Coroa de sonetos

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Coroa de sonetos é uma forma poética composta por 14 sonetos, que têm ligação entre si, cujos primeiros e últimos versos são versos de um outro (décimo quinto) soneto, denominado soneto-base, ou soneto-síntese.

Estrutura[editar | editar código-fonte]

A Coroa de sonetos foi inicialmente composta com apenas 7 sonetos, feita por Afonso Felix de Sousa, em tradução de soneto de John Donne, utilizados como prólogo aos "Holly Sonnets". E foi assim que foi colocado o verbete na "Encyclopedia of Poetry and Poetics": um conjunto de sete sonetos, apenas, entrelaçados, onde o último verso de um soneto é o primeiro do soneto seguinte, sendo o último verso do sétimo o primeiro verso do primeiro soneto.

Geir Campos, em sua Coroa de sonetos [1], utilizou-se de 14 sonetos, a partir dos versos de um outro soneto. Sua coroa de sonetos, assim denominada, não fechou-se, ou seja, o último verso do último soneto não era o primeiro verso do primeiro soneto [2]. (Alguns sonetistas ainda hoje utilizam esta forma.[nota 1])

Edmir Domingues, a respeito, disse:

"Na verdadeira coroa de sonetos há catorze sonetos interligados, onde o verso que fecha o primeiro começa o segundo, o que fecha o segundo começa o terceiro, e assim por diante, sendo o último verso do décimo quarto soneto o primeiro verso do primeiro soneto. E o décimo quinto soneto é a coroa, a coroa verdadeira, porque é composta dos catorze versos que começaram e terminaram os outros, sendo o primeiro verso da coroa o que terminou o primeiro soneto da série e o fecho o verso que a começou."[4]

A definição de Edmir Domingues é perfeita, podendo dela ser mudada apenas a posição dos versos utilizados na coroa. Enquanto ele preconiza que o último verso do soneto-base (ou coroa, como ele o denominou) seja o primeiro verso do primeiro soneto,[5] há coroas de sonetos que iniciam com o primeiro verso do soneto-base e terminam com o mesmo verso , compondo o último verso do décimo quarto soneto, assim fechando a coroa (que também se fecha como preconizou Edmir Domingues, não ficando aberta como na coroa de Geir Campos e de outros seguidores).[6][7]

Por ser de difícil confecção, poucos poetas (sonetistas) se aventuraram nesse desafio.

Embora a coroa de sonetos gire em torno de um único tema, cada soneto (estanque, como deve ser um legítimo soneto), não se distanciando do tema, tem o seu próprio subtema.

Coroa de coroas de sonetos[editar | editar código-fonte]

A estrutura utilizada na coroa de sonetos foi estendida por alguns sonetistas, aumentando e criando mais 14 coroas baseadas na coroa original. Cada um dos 14 sonetos da coroa passou a ser um soneto-base para outra coroa de sonetos, fazendo assim um complexo de 211 sonetos, todos encadeados e interrelacionados.[8]

Em 1828, Ludwig Bechstein publicou sua coleção Soettenkränze (Coroas de sonetos), que consistia em quatorze coroas de sonetos. No entanto, essas coroas eram isoladas: ele não as uniu nem interrelacionou para formar a estrutura de uma coroa de coroas de sonetos.[9]

Esse formato (coroa de coroas de sonetos) foi utilizado em 2002 pelo poeta brasileiro Paulo Camelo, que publicou o seu livro Coroas de uma coroa, com os 211 sonetos na configuração da coroa de coroas de sonetos.[8][10][11][9]

Em 2007 a poetisa russa Natalia Shamberova publicou The Mists of August (As Brumas de Agosto) (uma coroa de coroas), no mesmo formato, com 211 sonetos.[11]

Em 2016, os holandeses Martijn Neggers e Bas Jongenelen, com a colaboração de outros 50 poetas, compilaram uma coroa de coroas de sonetos em holandês. A obra, intitulada A Via Sacra do Sofrimento Diário (Een Kruisweg van alledaags leed), publicada em forma de livro[12][9]

Em 2020, Paulo Camelo publicou outro livro no mesmo formato, Mulheres, mulheres - Coroas de outra coroa[13][9]

Notas e referências

Notas

  1. O poeta baiano João Justiniano da Fonseca, em seu livro Sonetos de amor e passatempo, apresentou o que ele chamou Coroa de sonetos, um conjunto de 14 sonetos cujo último verso de um iniciava outro soneto, porém não se fechando nem apresentando soneto-base ou soneto-síntese. Também apresentou Quando eu passar, que ele chamou Glosa ao soneto, onde apresentou uma coroa de sonetos, com soneto-base, mas não se fechando no último soneto.[3]

Referências

  1. CAMPOS, GEIR. Coroa de Sonetos. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1953.
  2. CAMPOS, Geir. Pequeno dicionário de arte poética. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1960.
  3. FONSECA, João Justiniano da (1992). Sonetos de amor e passatempo. Salvador - BA: Edições Sol Nascente 
  4. DOMINGUES, Edmir. Universo fechado ou o construtor de catedrais. Recife: Bagaço, 1996.
  5. Edmir Domingues. «Coroa de sonetos: Com o estranho pulsar da estrela morta». Consultado em 5 de junho de 2022 
  6. CAMELO, Paulo (2003). Coroa de sonetos da Via Sacra. Recife: edição do autor 
  7. SOUZA, Lisieux & CAMELO, Paulo - Coroas de sonetos a quatro mãos - Recife:Paulo Camelo,2003
  8. a b CAMELO, Paulo (2002). Coroas de uma coroa. Recife: Bagaço. ISBN 979-85-7409-335-1 
  9. a b c d «Sonnettenkrans». nl.Wikipedia. Consultado em 11 de novembro de 2023 
  10. «Corona de sonetos». Consultado em 11 de novembro de 2023 
  11. a b «Sonnettekrans». af.Wikipedia. Consultado em 11 de novembro de 2023 
  12. JONGENELEN, Bas et alli (2016). Enn kruisweg van alledaags leed. Triburg: Uirgeverij Geroosterde Hond. ISBN 978-94-90855-15-4 
  13. CAMELO, Paulo (2020). Mulheres, mulheres - Coroas de outra coroa. Recife: Paulo Camelo. ISBN 978-85-923565-4-5 

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]