, explorado por essas duas comunidades.

A Ribeira, bairro muito ligado às actividades da pesca e da construção naval, desenvolveu-se no sentido nascente, e continha provavelmente uma igreja.

A principal artéria comercial e industrial era a Rua da Sapataria, actuais Ruas 1º de Dezembro e Tenente Valadim. A actividade portuária desenvolvia-se no local onde hoje se encontra a doca e a Praça D. Francisco Gomes, dispondo de um cais acostável, junto às muralhas da Vila-a-Dentro.

O sistema defensivo de Faro era completado com duas torres de atalaia - o Alto da Atalaia, situado no cimo da actual Rua da Boavista e Santo António do Alto, no local onde ainda hoje existe uma torre.

No final deste período os arrabaldes integram-se na orgânica da cidade, deixando de constituir áreas marginais. Inicia-se um processo de estruturação global com base na articulação de vários elementos da composição urbana, como os eixos viários, as massas edificadas e os condicionamentos naturais - hortas e canais.


Desenvolvimento Urbano (séc. XV - finais do séc. XVII)

Nome: Farão

Características: Expansão Urbana

           Edificações
           Estruturação dos Espaços Urbanos
           Construção da Segunda Cerca
           Integração das Hortas no Perímetro Extramuros

De meados do séc. XV aos finais do séc. XVII, Faro conhece um período de grande desenvolvimento urbano, com a expansão significativa da sua área edificada e com a construção de importantes edifícios religiosos.

Os descobrimentos e consequente aumento da actividade comercial são determinantes neste processo de expansão.

No ano de 1540, D. João III eleva Faro a cidade e em 1577 a sede do Bispado, até então em Silves, é transferida para ali por decisão de D. Sebastião.

Em 1596, durante o período de ocupação de Portugal, por Castela, as tropas do conde de Essex desembarcaram no lugar de Ferrobilhas e dirigiram-se para a cidade de Faro, que irão pilhar e incendiar. A população foge para Loulé e os ingleses fazem grandes destruições nos principais edifícios, nomeadamente em igrejas e conventos.

Toda a área interior à primeira circunvalação (Rua Aboim Ascenção) estava, no século XVII, integrada no tecido edificado, contendo diversas hortas urbanas, como as de S. Francisco, Ferragial, Colégio, Mouraria, S. Pedro e Capuchos. São urbanizadas a zona do Pé da Cruz e a encosta de S. Pedro.

Este processo culmina em 1660 com a construção da segunda cerca, linha abaluartada em estilo Vauban, adaptada ao uso da artilharia, que a defendia do lado de terra e a envolvia a norte e nascente. Era constituída por cinco baluartes e dois meios baluartes e dispunha de um fosso circundante. Os vestígios que hoje restam dessa cerca resumem-se a um pequeno troço situado nas traseiras do antigo convento de S. Francisco. No entanto a sua presença é visível na configuração de alguns quarteirões e no traçado das vias, reflectindo-se até nos limites de propriedades.

Na expansão e estruturação da cidade é determinante o traçado dos eixos das vias de acesso ao centro e demais ligações entre si, que constituem geralmente os arruamentos onde se desenvolve maior actividade comercial e industrial. Destacamos a Rua da Sapataria (actual 1º de Dezembro), a Rua de Santo António do Alto, a Rua da Cordoaria (actual Rua do Bocage) e a Rua Direita (actual Conselheiro Bivar).

As Praças e Rocios eram também pólos de actividade e situavam-se, geralmente, na confluência das vias mais importantes. Salientamos a Praça da Rainha (actual D. Francisco Gomes), situada junto ao porto, e as Alcassarias (no local da Praça da Liberdade e estacionamento da Pontinha), que constituíam um importante mercado.

Neste período são construídos alguns dos principais edifícios da cidade. No séc. XVI os conventos das Freiras e de S. Francisco, o colégio dos Jesuítas (actual Teatro Lethes), a Igreja e o Hospital da Misericórdia e as Igrejas de S. Pedro e de Nossa Sr.ª da Esperança.

No séc. XVII, o Convento de Santo António dos Capuchos, a Igreja do Pé da Cruz, a Ermida de S. Sebastião e inicia-se a construção do Paço Episcopal.

No séc. XVII que fica definida a área da cidade antiga, marcando também o fim de uma expansão orgânica, resultado das necessidades próprias de cada momento.