Combate de Casal Novo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Combate de Casal Novo
Guerra Peninsular
Data 14 de Março de 1811
Local Casal Novo, Condeixa, Portugal
Desfecho Retirada das forças francesas
Beligerantes
Reino Unido Reino Unido
Reino de Portugal
França Primeiro Império Francês
Comandantes
Tenente-General Sir Arthur Wellesley Marechal Michel Ney
Forças
± 7.000 homens
6 bocas de fogo de artilharia[1].
± 4.600 homens
6 bocas de fogo de artilharia[2].
Baixas
130 britânicos mortos e feridos
25 portugueses mortos e feridos[3].
55 mortos e feridos[4].

O Combate de Casal Novo foi travado no dia 14 de Março de 1811 durante a retirada de Massena, no final da terceira invasão francesa de Portugal. Este combate insere-se no conjunto de acções retardadoras executadas pelas tropas francesas sob o comando do Marechal Ney.

Antecedentes

Durante a terceira invasão francesa de Portugal, o exército de Massena foi detido pelo sistema defensivo conhecido como Linhas de Torres Vedras. Por não ter recebido reforços que lhe permitissem atacar as Linhas de Torres e perante as grandes dificuldades em abastecer o seu exército, Massena decidiu retirar em direcção ao Vale do Mondego (Ver o artigo Retirada de Massena).

A partir de Condeixa, Massena compreendeu que não tinha condições para se estabelecer no Vale do Mondego e, por isso, decidiu seguir em direcção à fronteira espanhola. O primeiro objectivo era Celorico onde o deveria aguardar a Divisão Conroux do Nono Corpo de Exército (IX CE). Enquanto o VIII CE seguia pela estrada Condeixa – Casal Novo – Miranda de Corvo e escoltava os trens, o VI CE continuou a ter a missão de constituir a Guarda de Retaguarda do exército de Massena. Foi nesta missão que se registou o Combate de Casal Novo.

O campo de batalha

Casal Novo é uma povoação do Concelho de Condeixa-a-Nova[5]. Por Casal Novo passava (e passa) a estrada que ligava Condeixa a Miranda do Corvo ficando estas povoasções a cerca de 6 Km e 15 Km respectivamente. Aquele lugar fica situado numa posição dominante sobre o planalto do lado de Condeixa e por onde a estrada faz a aproximação da povoação. Esta estava rodeada de cercados e muros de pedra que conferiam, a quem ocupasse o terreno, boa protecção contra o fogo dos mosquetes. A seguir a Casal Novo, o terreno é montanhoso qté miranda do Corvo.

As forças em presença

As forças francesas

As forças francesas empenhadas no Combate de Casal Novo foram duas divisões do VI CE (Sexto Corpo de Exército) sob o comando do Marechal Michel Ney. Os efectivos conhecidos referentes a estas unidades reportam a 1 de Janeiro de 1811 e, desta forma, não correspondem à realidade mas podem dar uma ideia dos quantitativos envolvidos. Eram as seguintes unidades[6]:

  • 1ª Divisão de Infantaria, sob o comando do General de Divisão Jean-Gabriel Marchand, com 182 oficiais e 4.805 praças;
  • 2ª Divisão de Infantaria, sob o comando do General de Divisão Julien Auguste Joseph Mermet, com 212 e 6.040 praças
  • Brigada de Cavalaria Ligeira, sob o comando do General de Brigada Auguste Étienne Marie Lamotte, com 48 oficiais e 604 praças.

Ao VI CE não se tinha juntado ainda a sua 3ª Divisão de Infantaria (de Loison) que se encontrava em Rabaçal.

As forças anglo-lusas

Do exército de Wellington estiveram envolvidas nesta acção três divisões britânicas e uma Brigada Independente Portuguesa[7][8][9][10]:

  • 3ª Divisão, com um efectivo de 6.050 homens (4.500 britânicos, 1.550 portugueses), sob o comando do Major-General Sir Thomas Picton; desta divisão fazia parte a 8ª Brigada de Infantaria Portuguesa, sob o comando do Tenente-Coronel Charles Sutton, que compreendia dois batalhões do RI 9 (Regimento de Infantaria 9) e dois do RI 21;
  • 4ª Divisão, com um efectivo de 6.900 homens (4.800 britânicos, 2.100 portugueses), sob o comando do Tenente-General Sir Galbraith Lowry Cole; desta divisão fazia parte a 9ª Brigada de Infantaria Portuguesa, sob o comando do Coronel Richard Collins, que compreendia dois batalhões do RI 11 e dois do RI 23;
  • Divisão Ligeira, com um efectivo de 4.300 homens (3.400 britânicos, 900 portugueses), sob o comando do Major-General Sir William Erskine;As unidades portuguesas desta Divisão eram Caçadores 1 e Caçadores 3;
  • 1ª Brigada Independente Portuguesa, com um efectivo de 2.100 homens (todos portugueses), sob o comando do Brigadeiro Dennis Pack; esta brigada era constituída por dois batalhões do RI 1, dois batalhões do RI 16 e por Caçadores 4;
  • Brigada de Cavalaria Ligeira, sob o comando de Arenschildt, formada por:
Dois esquadrõs de cavalaria do 16º Regimento de Dragões Ligeiros (britânicos);
Dois esquadrões do 1º Regimento de Hussardos da K.G.L..

O Combate

Na noite de 13 para 14 de Março, a vanguarda do exército de Wellington, formada pela Divisão Ligeira (Erskine), pela 1ª Brigada Independente Portuguesa (Pack) e pela Brigada de Cavalaria Ligeira (Arentschildt), recebeu as ordens para o dia seguinte que consistiam em manter o contacto com a retaguarda do exército de Massena[11]. A retaguarda francesa - a guarda de retaguarda - era constituída pelo VI CE e as suas duas divisões presentes nesta acção ocupavam posições no lugar de Casal Novo, a Divisão de Marchand, e entre três a quatro quilómetros mais à retaguarda, entre as povoações de Casal da Azenha[12] e Vila Seca[13], a Divisão de Mermet.

Principais movimentos das tropas em Casal Novo

A 14 de Março, o dia nasceu com um nevoeiro cerrado que impedia a visibilidade para além de poucos metros. Erskine entendeu que devia marchar direito ao inimigo. A Divisão Ligeira, que encabeçava a coluna, marchou em direcção aos postos de vigilância franceses. Erskine tinha colocado três comapanhias do 1º Batalhão do 52º Regimento de Infantaria de Linha (1/52nd Foot) para avançarem e obrigarem a retirar aquelas forças. No entanto, esses piquetes franceses encontravam-se muito próximos da sua divisão e, em breve, aquelas companhias estavam empenhadas contra a Divisão de Marchand. Quando, algum tempo depois, o nevoeiro levantou, ficaram à vista e ao alcance do fogo inimigo os batalhões da Divisão Ligeira concentrados na estrada. Nesta altura, a brigada Portuguesa de Pack e a 3ª Divisão encontravam-se a caminho mas ainda no desfiladeiro que liga a zona de Condeixa e o planalto frente à posição de Casal Novo[14].

A Divisão Ligeira encontrou-se assim numa situação difícil e teve de sustentar uma luta renhida para conservar o terreno, isto é, não ser obrigada a recuar. Entretanto, as restantes forças da vanguarda chegaram à frente e a 3ª Divisão iniciou um movimento torneante pela direita que visava passar para lá do flanco da Divisão de Marchand e cortar-lhe a linha de retirada. Ao detectar esta manobra, Ney ordenou que a Divisão de Marchand retirasse para a retaguarda da posição em que se encontrava a Divisão de Mermet[15]. Esta segunda posição foi torneada e as tropas de Mermet retiraram sem baixas de ambos os lados. Já da parte da tarde, as tropas francesas foram detectadas numa terceira posição em Chão de Lamas[16].

A posição de Chão de Lamas foi abordada com uma manobra idêntica à praticada nas posições anteriores: a 3ª Divisão a tornear pela direita, a Divisão Ligeira e a brigada Portuguesa de Pack a tornearem pela esquerda e o resto da coluna, que entretanto tinha alcançado a vanguarda, ameaçava o centro[17]. Assim que a manobra torneante começou a oferecer maior perigo, Ney retirou para Miranda do Corvo. As tropas de Wellington, fatigadas pelos combates e manobras em que se tinham envolvido ao longo de doze horas, pararam frente àquela povoação.

As baixas dos Aliados[18] somaram 155 distribuídas da seguinte forma: 15 mortos (2 eram portugueses), 136 feridos (22 eram portugueses) e 4 desaparecidos (todos britânicos). Mais de metade destas baixas foram sofridas na posição de Casal Novo em combates que se poderiam ter evitado[19]. As baixas francesas foram inferiores: 55 mortos e feridos[20].

Referências

  1. SMITH, p. 356.
  2. SMITH, p. 356.
  3. SMITH, p. 356.
  4. SMITH, p. 356.
  5. Localizar no Google maps como Casal Novo, Condixa-a-Nova, Portugal.
  6. OMAN, A History of the Peninsular War, volume IV, p. 608.
  7. OMAN, Wellington's Army, pp. 350 a 358.
  8. OMAN, A History of the Peninsular War, volume III, p. 556.
  9. OMAN, A History of the Peninsular War, volume IV, p. 134.
  10. SMITH, pp. 357 e 358.
  11. OMAN, A History of the Peninsular War, volume IV, p. 151.
  12. No Google maps: Casal da Azenha, Penela, Portugal.
  13. No Google maps: Vila Seca, Condeixa a Nova, Portugal.
  14. OMAN, A History of the Peninsular War, volume IV, p. 151.
  15. OMAN, A History of the Peninsular War, volume IV, pp. 151 e 152.
  16. No Google maps: Chão de Lamas, Miranda do Corvo, Portugal.
  17. OMAN, A History of the Peninsular War, volume IV, p. 152.
  18. OMAN, A History of the Peninsular War, volume IV, p. 615.
  19. Charles Oman, na sua História da Guerra Peninsular (p. 152) apresenta mais uma referência à falta de aptidão que Sir William Erskine demonstrou para comandar a Divisão Ligeira e refere que esta foi uma das acções em que perdeu a confiança de Wellington.
  20. OMAN, A History of the Peninsular War, volume IV, pp. 152 e 153.

Bibliografia

BOTELHO, Tenente-Coronel José Justino Teixeira, História Popular da Guerra Peninsular, Livraria Chardron, Lelo & Irmão Editores, Porto, 1915.

FORTESCUE, John William, A History of the British Army, volume III, Macmillan and Co., Londres, 1917.

NAPIER, Major-General Sir William Francis Patrick, History of the War in the Peninsula and in South of France, from the year 1807 to the year 1814, volume III, Frederick Warne and Co., Londres, 1832 – 1840.

OMAN, Sir Charles Chadwick, A History of the Peninsular War, volumes III e IV, 1911, Greenhill Books, Londres, 2004 (A consulta do volume III apenas foi necessária para conseguir estabelecer a composição das divisões do exército de Wellington).

OMAN, Sir Charles Chadwick, Wellington's Army 1809-1814, 1913, Greenhill Books, Londres, 2006.

SMITH, Digby, The Greenhill Napoleonic Wars Data Book, Greenhill Books, Londres, 1998.

SORIANO, Simão José da Luz, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal, Segunda Época, Guerra da Península, Tomo III, Imprensa Nacional, Lisboa, 1874.

Ligações externas

Rickard, J (10 April 2008), Combat of Casal Novo, 14 March 1811 , http://www.historyofwar.org/articles/combat_casal_novo.html