Coroa de sonetos
Coroa de sonetos é uma forma poética composta por 14 sonetos, que têm ligação entre si, cujos primeiros e últimos versos são versos de um outro (décimo quinto) soneto, denominado soneto-base, ou soneto-síntese.
Estrutura
[editar | editar código-fonte]A Coroa de sonetos foi inicialmente composta com apenas 7 sonetos, feita por Afonso Felix de Sousa, em tradução de soneto de John Donne, utilizados como prólogo aos "Holly Sonnets". E foi assim que foi colocado o verbete na "Encyclopedia of Poetry and Poetics": um conjunto de sete sonetos, apenas, entrelaçados, onde o último verso de um soneto é o primeiro do soneto seguinte, sendo o último verso do sétimo o primeiro verso do primeiro soneto.
Geir Campos, em sua Coroa de sonetos [1], utilizou-se de 14 sonetos, a partir dos versos de um outro soneto. Sua coroa de sonetos, assim denominada, não fechou-se, ou seja, o último verso do último soneto não era o primeiro verso do primeiro soneto [2]. (Alguns sonetistas ainda hoje utilizam esta forma.[nota 1])
Edmir Domingues, a respeito, disse:
"Na verdadeira coroa de sonetos há catorze sonetos interligados, onde o verso que fecha o primeiro começa o segundo, o que fecha o segundo começa o terceiro, e assim por diante, sendo o último verso do décimo quarto soneto o primeiro verso do primeiro soneto. E o décimo quinto soneto é a coroa, a coroa verdadeira, porque é composta dos catorze versos que começaram e terminaram os outros, sendo o primeiro verso da coroa o que terminou o primeiro soneto da série e o fecho o verso que a começou."[4]
A definição de Edmir Domingues é perfeita, podendo dela ser mudada apenas a posição dos versos utilizados na coroa. Enquanto ele preconiza que o último verso do soneto-base (ou coroa, como ele o denominou) seja o primeiro verso do primeiro soneto,[5] há coroas de sonetos que iniciam com o primeiro verso do soneto-base e terminam com o mesmo verso , compondo o último verso do décimo quarto soneto, assim fechando a coroa (que também se fecha como preconizou Edmir Domingues, não ficando aberta como na coroa de Geir Campos e de outros seguidores).[6][7]
Por ser de difícil confecção, poucos poetas (sonetistas) se aventuraram nesse desafio.
Embora a coroa de sonetos gire em torno de um único tema, cada soneto (estanque, como deve ser um legítimo soneto), não se distanciando do tema, tem o seu próprio subtema.
Coroa de coroas de sonetos
[editar | editar código-fonte]A estrutura utilizada na coroa de sonetos foi estendida por alguns sonetistas, aumentando e criando mais 14 coroas baseadas na coroa original. Cada um dos 14 sonetos da coroa passou a ser um soneto-base para outra coroa de sonetos, fazendo assim um complexo de 211 sonetos, todos encadeados e interrelacionados.[8]
Em 1828, Ludwig Bechstein publicou sua coleção Soettenkränze (Coroas de sonetos), que consistia em quatorze coroas de sonetos. No entanto, essas coroas eram isoladas: ele não as uniu nem interrelacionou para formar a estrutura de uma coroa de coroas de sonetos.[9]
Esse formato (coroa de coroas de sonetos) foi utilizado em 2002 pelo poeta brasileiro Paulo Camelo, que publicou o seu livro Coroas de uma coroa, com os 211 sonetos na configuração da coroa de coroas de sonetos.[8][10][11][9]
Em 2007 a poetisa russa Natalia Shamberova publicou The Mists of August (As Brumas de Agosto) (uma coroa de coroas), no mesmo formato, com 211 sonetos.[11]
Em 2016, os holandeses Martijn Neggers e Bas Jongenelen, com a colaboração de outros 50 poetas, compilaram uma coroa de coroas de sonetos em holandês. A obra, intitulada A Via Sacra do Sofrimento Diário (Een Kruisweg van alledaags leed), publicada em forma de livro[12][9]
Em 2020, Paulo Camelo publicou outro livro no mesmo formato, Mulheres, mulheres - Coroas de outra coroa[13][9]
Notas e referências
Notas
- ↑ O poeta baiano João Justiniano da Fonseca, em seu livro Sonetos de amor e passatempo, apresentou o que ele chamou Coroa de sonetos, um conjunto de 14 sonetos cujo último verso de um iniciava outro soneto, porém não se fechando nem apresentando soneto-base ou soneto-síntese. Também apresentou Quando eu passar, que ele chamou Glosa ao soneto, onde apresentou uma coroa de sonetos, com soneto-base, mas não se fechando no último soneto.[3]
Referências
- ↑ CAMPOS, GEIR. Coroa de Sonetos. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1953.
- ↑ CAMPOS, Geir. Pequeno dicionário de arte poética. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1960.
- ↑ FONSECA, João Justiniano da (1992). Sonetos de amor e passatempo. Salvador - BA: Edições Sol Nascente
- ↑ DOMINGUES, Edmir. Universo fechado ou o construtor de catedrais. Recife: Bagaço, 1996.
- ↑ Edmir Domingues. «Coroa de sonetos: Com o estranho pulsar da estrela morta». Consultado em 5 de junho de 2022
- ↑ CAMELO, Paulo (2003). Coroa de sonetos da Via Sacra. Recife: edição do autor
- ↑ SOUZA, Lisieux & CAMELO, Paulo - Coroas de sonetos a quatro mãos - Recife:Paulo Camelo,2003
- ↑ a b CAMELO, Paulo (2002). Coroas de uma coroa. Recife: Bagaço. ISBN 979-85-7409-335-1
- ↑ a b c d «Sonnettenkrans». nl.Wikipedia. Consultado em 11 de novembro de 2023
- ↑ «Corona de sonetos». Consultado em 11 de novembro de 2023
- ↑ a b «Sonnettekrans». af.Wikipedia. Consultado em 11 de novembro de 2023
- ↑ JONGENELEN, Bas et alli (2016). Enn kruisweg van alledaags leed. Triburg: Uirgeverij Geroosterde Hond. ISBN 978-94-90855-15-4
- ↑ CAMELO, Paulo (2020). Mulheres, mulheres - Coroas de outra coroa. Recife: Paulo Camelo. ISBN 978-85-923565-4-5