Michel Pêcheux

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Michel Pêcheux (1938-1983) foi um filósofo francês, expoente maior do círculo de intelectuais que fundou a linha conhecida como Análise de Discurso (de escola francesa) na segunda metade do século passado.

Biografia

Estudou filosofia na École normale supérieure (1959-63), junto do filósofo Louis Althusser que exerceu uma grande influência em seus estudos. Em 1966, começou suas atividades no Département de Psychologie de le Centre National de Recherche Scientifique-CNRS, do qual chegou a ser diretor de pesquisas. Precursor da Análise de Discurso (AD) desenvolvida na França entre os anos 60 e 70 do século passado, juntamente com um coletivo de colaboradores, teorizou, sobretudo, acerca da materialidade do discurso. Por um lado, dando continuidade às elaborações teóricas de Louis Althusser (1918-1990), por outro, contrapondo-se à Análise do Discurso influenciada por Harris e trabalhada por Dubois em Nanterre, Pêcheux conceituou o discurso enquanto uma determinada forma de materialidade (histórico e linguística) diretamente imbricada com a materialidade ideológica, propondo uma ‘semântica do discurso’.

A grande novidade que as teorias de Althusser e Pêcheux trouxeram foi a de romper com uma concepção de ideologia como simples reflexo da instância econômica e com uma concepção de linguagem como instrumento de comunicação e língua enquanto sistema anquilosado a uma sintaxe suturada. A especificidade e irredutibilidade das formações ideológicas e discursivas permitiram a delimitação de um novo campo de estudos para a linguística de base materialista. Uma vez que a ideologia não é somente um espelho (com seus efeitos de simples inversão e distorção da imagem “real”) da luta de classes de base econômica, mas possui um modo de funcionamento específico, ela demanda um dispositivo de análise adequado a seu estudo. Esse dispositivo se construiu a partir das pesquisas acerca da produção de sentido (semântica materialista) dos discursos – entendidos enquanto a materialidade característica às formações ideológicas.

A Análise de Discurso se distinguiu então, na perspectiva do materialismo histórico, por se ocupar de uma realidade peculiar, dotada de uma regularidade e um modo de funcionamento irredutíveis. Dessa forma, o objeto de estudo da AD se diferencia e suas pesquisas ganham autonomia em relação a outros campos como o das formações econômicas e sociais. Ainda que essa autonomia seja relativa, e a AD se sirva de chaves conceituais externas ao seu campo (como: luta de classes, enunciado, imaginário, resistência). As descrições e interpretações de discursos têm como uma de suas bases as ciências da linguagem e a linguística estrutural que propõem uma concepção de língua como opaca, equívoca e com uma regularidade interna própria (teoria do valor de Saussure).

Na perspectiva das ciências linguísticas, a AD permite uma abordagem alternativa para a compreensão de fenômenos de ordem semântica. A abordagem materialista proposta por Pêcheux na década de 1960 desencadeou uma trajetória acidentada mas profícua, com contínuas retificações, ajustes, desvios e retomadas. O discurso, objeto de estudos da AD, segundo Pêcheux, cruza a via do acontecimento, o da estrutura e o da tensão entre descrição e interpretação da análise do discurso.

"As palavras, expressões, proposições, etc., mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as empregam, o que quer dizer que elas adquirem seu sentido em referência a essas posições, isto é, em referência às formações ideológicas (...) nas quais essas posições se inscrevem. Chamaremos, então, formação discursiva aquilo que, numa formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de classes, determina o que pode e deve ser dito (articulado sob a forma de uma arenga, de um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa, etc.)."(Semântica e Discurso, 1975, p.160)

Obra

  • Análise Automática do Discurso (1969)
  • Semântica e discurso
  • Discurso: Estrutura ou Acontecimento

Mais informações

http://www.labeurb.unicamp.br/portal/pages/home/lerArtigo.lab?id=50

Notas

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