Astyanax paranae

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Astyanax paranae
Astyanax paranae
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante
Classificação científica
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Família: Characidae
Género: Astyanax
Espécie: A. paranae
Nome binomial
Astyanax paranae
Eigenmann, 1914

Astyanax paranae é uma espécie de peixe de água doce nativo do Brasil da família dos caracídeos (Characidae) e do gênero astyanax, popularmente conhecidos como lambaris ou tambiús.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O nome do gênero tem origem na mitologia grega, na qual Astyanax é o nome do filho de Heitor, príncipe de Tróia. O epíteto específico paranae faz alusão ao nome da bacia hidrográfica onde é encontrado (Bacia do Paraná).

Caracterização[editar | editar código-fonte]

A espécie Astyanax paranae é um peixe da família dos Caracídeos que alcança desde pequeno a grande porte, variando de 26 a 108 milímetros de comprimento.

Astyanax paranae com medidas
Astyanax paranae com medidas

Sua cabeça apresenta forma arredondada com boca terminal e maxilar formando um ângulo maior que 90º com o pré maxilar; o qual é característico por apresentar duas séries de dentes. Seus olhos apresentam variação de tamanho em relação ao comprimento do corpo, podendo ser pequenos ou grandes.

As escamas encontradas nesta espécie não apresentam padrão uniforme de distribuição de cromatóforos na escama, permitindo sua diferenciação com outras espécies do gênero. Outra característica morfológica que auxilia na identificação da espécie é a presença de menos de 21 raios ramificados na nadadeira anal e mais de 13 séries longitudinais de escamas no pedúnculo caudal. Além disso, o dimorfismo sexual da espécie é evidente em indivíduos adultos, sendo que o macho apresenta forma do corpo retilínea, enquanto a fêmea apresenta corpo em forma mais roliça.[1]

Em relação ao seu comportamento, a espécie é pacífica e gregária, ou seja, tende a viver em bandos. Ocasionalmente podem mordiscar peixes mais lentos ou que apresentem longas nadadeiras, mas sua dieta principal consiste de vermes, crustáceos, insetos e secundariamente material vegetal.

Consiste de uma espécie ovípara, na qual durante a corte, o macho conduz a fêmea para liberar os ovos não adesivos em meio a plantas, os quais serão fecundados. A maioria dos ovos irá cair para o fundo ou poderá ficar flutuando, eclodindo em até 2 dias, sendo que após esse período as larvas estarão nadando livremente sem cuidado parental.[2]

Distribuição e habitat[editar | editar código-fonte]

Ampla distribuição (América do Sul), por toda bacia do rio Paraná, é uma espécie típica de cabeceira, ou seja, vive perto da nascente do rio. A faixa de temperatura da água preferencial para a vida dessa espécie é de 24°C a 28°C e o pH de 6.0 a 7.6.[2]

Distribuição de Astyanax paranae
Distribuição de Astyanax paranae

Filogenia[editar | editar código-fonte]

A espécie A. paranae, descrita por Eigenmann (1914) é considerada uma espécie comum na bacia do alto rio Paraná. Essa espécie pertence à ordem Characiformes, grupo dominante entre os peixes de água doce da América do Sul, sendo a família Characidae a maior e mais complexa desta ordem, englobando a maior parte dos peixes dulcícolas brasileiros (Fowler, 1948;[3] Godoy, 1975[4]; Nelson, 1984[5]; Britski, 1972[6]; Britski et al., 1999[7];).

O gênero Astyanax foi inicialmente proposto por Baird e Girard em 1854, conhecido popularmente como o grupo dos “Lambaris”, sendo um dos maiores em número de espécies entre os peixes Neotropicais, com cerca de 100 espécies válidas descritas (Lima et al.[8], 2003; Haluch & Abilhoa, 2005[9];Melo & Buckup, 2006[10]; Bertaco & Garutti, 2007[11]). A primeira e mais completa revisão deste gênero foi realizada por Eigenmann entre 1921 e 1927, validando 74 espécies e subespécies. A sistemática do gênero é complicada e ainda não está resolvida devido à falta de evidências para corroborar seu status monofilético, podendo se tratar de diferentes e independentes linhagens evolutivas (Weitzman & Fink, 1983[12]; Zanata, 1995[13]; Weitzman & Malabarba, 1998[14]; Melo & Buckup, 2006[10]; Bertaco & Garutti, 2007[11]).

Em 1921, Eigenmann descreveu o complexo Astyanax scabripinnis, composto de subespécies compartilhando número reduzido de raios ramificados da nadadeira anal, altura do corpo reduzida, cabeça e corpo robustos (Garutti & Britski, 2000; Bertaco & Lucena, 2006[15]; Melo & Buckup, 2006[10]). No entanto, ao descrever o complexo, Eigenmann reconheceu diferenças morfológicas populacionais e as atribuiu erroneamente como subespécies e não como espécies distintas estritamente relacionadas. Em 1991, os autores Moreira-Filho & Bertollo, com base em caracteres morfológicos e cariotípicos, diagnosticaram ao menos seis populações dos rios da bacia do rio São Francisco e alto do rio Paraná e reconheceram o complexo scabripinnis como um complexo de espécies. A discussão foi expandida por Bertaco & Malabarba em 2001, descrevendo duas novas espécies do complexo. Atualmente, a tendência é a consideração das 16 subespécies de Astyanax scabripinnis como espécies válidas (Bertaco & Malabarba, 2001[16]; Lima et al., 2003[8]; Bertaco & Lucena, 2006[15]). A espécie A. paranae é a única espécie do complexo scabripinnis presente na bacia do Paraná.


Referências

  1. Tavares, Diego (2007). «Astyanax Baird & Girard, 1854 (Ostariophysi: Characiformes: Characidae) do Sistema do Alto rio Paraná: taxonomia.». Diego de Oliveira Tavares. Astyanax Baird & Girard, 1854 (Ostariophysi: Characiformes: Characidae) do Sistema do Alto rio Paraná: taxonomia. 
  2. a b Rechi, Edson (agosto de 2016). «Lambari (Astyanax paranae)». Aquarismo paulista 
  3. Fowler, H.W (1948). «Os peixes de água doce do Brasil». Arquivos de Zoologia do Estado de São Paulo. Os peixes de água doce do Brasil. 6: 1-204 
  4. de Godoy, M.P (1975). «Peixes do Brasil, subordem Characoidei, Bacia do Rio Mogi Guaçu». Editora Franciscana. Peixes do Brasil, subordem Characoidei. 1: 216 
  5. Nelson, J.S (1984). «Fishes of the world». New York: John Wiley and Sons. Fishes of the world: 523 
  6. Britski, H.A (1972). «Peixes de água doce do Estado de São Paulo: Sistemática». USP, Fauldade de Saúde Pública, Instituto da Pesca. Peixes de água doce do Estado de São Paulo: Sistemática: 216 
  7. Britski, Heraldo A (1999). Peixes do Pantanal. Manual de identificação. Brasília: EMBRAPA. p. 184 
  8. a b Lima, F.C.T; Malabarba, P.A; Buckup, J.F (2003). «Check list of the freshwater fishes of South and Central America». Porto Alegre, Edipucrs. Check list of the freshwater fishes of South and Central America: 729 
  9. Haluch, Carolina Ferreira; Abilhoa, Vinicius (2005). «Astyanax totae, a new characid species (Teleostei: Characidae) from the upper rio Iguaçu basin, southeastern Brazil». Ictiologia Neotropical. Astyanax totae, a new characid species (Teleostei: Characidae) from the upper rio Iguaçu basin, southeastern Brazil. 3: 383-388 
  10. a b c de Melo, Filipe AG; Buckup, Paulo A (2006). «Astyanax henseli, um novo nome para Tetragonopterus aeneus Hansel, 1870 do Sul do Brasil (Teleostei: Characiformes)». Neotropical Ichthyology. Astyanax henseli, um novo nome para Tetragonopterus aeneus Hansel, 1870 do Sul do Brasil (Teleostei: Characiformes). 4: 45-52 
  11. a b Bertaco, Vinicius A (2007). «New Astyanax from the upper rio Tapajós drainage, Central Brazil (Characiformes: Characidae)». Neotropical Ichthyology. New Astyanax from the upper rio Tapajós drainage, Central Brazil (Characiformes: Characidae). 5: 25-30 
  12. Weitzman, Stanley; Fink, William (1983). «Relationships of the neon tetras, a group of South American freshwater fishes (Teleostei, Characidae), with comments on the phylogeny of New World characiforms». Bulletin of the Museum of Comparative Zoology at Harvard College. Relationships of the neon tetras, a group of South American freshwater fishes (Teleostei, Characidae), with comments on the phylogeny of New World characiforms. 150: 339--395 
  13. Zanata, Angela Maria; Menezes, Naércio (1995). «Estudo filogenetico e revisao taxonomica das especies de tetragonopterinae com espinho pelvico (characidae; characiformes) (1995)». USP. Estudo filogenetico e revisao taxonomica das especies de tetragonopterinae com espinho pelvico (characidae; characiformes) (1995) 
  14. Weitzman, Stanley H; Malabarba, Luiz R (1998). «[PDF] Perspectives about the phylogeny and classification of the Characidae (Teleostei: Characiformes)» (PDF). Edipucrs Porto Alegre. Perspectives about the phylogeny and classification of the Characidae (Teleostei: Characiformes): 161-170 
  15. a b Bertaco, Vinicius; de Lucena, Carlos AS (2006). «Two new species of Astyanax (Ostariophysi: Characiformes: Characidae) from eastern Brazil, with a synopsis of the Astyanax scabripinnis species complex». Ictiologia Neotropical. Two new species of Astyanax (Ostariophysi: Characiformes: Characidae) from eastern Brazil, with a synopsis of the Astyanax scabripinnis species complex. 4: 53-60 
  16. Bertaco, V.A; Malabarba, L.R (2001). «Description of two new species of Astyanax (Teleostei: Characidae) from headwater streams of the Southern Brazil, with comments on the A. scabripinnis species complex». Icthhyological exploration of Freshwaters. Description of two new species of Astyanax (Teleostei: Characidae) from headwater streams of the Southern Brazil, with comments on the A. scabripinnis species complex. 12: 221-234