Sanfins de Ferreira: diferenças entre revisões

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O cavaleiro [[Mem Viegas de Sousa]]   (1070_1130) foi senhor de honrarias e desta igreja.
O cavaleiro [[Mem Viegas de Sousa]]   (1070_1130) foi senhor de honrarias e desta igreja.


No período da reconquista, foi restaurada a Diocese de Braga e a Chã de Ferreira ficou a pertencer-lhe. Há registos que afirmam que, no ano de 1111, o cavaleiro Soeiro Viegas é senhor do “Couto de Fins de Ferreira” e que aqui fundou um mosteiro http://www.decarne.com/gencar/dat216.htm. O título nobiliárquico de “senhor do Couto de Fins de Ferreira” é referido ainda ao longo do século XIII.
No período da reconquista, foi restaurada a Diocese de Braga e a Chã de Ferreira ficou a pertencer-lhe. Há registos que afirmam que, no ano de 1111, o cavaleiro Soeiro Viegas é senhor do “Couto de Fins de Ferreira” e que aqui fundou um [http://www.decarne.com/gencar/dat216.htm mosteiro] . O título nobiliárquico de “senhor do Couto de Fins de Ferreira” é referido ainda ao longo do século XIII.


===== A divisão do Couto, do Mosteiro e do Território =====


==== A divisão do Couto, do Mosteiro e do Território, as Dioceses ====
Quatro décadas depois do restauro da Diocese de Braga _1070_é restaurada a Diocese do Porto _1113_ e desde logo começou a luta pelos domínios desta Chã Ferreira, pelo seu Couto e pelo seu Mosteiro.  Este território e Couto foi então dividido entre a Diocese de Braga e a Diocese do Porto. A Diocese do Porto - fica com os domínios que integravam o Termo de Aguiar e os Cónegos da Sé Porto, em 1195, ficam com uma parte do seu “novo” Mosteiro de S. Pedro de Ferreira. A Arquidiocese de Braga -Bispo- acabando por não acatar a decisão da Santa Sé e por não recuar até à margem norte do rio Vizela, manteve os domínios correspondentes ao Termo de Ferreira, incluindo a sua antiga Igreja de S. Fins de Ferreira.
Quatro décadas depois do restauro da Diocese de Braga _1070_é restaurada a Diocese do Porto _1113_ e desde logo começou a luta pelos domínios desta Chã Ferreira, pelo seu Couto e pelo seu Mosteiro.  Este território e Couto foi então dividido entre a Diocese de Braga e a Diocese do Porto. A Diocese do Porto - fica com os domínios que integravam o Termo de Aguiar e os Cónegos da Sé Porto, em 1195, ficam com uma parte do seu “novo” Mosteiro de S. Pedro de Ferreira. A Arquidiocese de Braga -Bispo- acabando por não acatar a decisão da Santa Sé e por não recuar até à margem norte do rio Vizela, manteve os domínios correspondentes ao Termo de Ferreira, incluindo a sua antiga Igreja de S. Fins de Ferreira.


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S. Fins de Ferreira tem uma raiz e um sentido histórico muito profundo: os '''ferreiros''' moravam a Citânia e foram descendo para as terras mais próximas das fontes e das nascentes. Por cá, há o antigo topónimo de Ferreira, lugar pegado à Fervença, onde brota uma das nascentes do Rio [[Rio Ferreira|Ferreira]]. Como se percebe, as dúvidas não são sobre o nome da terra a que pertence esta Igreja. O que se torna necessário é perceber qual é o orago desta Igreja “'''de Ferreira”.'''
S. Fins de Ferreira tem uma raiz e um sentido histórico muito profundo: os '''ferreiros''' moravam a Citânia e foram descendo para as terras mais próximas das fontes e das nascentes. Por cá, há o antigo topónimo de Ferreira, lugar pegado à Fervença, onde brota uma das nascentes do Rio [[Rio Ferreira|Ferreira]]. Como se percebe, as dúvidas não são sobre o nome da terra a que pertence esta Igreja. O que se torna necessário é perceber qual é o orago desta Igreja “'''de Ferreira”.'''


==== O Orago ====
==== O orago ====
Nos primórdios, o padroeiro desta Igreja da terra de Ferreira, era São Félix. Pela relação entre datas e calendários e pelo painel de S. Pedro ad víncula, trata-se de '''S. Félix de [https://pt.aleteia.org/daily-prayer/quarta-feira-1-agosto/ Girona],''' com festa a 1 de agosto. Prova isto é a imagem do painel a óleo que se encontrava pendente no Altar-mor da antiga Igreja Matriz de Sanfins de Ferreira e que hoje se mantém colocado no Centro Social e Paroquial de Sanfins de Ferreira. Esta imagem retrata, sem margem para dúvidas, São Pedro ad vincula e nada tem a ver com o São Pedro, santo popular, com festa a 29 de Junho. Extremamente relevante são as referências à existência de uma imagem _estátua_ de S. Félix, “um Santo de cor escura, do tamanho da nossa Santa Rita”, que, como nos lembram as memórias orais _anteriores 1957_, se encontrava num dos altares da Igreja de S. Pedro Fins de Ferreira. S. Félix, o de Girona, nasceu no norte de África e foi martirizado sob Diocleciano _284-305_, naquela cidade espanhola. Referido nos calendários hispânicos a 1 de Agosto, este mártir, nos primórdios do cristianismo, foi muito venerado no território português e titular de diversas paróquias. Como a Igreja hispânica _local_, no Concílio de Burgos _1080_, decidiu adotar o rito romano universal, e este, no dia 1 de agosto, tinha memória a '''São Pedro ad víncula''', o culto a São Félix começou a perder a sua importância, pelo menos ao nível [https://archive.org/stream/portugalantigoe06ferrgoog/portugalantigoe06ferrgoog_djvu.txt oficial]. Mesmo em termos oficiais, foi preciso muito tempo para que o culto a São Pedro fosse superando o culto a São Félix. De um ou outro modo, o culto a São Pedro nunca suplantou, de modo definitivo, o culto a São Fins. Foram precisos três séculos para que a “Igreja de Sancti Felicis Ferrarie” começasse a ser conhecida como a “ Igreja de Sam Pero Fynz de Ferreira” e, desde então continuam interligados. A primeira vez que o nome desta Igreja aparece escrito é na Inquirições de 1220. Por este documento régio, ficamos a saber que esta terra se chama Ferreira e que o seu orago é S. Félix _“Sancto Felici”_, Igreja bastante rica, possuindo “sesnarias”, “casais viiij” e “meia ermida”. Da existência de bens pertencentes à Ordem dos Templários, nem nesta região há registos. Nas Inquirições Régias de 1258, a Igreja dava pelo nome de “Igreja de Sancti Felicis Ferrarie” e dela, entre muitos outros bens, dependia a “Igreja de Santa Maria de Lamoso”.
Nos primórdios, o padroeiro desta Igreja da terra de Ferreira, era São Félix. Pela relação entre datas e calendários e pelo painel de S. Pedro ad víncula, trata-se de '''S. Félix de [https://pt.aleteia.org/daily-prayer/quarta-feira-1-agosto/ Girona],''' com festa a 1 de agosto. Prova isto é a imagem do painel a óleo que se encontrava pendente no Altar-mor da antiga Igreja Matriz de Sanfins de Ferreira e que hoje se mantém colocado no Centro Social e Paroquial de Sanfins de Ferreira. Esta imagem retrata, sem margem para dúvidas, São Pedro ad vincula e nada tem a ver com o São Pedro, santo popular, com festa a 29 de Junho. Extremamente relevante são as referências à existência de uma imagem _estátua_ de S. Félix, “um Santo de cor escura, do tamanho da nossa Santa Rita”, que, como nos lembram as memórias orais _anteriores 1957_, se encontrava num dos altares da Igreja de S. Pedro Fins de Ferreira. S. Félix, o de Girona, nasceu no norte de África e foi martirizado sob Diocleciano _284-305_, naquela cidade espanhola. Referido nos calendários hispânicos a 1 de Agosto, este mártir, nos primórdios do cristianismo, foi muito venerado no território português e titular de diversas paróquias. Como a Igreja hispânica _local_, no Concílio de Burgos _1080_, decidiu adotar o rito romano universal, e este, no dia 1 de agosto, tinha memória a '''São Pedro ad víncula''', o culto a São Félix começou a perder a sua importância, pelo menos ao nível [https://archive.org/stream/portugalantigoe06ferrgoog/portugalantigoe06ferrgoog_djvu.txt oficial]. Mesmo em termos oficiais, foi preciso muito tempo para que o culto a São Pedro fosse superando o culto a São Félix. De um ou outro modo, o culto a São Pedro nunca suplantou, de modo definitivo, o culto a São Fins. Foram precisos três séculos para que a “Igreja de Sancti Felicis Ferrarie” começasse a ser conhecida como a “ Igreja de Sam Pero Fynz de Ferreira” e, desde então continuam interligados. A primeira vez que o nome desta Igreja aparece escrito é na Inquirições de 1220. Por este documento régio, ficamos a saber que esta terra se chama Ferreira e que o seu orago é S. Félix _“Sancto Felici”_, Igreja bastante rica, possuindo “sesnarias”, “casais viiij” e “meia ermida”. Da existência de bens pertencentes à Ordem dos Templários, nem nesta região há registos. Nas Inquirições Régias de 1258, a Igreja dava pelo nome de “Igreja de Sancti Felicis Ferrarie” e dela, entre muitos outros bens, dependia a “Igreja de Santa Maria de Lamoso”.


==== Honra de Nuno Alvares Pereira ====
==== Honra de Nuno Álvares Pereira ====
[[João Rodrigues Pereira, senhor de Paiva|Nos]] tempos da fundação da Dinastia de Avis, _séc. XIV_ S. Fins de Ferreira continuou a ser distinta e foi Honra do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, tendo passado para o seu sobrinho, o cavaleiro D. João Rodrigues [[João Rodrigues Pereira, senhor de Paiva|Pereira]]. Ainda hoje, junto ao lugar da Torre, temos o lugar da Pereira e a secular Calçada da Pereira, que leva à Citânia.
Nos tempos da fundação da Dinastia de Avis, _séc. XIV_ S. Fins de Ferreira continuou a ser distinta e foi Honra do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, tendo passado para o seu sobrinho, o cavaleiro D. João Rodrigues [[João Rodrigues Pereira, senhor de Paiva|Pereira]]. Ainda hoje, junto ao lugar da Torre, temos o lugar da Pereira e a secular Calçada da Pereira, que leva à Citânia.


==== A Igreja e Comenda ====
==== A Igreja e Comenda ====
[[Ficheiro:Igreja e Comenda de S. Pedro Fins de Ferreira.jpg|alt=A Igreja S. Felix da Terra de Ferreira|miniaturadaimagem|Mosteiro, Igreja e Comenda de Sanfins de Ferreira, com portão do Solar dos Brandões]]
[[Ficheiro:Pintura Humanista (séc XVI) Igreja de S. Pedro Fins de Ferreira Diocese de Braga.jpg|alt=Pintura quinhentista na importante Igreja da Diocese de Braga e Comenda da Ordem de Cristo|miniaturadaimagem|Pintura quinhentista na importante Igreja da Diocese de Braga e Comenda da Ordem de Cristo_ S. Pedro Fins de Ferreira]]
[[Ficheiro:Pintura Humanista (séc XVI) Igreja de S. Pedro Fins de Ferreira Diocese de Braga.jpg|alt=Pintura quinhentista na importante Igreja da Diocese de Braga e Comenda da Ordem de Cristo|miniaturadaimagem|Pintura quinhentista na importante Igreja da Diocese de Braga e Comenda da Ordem de Cristo_ S. Pedro Fins de Ferreira]]
[[Ficheiro:Comenda de Sanfins de Ferreira.png|alt=Igreja e Comenda de S. Pero Fins de Ferreira, antigo Couto e Mosteiro|miniaturadaimagem|Igreja e Comenda de Sanfins de Ferreira, antigo Couto e Mosteiro]]
Nos inícios dos anos de 1500, a nossa Igreja foi transformada em Comenda da Ordem de Cristo, tendo por comendatário o Escrivão da Puridade e humanista Cardeal da Santa Sé, D. Miguel da Silva. Note-se que é no registo da reitoria _1525_ que, pela primeira vez, a nossa terra é tratada como sendo “Igreja de Sam Pero Fynz de Ferreira”. É ainda no decorrer dos meados deste século XVI que esta Igreja _de São Pedro Fijz de Terra de Ferreira_ terá sido objeto de grandes obras, tendo-se realizados notáveis afrescos, dos quais ainda nos restam alguns fragmentos _S. Brás_, no “arco triunfal do lado da Epístola e do lado do Evangelho”. Esta Igreja e Comenda da Ordem de Cristo, com bens que se estendiam até Cacães e Meixomil, Lamoso, Raimonda e a Santa Maria de Negrelos, incluindo a ermida no alto do monte (São Romão), pertenceu sempre a grandes senhores do reino. <ref>{{citar livro|título=Tombo da Igreja e Comenda de Samfynz de Ferreira do Arcebispado de Bragaa (1548)
Nos inícios dos anos de 1500, a nossa Igreja foi transformada em Comenda da Ordem de Cristo, tendo por comendatário o Escrivão da Puridade e humanista Cardeal da Santa Sé, [[Miguel da Silva (cardeal)]]. Note-se que é no registo da reitoria _1525_ que, pela primeira vez, a nossa terra é tratada como sendo “Igreja de Sam Pero Fynz de Ferreira”. É ainda no decorrer dos meados deste século XVI que esta Igreja _de São Pedro Fijz de Terra de Ferreira_ terá sido objeto de grandes obras, tendo-se realizados notáveis afrescos, dos quais ainda nos restam alguns fragmentos _S. Brás_, no “arco triunfal do lado da Epístola e do lado do Evangelho”. Esta Igreja e Comenda da Ordem de Cristo, com bens que se estendiam até Cacães e Meixomil, Lamoso, Raimonda e a Santa Maria de Negrelos, incluindo a ermida no alto do monte (São Romão), pertenceu sempre a grandes senhores do reino. <ref>{{citar livro|título=Tombo da Igreja e Comenda de Samfynz de Ferreira do Arcebispado de Bragaa (1548)
Arquivo Distrital de Braga
Arquivo Distrital de Braga
Registo Geral, 242/12|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|páginas=|acessodata=}}</ref>
Registo Geral, 242/12|ultimo=|primeiro=|editora=|ano=|local=|páginas=|acessodata=}}</ref>
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==== As Revoluções Liberais e a Reedificação da Igreja Matriz ====
==== As Revoluções Liberais e a Reedificação da Igreja Matriz ====
As Revoluções Liberais também provocaram o seus danos. Num clima de permanente tensão entre os fidalgos da Casa da Igreja/Solar dos Brandões, o Reitor, António Marcelino Martins Machado, envia uma carta_Registo Geral de Mercês, D.Maria II, liv.32, fl.214v-215v_ em que se refere à “Igreja de S. Pedro Fins de Ferreira”[https://digitarq.arquivos.pt/details?id=2007038]. Desconhecendo-se o teor da missiva, sabe-se que, sobre a porta da entrada principal da antiga Igreja de São Pero Fins de Ferreira está uma inscrição que diz ter sido reedificada, em 1865.
As Revoluções Liberais também provocaram o seus danos. Num clima de permanente tensão entre os fidalgos da Casa da Igreja/Solar dos Brandões, o Reitor, António Marcelino Martins Machado, envia uma carta_Registo Geral de Mercês, D.Maria II, liv.32, fl.214v-215v_ em que se refere à “Igreja de S. Pedro Fins de Ferreira”[https://digitarq.arquivos.pt/details?id=2007038]. Desconhecendo-se o teor da missiva, sabe-se que, sobre a porta da entrada principal da antiga Igreja de São Pero Fins de Ferreira está uma inscrição que diz ter sido reedificada, em 1865.
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==== O Cruzeiro Templário ====
[[Ficheiro:Cruzeiro Templário de Sanfins de Ferreira.jpg|alt=Cruzeiro de Sanfins de Ferreira e a Cruz do Templo|miniaturadaimagem|Largo da Confraria, local onde se encontrava a Cruz do Templo]]
Não há qualquer documento escrito que refira a presença dos templários nesta antiga Igreja, Couto e Mosteiro, mas é nesta freguesia que se encontrava a Cruz do Templo e que serve de elemento central ao brasão do município e a outras freguesias. Não se sabe ao certo a origem desta Cruz da Ordem do Templo, que se encontrava no Largo da Confraria, mas é certo que a população de Sanfins de Ferreira sempre teve uma grande cuidado pelo seu cruzeiro, até que, já depois do 25 de abril de 1974, durante a noite, foi vandalizado. Note-se que este cruzeiro estava nos terrenos da Comenda e esta comenda resultou do antigo Couto onde no séc. XII, antes da divisão deste territórios pelas dioceses de Braga e Porto, de se mandara construir um Mosteiro. Pela grandiosidade da Cruz e inclinação da mesma se percebe que fora talhada para ser colocada no cimo de um edifício bem alto, não sendo de excluir a hipótese, por isso mesmo, de ser a Cruz que estivera destinada a encimar a Igreja do Mosteiro que acabara por ficar sem monges e para a Diocese do Porto, em S. Pedro de Ferreira.
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==População==
==População==
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* [[Penedo das Ninfas]] (inscrição gravada em penedo na Bouça de Fervenças)
* [[Penedo das Ninfas]] (inscrição gravada em penedo na Bouça de Fervenças)
* Solar dos Brandões
* Solar dos Brandões
*Cruzeiro dos Templários


== Ver também ==
== Ver também ==

Revisão das 22h35min de 5 de janeiro de 2019

Portugal Sanfins de Ferreira 
  Freguesia portuguesa extinta  
Símbolos
Bandeira de Sanfins de Ferreira
Bandeira
Brasão de armas de Sanfins de Ferreira
Brasão de armas
Localização
Sanfins de Ferreira está localizado em: Portugal Continental
Sanfins de Ferreira
Localização de Sanfins de Ferreira em
Mapa
Mapa de Sanfins de Ferreira
Coordenadas 41° 19' 39" N 8° 22' 57" O
Município primitivo Paços de Ferreira
Município (s) atual (is) Paços de Ferreira
Freguesia (s) atual (is) Sanfins Lamoso Codessos
História
Extinção 2013
Características geográficas
Área total 6,53 km²
População total (2011) 3 139 hab.
Densidade 480,7 hab./km²


Citânia de Sanfins, ex-líbris do concelho de Paços de Ferreira

Sanfins de Ferreira, também conhecida simplesmente como São Pedro Fins de Ferreira ou apenas Sanfins, é uma antiga freguesia portuguesa do concelho de Paços de Ferreira, com 6,53 km² de área e 3 139 habitantes (2011). A sua densidade populacional era 480,7 hab/km².
Foi extinta em 2013, no âmbito de uma reforma administrativa nacional para formar uma nova freguesia denominada Sanfins Lamoso Codessos.[1].

No seu território situa-se um dos mais importantes povoados castrejos da Península Ibérica, a Citânia de Sanfins, a Casa de Vila Cova, o Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins, o Solar dos Brandões e aqui se encontrava o Cruzeiro Templário, que dá vida ao brasão do próprio município.

História

Das Origens

São Félix será mais antiga do que a entrada dos mouros na Península Ibérica. Desse tempo Suévico-Visigótico _século VII_, nas imediações da “Igreja de S. Pedro Fins de Ferreira”, há memórias e registos da existência de sepulturas escavadas na rocha. Ainda antes da fundação de Portugal, nos tempos dos condes, _976_ temos a certeza da existência de frades e as referencias _ Trastina_ a São Cibrão, cuja capela viria, mais tarde _Inquirições 1258_, a pertencer ao rei. Da Idade Média há também o pequeno cemitério e a capela de S. Romão, lá no alto da Citânia.

Livro de Mumadona

Territórios de Ferreira e as posses de Mumadona (séc. X)
Territórios de Ferreira e as posses de Mumadona Dias (séc. X)

A Igreja de Santo Felice, Vila Cova e Vila Colina são referidos no livro de Mumadona Dias, na segunda metade de séc. X, onde elenca as posses que tem nestes territórios Ferreira. Do território de Sanfins de Ferreira diz possuir bens em "Villa Colina" e em "Villa Cova". Sobre Vila Cova refere duas vezes demonstra a origem dos mesmos e diz que foram seus tios Patre, Gondemaro e Olidi. Significativa e esclarecedora é a passagem: "ecclesia de sancto felice et de sancto mamete que nobis incartauit erus abba et omnia que nobis incartauerat per ipsas uillas in genestaciolo quantum oobis incartauit Silimiro et recemundo in ferreira, villa de colina que nobis incartauit veta forsit. et porcione in monte corduba que nobis incartauit Godesteo uiiiulfiz."[1]
Note-se que, neste documento, a Igreja é de São Fins e S. Mamede.

Fundação da Nacionalidade e o "Couto de Fins de Ferreira"

Com a restauração das Dioceses, e a Fundação da Nacionalidade, a S. Fins de Ferreira fica a pertencer à Diocese de Braga _1070_e só em 1882 passou a pertencer à Diocese do Porto.

O cavaleiro Mem Viegas de Sousa   (1070_1130) foi senhor de honrarias e desta igreja.

No período da reconquista, foi restaurada a Diocese de Braga e a Chã de Ferreira ficou a pertencer-lhe. Há registos que afirmam que, no ano de 1111, o cavaleiro Soeiro Viegas é senhor do “Couto de Fins de Ferreira” e que aqui fundou um mosteiro . O título nobiliárquico de “senhor do Couto de Fins de Ferreira” é referido ainda ao longo do século XIII.

A divisão do Couto, do Mosteiro e do Território, as Dioceses

Quatro décadas depois do restauro da Diocese de Braga _1070_é restaurada a Diocese do Porto _1113_ e desde logo começou a luta pelos domínios desta Chã Ferreira, pelo seu Couto e pelo seu Mosteiro.  Este território e Couto foi então dividido entre a Diocese de Braga e a Diocese do Porto. A Diocese do Porto - fica com os domínios que integravam o Termo de Aguiar e os Cónegos da Sé Porto, em 1195, ficam com uma parte do seu “novo” Mosteiro de S. Pedro de Ferreira. A Arquidiocese de Braga -Bispo- acabando por não acatar a decisão da Santa Sé e por não recuar até à margem norte do rio Vizela, manteve os domínios correspondentes ao Termo de Ferreira, incluindo a sua antiga Igreja de S. Fins de Ferreira.

É neste contexto de tensão entre a Arquidiocese de Braga e a Diocese do Porto que se deve perceber a importância desta Ferreira, desta Igreja, deste Couto e os silêncios sobre o Mosteiro e os monges de S. Pedro de Ferreira.

A Igreja _São Félix_ era a Igreja desta terra chamada Ferreira e Ferreira _segundo as inquirições 1220_ era também o nome desta grande encosta e divisão administrativa -Termo de Ferreira_, que se estendia até ao rio, ou seja até à Igreja de S. Tiago de Lustosa, até a Igreja de S. Joao de Portela _Codeços, até a Igreja de S. João de Eiriz, e até à Igreja de Santa Cruz_Cacães. Do outro lado do rio, começavam o Termo de Aguiar de Sousa, a Diocese do Porto e o seu Mosteiro de S. Pedro de Ferreira. Desde a fundação da Nacionalidade, S. Fins é sempre afirmada como sendo “… de Ferreira”: “Igreja de Santo Felice de Ferreira”, “Igreja de Sam Pero Fynz de Ferreira”, “Igreja S. Pedro Fins de Ferreira” e “Paróquia de Sanfins de Ferreira _S. Pedro ”.

O nome

S. Fins de Ferreira tem uma raiz e um sentido histórico muito profundo: os ferreiros moravam a Citânia e foram descendo para as terras mais próximas das fontes e das nascentes. Por cá, há o antigo topónimo de Ferreira, lugar pegado à Fervença, onde brota uma das nascentes do Rio Ferreira. Como se percebe, as dúvidas não são sobre o nome da terra a que pertence esta Igreja. O que se torna necessário é perceber qual é o orago desta Igreja “de Ferreira”.

O orago

Nos primórdios, o padroeiro desta Igreja da terra de Ferreira, era São Félix. Pela relação entre datas e calendários e pelo painel de S. Pedro ad víncula, trata-se de S. Félix de Girona, com festa a 1 de agosto. Prova isto é a imagem do painel a óleo que se encontrava pendente no Altar-mor da antiga Igreja Matriz de Sanfins de Ferreira e que hoje se mantém colocado no Centro Social e Paroquial de Sanfins de Ferreira. Esta imagem retrata, sem margem para dúvidas, São Pedro ad vincula e nada tem a ver com o São Pedro, santo popular, com festa a 29 de Junho. Extremamente relevante são as referências à existência de uma imagem _estátua_ de S. Félix, “um Santo de cor escura, do tamanho da nossa Santa Rita”, que, como nos lembram as memórias orais _anteriores 1957_, se encontrava num dos altares da Igreja de S. Pedro Fins de Ferreira. S. Félix, o de Girona, nasceu no norte de África e foi martirizado sob Diocleciano _284-305_, naquela cidade espanhola. Referido nos calendários hispânicos a 1 de Agosto, este mártir, nos primórdios do cristianismo, foi muito venerado no território português e titular de diversas paróquias. Como a Igreja hispânica _local_, no Concílio de Burgos _1080_, decidiu adotar o rito romano universal, e este, no dia 1 de agosto, tinha memória a São Pedro ad víncula, o culto a São Félix começou a perder a sua importância, pelo menos ao nível oficial. Mesmo em termos oficiais, foi preciso muito tempo para que o culto a São Pedro fosse superando o culto a São Félix. De um ou outro modo, o culto a São Pedro nunca suplantou, de modo definitivo, o culto a São Fins. Foram precisos três séculos para que a “Igreja de Sancti Felicis Ferrarie” começasse a ser conhecida como a “ Igreja de Sam Pero Fynz de Ferreira” e, desde então continuam interligados. A primeira vez que o nome desta Igreja aparece escrito é na Inquirições de 1220. Por este documento régio, ficamos a saber que esta terra se chama Ferreira e que o seu orago é S. Félix _“Sancto Felici”_, Igreja bastante rica, possuindo “sesnarias”, “casais viiij” e “meia ermida”. Da existência de bens pertencentes à Ordem dos Templários, nem nesta região há registos. Nas Inquirições Régias de 1258, a Igreja dava pelo nome de “Igreja de Sancti Felicis Ferrarie” e dela, entre muitos outros bens, dependia a “Igreja de Santa Maria de Lamoso”.

Honra de Nuno Álvares Pereira

Nos tempos da fundação da Dinastia de Avis, _séc. XIV_ S. Fins de Ferreira continuou a ser distinta e foi Honra do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, tendo passado para o seu sobrinho, o cavaleiro D. João Rodrigues Pereira. Ainda hoje, junto ao lugar da Torre, temos o lugar da Pereira e a secular Calçada da Pereira, que leva à Citânia.

A Igreja e Comenda

Pintura quinhentista na importante Igreja da Diocese de Braga e Comenda da Ordem de Cristo
Pintura quinhentista na importante Igreja da Diocese de Braga e Comenda da Ordem de Cristo_ S. Pedro Fins de Ferreira
Igreja e Comenda de S. Pero Fins de Ferreira, antigo Couto e Mosteiro
Igreja e Comenda de Sanfins de Ferreira, antigo Couto e Mosteiro

Nos inícios dos anos de 1500, a nossa Igreja foi transformada em Comenda da Ordem de Cristo, tendo por comendatário o Escrivão da Puridade e humanista Cardeal da Santa Sé, Miguel da Silva (cardeal). Note-se que é no registo da reitoria _1525_ que, pela primeira vez, a nossa terra é tratada como sendo “Igreja de Sam Pero Fynz de Ferreira”. É ainda no decorrer dos meados deste século XVI que esta Igreja _de São Pedro Fijz de Terra de Ferreira_ terá sido objeto de grandes obras, tendo-se realizados notáveis afrescos, dos quais ainda nos restam alguns fragmentos _S. Brás_, no “arco triunfal do lado da Epístola e do lado do Evangelho”. Esta Igreja e Comenda da Ordem de Cristo, com bens que se estendiam até Cacães e Meixomil, Lamoso, Raimonda e a Santa Maria de Negrelos, incluindo a ermida no alto do monte (São Romão), pertenceu sempre a grandes senhores do reino. [2]

O Mosteiro de Sanfins de Ferreira

De 1512 temos também o registo da existência de um Mosteiro medieval de renda “ Francisquo Saam Fyns de Ferreira”. Deste Mosteiro pouco se sabe e não será de excluir a hipótese do Mosteiro ter sido anexo , à esquerda, da Igreja. Neste quadro, devemos ainda lembrar que na Bouça da Freiria encontram-se pratos e bilhas em barro que revertem para este espaço religioso medieval, já referido no século X _976.

A Capela da Srª da Guia

Em 1569, no Livro das Visitações, que o arcebispado fazia à paróquia, diz-se ao comendador que “mande consertar o forro da capela, mais uma caixa para os paramentos”, e fala-se então da Igreja, da Casa da Igreja e da Capela. O ano de 1617 é de uma importância vital para o processo de identificação do orago. Neste ano, o visitador dá ordem para se colocar ”uma imagem de vulto de S. Pedro no nicho do Altar-mor, feita por mão de bom oficial”. Ora, como se pode perceber, estaremos perante a origem da imagem do São Pedro ad vincula, pintado no painel. A 1 de setembro de 1621, o visitador manda “os fabriquarios da ermida de Nossa Senhora da Guia consertarem o necessário, com suas portas até aos Santos”.

A Guerra da Restauração

Com a Guerra da Restauração da Independência 1640 e 1668, porque o Bispo de Braga apoiara a coroa Castelhana, a Igreja Comenda de Sanfins de Ferreira começou a pertencer a apoiantes de D. João IV, André de Almeida da Fonseca 1644.11.24, sendo que o último foi o Conde de Almada :Dom Antão José Maria de Almada .

As Revoluções Liberais e a Reedificação da Igreja Matriz

As Revoluções Liberais também provocaram o seus danos. Num clima de permanente tensão entre os fidalgos da Casa da Igreja/Solar dos Brandões, o Reitor, António Marcelino Martins Machado, envia uma carta_Registo Geral de Mercês, D.Maria II, liv.32, fl.214v-215v_ em que se refere à “Igreja de S. Pedro Fins de Ferreira”[2]. Desconhecendo-se o teor da missiva, sabe-se que, sobre a porta da entrada principal da antiga Igreja de São Pero Fins de Ferreira está uma inscrição que diz ter sido reedificada, em 1865.

O Cruzeiro Templário

Cruzeiro de Sanfins de Ferreira e a Cruz do Templo
Largo da Confraria, local onde se encontrava a Cruz do Templo

Não há qualquer documento escrito que refira a presença dos templários nesta antiga Igreja, Couto e Mosteiro, mas é nesta freguesia que se encontrava a Cruz do Templo e que serve de elemento central ao brasão do município e a outras freguesias. Não se sabe ao certo a origem desta Cruz da Ordem do Templo, que se encontrava no Largo da Confraria, mas é certo que a população de Sanfins de Ferreira sempre teve uma grande cuidado pelo seu cruzeiro, até que, já depois do 25 de abril de 1974, durante a noite, foi vandalizado. Note-se que este cruzeiro estava nos terrenos da Comenda e esta comenda resultou do antigo Couto onde no séc. XII, antes da divisão deste territórios pelas dioceses de Braga e Porto, de se mandara construir um Mosteiro. Pela grandiosidade da Cruz e inclinação da mesma se percebe que fora talhada para ser colocada no cimo de um edifício bem alto, não sendo de excluir a hipótese, por isso mesmo, de ser a Cruz que estivera destinada a encimar a Igreja do Mosteiro que acabara por ficar sem monges e para a Diocese do Porto, em S. Pedro de Ferreira.

População

População da freguesia de Sanfins de Ferreira [3]
1864 1878 1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011
572 519 539 551 574 620 706 861 1 123 1 389 1 779 2 257 2 629 3 005 3 139
Distribuição da População por Grupos Etários
Ano 0-14 Anos 15-24 Anos 25-64 Anos > 65 Anos 0-14 Anos 15-24 Anos 25-64 Anos > 65 Anos
2001 700 510 1 566 229 23,3% 17,0% 52,1% 7,6%
2011 639 438 1 763 299 20,4% 14,0% 56,2% 9,5%

Média do País no censo de 2001: 0/14 Anos-16,0%; 15/24 Anos-14,3%; 25/64 Anos-53,4%; 65 e mais Anos-16,4%

Média do País no censo de 2011: 0/14 Anos-14,9%; 15/24 Anos-10,9%; 25/64 Anos-55,2%; 65 e mais Anos-19,0%

Associações

  • Rancho Folclórico da Citânia de Sanfins

Fundação: 1980 Deslocações: Portugal, Espanha, França e Alemanha

  • Grupo Cultural e Desportivo Leões da Citânia

Fundação: 1980 Divisão: 1ª Distrital (Porto)

  • Grupo de Bombos Amigos da Borga

Fundação:1999 Deslocações: Portugal

  • Clube de Caça e Pesca da Citânia de Sanfins
  • APDS: Associação para o Desenvolvimento de Sanfins

Fundação: 1998

  • Associação Folclórica Independente de Sanfins de Ferreira

Fundação: 1982 Deslocações: Portugal

Património

Ver também

Referências

  1. Diário da República, 1.ª Série, n.º 19, Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro (Reorganização administrativa do território das freguesias). Acedido a 21 de junho de 2016.
  2. Tombo da Igreja e Comenda de Samfynz de Ferreira do Arcebispado de Bragaa (1548) Arquivo Distrital de Braga Registo Geral, 242/12. [S.l.: s.n.]  line feed character character in |título= at position 81 (ajuda)
  3. Instituto Nacional de Estatística (Recenseamentos Gerais da População) - https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes
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