Aparição de Cristo a Maria Madalena (Francisco Henriques)

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Aparição de Cristo a Maria Madalena
Aparição de Cristo a Maria Madalena (Francisco Henriques)
Autor Francisco Henriques
Data c. 1508-11
Técnica pintura a óleo sobre madeira
Dimensões 246,5 cm × 198,5 cm 
Localização Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

Aparição de Cristo a Maria Madalena é uma pintura a óleo sobre madeira pintada cerca de 1508-11 pelo pintor de origem flamenga activo em Portugal no período do Manuelino Francisco Henriques para a Igreja de São Francisco (Évora) e que se encontra actualmente no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.[1]

A Igreja de S. Francisco pertencia ao Convento franciscano de Évora mas servia o Palácio Real que lhe estava adjacente sendo compreensível que a família real a quisesse dignificar dado que nela assistia a celebrações litúrgicas quando estava nesta cidade, o que foi frequente durante a segunda dinastia portuguesa. E foi assim que entre 1508 e 1512 Francisco Henriques se encarregou da decoração desta Igreja, que incluiu, para além do Políptico do Altar-mor, grandes painéis para as capelas laterais com diversas invocações estando a pintura Aparição de Cristo a Maria Madalena integrada nessa campanha.[2]

Aparição de Cristo a Maria Madalena representa o episódio bíblico de Noli me tangere narrado no Evangelho de João (João 20:16–18).

Descrição[editar | editar código-fonte]

À frente do túmulo vazio que está entre rochas do lado esquerdo, Cristo surge a Maria Madalena. Cristo está de pé coberto por um manto vermelho e segura com a mão esquerda o estandarte da Ressurreição. Maria Madalena está semi-ajoelhada usando um vestido de corpete escuro cingido ao tronco, mangas azuis cujo remate é feito por elegantes punhos dourados, saia azul clara com o interior de tecido amarelo dourado, saiote preto e um véu branco esvoaçante a cobrir-lhe a cabeça aureolada. Segura na mão esquerda um frasco de perfumes que é um dos seus símbolos.[2]

Em plano recuado, no alto da colina pedregosa, está representada a aparição de Cristo a São Pedro à entrada de uma gruta, episódio que se inclui nas séries das Cristofanias narrado por São Paulo que se lhe refere bem como a outros hipotéticos encontros com S. Tiago Menor. A aparição verifica-se numa gruta onde S. Pedro se refugiara depois da crucificação, sendo assim que Francisco Henriques a interpreta.[3] A cena decorre numa paisagem acidentada em que predominam os tons verdes da vegetação e arvoredo, e o castanho das rochas.[2]

O manto vermelho de Cristo e a diversidade de cores das vestes de Madalena animam-se em contraste com os tons pardos da paisagem que apesar da sua importância na composição se desenvolve de modo quase autónoma em relativamente às figuras. O pintor parece ter-se inspirado numa conhecida gravura de Martin Schongauer sobre o mesmo tema, Noli me tangere, mas resolveu alterar o fundo da paisagem acrescentando nele a imagem do túmulo vazio.[1]

Desconhecendo-se a sua colocação na Igreja, a Aparição de Cristo a Maria Madalena era um dos painéis que decoravam as capelas laterais da Igreja de São Francisco de Évora juntamente com Nossa Senhora das Neves (MNAA), Nossa Senhora da Graça com o Menino entre Santa Julita e São Querito (MNAA), O Profeta Daniel Julgando a Casta Susana (Museu Regional de Évora), Pentecostes (MNAA) e São Cosme, São Tomé e São Damião (MNAA), todos eles marcados pela monumentalidade das figuras principais próximas do tamanho real.[2]

Apreciação[editar | editar código-fonte]

Para Reynaldo dos Santos, nota-se nos painéis das capelas laterais da Igreja de S. Francisco "a continuidade do estilo do artista, no carácter sumário do desenho, em que a mancha domina o traço, no modelado lombardo das carnes, em certos maneirismos das mãos, na técnica e no colorido. Mas a nova escala em que é levado a compor deu ao desenho uma nova largueza de fresco, e aos panejamentos maior amplitude de estilo".[4] Pedro Dias concorda com o parecer de Reynaldo dos Santos referindo que "o colorido é já distinto, mostrando uma clara influência da tradição portuguesa, e um íntimo contacto com as obras da oficina régia de Jorge Afonso".[5]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Outra bibliografia, por ordem cronológica:

  • Santos, Reynaldo dos - Oito Séculos de Arte Portuguesa. História e Espírito. Lisboa: Empresa Nac. de Publicidade, 1965, pág. -
  • Markl, Dagoberto; Pereira, Fernando António Baptista - "A pintura num período de transição", in História da Arte em Portugal, Vol.VI - O Renascimento. Lisboa: Alfa, 1986, pág. -
  • Porfírio, José-Luís - Pintura Portuguesa Museu Nacional de Arte Antiga/Portuguese Painting National Musuem of Ancient Art. Lisboa: Quetzal Editores, 1991, pág. -
  • Serrão, Vítor - "Francisco Henriques", in No Tempo das Feitorias. A Arte Portuguesa na Época dos Descobrimentos (catálogo da exposição). Lisboa: IPM, 1992, pág. -
  • Dias, Pedro - "O Brilho do Norte: Portugal e o mundo artístico flamengo, entre o gótico e a renasçença", in O Brilho do Norte. Escultura e Escultores do Norte da Europa em Portugal - Época Manuelina (catálogo da exposição). Lisboa: CNPCDP, 1997, pág. -
  • Markl, Dagoberto - "Painéis das Capelas Laterais de São Francisco", in Francisco Henriques Um Pintor em Évora no Tempo de D. Manuel (catálogo da exposição). Lisboa: CNCDP/Câmara Municipal Évora, 1997, pág. -
  • Caetano, Joaquim Oliveira - "O Melhor Oficial de Pintura Que Naquele Tempo Havia", in O Tempo de Vasco da Gama, Diogo Ramada Curto (dir.), Lisboa, Difel, 1998.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b Nota lateral sobre a obra na exposição permanente do MNAA
  2. a b c d Nota sobre Aparição de Cristo a Maria Madalena na MatrizNet, [1]
  3. Markl, Dagoberto - "Painéis das Capelas Laterais de São Francisco", in Francisco Henriques Um Pintor em Évora no Tempo de D. Manuel (catálogo da exposição). Lisboa: CNCDP/Câmara Municipal Évora, 1997, pág. 149-150.
  4. Santos, Reynaldo dos - "O pintor Francisco Henriques" in Boletim da Academia Nacional de Belas-Artes, IV. Lisboa: 1938, citado por Pedro Dias (1992).
  5. Dias, Pedro - "Aparecimento de Cristo a Madalena", in No Tempo das Feitorias. A Arte Portuguesa na Época dos Descobrimentos, vol. II. Lisboa: IPM-CNCDP, 1992, pág. 81.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]