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Claudio Dantas: diferenças entre revisões

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Inclui as matérias de destaque da carreira do jornalista. Todo o conteúdo passou pela validação do próprio Claudio Dantas.
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A série de reportagens rendeu a Dantas prêmios e menções honrosas, como o prêmio Esso (Centro-Oeste), Imprensa Embratel (Jornais e Revistas) e Resgate Histórico do Movimento de Justiça e Direitos Humanos. Também foi tema de um documentário do canal Discovery Channel, com o jornalista entre os entrevistados. Claudio Dantas também foi homenageado pela Câmara dos Deputados e integrou a equipe de pesquisadores da Comissão Nacional da Verdade (CNV), tendo aprofundado sua pesquisa sobre a participação da diplomacia na perseguição política durante a ditadura.{{Referências|col=2}}
A série de reportagens rendeu a Dantas prêmios e menções honrosas, como o prêmio Esso (Centro-Oeste), Imprensa Embratel (Jornais e Revistas) e Resgate Histórico do Movimento de Justiça e Direitos Humanos. Também foi tema de um documentário do canal Discovery Channel, com o jornalista entre os entrevistados. Claudio Dantas também foi homenageado pela Câmara dos Deputados e integrou a equipe de pesquisadores da Comissão Nacional da Verdade (CNV), tendo aprofundado sua pesquisa sobre a participação da diplomacia na perseguição política durante a ditadura.


'''TORTURA PARA ESTRANGEIROS'''

Por anos dedicados à temática diplomática e militar, Dantas também revelou que, durante a ditadura, mais de cem oficiais de outros países foram treinados em técnicas de tortura e combate à guerrilha em Manaus, no CIGS (Centro de Instrução de Guerra na Selva). Na lista de formados de 1978, obtida com exclusividade pelo jornalista, está, por exemplo, o coronel francês Didier Tauzin, que, em 1994, lideraria a chamada Operação Chimère, com a qual treinou secretamente oficiais hutus no combate às guerrilhas tutsis em Ruanda. O confronto técnico resultou num genocídio, com 800 mil vítimas. Outro graduado no CIGS foi o capitão chileno Rodrigo Pérez Martínez, que comandaria dois anos depois a Operação Albânia, responsável por capturar e executar 12 membros da Frente Patriótica Manuel Rodríguez. Comandante da Unidade Antiterrorista da Central Nacional de Informações chilena, o capitão foi condenado a cinco anos pelo homicídio qualificado de Patricia Angélica Queiroz Nilo. Outro aluno foi o general peruano reformado Leonel Cabrera Pino, acusado pela Comissão de Verdade e Reconciliação do Peru de violação dos direitos humanos quando chefiou o Batalhão Antisubversivo 313. Ele participou do resgate de reféns na residência da embaixada do Japão em Lima, em 1992, ação que terminou com a morte dos 14 integrantes do Movimento Revolucionário Tupac Amaru. Cabrera é ligado a Vladmiro Montesinos, ex-assessor de Alberto Fujimori, e ao ex-presidente Ollanda Humala. Dantas entrevistou um dos instrutores de tortura do CIGS: o general francês Paul Aussaresses, retratado no documentário “Esquadrões da Morte - A escola francesa”, da jornalista Marie-Monique Morin. No filme, o general chileno Manuel Contreras, chefe da Operação Condor, admite ter enviado oficiais chilenos para treinar no CIGS. Também falou com o tenente da reserva José Vargas Jimenez, que atuou contra a Guerrilha do Araguaia.


'''HAITI'''

Claudio Dantas, que treinou na Argentina para cobertura jornalística em ambientes hostis, esteve no Haiti duas vezes para acompanhar os trabalhos da Minustah, a missão de estabilização da ONU, comandada pelo Brasil durante 13 anos. A primeira pelo jornal Correio Brasiliense, ainda em 2006, dois anos após a instalação das tropas e apenas um mês depois da eleição de René Preval, acompanhando a comitiva do então ministro da Defesa, Waldir Pires. Na ocasião, o jornalista descreveu as difíceis condições sociais dos haitianos e a importância da presença das tropas para pacificar o país, especialmente a capital Porto Príncipe. Com a renúncia do ex-presidente Jean-Betrand Aristide, no início de 2004, os haitianos passaram a viver à revelia do Estado, num mosaico de barbárie formado pelas milícias armadas por Aristide, a polícia nacional haitiana e ex-militares.


A segunda viagem ocorreu em 2010, pela Revista IstoÉ, logo após o terremoto que devastou o país, destruindo praticamente toda a infraestrutura, inclusive o Palácio do Governo, uma construção neoclássica belíssima cravada no centro da cidade, a catedral de Porto Príncipe; o Forte Nacional no alto da favela de Bel Air, o Hotel Christopher, centro operacional da Minustah, e o Hotel Montana, que hospedava comandantes militares e autoridades civis. Se na primeira missão, as forças militares brasileiras buscavam pacificar o país e conduzir o novo governo à democracia, após o terremoto o trabalho se concentrou no resgate e tratamento de vítimas, na distribuição de ajuda humanitária e no restabelecimento dos serviços mais básicos. Dantas entrevistou moradores e autoridades, retratando a rotina de penúria de mais de 1 milhão de desabrigados.


'''LAVA JATO'''

Durante a Operação Lava Jato, Dantas foi responsável por diversas reportagens exclusivas de grande repercussão, como a que revelou a compra das cozinhas Kitchens para o sítio de Atibaia e o triplex do Guarujá, usados por Lula. O testemunho de um vendedor da empresa foi fundamental para a força-tarefa do MPF estabelecer uma relação direta entre os dois imóveis utilizados pelo ex-presidente da República, e o pagamento do mobiliário feito em dinheiro feito por executivo da OAS, com quem Lula aparece tomando cachaça. Investigação posterior do MPF e da PF descobririam trocas de mensagens entre executivos da empreiteira e familiares do petista, para tratar dos arranjos finais da reforma. Dantas também foi autor da reportagem que revelou a existência de um empréstimo irregular de R$ 12 milhões do Banco Schahin ao pecuarista José Carlos Bumlai, a pedido do PT, para pagar Ronan Maria Pinto, empresário de ônibus citado nas investigações do assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel. Outra reportagem exclusiva mostrou a rede de offshores criada pelo grupo Schahin para supostamente desviar bilhões dos contratos com de navios-sonda com a Petrobras. Também mostrou que o pedalinho de cisne usado no lago do sítio em Atibaia foi comprado por Marisa Letícia por meio de um segurança de Lula. Dantas divulgou em primeira mão o depoimento de Marcelo Odebrecht a Sergio Moro, quando o empreiteiro confirmou que o ex-presidente era identificado pelo codinome “amigo" nas planilhas da Odebrecht, e antecipou em vários anos o envolvimento da Sete Brasil no esquema do petrolão.


'''BNDES'''

Ao longo dos anos, Dantas publicou diversos furos de reportagem sobre o uso do BNDES para financiar obras de infraestrutura em outros países durante a gestão do PT, e como os contratos foram superfaturados, algumas obras nem sequer saíram do papel, como o Estaleiro del Alba (Astillero del Alba, Astialba), na Península de Araya, na Venezuela. O BNDES injetou mais de US$ 1,3 bilhões na obra comandada pela Andrade Gutierrez, mas, com exceção da terraplenagem, nada foi feito. Outras reportagens mostraram que os desvios do BNDES com obras no exterior teriam chegado a R$ 21 bilhões, cerca de 50% do total de recursos destinados a 140 empreendimentos. O esquema teve a digital de Lula, que mudou regras internas do banco ao assumir em 2003. Entre as principais beneficiárias, segundo investigações da Lava Jato, do TCU e da CGU, estiveram Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, além da J&F. Mostrou também que os empréstimos para países amigos tinham juros abaixo, inclusive, do custo de captação dos recursos por parte do próprio BNDES junto ao mercado. Outra reportagem de impacto revelou os empresários que usaram uma linha de crédito camarada para a compra de jatinhos de luxo.


'''CAIXA'''

Em 2014, Dantas revelou auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), órgão vinculado à Presidência da República, que, dois anos antes, havia identificado uma operação ilegal da Caixa Econômica Federal, que encerrou 525.527 contas que estavam sem movimentação por até três anos e com valores entre R$ 100 e R$ 5 mil. Os documentos mostravam um saldo de R$ 719 milhões, apropriado pelo banco em seu balanço. O valor representou 12% do lucro registrado pela Caixa naquele ano. A operação foi investigada pelo Banco Central e a CEF foi obrigada a reverter os recursos e notificar os titulares das contas. O procedimento virou regra para o sistema financeiro nacional. Em 2022, o BC anunciou um total de R$ 8 bilhões em contas inativas em diversos bancos e criou uma ferramenta tecnológica, além de uma intensa campanha publicitária, para informar a população e permitir que clientes com contas inativas pudessem identificar saldos remanescentes, vinculados a seu CPF, e resgatá-los.


'''AGNELO QUEIROZ'''

Em uma série de reportagens publicadas pela revista IstoÉ, o jornalista expôs detalhes de um esquema que teria sido montado por Angelo Queiroz, ex-governador do DF, quando ministro dos Esportes do governo Lula. As denúncias, que tratavam de desvios de recursos destinados a ONGs, levaram o Ministério Público a denunciar o petista, que foi alvo de uma ação penal no STJ. Umas das matérias mostrou o crescimento vertiginoso dos bens da família Queiroz, que, em apenas três anos, ultrapassou R$ 10 milhões, incluindo a compra de quatro franquias de restaurantes famosos de fast-food e da mais importante confeitaria de Brasília, todas localizadas nos principais shoppings da capital. Carros de luxo, apartamentos e até uma fazenda de gado em Goiás também constituiriam o que os investigadores batizaram de “império dos Queiroz”. Por causa da matéria, Dantas foi ameaçado por Ailton Carvalho de Queiroz, irmão de Angelo e ex-chefe do departamento de segurança do Supremo Tribunal Federal. Foi ele o responsável pela elaboração de um relatório que indicava a suposta existência de grampos contra ministros do STF, entre eles Gilmar Mendes. O caso levou à abertura da CPI dos Grampos, usada para anular a Operação Satiagraha.


'''DELAÇÃO DOS IRMÃOS BATISTA'''

Foi de Claudio Dantas a reportagem exclusiva com flagrante de Rodrigo Janot e o advogado Pierpaolo Bottini, defensor de Joesley Batista, reunidos fora da agenda oficial num bar de Brasília. O encontro ocorreu um dia depois de Edson Fachin determinar a prisão de Joesley Batista, Wesley Batista e Ricardo Saud, em 2017. O jornalista também revelou, com exclusividade, o contrato que Antonio Palocci firmou com a JBS para a compra do frigorífico americano Pilgrim`s, com recursos bilionários do BNDES. Foram várias as matérias sobre a delação de Joesley e Wesley, que contaram como pagaram propina a agentes públicos para obter recursos do BNDES, inclusive a que revelou mais de 40 horas de gravações feitas por Joesley e que não estavam listadas na colaboração premiada, o que levou a PGR a romper o acordo e revisar benefícios. Dantas publicou também as confissões do executivo sobre os R$ 2,5 milhões pagos ao Instituto Lula, os pagamentos a Guido Mantega, os patrocínios a eventos do IDP, a entrega dos extratos da conta offshore usada para guardar US$ 150 milhões em propina para as campanhas petistas, e a intermediação de uma conversa entre Lula e Eduardo Cunha para tentar evitar o impeachment de Dilma. Em sua delação, Joesley revelou que concordou em comprar 30 deputados, por R$ 15 milhões, para votarem contra a cassação.


'''PROJETO ALFA'''

Com exclusividade, o jornalista também descobriu negócio suspeito envolvendo empresário Victor Sandri, amigo de Guido Mantega. Em parceria com Henrique Peters, criou o Fundo de Investimento Imobiliário Atrium Nações Unidas, administrado pelo BTG, e usado para captação de recursos para a construção do edifício WTorre Morumbi, para alugá-lo à BBMapfre, seguradora do Banco do Brasil, instituição financeira subordinada ao Ministério da Fazenda – então comandado por Guido. Sandri e Peters só conseguiram recursos para erguer o edifício porque firmaram o contrato de aluguel com a BBMapfre antes mesmo da construção do imóvel, em 2011, pelo valor de R$ 32 milhões por ano – durante um período de 19 anos. Esse contrato de locação atípica foi fundamental para lastrear a emissão de títulos CRI (certificado de recebíveis imobiliários) no mercado, levantando os recursos necessários para comprar o imóvel, erguido pela WTorre – também investigada na Lava Jato – às margens do Rio Pinheiros, em São Paulo. O chamado “Projeto Alfa” era de conhecimento de Paulo Caffarelli, que foi número 2 de Mantega na Fazenda, depois presidente do BB.{{Referências|col=2}}


== Ligações externas ==
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Revisão das 21h04min de 15 de agosto de 2022


Claudio Dantas
Nome completo Claudio Dantas Sequeira
Nascimento 16 de setembro de 1977 (47 anos)
Rio de Janeiro
Residência Brasília
Nacionalidade brasileiro
Alma mater Universidade de Brasília
Ocupação Jornalista
Prémios Esso, Embratel e Direitos Humanos.[1]

Claudio Dantas Sequeira (Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1977) é um jornalista, analista político e influenciador brasileiro.


Formado em jornalismo (FACHA/RJ), com especialização em relações internacionais (UnB/BSB), Dantas está entre os jornalistas mais influentes e premiados do país (Portal dos Jornalistas, Brazil Charlab, Revista Vírgula).

Com a série ‘O Serviço Secreto do Itamaraty’, venceu os prêmios Esso[2] (Centro-Oeste)[3], Embratel (Jornais/Revistas)[4] e Resgate Histórico (Movimento de Justiça e Direitos Humanos). Com O Antagonista, ganhou duas vezes o prêmio iBest de política[5].


Dá palestras pelo país sobre bastidores política, cidadania e desinformação. É apresentador do videocast Papo Antagonista, programa onde analisa notícias diárias, entrevista personalidades e desmonta fake news.


CARREIRA

Em mais de duas décadas no jornalismo, Dantas já atuou como repórter, editor e colunista em redações de diferentes veículos. Desde julho de 2015, está em O Antagonista, um dos sites de política mais lidos do país, dedicado especialmente a investigações de corrupção e à cobertura dos bastidores do poder em Brasília. Atualmente, é diretor de redação, editor do relatório de inteligência eleitoral Oráculo e âncora do videocast Papo Antagonista, onde analisa notícias diárias e faz entrevistas com autoridades dos três Poderes, artistas e influenciadores. Media debates e ministra palestras sobre os bastidores da cobertura do poder em Brasília, combate à fake news e o exercício responsável da liberdade de imprensa. Alguns exemplos: Instituto de Formação de Líderes, Movimento Trevo, LAAD etc.


De 2009 a 2015, foi diretor da sucursal brasiliense da revista IstoÉ, onde também assinou inúmeras reportagens de capa, entrevistas e a coluna Brasil Confidencial. De 2008 a 2009, foi repórter de Brasil da Folha de São Paulo na capital paulista. De 2004 a 2008, atuou como repórter de Mundo do Correio Braziliense, tendo criado a coluna Conexão Diplomática, dedicada à cobertura da diplomacia na capital federal. Integrou a primeira equipe do Serviço em Português da Agência EFE, da Espanha. Também trabalhou no caderno de Educação do jornal Folha Dirigida e fez trabalhos freelancer para Reuters, Record, CNT e sites de variedades. Na faculdade, deu aulas de copydesk, auxiliou na produção de roteiros do programa infantil Teca na TV, do Canal Futura, e fez revisões de originais para a editora Revan.


FORMAÇÃO

Dantas cursou a Escola Técnica Federal de Química (ETFQ/RJ) e trabalhou por alguns anos no setor, especificamente no Moinho Pena Branca e na Coca-Cola. Como sempre gostou de escrever e investigar, largou a carreira na indústria e cursou Jornalismo na Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), em Botafogo (RJ), tendo elaborado trabalho de conclusão sobre "Os Ataques à Imprensa nos anos FHC". Posteriormente, fez uma pós-graduação em Relações Internacionais na Universidade de Brasília (UnB), tendo elaborado monografia final intitulada "Diplomacia do Espetáculo: O papel da mídia na construção da política externa do governo Hugo Chávez". Possui vários cursos de extensão, como Mídia e Poder (Fiha Brasil), Jornalismo em Ambientes Hostis, Centro Argentino de Treinamento Conjunto para Operações de Paz (Caecopaz), Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, em parceria com a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), e do curso Jornalismo em Situações de Conflito Armado e Outras Situações de Violência, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), com Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e Oboé Projetos Especiais. Participou do Seminário Internacional sobre Jornalismo Investigativo, do Knight Center for Journalism in the Americas, da University of Texas at Austin, do Seminário para Jornalistas do Brasil sobre política, economia, meios de comunicação e cultura na Alemanha, organizado pelo Instituto Goethe de Berlim e o Ministério das Relações Exteriores alemão, do Ciclo De Atualização em Jornalismo Científico ‘Ciência e Pobreza no Século XXI’, da Faperj, em parceria com a Academia Brasileira de Ciências; o Seminário Modalidades Operacionais - O Mercado de Derivativos, da Comissão Nacional de Bolsas de Valores.


COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE

Integrou como pesquisador sênior a Comissão Nacional da Verdade, que funcionou de 16 de maio de 2012 a 16 de dezembro de 2014, tendo desenvolvido ampla pesquisa no arquivo do Itamaraty para os grupos de trabalho Operação Condor e Violações de Direitos Humanos de Brasileiros no Exterior e de Estrangeiros no Brasil. Dantas avançou, assim, sobre sua própria descoberta do Centro de Informações do Exterior (Ciex), o serviço secreto do MRE durante a ditadura. As novas descobertas históricas subsidiam até hoje diversos trabalhos acadêmicos sobre o tema. O jornalista também escreveu um livro, com a síntese de sua pesquisa, intitulado “Embaixadores, Gorilas e Mercenários”, para a coleção “Arquivos da Repressão no Brasil, coordenada pela historiadora Heloisa Starling na Companhia das Letras. A obra ainda não foi publicada.  


SERVIÇO SECRETO DO ITAMARATY

Em 2007, Claudio Dantas revelou, por meio de uma série de reportagens publicadas no Correio Braziliense, que o Ministério das Relações Exteriores manteve durante a ditadura um serviço secreto batizado de Centro de Informações do Exterior (CIEX). Até então, a historiografia do período não trazia qualquer referência a esse órgão, cuja sigla é muitas vezes confundida como sendo do Centro de Informações do Exército (CIE). Após descobrir o arquivo, esquecido num porão do MRE, Dantas analisou mais de 20 mil páginas de 8 mil informes, cruzou dados históricos e consultou dezenas de diplomatas e militares aposentados, mapeando os principais integrantes do CIEX, sua origem e o criador da iniciativa: o embaixador Manoel Pio Corrêa, que chegou a secretário-geral do MRE na gestão do chanceler Juracy Magalhães. O órgão foi criado por meio de uma portaria secreta, em 1966, ainda durante o governo do general Castello Branco, e nunca constou formalmente na estrutura funcional do Itamaraty. Era camuflado pela alcunha de Assessoria de Documentação de Política Exterior (Adoc) e até os idos de 1975 ficou abrigado na sala 410 do anexo I do MRE, o edifício conhecido como ‘Bolo de Noiva’. Dantas descobriu que o CIEX monitorou ao menos 64 brasileiros mortos ou desaparecidos, da lista de 380 que depois seria revisada pela Comissão da Verdade. A vida dos exilados era monitorada por diplomatas e oficiais de chancelaria, cooptamos pelos chefes do CIEX. O jornalista conseguiu entrevistar Pio Corrêa, que admitiu ter idealizado o serviço de inteligência e se inspirado no trabalho anterior da embaixadora Odette de Carvalho e Souza, a Dona Odette, que, na condição de chefe do Departamento Político do MRE, fichou nacionais e estrangeiros durante as décadas de 1940 e 50. Para chefiar o serviço em seu início, Pio Corrêa chamou um de seus pupilos, o então secretário Marcos Henrique Camilo Côrtes, que rapidamente ascenderia na hierarquia do órgão. O CIEX também trabalhou na análise e monitoramento da política interna de países vizinhos, principalmente Argentina, Chile e Uruguai, onde muitos brasileiros se exilaram. Nos anos 1970, quando uma onda de regimes autoritários varreu a democracia no Cone Sul e muitos brasileiros exilados se transferiram para a Europa Ocidental, também as atividades de vigilância do CIEX se estenderam a países europeus, africanos e da antiga URSS.


A série de reportagens rendeu a Dantas prêmios e menções honrosas, como o prêmio Esso (Centro-Oeste), Imprensa Embratel (Jornais e Revistas) e Resgate Histórico do Movimento de Justiça e Direitos Humanos. Também foi tema de um documentário do canal Discovery Channel, com o jornalista entre os entrevistados. Claudio Dantas também foi homenageado pela Câmara dos Deputados e integrou a equipe de pesquisadores da Comissão Nacional da Verdade (CNV), tendo aprofundado sua pesquisa sobre a participação da diplomacia na perseguição política durante a ditadura.


TORTURA PARA ESTRANGEIROS

Por anos dedicados à temática diplomática e militar, Dantas também revelou que, durante a ditadura, mais de cem oficiais de outros países foram treinados em técnicas de tortura e combate à guerrilha em Manaus, no CIGS (Centro de Instrução de Guerra na Selva). Na lista de formados de 1978, obtida com exclusividade pelo jornalista, está, por exemplo, o coronel francês Didier Tauzin, que, em 1994, lideraria a chamada Operação Chimère, com a qual treinou secretamente oficiais hutus no combate às guerrilhas tutsis em Ruanda. O confronto técnico resultou num genocídio, com 800 mil vítimas. Outro graduado no CIGS foi o capitão chileno Rodrigo Pérez Martínez, que comandaria dois anos depois a Operação Albânia, responsável por capturar e executar 12 membros da Frente Patriótica Manuel Rodríguez. Comandante da Unidade Antiterrorista da Central Nacional de Informações chilena, o capitão foi condenado a cinco anos pelo homicídio qualificado de Patricia Angélica Queiroz Nilo. Outro aluno foi o general peruano reformado Leonel Cabrera Pino, acusado pela Comissão de Verdade e Reconciliação do Peru de violação dos direitos humanos quando chefiou o Batalhão Antisubversivo 313. Ele participou do resgate de reféns na residência da embaixada do Japão em Lima, em 1992, ação que terminou com a morte dos 14 integrantes do Movimento Revolucionário Tupac Amaru. Cabrera é ligado a Vladmiro Montesinos, ex-assessor de Alberto Fujimori, e ao ex-presidente Ollanda Humala. Dantas entrevistou um dos instrutores de tortura do CIGS: o general francês Paul Aussaresses, retratado no documentário “Esquadrões da Morte - A escola francesa”, da jornalista Marie-Monique Morin. No filme, o general chileno Manuel Contreras, chefe da Operação Condor, admite ter enviado oficiais chilenos para treinar no CIGS. Também falou com o tenente da reserva José Vargas Jimenez, que atuou contra a Guerrilha do Araguaia.


HAITI

Claudio Dantas, que treinou na Argentina para cobertura jornalística em ambientes hostis, esteve no Haiti duas vezes para acompanhar os trabalhos da Minustah, a missão de estabilização da ONU, comandada pelo Brasil durante 13 anos. A primeira pelo jornal Correio Brasiliense, ainda em 2006, dois anos após a instalação das tropas e apenas um mês depois da eleição de René Preval, acompanhando a comitiva do então ministro da Defesa, Waldir Pires. Na ocasião, o jornalista descreveu as difíceis condições sociais dos haitianos e a importância da presença das tropas para pacificar o país, especialmente a capital Porto Príncipe. Com a renúncia do ex-presidente Jean-Betrand Aristide, no início de 2004, os haitianos passaram a viver à revelia do Estado, num mosaico de barbárie formado pelas milícias armadas por Aristide, a polícia nacional haitiana e ex-militares.


A segunda viagem ocorreu em 2010, pela Revista IstoÉ, logo após o terremoto que devastou o país, destruindo praticamente toda a infraestrutura, inclusive o Palácio do Governo, uma construção neoclássica belíssima cravada no centro da cidade, a catedral de Porto Príncipe; o Forte Nacional no alto da favela de Bel Air, o Hotel Christopher, centro operacional da Minustah, e o Hotel Montana, que hospedava comandantes militares e autoridades civis. Se na primeira missão, as forças militares brasileiras buscavam pacificar o país e conduzir o novo governo à democracia, após o terremoto o trabalho se concentrou no resgate e tratamento de vítimas, na distribuição de ajuda humanitária e no restabelecimento dos serviços mais básicos. Dantas entrevistou moradores e autoridades, retratando a rotina de penúria de mais de 1 milhão de desabrigados.


LAVA JATO

Durante a Operação Lava Jato, Dantas foi responsável por diversas reportagens exclusivas de grande repercussão, como a que revelou a compra das cozinhas Kitchens para o sítio de Atibaia e o triplex do Guarujá, usados por Lula. O testemunho de um vendedor da empresa foi fundamental para a força-tarefa do MPF estabelecer uma relação direta entre os dois imóveis utilizados pelo ex-presidente da República, e o pagamento do mobiliário feito em dinheiro feito por executivo da OAS, com quem Lula aparece tomando cachaça. Investigação posterior do MPF e da PF descobririam trocas de mensagens entre executivos da empreiteira e familiares do petista, para tratar dos arranjos finais da reforma. Dantas também foi autor da reportagem que revelou a existência de um empréstimo irregular de R$ 12 milhões do Banco Schahin ao pecuarista José Carlos Bumlai, a pedido do PT, para pagar Ronan Maria Pinto, empresário de ônibus citado nas investigações do assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel. Outra reportagem exclusiva mostrou a rede de offshores criada pelo grupo Schahin para supostamente desviar bilhões dos contratos com de navios-sonda com a Petrobras. Também mostrou que o pedalinho de cisne usado no lago do sítio em Atibaia foi comprado por Marisa Letícia por meio de um segurança de Lula. Dantas divulgou em primeira mão o depoimento de Marcelo Odebrecht a Sergio Moro, quando o empreiteiro confirmou que o ex-presidente era identificado pelo codinome “amigo" nas planilhas da Odebrecht, e antecipou em vários anos o envolvimento da Sete Brasil no esquema do petrolão.


BNDES

Ao longo dos anos, Dantas publicou diversos furos de reportagem sobre o uso do BNDES para financiar obras de infraestrutura em outros países durante a gestão do PT, e como os contratos foram superfaturados, algumas obras nem sequer saíram do papel, como o Estaleiro del Alba (Astillero del Alba, Astialba), na Península de Araya, na Venezuela. O BNDES injetou mais de US$ 1,3 bilhões na obra comandada pela Andrade Gutierrez, mas, com exceção da terraplenagem, nada foi feito. Outras reportagens mostraram que os desvios do BNDES com obras no exterior teriam chegado a R$ 21 bilhões, cerca de 50% do total de recursos destinados a 140 empreendimentos. O esquema teve a digital de Lula, que mudou regras internas do banco ao assumir em 2003. Entre as principais beneficiárias, segundo investigações da Lava Jato, do TCU e da CGU, estiveram Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, além da J&F. Mostrou também que os empréstimos para países amigos tinham juros abaixo, inclusive, do custo de captação dos recursos por parte do próprio BNDES junto ao mercado. Outra reportagem de impacto revelou os empresários que usaram uma linha de crédito camarada para a compra de jatinhos de luxo.


CAIXA

Em 2014, Dantas revelou auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), órgão vinculado à Presidência da República, que, dois anos antes, havia identificado uma operação ilegal da Caixa Econômica Federal, que encerrou 525.527 contas que estavam sem movimentação por até três anos e com valores entre R$ 100 e R$ 5 mil. Os documentos mostravam um saldo de R$ 719 milhões, apropriado pelo banco em seu balanço. O valor representou 12% do lucro registrado pela Caixa naquele ano. A operação foi investigada pelo Banco Central e a CEF foi obrigada a reverter os recursos e notificar os titulares das contas. O procedimento virou regra para o sistema financeiro nacional. Em 2022, o BC anunciou um total de R$ 8 bilhões em contas inativas em diversos bancos e criou uma ferramenta tecnológica, além de uma intensa campanha publicitária, para informar a população e permitir que clientes com contas inativas pudessem identificar saldos remanescentes, vinculados a seu CPF, e resgatá-los.


AGNELO QUEIROZ

Em uma série de reportagens publicadas pela revista IstoÉ, o jornalista expôs detalhes de um esquema que teria sido montado por Angelo Queiroz, ex-governador do DF, quando ministro dos Esportes do governo Lula. As denúncias, que tratavam de desvios de recursos destinados a ONGs, levaram o Ministério Público a denunciar o petista, que foi alvo de uma ação penal no STJ. Umas das matérias mostrou o crescimento vertiginoso dos bens da família Queiroz, que, em apenas três anos, ultrapassou R$ 10 milhões, incluindo a compra de quatro franquias de restaurantes famosos de fast-food e da mais importante confeitaria de Brasília, todas localizadas nos principais shoppings da capital. Carros de luxo, apartamentos e até uma fazenda de gado em Goiás também constituiriam o que os investigadores batizaram de “império dos Queiroz”. Por causa da matéria, Dantas foi ameaçado por Ailton Carvalho de Queiroz, irmão de Angelo e ex-chefe do departamento de segurança do Supremo Tribunal Federal. Foi ele o responsável pela elaboração de um relatório que indicava a suposta existência de grampos contra ministros do STF, entre eles Gilmar Mendes. O caso levou à abertura da CPI dos Grampos, usada para anular a Operação Satiagraha.


DELAÇÃO DOS IRMÃOS BATISTA

Foi de Claudio Dantas a reportagem exclusiva com flagrante de Rodrigo Janot e o advogado Pierpaolo Bottini, defensor de Joesley Batista, reunidos fora da agenda oficial num bar de Brasília. O encontro ocorreu um dia depois de Edson Fachin determinar a prisão de Joesley Batista, Wesley Batista e Ricardo Saud, em 2017. O jornalista também revelou, com exclusividade, o contrato que Antonio Palocci firmou com a JBS para a compra do frigorífico americano Pilgrim`s, com recursos bilionários do BNDES. Foram várias as matérias sobre a delação de Joesley e Wesley, que contaram como pagaram propina a agentes públicos para obter recursos do BNDES, inclusive a que revelou mais de 40 horas de gravações feitas por Joesley e que não estavam listadas na colaboração premiada, o que levou a PGR a romper o acordo e revisar benefícios. Dantas publicou também as confissões do executivo sobre os R$ 2,5 milhões pagos ao Instituto Lula, os pagamentos a Guido Mantega, os patrocínios a eventos do IDP, a entrega dos extratos da conta offshore usada para guardar US$ 150 milhões em propina para as campanhas petistas, e a intermediação de uma conversa entre Lula e Eduardo Cunha para tentar evitar o impeachment de Dilma. Em sua delação, Joesley revelou que concordou em comprar 30 deputados, por R$ 15 milhões, para votarem contra a cassação.


PROJETO ALFA

Com exclusividade, o jornalista também descobriu negócio suspeito envolvendo empresário Victor Sandri, amigo de Guido Mantega. Em parceria com Henrique Peters, criou o Fundo de Investimento Imobiliário Atrium Nações Unidas, administrado pelo BTG, e usado para captação de recursos para a construção do edifício WTorre Morumbi, para alugá-lo à BBMapfre, seguradora do Banco do Brasil, instituição financeira subordinada ao Ministério da Fazenda – então comandado por Guido. Sandri e Peters só conseguiram recursos para erguer o edifício porque firmaram o contrato de aluguel com a BBMapfre antes mesmo da construção do imóvel, em 2011, pelo valor de R$ 32 milhões por ano – durante um período de 19 anos. Esse contrato de locação atípica foi fundamental para lastrear a emissão de títulos CRI (certificado de recebíveis imobiliários) no mercado, levantando os recursos necessários para comprar o imóvel, erguido pela WTorre – também investigada na Lava Jato – às margens do Rio Pinheiros, em São Paulo. O chamado “Projeto Alfa” era de conhecimento de Paulo Caffarelli, que foi número 2 de Mantega na Fazenda, depois presidente do BB.

Referências

  1. «Premiadas com Esso de Jornalismo, reportagens do Correio viram documentário». Sindicato Jornalistas. Consultado em 21 de janeiro de 2017 
  2. «Diretores e sócios da Abraji são vencedores e finalistas do Prêmio Esso de Jornalismo». www.abraji.org.br. Consultado em 1 de julho de 2022 
  3. «PREMIAÇÃO | ABI». www.abi.org.br. Consultado em 1 de julho de 2022 
  4. «Série de reportagens da Globo é grande vencedora do Prêmio Imprensa Embratel». Portal IMPRENSA - Notícias, Jornalismo, Comunicação (em inglês). Consultado em 1 de julho de 2022 
  5. «Conheça os vencedores nas categorias do Prêmio iBest». Prêmio iBest 2021. Consultado em 1 de julho de 2022 

Ligações externas