Mostrar código-fonte de Igreja de Santa Maria da Fonte

{{Info/Edifício religioso
|NomeEdifício  = Igreja de Santa Maria da Fonte<br>{{politônico|Ζωοδόχος Πηγή}}
|Imagem        = Saint Mary Of The Spring 2010-10-09 01.jpg
|Legenda       = Fachada
|Tamanho       = 300px
|Local         = [[Balıklı]]
|Região        = [[Istambul]]
|País          = [[Turquia]]
|Coordenadas   = {{coor dms|41|00|23|N|28|54|57|E|source:dewiki_region:TR-34_scale:100000_type:city(288058)|format=dms|display=title}}
|Religião      = [[Igreja Ortodoxa Grega|Ortodoxa Grega]]
|Consagração   = 559/560
|Início_Constr = 1833 (reconstrução)
|Fim_Constr    = 1835
}}
A '''Mosteiro da Mãe de Deus da Fonte''' ({{langx|qgk|Μονὴ τῆς Θεοτòκου τῆς Πηγῆς||''Moni tis Theotóku tis Pigis''}}; {{lang-tr|''Balıklı Meryem Ana Rum Manastiri''}}) ou simplesmente '''Zoódoco Pegas''' ({{lang|el|Ζωοδόχος Πηγή}} - "Fonte da Vida"), é um santuário [[Igreja Ortodoxa|ortodoxo]] em [[Istambul]]. A atual igreja, chamada de '''Igreja de Santa Maria da Fonte''', de 1835, foi construída no mesmo local de um santuário que ali existia desde o final do {{séc|VI}} e também foi dedicado à [[Teótoco]] ("Mãe de Deus"). Depois de muitas reformas, o edifício foi destruído na primeira metade do {{séc|XV}} pelos [[otomanos]]. O complexo recebeu este nome por causa de uma [[fonte sagrada]] (''Pēgē'') próxima que os fieis acreditam ter propriedades curativas. Por quase 1500 anos, o local permanece como um dos mais importantes locais de [[peregrinação ]] da [[Igreja Ortodoxa Grega|ortodoxia grega]].<ref name=ja232>Janin (1953), p. 232.</ref>

== Localização ==
[[imagem:Byzantine Constantinople-pt.svg|thumb|300px|Mapa de Constantinopla. A Igreja de Santa Maria da Fonte está localizada à esquerda, o único edifício demarcado fora da muralha, em Pegas, perto da Porta Silistra. Ela aparece aqui com o nome Zoódoco Pegas ("Fonte da Vida")]]
[[imagem:61-manasses-chronicle.jpg|thumb|300px|[[Czar]] {{lknb|Simeão|I|da Bulgária}} manda incendiar a Igreja de Santa Maria da Fonte.<br><small>[[Iluminura]] da Crônica de [[Constantino Manasses]]</small>]]

A igreja está localizada no distrito de [[Zeytinburnu]], vizinhança de [[Balıklı]], em [[Istambul]], a apenas algumas centenas de metros fora da [[muralha de Constantinopla|cidade murada]], a 500m da [[Porta de Silivri]] (em turco: ''Silivri Kapısı'). O complexo é protegido por um muro alto e está numa grande área verde circundada pelos cemitérios ortodoxo e [[Igreja Apostólica Armênia|armênio]].

== História ==
De acordo com os historiadores [[Procópio de Cesareia]] e [[Jorge Cedreno]], a igreja foi originalmente erigida pelos [[imperador romano]] [[Justiniano I]] nos anos finais de seu reinado (559-560), próxima a uma [[fonte sagrada]] ({{lang|el|ἁγίασμα}} - ''hagiasma'', de onde deriva {{lang-tr|ayazma}}) situada fora das [[Muralhas de Teodósio]] perto da Porta de Silivri.<ref>Depois da construção do santuário, a Porta foi rebatizada pelos bizantinos como "Porta da Fonte" ou Porta Pegas ({{politônico|Πύλη τῆς Πηγῆς}}). Müller-Wiener (1977), p. 416</ref> Conta-se que, durante uma caçada, o imperador notou uma pequena capela rodeada por muitas mulheres.<ref name=ja233>Janin (1953), p. 233</ref> Ao perguntar o que significava aquilo e o que era aquele edifício, foi informado que tratava-se da ''"fonte dos milagres"''. Na mesma hora ele ordenou que uma magnífica igreja fosse construída ali com o material que havia sobrado da construção da [[Basílica de Santa Sofia]].<ref name=ja233/>

De acordo com uma lenda posterior, o santuário teria sido erigido por ordem do imperador [[Leão I, o Trácio]], {{nwrap|r.|457|474}} por causa de um milagre ocorrido ali quando ele era ainda um soldado. Antes de entrar na cidade, Leão encontrou um cego que pediu-lhe água. Uma voz feminina ordenou o imperador que umedecesse os olhos do cego com a água de um pântano próximo. A mesma voz acrescentou que ela havia escolhido aquele exato local para ser [[veneração|venerada]] e que ele um dia receberia a coroa imperial. Leão seguiu a ordem e, na hora, o cego recuperou a visão. Depois de sua ascensão ao trono, Leão mandou construir uma magnífica igreja no local.<ref name=ja233/> Esta lenda é, possivelmente, uma invenção posterior dos monges do santuário. Contudo, é possível que, mesmo antes do edifício de Justiniano, já existisse no local um pequeno mosteiro.<ref name=ja233/>

A construção por inúmeras reformas ao longo dos séculos, as maiores por conta de [[terremoto]]s: em 790, no reinado da [[Irene de Atenas|imperatriz Irene]] e em 869, no reinado de [[Basílio I, o Macedônio]], {{nwrap|r.|867|886}}.<ref name=ja233/> Em 7 de setembro de 924, o [[czar]] [[Simeão I da Bulgária]] incendiou o complexo, que foi imediatamente restaurado por [[Romano I Lecapeno]] {{nwrap|r.|920|944}}.<ref name=ma208>Mamboury (1953), p. 208</ref> Três anos depois, o filho de Simeão, [[Pedro I da Bulgária|Pedro]], casou-se ali com [[Irene Lecapena|Irene (Maria) Lecapena]], a sobrinha de Romano.<ref name=ma208/><ref name=ja234>Janin (1953), p. 234</ref>

Por estar fora da cidade, o mosteiro era frequentemente utilizado como local de exílio. Em 1078, [[Jorge Monômaco]] foi banido para lá.<ref name=ja234>Janin (1953), p. 234</ref> Em 1084, o imperador [[Aleixo I Comneno]] confinou o filósofo [[João Ítalo]] no mosteiro por causa de suas teorias [[neoplatonismo|neoplatônicas]].<ref name=ja234>Janin (1953), p. 234</ref>

Depois da [[saque de Constantinopla|conquista latina em 1204]], a igreja foi ocupada pelo [[Igreja Latina|clero latino]] e, de acordo com fontes bizantinas, o ultraje causou o fim do chamado ''"milagre habitual"'' (''to synetés thauma'').<ref name=ja234/>

Em 1328, [[Andrônico III Paleólogo]] utilizou o mosteiro como base para atacar Constantinopla.<ref name=ja234/> Dois anos mais tarde, já moribundo na cidade de [[Didimoteico]], ele bebeu da água da fonte e se recuperou imediatamente.<ref name=ja234/>

Durante o [[Cerco de Constantinopla (1422)|cerco otomano de 1422]], o [[sultão otomano|sultão]] {{lknb|Murade|II}} acampou no santuário. Não se sabe se os bizantinos restauraram o edifício antes da [[queda de Constantinopla|queda da cidade]] em 1453.<ref name=ja235>Janin (1953), p. 235</ref> Peregrinos russos do {{séc|XV}} não fazem menção à igreja, apenas à fonte. O acadêmico francês do {{séc|XVI}}, [[Pierre Gilles]], escreveu que em 1547 a igreja já não existia mais, mas os enfermos continuavam a ir até a fonte em busca de cura.<ref name=ja235>Janin (1953), p. 235.</ref>

Em 1727, Nicodemo, [[bispo metropolitano|metropolitano]] de [[Delco|Derco e Neocório]], construiu uma pequena capela sobre a ''Hagiasma''. Um [[ícone]], descoberto nas fundações da antiga igreja, passou então a ser venerado ali. Os [[Igreja Apostólica Armênia|armênios]] tentaram se apoderar da fonte, mas diversos [[firmã (decreto)|firmãs]] garantiram a posse dos gregos. O complexo era controlado por guardiões turcos, que coletavam dos peregrinos um imposto para a manutenção das prisões turcas. Posteriormente, o complexo passou para o controle do [[Patriarcado Ecumênico de Constantinopla|Patriarcado]] até que, em 1821, [[janízaro]]s destruíram a capela e envenenaram a fonte. Em 1833, um firmã permitiu que o [[patriarca de Constantinopla|patriarca]] [[Constâncio I de Constantinopla|Constâncio I]] reconstruísse a igreja, que foi inaugurada em 1835.<ref name=ja235/>

A igreja foi bastante danificada durante o [[Pogrom de Istambul]] em 6 de setembro de 1955, mas foi reformada depois.

== Descrição ==
{{multiple image
   | direction = vertical
   | width     = 180
   | header    = Devoção
   | footer    = 
   | image1    = Panagia Argokiliotissa1.JPG
   | alt1      = 
   | caption1  = ''[[Panagia]] Argokiliotissa'' - [[Ícone]] da Santa Maria da Fonte.
   | image2    = Turkey, Istanbul, Zoodochos Pege (Fish Church) (3946146620).jpg
   | alt2      = 
   | caption2  = [[Fonte sagrada|A ''Hagiasma'']] (fonte sagrada)
  }}
De acordo com [[Nicéforo Calisto Xantópulo|Nicéforo Calisto]] (escrevendo no {{séc|XIV}}), a igreja, na época, tinha um formato retangular típico de uma [[basílica romana|basílica]], com uma proporção de 4:3 entre os lados, e estava parcialmente enterrada.<ref name=ja236>Janin (1953), p. 236.</ref> Ela era rodeada por dois [[nártex|exonárteces]] (a leste e a oeste) e mais dois exonárteces (sul e norte). A luz vinda de fora se concentrava na fonte, que podia ser alcançada descendo dois lances de escada com 25 degraus. Cada lance estava protegido por uma [[balaustrada]] de mármore e coberto por uma arcada, também de mármore. A água caía numa pia de mármore e um encanamento a distribuía pela igreja.<ref name=ja236>Janin (1953), p. 236.</ref> O edifício estava ainda decorado com [[afresco]]s e era encimado por uma [[cúpula (arquitetura)|cúpula]] que brilhava com ouro puro. À volta da igreja estavam três capelas, dedicadas respectivamente a [[Santo Eustrácio]], a [[Teótoco]] e a [[Santa Ana]].

A igreja atual, orientada num eixo leste-oeste, também é retangular, conta com três [[nave (arquitetura)|nave]]s divididas por colunas e é precedida por um exonártex. No canto noroeste, ergue-se uma [[torre sineira]] de metal. O interior é ricamente decorado. Do lado direito perto do meio da nave está um [[púlpito]] e no fim, a [[iconóstase]]. À direita dela está um ícono que, segundo a tradição, teria sido pintado por [[Lucas Evangelista|São Lucas]].<ref name=ma208/> A fonte está numa [[cripta]] subterrânea fora da igreja,<ref name=ma208>Mamboury (1953), p. 208.</ref> alcançada por uma escada que desce paralela ao lado maior da igreja. Uma escada simétrica leva da cripta para o jardim da igreja. A decoração ali conta com ícones e pinturas; a cúpula traz uma representação de Cristo num céu estrelado. A água corre para uma pia de mármore onde nadam peixes, presentes ali já há muitos séculos, deram origem ao nome turco do complexo (''balıklı'' significa "local onde há peixes").<ref name=ma208/> De acordo com uma lenda tardia, no dia da [[conquista de Constantinopla]], um monge estava fritando peixes numa frigideira perto da fonte. Quando um colega anunciou-lhe a queda da cidade, ele respondeu que apenas acreditaria em tal disparate se os peixes de sua frigideira voltassem à vida. Imediatamente, os peixes pularam na fonte e começaram a nadar.<ref name=ma208/>

O jardim em frente à igreja é um cemitério com diversos [[túmulo]]s de mármore - a maioria datando dos séculos XIX e XX - pertencentes aos mais ricos ''[[rûm]]s'' ("romanos") da cidade e também a diversos patriarcas. Característico do local também são as diversas lápides com inscrições [[língua turca Karamanli|karamanli]]<ref name=ey123>Eyice (1955), p. 123.</ref> que constituem, de longe, o maior grupo sobrevivente desta linguagem.<ref name=bl62>Blackwell (1978), p. 62.</ref> O complexo é também circundado por mais dois grandes cemitérios, um grego e outro armênio, cada um cercado por altos muros.

== Costumes e devoção ==
O santuário é dirigido por um [[bispo]] titular e é um dos mais populares entre os templos ortodoxos de Istambul, visitado principalmente na [[Sexta de Páscoa|sexta-feira depois da Páscoa]]<ref name=ma208/> e no dia 14 de setembro, dias nos quais uma grande festa, tão profana quanto religiosa, é realizada.<ref name=ja235/> Celebram-se ali também os funerais de pessoas que serão enterradas nos cemitérios vizinhos.

Na época bizantina, o santuário era um dos mais importantes de Constantinopla. No [[Festa da Ascensão de Jesus|dia da Ascensão]], o imperador chegava de barco e atracava num pequeno porto na [[Porta Dourada]]. Ele então cavalgava até o santuário, onde era aclamado pelas facções rivais do [[Hipódromo de Constantinopla|Hipódromo]], que lhe ofereciam uma cruz e guirlandas de flores. Mais tarde, ele vestiu seu robe cerimonial em seus aposentos e, depois de receber o patriarca, os dois entravam na igreja de mãos dadas.<ref name=ja234/> Depois da celebração, o imperador então convidava o patriarca para o jantar.<ref name=ja234/> Cada futura imperatriz que chegava à Constantinopla para seu casamento era recebido pelo futuro marido no Mosteiro da Fonte.<ref name=ja235/>

A festa de dedicação da igreja foi realizada em 9 de julho. Além disso, a Ascensão, as [[Bodas de Caná]] (8 de janeiro) e o aniversário do milagre de Leão I (16 de agosto) eram também celebrados ali.<ref name=ja235/>

A fonte da vida deu origem a muitas igrejas e mosteiros de mesmo nome no mundo grego, mas a maior parte foi erigida depois que o Império Bizantino já havia terminado.<ref name=ja237>Janin (1953), p. 237</ref>

O [[ícone]] que representa a Virgem da Fonte mostra a [[Maria (mãe de Jesus)|Virgem]] abençoando e abraçando o [[Menino Jesus|Menino]]. Ela está rodeada por dois anjos e geralmente está sentado na mais alta de duas pias que estão suportadas por um jato de água que jorra de uma pia de mármore maior com uma cruz. À direita estão o imperador e sua guarda e, à esquerda, o patriarca e seus bispos. No fundo, aparece Leão I com o cego junto às muralhas da cidade. Sob a pia, um paralítico e um louco estão sendo curados pelas águas da fonte.<ref name=ja237/>

{{clear}}
== Galeria ==
<gallery mode=packed caption="Imagens da igreja" widths="300px" heights="200px">
imagem:Balıklı Rum-1.JPG|Muros altos na entrada.
imagem:Balıklı Rum-2.JPG|Pátio interno.
imagem:Saint Mary Of The Spring 2010-10-09 03.jpg|Interior, com o [[púlpito]] à direita e a [[iconóstase]] ao fundo.
imagem:SaintMaryOfTheSpring 20101009 05.jpg|Interior da cúpula.
imagem:Balıklı Rum-4.JPG|Nártex.
</gallery>


{{Referências|col=2}}

== Bibliografia ==
{{commonscat|Church of St. Mary of the Source (Istanbul)}}
{{refbegin|2}}
* {{citar livro|último =Mamboury|primeiro =Ernest |autorlink = Ernest Mamboury|título=The Tourists' Istanbul|publicado=Çituri Biraderler Basımevi|local=Istanbul|ano=1953}}
* {{citar livro|último =Janin|primeiro =Raymond|autorlink =Raymond Janin|título=La Géographie ecclésiastique de l'Empire byzantin. 1. Part: Le Siège de Constantinople et le Patriarcat Oecuménique. 3rd Vol. : Les Églises et les Monastères|publicado=Institut Français d'Etudes Byzantines|local=Paris|ano=1953|língua=francês}}
* {{citar livro|último =Eyice |primeiro = Semavi |autorlink = Semavi Eyice |título=Istanbul. Petite Guide a travers les Monuments Byzantins et Turcs |publicado=Istanbul Matbaası |local=Istanbul |língua=francês|ano=1955}}
*{{citar livro|último =Müller-Wiener|primeiro =Wolfgang |autorlink =Wolfgang Müller-Wiener|título=Bildlexikon zur Topographie Istanbuls: Byzantion, Konstantinupolis, Istanbul bis zum Beginn d. 17 Jh.|publicado=Wasmuth|local=Tübingen|língua=alemão|ano=1977|isbn=978-3-8030-1022-3}}
*{{citar livro|último =Majeska |primeiro =George P. |capítulo= The Monastery of the Virgin at Pege |título=Russian Travelers to Constantinople in the Fourteenth and Fifteenth Centuries |publicado=Dumbarton Oaks |ano=1984 | isbn=978-0-88402-101-8 |páginas= 325–326 | url = http://books.google.com/books?id=teyNhL3AuGEC&pg=PA325&#v=onepage&q&f=false}}
*{{citar livro|último =Blackwell |primeiro = Basil |contribuição= Some karamanlidika inscriptions from the monastery of the Zoodokos Pigi, Balikli, Istanbul |editor-sobrenome =Clogg |editor-nome = Richard |título=Anatolica - Studies in the Greek East in the 18th and 19th Centuries |publicado=VARIORUM |local=Aldershot, Hampshire |ano=1996 |anooriginal=1978 | isbn = 0-86078-543-2}}
{{refend}}

{{Istambul|igrejas}}

{{DEFAULTSORT:Maria da Fonte (Istambul), Igreja de Santa}}
[[Categoria:Igrejas de Istambul]]
[[Categoria:Arquitetura sacra bizantina]]
[[Categoria:Lugares de peregrinação religiosa]]
[[Categoria:Igrejas ortodoxas da Turquia|Maria da Fonte]]