Inscrição Duenos

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ilustração do «vaso de Duenos» por Dressel

A inscrição Duenos (CIL I², 4) é um dos primeiros registros escritos do latim. Trata-se de um texto de três linhas inscrito nos lados duma espécie de kernos,[1] obra artesã que neste caso consta de três vasos globulares de terracota ligados.[2] Foi descoberta em 1880 pelo arqueólogo alemão Heinrich Dressel na cidade de Roma.[3] Recebeu o seu nome por conter Duenos[4] como primeira palavra da terça linha – a linha melhor decifrável. De acordo com a datação mais aceitada, a inscrição seria do século VI a.C., por volta de 580 – 550 a.C.

Decifração do texto[editar | editar código-fonte]

Embora seja perfeitamente legível, há múltiplas interpretações das três linhas de texto grafitadas no kernos. Embora haja certo acordo sobre o significado da primeira e da terça linha do texto, continua a haver certo mistério a respeito da segunda.

Segue-se a transcrição de cada uma das três linhas de texto, juntamente com duas interpretações possíveis; nomeadamente, para cada uma das três linhas são indicadas:

a. A transcrição direta
b. A transcrição direta com possíveis mácrons e separação em palavras
c. Uma interpretação especulativa da sua tradução para o latim clássico
d. Uma tradução para o português do latim clássico
e. Uma tradução alternativa[5]

Primeira Linha:

a. IOVESATDEIVOSQOIMEDMITATNEITEDENDOCOSMISVIRCOSIED
b. iouesāt deivos qoi mēd mitāt, nei tēd endō cosmis vircō siēd
c. Iurat deos qui me mittit, ni in te (= erga te) comis virgo sit
d. Quem te envia junto a mim reza aos deuses, se a menina não te for gentil"
e. Jurei pelos deuses que me mandaram. Se uma donzela não sorri nem se dirige a ti.

Segunda Linha:

a. ASTEDNOISIOPETOITESIAIPACARIVOIS
b. as(t) tēd noisi o(p)petoit esiāi pācā riuois
c. at te (...) paca rivis
d. sem ti (...) acalma-a com [este] fluxo[6] [de perfume]
e. suaviza-a com essências.

Terça Linha:

a. DVENOSMEDFECEDENMANOMEINOMDVENOINEMEDMA[L]OSTATOD
b. Duenos[7] mēd fēced en mānōm einom duenōi nē mēd malo(s) statōd
c. Bonus me fecit in manom einom bono, ne me malus (tollito, clepito)
d. [Um homem] bom fez-me fluir ...(?) para um bom fim,[8] o mal não me pegará.
e. "Duenos me fez com a sua mão. A Dueno ...(?) me mal está"

Interpretações do texto íntegro[editar | editar código-fonte]

Uma interpretação dada por Warmington e Eichner dá a tradução completa como se segue, embora não seja com certeza:

Para Eichner é, portanto, uma espécie de advertência a respeito da substância cosmética que fora armazenada nos vasos[9]

Uma interpretação alternativa é:

Todavia, outra mais interpretação alternativa é a seguinte:

Referências

  1. kernos é um receptáculo composto por pequenas xícaras da mesma forma. Eram provavelmente enchidas com frutos e sementes da colheita enquanto a cova no centro era cheia do líquido duma libação, uma lâmpada, etc (ver e.g. [1], [2], [3]). Outro kernos de três vasos, similar ao de Duenos, apareceu na tumba 128 da necrópole do Esquilino (ver p. 126 de "Revue internationale des droits de l'antiquité", Ed. por Office international de librairie, 1996
  2. colados com uma juntura de argila
  3. encontrado no Quirinale. Atualmente o vaso encontra-se em Berlim
  4. que significa «bom» em latim arcaico
  5. «Tirada de». Consultado em 7 de setembro de 2008. Arquivado do original em 16 de junho de 2008 
  6. RIVOIS é interpretado como RIVVS (corrente) em latim clássico, aqui metaforicamente como corrente de perfume (c.f. BALDI, 1999)
  7. "Duenos" é uma antiga forma do latim bonus, "bom", tão como bis (duplo/a) provem do latim antigo, duis. Alguns eruditos interpretam duenos como um nome próprio, em vez dum adjetivo. (c.f p. 163 de "Donum Grammaticum: Studies in Latin and Celtic linguistics in honour of Hannah Rosén" Ed. Peeters Publishers, 2002, ISBN 90-429-1026-7
  8. o significado de manom einom é incerto, porque estas palavras já não se usavam no latim clássico. Há certo consenso linguístico em traduzi-lo para "em bom fim"
  9. c.f. BALDI, 1999, p. 197

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • BALDI, Philip (1999). "The Foundations of Latin: foundations of Latin", pp. 197-200. Walter de Gruyter, Coimbra. [S.l.: s.n.] ISBN 3-11-017208-9 
  • COLONNA, G. Duenos = Studi Etruschi, 47(1979), 163–172.
  • DEGRASSI, A. (1957), Inscriptiones Latinae liberae rei publicae.
  • EICHNER (1988–1990)
  • FLOBERT, P. (1991), L’apport des inscriptions archaïques à notre connaissance du latin prélittéraire, Latomus 50, 521-543.
  • FRASER, A. D. (1932), The inscribed kernos of Duenos, AJPh 53, 213-232.
  • GIERSTAD, E. Early Rome, III, 160–165 = Septentrionalia et Orientalia Studia B. Karlgren…dedicata, Stockholm, 1959, 133–143.
  • GORDON, A. E. (1975), Notes on the Duenos-Vase Inscription in Berlin, CSCA 8, 53-74.
  • KROGMANN, W. Die Duenos-Inschrift, Berlim,1938.
  • PEAKS, The Date of the Duenos Inscription = Transactions and Proceedings of the American Philological Association (TAPhA), 42(1911), 39–41.
  • PROSDOCIMI, A. L. (1979), Studi sul latino arcaico, I, Note (epi)grafiche sull’iscrizione di Dueno, Studi Etruschi 47, 173-183.
  • RIX, H. (1985), Das letzte Wort der Duenos-Inschrift, MSS 46, 193-220.
  • ROMANELLI (1964)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]