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Carpideira

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Representação de uma carpideira, suspeito de representar Isis enlutando Osíris. 18a dinastia, 1550–1295 aC. Terracota

Carpideira ou pranteadeira é uma profissional feminina cuja função consiste em chorar por um defunto. Os homens eram considerados menos próprios para a actividade.

É feito um acordo monetário entre a carpideira e os familiares do defunto, a carpideira chorava e mostrava seus prantos sem nenhum sentimento, grau de parentesco ou amizade.[1][2][3]

A profissão existe há mais de 2 mil anos.[carece de fontes?] Mencionada na Bíblia[4] e em outros textos religiosos, a ocupação é amplamente invocada e explorada na literatura, desde os épicos ugaríticos do início dos séculos AC à poesia moderna. Há também menções às carpideiras em documentações iconográficas e documental da Antiguidade e, em alguns países do mundo, diferentes culturas continuam praticando usos semelhantes.[5]

Seu uso sempre foi variável no ritual fúnebre, desde a possibilidade de infectar ou causar imitações de choro nos familiares para realizar uma catarse de luto, até para aumentar a importância social de um falecido. Algumas culturas creem que o uso das carpideiras traz uma certa aplicação religiosa e histórica às procissões fúnebres. De acordo com Tom Lutz, em seu livro “A História Cultural das Lágrimas”, nos tempos antigos, o luto dos enlutados ajudava a limpar a alma do falecido e a trazê-lo à plenitude.

Esta profissão era mal vista pela Igreja, chegando a ser proibida várias vezes. Legislou-se a sua proibição em Lisboa a 1385, num conjunto de proibições de velhos costumes como forma de "agradecimento" a Deus pela vitória de Aljubarrota. Não obstante, o pranto cerimonial sobreviverá às proibições e manifestar-se-á até em aniversários da morte de D. Manuel I, segundo registros de Gil Vicente, apesar da prática já previamente ter sido tida por alguns autores como extinta. Nova declaração de extinção em meios urbanos registrar-se-ia em meados do século XIX.[6] Ainda assim, existiu no país até pelo menos à década de 1970.[7][8]

Em Outras Culturas

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  • A profissão, envolvendo tanto homens e mulheres, é mencionada na obra Descida de Ishtar ao Mundo dos Mortos.[9]
  • No Egito antigo, as carpideiras "faziam uma exibição ostensiva de pesar, que incluía gemidos altos, batidas nos peitos expostos, sujando o corpo com sujeira e cabelos despenteados; todos os sinais de comportamento descontrolado, o distúrbio da tristeza" (Capel, 1996).
  • Na Índia, as carpideiras, conhecidas como "Rudaali", eram comuns, especialmente no estado indiano ocidental do Rajastão.
  • A prática foi difamada na Revolução Cultural Chinesa, e ainda é praticado na China e em outros países asiáticos.
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  • O filme mexicano "Elvira, te daría mi vida pero la estoy usando"de Manolo Caro, tem como personagem principal uma mulher que, devido às circunstâncias, precisa se tornar uma carpideira.
  • O filme indiano "Rudaali" (1993), dirigido por Kalpana Lajmi e ambientado no Rajastão, é sobre a vida de uma carpideira profissional, ou Rudaali.[10]
  • O mini-documentário indiano "Tabaki" (2001), dirigido por Bahman Kiarostami, segue a vida de capideiras.[11]
  • O filme filipino "Crying Ladies" (2003), dirigido por Mark Meily, segue a vida de três mulheres que trabalham como carpideiras, ambientadas nas Filipinas.[12]
  • O filme japonês "Miewoharu" (2016), dirigido por Akiyo Fujumura. Está centrado em torno de Eriko, uma mulher que volta para sua cidade natal para lamentar sua irmã. Depois de passar 10 anos em Tóquio, seguindo uma carreira de atriz, ela descobre sua vocação como carpideira.[13]
  • No romance de referência de Honoré de Balzac, Le Père Goriot (1835), o funeral do personagem-título é assistido por duas carpideiras, e não por suas filhas.[14]
  • No romance Howards End (1910), de E. M. Forster, para o funeral de sua esposa, Charles Wilcox contrata carpideiras "do distrito da mulher morta, para quem as roupas pretas foram servidas".[15]
  • No romance Ways of Dying (1995), de Zakes Mda, Toloki é uma carpideira por conta própria.[16]
  • Em seu romance de 2014, Ghost Month, o autor Ed Lin afirma que os profissionais estão disponíveis para locação na Taiwan contemporânea.

Referências

  1. S.A., Priberam Informática,. «Significado / definição de carpideira no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa». www.priberam.pt. Consultado em 3 de agosto de 2017 
  2. Michaelis Dicionário Prático da Língua Portuguesa. [S.l.: s.n.] 2001. ISBN 978-85-06-05768-1 
  3. Chagas, Henrique (12 de fevereiro de 2009). Lua na casa três. [S.l.]: Kbr Editora Digital. ISBN 9788564046269 
  4. «Mourning: Hired Mourners». Bible Hub 
  5. «The Irish Funeral Cry (the Ullaloo, Keeners and Keening)». www.libraryireland.com. Consultado em 29 de junho de 2023 
  6. Fernando Denis (1846). Portugal Pittoresco V. I. [S.l.: s.n.] pp. 208–209 
  7. A Carpideira, consultado em 26 de maio de 2023 
  8. Galaico, O. (28 de outubro de 2009). «Etnografando com letras...: As Carpideiras!». Etnografando com letras... Consultado em 26 de maio de 2023 
  9. Ao Kurnugu, Terra sem Retorno. Traduzido por Jacyntho Lins Brandão. Curitiba: Kotter Editorial. 2019. p. 39. ISBN 978-65-80103-41-6 
  10. «Rudaali». University of Iowa. Consultado em 1 de setembro de 2014. Arquivado do original em 19 de outubro de 2013 
  11. «Tabaki». IMDB. Consultado em 29 de maio de 2015 
  12. «Crying Ladies». IMDB. Consultado em 16 de setembro de 2017 
  13. «Miewoharu». IMDB. Consultado em 21 de setembro de 2017 
  14. Balzac, Honoré de. Father Goriot. (The Works of Honoré de Balzac. Vol. XIII.) Philadelphia: Avil Publishing Company, 1901.
  15. Forster, E. M. Howards End. New York: G.P. Putnam's Sons, 1910.
  16. Zakes., Mda (2002). Ways of dying : a novelRegisto grátis requerido 1st Picador USA ed. New York: Picador USA. ISBN 978-0-312-42091-8. OCLC 49550849 
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