Gorjeira

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 Nota: Não confundir com Gorgeira.
Um gorjal holandês.
O poeta britânico Philip Sidney, com um gorjal no pescoço.

Gorjeira[1] ou Gorjal[2] tanto pode ser uma peça de armadura medieval, como um ornamento de pescoço. Enquanto ornamento de pescoço, originalmente consistia numa tira de linho enrolada em volta do pescoço e cabeça existente no vestuário feminino no período medieval.[3][4]

O termo também parece ser usado para outras peças, como as jóias usadas em torno da região da garganta em uma série de outras culturas, por exemplo, os colares de ouro estreitos encontrados na Irlanda da Idade do Bronze.[5]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Ambos os substantivos gorjeira e gorjal provêm do francês gorge que significa garganta.[6][7]

Peça de armadura[editar | editar código-fonte]

Exemplo de gorjal de placas

O gorjal também foi uma peça de proteção medieval, usada para resguardar o queixo, o pescoço e a clavícula do guerreiro.[8][9]

Composição[editar | editar código-fonte]

O gorjal podia ser feito de malha ou então de placas de ferro ou de couro fervido.[9] Por vezes, estes gorjais apresentavam-se forrados, de tecido ou de cabedal.[9]

Tipos de gorjais medievais[editar | editar código-fonte]

De acordo com historiadores como João Gouveia Monteiro e Alvaro Soler del Campo, o grojal faz parte do arnês do cavaleiro.[8] Sendo por isso feito de placas metálicas e não de malha, como por exemplo o camal. [8]

Tendo dito isto, há outros historiadores que refutam esta posição doutrinal, afirmando que chegou a haver gorjais de malha metálica e de peças de couro, socorrendo-se, para o efeito, por exemplo, de menções históricas, como as feitas pelo cronista português Fernão Lopes que, ao descrever o equipamento do defensor de Guimarães, durante o cerco liderado por D. João I, em 1395, mencionou a presença de um cavaleiro com gorjal de malha.[8]

Em todo o caso, há autores modernos, como Paulo Jorge Agostinho, que conciliam estas duas posições defendendo que o gorjal de malha mencionado pelo cronista português se trataria de uma variedade particular, daí que tenha sido mencionada expressamente como «huum gorjall de malha».[8] Assim, sustenta que as diferentes variedades de gorjal terão coexistido.[8]

Distinção com o camal[editar | editar código-fonte]

O camal era uma peça de proteção medieval que consiste num colar ou avental de pescoço, que descaía pelo pelos ombros, feito em malha metálica.[10][11] [12] Tratava-se de uma peça diferente do gorjal que, amiúde, chegava a ser uma peça do arnés.[8]

De tal maneira que o camal e o gorjal podiam ser usados em conjunto.[13] Com efeito, o cronista português Fernão Lopes, quando escreveu sobre a justa do cerco de Benavente, faz menção de um cavaleiro francês, que foi atingido pela lança, e que se encontrava vestido com dois camais e um gorjal. [14]

Uniforme militar[editar | editar código-fonte]

No início de 1688, há regulamentos quanto o uso de gorgeiras por oficiais do exército sueco. Para aqueles de posto de capitão a gorjeira era dourada com o monograma do rei sob uma coroa de esmalte azul, enquanto os oficiais menores usavam uma gorgeira banhada em prata com as iniciais em ouro.[15]

Referências

  1. «gorjeira». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  2. «gorjal». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  3. Norris, Herbert (1999). Medieval costume and fashion. Mineola, N.Y.: Dover Publications. 181 páginas. ISBN 9780486404868 
  4. Lewandowski, Elizabeth J. The complete costume dictionary. Lanham, Md.: Scarecrow Press, Inc. 123 páginas. ISBN 9780810877856 
  5. Dermot F. Gleeson, "Discovery of Gold Gorget at Burren, Co. Clare", The Journal of the Royal Society of Antiquaries of Ireland, Seventh Series, Vol. 4, No. 1 (Jun. 30, 1934), pp. 138-139, JSTOR, with photo.
  6. «gorjeira». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  7. «gorjal». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  8. a b c d e f g Agostinho, Paulo Jorge Simões (2012). Vestidos para matar : o armamento de guerra na cronística portuguesa de quatrocentos. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 83. 222 páginas. ISBN 978-989-26-0302-5. OCLC 855996399 
  9. a b c Martins, M. G. (2014). A arte da guerra em Portugal: 1245 a 1367. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 237. 571 páginas 
  10. S.A, Priberam Informática. «camal». Dicionário Priberam. Consultado em 10 de abril de 2023 
  11. Agostinho, Paulo Jorge Simões (2012). Vestidos para matar : o armamento de guerra na cronística portuguesa de quatrocentos. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 81. 222 páginas. ISBN 978-989-26-0302-5. OCLC 855996399 
  12. Martins, M. G. (2014). A arte da guerra em Portugal: 1245 a 1367. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 237. 571 páginas 
  13. Agostinho, Paulo Jorge Simões (2012). Vestidos para matar : o armamento de guerra na cronística portuguesa de quatrocentos. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 83. 222 páginas. ISBN 978-989-26-0302-5. OCLC 855996399 
  14. Agostinho, Paulo Jorge Simões (2012). Vestidos para matar : o armamento de guerra na cronística portuguesa de quatrocentos. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 83. 222 páginas. ISBN 978-989-26-0302-5. OCLC 855996399. «E a primeira carreira que coreram, encontrou Maaborny o outro no pescoço; e pero trouuesse dous camaaes e huum gorjall, pasou-lhe todo e teue a llamça da outra parte, e posse-o na pomta della fora da sella» 
  15. Preben Kannik, Alverdens Uniformer I Farver", p.151
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