Garabombo, o Invisível
Garabombo, o Invisível | |||||||
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capa da 1ª edição brasileira | |||||||
Autor(es) | Manuel Scorza | ||||||
Idioma | português | ||||||
País | Peru | ||||||
Assunto | Lutas do campesinato peruano dos Andes Centrais | ||||||
Editora | Editora | ||||||
Cronologia | |||||||
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O livro Garabombo, o Invisível (no original peruano Historia de Garabombo el Invisible) é uma obra da literatura latino-americana do escritor peruano Manuel Scorza. Ele é o segundo volume do ciclo de cinco partes do romance intitulado "A guerra silenciosa" (La guerra silenciosa)[1].
Sobre o livro
[editar | editar código-fonte]Em sua saga, Scorza descreve o combate entre o Peru e os sobreviventes das culturas pré-colombianas em uma revolta camponesa andina onde os índios dos mais altos pontos dos Andes haviam começado a combater com os proprietários de terras do Cerro de Pasco, sob o silêncio da imprensa peruana. Centenas de homens morreram por tocar esta luta desesperada que Scorza testemunhou nos anos 60. Embora muitos dos nomes, lugares, datas e eventos são reais, o autor ficcionaliza seu testemunho, acrescentando humor, mito e fantasia. Ele denuncia que os historiadores quase não registraram o terror e atrocidade desse combate desigual nas cordilheiras de Pasco em 1962.
Em Garabombo, o Invisível, Scorza traça um percurso muito semelhante ao do primeiro romance. Garabombo, o personagem-título e protagonista da obra, exerce a função de líder, de onde nasce a utopia alimentada por seus desejos e reivindicações, que coincidem com os de toda a sua comunidade – condição básica para que essa utopia possa apresentar um “potencial revolucionário”[nota 1]. Garabombo tenta convencer seu povoado a reagir contra as adversidades, mas esbarra no medo gerado pelos massacres sofridos por Rancas, narrados em Bom dia. Essa resignação apenas sucumbe com a interferência de dois fatores de natureza diferente – um “real” e outro “maravilhoso” – que funcionam como impulsos geradores de um renovado pensamento utópico: a descoberta de títulos de 1705 expedidos pela Real Audiência de Parma em favor dos índios como os verdadeiros proprietários das terras de Yanahuanca e a invisibilidade de Garabombo. Enquanto que, em Garabombo, o maravilhoso tem valor decisivo, em Bom dia para os defuntos, é mais episódico (neste, há alguns incidentes da ordem do maravilhoso, como o nascimento de crianças de cara verde).
No primeiro, o maravilhoso toma a importância de “despertador” de uma consciência adormecida e confunde-se com a realidade, uma vez que Garabombo é duplamente invisível: é socialmente invisível, ou seja, não interessa aos fazendeiros ou aos governantes enxergar Garabombo, sua gente e seus problemas. E é fisicamente invisível, na medida em que há uma crença, por parte da comunidade indígena, nessa invisibilidade, ou seja, o maravilhoso, o fato insólito é real para os que acreditam nele e porque acreditam nele, o que permitiu, por exemplo, que Garabombo passasse “incólume” em frente aos guardas. Essas duas formas de “transparência” podem ser exemplificadas, respectivamente, pelas seguintes passagens:
[...] Voltava curado! Na prisão compreendera a verdadeira natureza de sua doença. Não o viam porque não queriam vê-lo. Era invisível como eram invisíveis todas as reclamações, os abusos e as queixas.[...] Outrora havia sido transparente para as autoridades, hoje seria invisível para todos os homens!
[...] O erro de sua ignorância seria a arma de sua lucidez. Chinche acreditara durante anos que ele era invisível.
[...] Essa força venceria o desânimo! Seria invisível! (SCORZA, 1975b, p. 143-144).
- Não o vêem – sorriu Amador Cayetano, o presidente da comunidade. – É invisível! - Há sete anos que ele é invisível – sussurrou Melécio Cuellar. - Padre nosso que estais no céu, fazei com que eles [os guardas] não olhem para Garabombo – rezou Sulpícia.
- Não seja boba, Sulpícia – falou Melécio Cuellar. – Não o vêem! Garabombo pode comer e dormir à vontade. E se quiser mijará nos guardas. Pensarão que está chovendo! (Ibidem, p. 2)
Manuel Scorza utiliza o realismo mágico ou real maravilhoso também como um recurso para representação do tipo de racionalidade mítica vivida pelo povo quíchua do centro do Peru. O autor não se refere diretamente aos mitos indígenas existentes, mas tenta “internalizar sua [dos índios] estrutura mental e fazê-la discorrer inventivamente por novos canais”[4].
Garabombo, protagonista principal da novela, que é modelado em Fermín Espinoza, um índio quem Scorza conhecia pessoalmente[5], cerca de dezoito meses depois do massacre de Rancas, o Garabombo, invadiu as fazendas Uchumarca, Chinche e Payán para recuperar os territórios para a comunidade de Yanahuanca. dando começo a uma guerra que liquidaria o feudalismo no centro do Peru[6][7]
Notas
- ↑ Proposto por Karl Mannheim[2], importante sociólogo alemão, estudioso da utopia. Para Mannheim, embora uma utopia possa surgir a partir dos desejos e idéias de um único indivíduo, ela convertese em ação efetiva em prol de transformações de ordem socioeconômica e política somente quando entra em consonância com os pensamentos e as vontades de todo um grupo social[3]
Referências
- ↑ Lina Arao. «Entre culturas: conflitos na literatura heterogênea de Manuel Scorza» (PDF). Universidade Federal de Minas Gerais. Consultado em 13 de abril de 2013
- ↑ A TRAJETÓRIA DA UTOPIA EM JORGE ICAZA E MANUEL SCORZA[ligação inativa] por Lina Arao Lina Arao. Rio de Janeiro,2006. 114 f. Universidade Federal do Rio de Janeiro
- ↑ MANNHEIM, Karl. Ideologia e utopia, A mentalidade utópica. In: ---. Ideologia e utopia. Trad. Sérgio Magalhães Santeiro. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986, pp. 81-271.
- ↑ (CORNEJO POLAR, 2000, p.113)
- ↑ Adriana Churampi Ramírez (2013). «Garabombo: Mission Invisible». www.academia.edu/. Consultado em 13 de abril de 2013
- ↑ Vera Herrera, Ramón. (julho 2002). «"Garabombo el invisible, noticias de Ecuador."». Programa LaNeta online. Consultado em 13 de abril de 2013[ligação inativa]
- ↑ Juan González Soto. «Garabombo el Invisible y Remigio el Hermoso, héroes de «La guerra silenciosa»». Fundación Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes. Consultado em 13 de abril de 2013