Constantino Boson e Lima

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Constantino Boson e Lima (São Raimundo Nonato-PI, 15 de outubro de 1868 — Parnaíba-PI, 18 de outubro de 1945) foi um sacerdote da Igreja Católica e educador brasileiro. [1]

Carreira eclesiástica

Em 1883, aos 13 anos de idade, ingressou no Seminário das Mercês, em São Luís do Maranhão. Admitido nos estudos superiores de Filosofia e Teologia do Seminário Santo Antônio, em São Luís, foi ordenado padre em 12 de março de 1892, aos 23 anos, pelo bispo dom Antônio Cândido de Alvarenga (1836-1903). Em 19 de março de 1892, celebrou sua primeira missa, na igreja de Santo Antônio, na capital maranhense.

Entre 1893 e 1897, foi pároco da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e diretor da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, ajudando negros e mulatos pobres, muitos ex-escravizados. A partir de 1897, assumiu a reitoria do Seminário Santo Antônio, em São Luís, responsável pela formação do corpo eclesiástico da Igreja Católica no Maranhão e no Piauí.

Em 1901, ao retornar ao Piauí, assumiu a paróquia de Nossa Senhora da Conceição das Barras do Marathaoan, onde foi vigário por 24 anos. Ali reconstruiu a igreja matriz, reinaugurando-a em 1908. Em períodos intercalados, entre 1907 e 1929, foi vigário na Matriz de Nossa Senhora do Amparo e na Catedral de Nossa Senhora das Dores, em Teresina. A partir de 1929, passou a servir como Capelão da Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba (PI).

Foi Cônego (1914), Monsenhor (1920) e Camareiro Secreto do Papa (1920). Esta honraria, concedida pelo Papa Bento XV (1854-1922) foi, na tradição da Igreja Católica, o último título antes de o membro do clero ser nomeado cardeal. O título concedia ao camareiro o direito de servir nas cerimônias oficiais presididas pelo papa. Foi também Vigário-Geral em Teresina e respondeu pela chefia do Bispado do Piauí.

Líder católico, participou ativamente dos embates político-religiosos que marcaram o Piauí, nas duas primeiras décadas do século XX. Os conflitos colocavam em lados opostos membros do clero e livres-pensadores e envolviam questões da vida religiosa, social, cultural e política. Por trás dos embates, estava o processo de secularização do mundo moderno, baseado em ideias iluministas, que avançava na implantação do ensino laico.

Carreira na educação

Monsenhor Boson foi um importante educador brasileiro, na virada do século XIX para o século XX. Em São Luís do Maranhão, foi professor e reitor do Seminário Santo Antônio, entre 1897 e 1901.

No Piauí, com a instalação da Diocese e a criação de educandários, em 1906, pelo bispo dom Joaquim Antônio de Almeida (1868-1947), assumiu, a partir de 1907, a reitoria do Seminário Episcopal e a direção do Colégio Diocesano (atual Colégio São Francisco de Sales), em Teresina.

Fechados pelo bispo dom Octaviano Pereira de Albuquerque (1866-1949), em 1914, o colégio foi reaberto em 1925 e o seminário em 1927, pelo bispo dom Severino Vieira de Melo (1880-1955). Monsenhor Boson reassumiu então a direção do Colégio Diocesano, onde permaneceu até 1929. Ao se transferir para Parnaíba (PI), nomeado por Getúlio Vargas, então presidente da República, passou a exercer as funções de Inspetor Federal de Ensino no Piauí.

O educador

Com a experiência adquirida como professor e reitor em São Luís do Maranhão, Monsenhor Boson, ao assumir a direção do Colégio Diocesano, em Teresina, criou programa educacional inovador. As atividades incluíam o ensino de Gramática Descritiva e Prática, Redação de Textos, Leitura dos Clássicos, Francês e Alemão, Latim e Grego, Física, Clínica Mineral e Orgânica, História Natural, Geologia, Botânica, Zoologia.

Inovando nas metodologias, o diretor buscou conciliar o ensino teórico com a aprendizagem prática. Para isso, tratou logo de encomendar aparelhos, mapas, máquinas, esqueletos e o necessário para facilitar a compreensão dos alunos e melhorar os estudos teóricos. Implantou competição científica nos moldes das atuais Olimpíadas do Conhecimento.

O diretor demonstrava feição especial pelas artes, nos seus mais variados gêneros. Para desenvolver a criatividade, a imaginação e a sensibilidade dos alunos, inseriu no programa o ensino de artes. Para ele, o cultivo da música, das letras, da poesia era sinal de cultura, civilidade, refinamento.

Quando Monsenhor Boson abraçou a causa da educação, o Piauí vivia uma realidade crítica e desafiadora. Eram raríssimas as escolas. Públicas, menos ainda. Nesse cenário, a Igreja Católica ocupou os espaços vazios e implantou os primeiros estabelecimentos de ensino. O objetivo era formar líderes sob o ideal católico para ocupar os espaços de poder.

A pedagogia praticada pelas escolas católicas refletia as visões de mundo da época. Monsenhor Boson exerceu aí seu protagonismo, consagrando-se como um dos maiores educadores do Piauí. Sua obra mudou completamente a realidade educacional e assentou as bases da estrutura de ensino que se expandiu e se aprimorou.

A partir do Colégio Diocesano, o Estado viu nascerem novos estabelecimentos que seguiram semelhante prática educacional. O educandário, além de formar por décadas a elite pensante e dirigente do Piauí, influenciou diretamente a fundação de outras escolas.

Os tempos mudaram, ideias novas surgiram. Novos desafios apareceram e foram enfrentados. Novos saltos foram dados. Monsenhor Boson, no alvorecer do século XX, plantou as sementes da educação no Piauí. Elas foram persistente e cuidadosamente regadas, germinaram e deram bons frutos. O próprio educador viu as sementes brotarem e se esparramarem.

Homenagens

O educador recebeu no Piauí várias homenagens. Em Barras, dá nome à praça principal da cidade e ali foi fundada a escola “Patronato Monsenhor Boson” [2] . Em Teresina, na zona Norte, há a “Rua Monsenhor Boson”. No Colégio Diocesano, foi criado o “Grêmio Lítero-Musical Monsenhor Constantino Boson”. Em Água Branca, a escola principal leva o nome “Centro Estadual de Tempo Integral Monsenhor Boson”.

Laços de família

O educador é filho do tenente-coronel Jerônimo de Sousa Nogueira Boson e Lima e Francisca Adelina Lopes de Sousa Lima. Sebastião Ribeiro Lima (1824-1883), seu tio e mentor, foi vigário em São Raimundo Nonato, por 30 anos. José Coriolano de Sousa Lima [3] (1829-1869), seu tio, foi promotor público, juiz, deputado provincial e poeta, sendo considerado um dos pais-fundadores da literatura piauiense. [4]

Monsenhor Boson é tio-avô de Gerson de Brito Mello Boson (1914-2001), que foi um internacionalista, jusfilósofo, professor catedrático e reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, entre 1967 e 1969, quando foi cassado pelos militares. Ele foi também secretário de Estado da Casa Civil e secretário de Estado da Educação em Minas Gerais.

Cronologia

1868 – 15 de outubro: nascimento na vila de São Raimundo Nonato (PI).

1876 – Fica órfão de pai e mãe.

1883 – Inicia os estudos em São Luís (MA).

1889 – Recebe a tonsura.

1891 – Ordenado subdiácono.

1891 – Ordenado diácono.

1892 – Ordenado padre.

1892 – Celebra a primeira missa.

1893 – Assume a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em São Luís (MA).

1897 – Reitor do Seminário de Santo Antônio, em São Luís (MA).

1901 – Assume a paróquia de Barras (PI).

1901 – Criação da Diocese do Piauí.

1907 – Assume a direção do Seminário Episcopal e Colégio Diocesano.

1915 – Recebe o título de Cônego.

1920 – Recebe o título de Monsenhor.

1920 – Recebe o título de Camareiro Secreto do Papa.

1925 – Reassume a direção do Colégio Diocesano.

1929 – Transfere-se para a cidade de Parnaíba (PI).

1929 – Capelão da Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba.

1931 – Inspetor federal de ensino no Piauí.

1936 – Fica cego.

1945 – Falece em 18 de outubro, aos 77 anos.

Bibliografia

A vida e a obra de Monsenhor Boson são contadas no livro “Monsenhor Boson – o missionário da educação”, de autoria de seu sobrinho-trineto Arnaldo Boson Paes [5], publicado em 2023, pela Editora Bienal, em Teresina.

A passagem de Monsenhor Boson pela Igreja e educação no Maranhão pode ser vista no livro “História Eclesiástica do Maranhão”, do bispo dom Felipe Condurú Pacheco, publicado em 1969, pela Editora Desnec/Departamento de Cultura, em São Luís. [6]

O perfil de Monsenhor Boson é descrito no ensaio “Reminiscências de um ex-aluno”, do Monsenhor Chaves, publicado em Teresina, em 1975, em comemoração aos 50 anos de reabertura do Colégio Diocesano.

Referências

  1. BOSON PAES, Arnaldo. Monsenhor Boson: o missionário da educação. 1. ed. Teresina: Bienal Editora, 2023.ISBN: 978-85-67525-12-9
  2. Patronato Monsenhor Boson em Barras https://www.geleiatotal.com.br/2018/02/20/memorias-do-catolicismo-em-barras-do-marataoa/
  3. TITO FILHO, A. Deus e a natureza em José Coriolano. Teresina: Comepi, 1973.
  4. MOURA, Francisco Miguel. J. CORIOLANO – o rei dos poetas piauienes”.Disponível em: https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=80736&cat=Artigos&vinda=S
  5. Arnaldo Boson Paes. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5736533353422210
  6. Pacheco, Felipe Condurú. História eclesiástica do Maranhão São Luís : Departamento de Cultura do Estado do Maranhão - 1969.