Mostrar código-fonte de João Goulart

{{Info/Político
|nome                  = João Goulart
|nome_alt              = Jango
|imagem                = Jango.jpg
|imagem_tamanho        = 220px
|legenda               = Goulart em 1961
|título                = [[Lista de presidentes do Brasil|24.º]] [[Presidente do Brasil]]
|mandato               = [[8 de setembro]] de [[1961]]<br>até [[2 de abril]] de [[1964]]
|vice_título           = [[República Parlamentarista (Brasil)|Primeiro-ministro]]
|vice                  = [[Tancredo Neves]] {{Pequeno|(1961–62)}}<br> [[Francisco de Paula Brochado da Rocha|Brochado da Rocha]] {{Pequeno|(1962)}}<br> [[Hermes Lima]] {{Pequeno|(1962–63)}}
|antes                 = [[Ranieri Mazzilli]]
|depois                = [[Ranieri Mazzilli]]
|título2               = [[Lista de vice-presidentes do Brasil|14.º]] [[Vice-presidente do Brasil]]
|mandato2              = [[31 de janeiro]] de [[1956]]<br>até [[25 de agosto]] de [[1961]]
|vice_título2          = Presidente
|vice2                 = [[Juscelino Kubitschek]] {{Pequeno|(1956–61)}}<br> [[Jânio Quadros]] {{Pequeno|(1961)}}
|antes2                = [[Café Filho]]
|depois2               = [[José Maria Alkmin]]
|título3               = [[Câmara dos Deputados do Brasil|Deputado federal]] pelo [[Rio Grande do Sul]]
|mandato3              = [[23 de fevereiro]] de [[1954]]<br>até [[3 de fevereiro]] de [[1955]]
|vice_título3          = Período
|vice3                 = [[23 de março]] de [[1952]]<br>até [[18 de junho]] de [[1953]]
|mandato4              = [[11 de março]] de [[1951]]<br>até [[25 de março]] de [[1951]]
|título5               = [[Lista de ministros do Trabalho do Brasil|15.º Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio do Brasil]]
|mandato5              = [[18 de junho]] de [[1953]]<br>até [[23 de fevereiro]] de [[1954]]
|vice_título5          = Presidente
|vice5                 = [[Getúlio Vargas]]
|antes5                = [[José de Segadas Viana]]
|depois5               = [[Hugo de Araújo Faria]]
|título6               = [[Partido Trabalhista Brasileiro (1945) | 6° Presidente Nacional do PTB]]
|mandato6              = [[20 de maio]] de [[1952]]<br>até [[19 de maio]] de [[1965]]
|antes6                = [[Dinarte Dornelles]]
|depois6               = [[Lutero Vargas]]
|título7               = Secretário de Estado do Interior e Justiça do Rio Grande do Sul
|mandato7              = [[31 de janeiro]] de [[1951]]<br>até [[23 de março]] de [[1952]]
|vice_título7          = Governador(a)
|vice7                 = [[Ernesto Dornelles]]
|antes7                = [[Oscar Carneiro da Fontoura]]
|depois7               = [[Egídio Michaelsen]]
|título8               = [[Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul|Deputado estadual do Rio Grande do Sul]]
|mandato8              = [[10 de março]] de [[1947]]<br>até [[31 de janeiro]] de [[1951]]
|nome_comp             = João Belchior Marques Goulart
|nascimento_data       = {{dni|1|3|1919|lang=br|si}}
|morte_data            = {{morte|6|12|1976|1|3|1919}}
|nacionalidade         = {{BRAn|o}}
|nascimento_local      = [[São Borja]], [[Rio Grande do Sul]], [[Brasil]]
|morte_local           = [[Mercedes (Corrientes)|Mercedes]], [[Corrientes (província)|Corrientes]], [[Argentina]]
|alma_mater            = [[Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul]]
|cônjuge               = [[Maria Thereza Goulart]] <small>({{tooltip|c.|casamento}} 1955; ({{tooltip|m.|morte}} 1976)</small>
|parentesco            = [[Neusinha Brizola]] (sobrinha)
|Filhos                = [[João Vicente Goulart|João Vicente]] {{Pequeno|(n. 1956)}}<br>Denise<ref name= fsp/> {{Pequeno|(n. 1957)}}<br>Noé da Silveira<ref name= fsp>{{citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/8/13/cotidiano/7.html|titulo=Pelé; Romário; Edmundo; João Goulart|acessodata=20-03-2019|publicado=Folha de S.Paulo|data=13-08-1995|citação=Noé conseguiu, em agosto de 1988, o reconhecimento definitivo de ser, junto com Denize Goulart, herdeiro de Jango. Diz que o ex-presidente teve um relacionamento com sua mãe, uma empregada, quando ainda era adolescente.}}</ref>
|partido               = [[Partido Trabalhista Brasileiro (1945)|PTB]] {{Pequeno|(1945-1965)}}
|profissão             = advogado
|assinatura            = João Goulart signature.svg
}}
'''João Belchior Marques Goulart''' ([[São Borja]], {{dtlink|1|3|1919}}{{nota de rodapé|O ano em que Goulart nasceu é incerto. Algumas fontes afirmam que foi em 1918 enquanto outras mencionam 1919. Conforme o ''Almanaque Abril 2000'', a ''[[Enciclopédia Barsa]]'' e a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul,<ref name=":2"/> o pai de Goulart diminuiu em um ano a data de nascimento do filho para que este pudesse ingressar, ainda com dezesseis anos, na [[Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul|Faculdade de Direito de Porto Alegre]]}} — [[Mercedes (Corrientes)|Mercedes]], {{dtlink|6|12|1976}}),<ref name= FGV/> conhecido popularmente como '''Jango''', foi um [[advogado]] e [[político]] [[brasileiro]], tendo sido o [[Lista de presidentes do Brasil|24.º presidente do Brasil]], de 1961 a 1964, quando foi deposto pelos militares no [[Golpe de Estado no Brasil em 1964|Golpe de Estado de 1964]]. Antes disso, também foi o [[Lista de vice-presidentes do Brasil|14.º vice-presidente do Brasil]], de 1956 a 1961, durante os governos dos presidentes [[Juscelino Kubitschek]] e [[Jânio Quadros]]. Jango foi eleito [[vice-presidente]] com mais votos que o próprio presidente [[Juscelino Kubitschek|JK]],<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=VLpF2CCVlU4C&pg=PA112&lpg=PA112&dq=jango+obteve+mais+votos+jk&source=bl&ots=GeF4mF8qtR&sig=ACfU3U1ChwkLlphKoJoH0Epap_e40qd0hw&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwiWmfnLzIPoAhVVILkGHYuUDKUQ6AEwBHoECAoQAQ|título=Jango: as múltiplas faces|ultimo=Gomes|primeiro=Angela Maria de Castro|ultimo2=Ferreira|primeiro2=Jorge|ano=2007|editora=FGV Editora|isbn=978-85-225-0617-0}}</ref> e se tornou o primeiro político brasileiro a ser reeleito para um segundo mandato consecutivo de um mesmo cargo na esfera do Poder Executivo (no caso, a [[Vice-presidente do Brasil|Vice-Presidência da República]]).

A família de Goulart era de [[ascendência]] [[Açores|açoriana]],<ref name="Origem">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=27}}</ref> sendo ele filho de Vicente Goulart,<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=29}}</ref>{{efn|A obra de Jorge Ferreira nota que outros indícios dizem que sua família veio da França.<ref name=Origem />}} [[estância|estancieiro]] do [[Rio Grande do Sul]] que tinha grande influência na região ― o que ajudou Jango a entrar para a [[política]]. Formou-se em [[Direito]] na [[Universidade Federal do Rio Grande do Sul]] em 1939.<ref name="Direito">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=45}}</ref> Foi deposto pelo [[Golpe Militar de 1964]], liderado pelo alto escalão do [[Exército Brasileiro|Exército]].

As [[Reformas de Base]] propostas por Jango, mas não implementadas, moldaram o Estado brasileiro depois da redemocratização, inspirando a [[Constituição brasileira de 1988]].<ref>{{citar web|url=https://estado.rs.gov.br/jango-foi-pioneiro-da-transformacao-social-do-pais-afirma-tarso-em-sao-borja|titulo=Jango foi pioneiro da transformação social do país, afirma Tarso em São Borja|acessodata=01-03-2018}}</ref>

== Início de vida, família e educação ==
João Goulart nasceu na [[Estância]] de Iguariaçá, no distrito de [[Itacurubi]], em [[São Borja]], [[Rio Grande do Sul]], em 1º de março de 1919.<ref>{{Harvnb|Braga|Souza|Dioni|Bones|2014|p=19}}</ref> Seus pais eram Vicente Rodrigues Goulart, um [[estancieiro]] e coronel da [[Guarda Nacional (Brasil)|Guarda Nacional]] que havia lutado a favor de [[Borges de Medeiros]] na [[Revolução de 1923]], e Vicentina Marques Goulart,<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=28}}</ref> uma [[dona-de-casa]].{{efn|A maioria das fontes indica que seu ano de nascimento é 1918. Isso acontece por causa de uma segunda [[certidão de nascimento]] que o pai do ex-presidente mandou fazer, acrescentando um ano na idade do filho para que ele pudesse ingressar na [[Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul]].<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=37}}</ref>}} João Goulart era o mais velho de nove irmãos. Teve seis irmãs–Eufrides, Maria, Nair, Yolanda,<ref name="Irmãos">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=30}}</ref> Cila e Neusa – e dois irmãos, ambos falecidos prematuramente. Rivadávia morreu de meningite na infância<ref name=Irmãos/> e Ivan,<ref name="ivan">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=33}}</ref> a quem era profundamente ligado, morreu de [[leucemia]] aos 33 anos de idade.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=58}}</ref> Seguindo as crenças da região, sua mãe o vestiu com roupas femininas no primeiro ano de vida.<ref name=Irmãos />

Seu avô materno, Belchior Rodrigues Goulart, descendia de imigrantes [[açorianos]] que chegaram ao Rio Grande do Sul na segunda metade do [[século XVIII]]. No grupo dos primeiros açorianos a se estabelecer no Estado, mais especificamente no [[Rio Grande (Rio Grande do Sul)|Rio Grande]], em 1749, e no [[Viamão|Porto de Viamão]], em 1752, havia, pelo menos, três imigrantes que usavam o sobrenome de origem [[flamengo (povo)|flamenga]] "Govaert". Esse nome provavelmente foi modificado para Goulart.

Em seus primeiros anos de vida, recebeu o apelido "Jango", ou "Janguinho", bastante populares no Sul do Brasil.<ref name=Irmãos/> Depois de passar a infância em Iguariaçá, Jango partiu para [[Itaqui]], município vizinho.<ref name="itaqui">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=32}}</ref> Seu pai decidiu formar uma parceria com Protásio Vargas, irmão de [[Getúlio Vargas]], após arrendarem um pequeno frigorífico de um empresário inglês, localizado nesse município.<ref name=itaqui/> Enquanto Vicente permaneceu à frente do negócio nos dois anos seguintes, os filhos estudaram no Colégio das Irmãs Teresianas.<ref name=itaqui/> Apesar de ser um colégio misto durante o dia, apenas as garotas podiam passar a noite no internato. Então, o menino tinha que dormir na casa de um casal de ingleses, amigos da família.<ref name=itaqui/> Foi em nesta cidade que Jango apaixonou-se pelo futebol e desenvolveu gosto pela natação em um açude localizado no terreno do frigorífico.<ref name=":2">{{Harvnb|Braga|Souza|Dioni|Bones|2014|p=20}}</ref>

Após retornar a São Borja, com o fim da sociedade no frigorífico, Vicente decidiu matricular o pequeno Jango no Ginásio Santana, escola dos [[Marista|Irmãos Maristas]], em [[Uruguaiana]]. O menino cursou as quatro primeiras séries no internato, mas foi reprovado no final de 1931.<ref name=":2" /> Desapontado pelo desempenho insatisfatório do filho naquela escola, Vicente enviou-o para estudar no [[Colégio Anchieta (Porto Alegre)|Colégio Anchieta]], de [[Porto Alegre]].<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=35}}</ref> Embora esta fosse sua primeira vez na capital do Rio Grande do Sul, Jango não passou por problemas de adaptação. Foi morar numa pensão na companhia dos amigos Almir Palmeiro e Abadé dos Santos Ayub, que também era de São Borja.<ref name=":2" />

Conhecedores das habilidades excepcionais de Jango em partidas de futebol da escola, em que atuava na posição de [[lateral-direito]], Almir e Abadé o convenceram a fazer um teste para o time infanto-juvenil do [[Sport Club Internacional]].<ref name=":2" /> Jango foi selecionado e passou a conciliar os períodos de aula no Colégio Anchieta com os treinos e jogos desse time. Em 1932, foi campeão estadual na categoria infanto-juvenil. O centroavante da equipe juvenil, Salvador Arísio, relatou que João Goulart era "um guri excepcional, meio fechado e muito, muito bom". Apesar de ser originário de uma família rica, ele nunca usou a influência do pai para conseguir qualquer coisa dentro do clube, segundo Arízio.<ref name=":3">{{Harvnb|Braga|Souza|Dioni|Bones|2014|p=21}}</ref>

Ainda em 1932, o menino completou a terceira série no Colégio Anchieta, com desempenho insatisfatório, o que se repetiu quando estudou na Faculdade de Direito. Após retornar para Uruguaiana, concluiu o [[ensino médio]] no Ginásio Santana.<ref name=":3" /> Enviado a Porto Alegre, Jango cursou a [[Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul|Faculdade de Direito]] da [[Universidade Federal do Rio Grande do Sul|UFRGS]], para satisfazer os desejos do pai, que queria ver seu primogênito com um diploma de [[ensino superior]].<ref name=Direito/> Lá, ele restabeleceu contato com os amigos de infância Ayub e Arísio, e consolidou novas amizades por meio de incursões na vida noturna da capital. Foi durante este período de intensa boemia que o contraiu uma [[doença venérea]], como a [[sifilis]], que paralisou seu joelho esquerdo quase completamente.<ref name="Doença">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=39}}</ref> Mesmo após caros tratamentos médicos, incluindo uma cirurgia em [[São Paulo]],<ref name=Doença/> ele perdeu a esperança de andar normalmente de novo. Por causa dessa paralisia, Jango formou-se separadamente do resto de sua turma, em 1939.<ref name=Sep/> Ele nunca atuou no ramo do [[Direito]].<ref name=Direito/>

Como empresário, ele construiu sua fortuna entre 1941 e 1945, fazendo empréstimos no Banco Nacional de Comércio, Banco do Rio Grande do Sul e Banco do Brasil, usando como garantia todo o gado que tinha.<ref name="Empr">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=46}}</ref> Com isso ele chegou a gerar uma fortuna em gado, nos valores de 1946, de US$ {{Fmtn|506 630,00}}.<ref name=Empr /> Apesar de ascender até essa posição, ele era um homem afável com seus empregados<ref name=Empr /> e humilde com os necessitados,<ref name="Doença"/> além de não aceitar qualquer espécie de discriminação.<ref name=Comigo />

== Carreira política ==
João Goulart voltou a São Borja. Seu abatimento por causa do problema na perna era visível, de acordo com Yolanda Goulart.<ref name=Sep/> Ele afastou-se do resto da cidade e passou a viver recluso no interior do município,<ref name=Doença/> na Estância de Iguariaçá. Jango arrumou novos amigos entre os peões da estância<ref name="Sep">{{Harvnb|Braga|Souza|Dioni|Bones|2014|p=25}}</ref> e logo voltou a frequentar a cidade, assumindo publicamente seu problema físico ao desfilar na Ala dos Rengos, do bloco carnavalesco Comigo Ninguém Pode.<ref name="Comigo">{{Harvnb|Braga|Souza|Dioni|Bones|2014|p=26}}</ref>

=== Começo no PTB ===
Vicente Goulart morreu em 1943, deixando ao filho mais velho a responsabilidade de cuidar de suas propriedades rurais.<ref name=ivan/> O jovem tornou-se um dos estancieiros mais influentes da região antes dos 30 anos.<ref name=Empr/> Após a renúncia de Getúlio Vargas, amigo íntimo de seu pai, em outubro de 1945, Jango escolheu a carreira política.<ref>{{Harvnb|Braga|Souza|Dioni|Bones|2014|p=27}}</ref>

O primeiro convite que ele recebeu para filiar-se a um [[partido político]] foi o de Protásio Vargas, responsável por organizar o [[Partido Social Democrático (1945-2003)|Partido Social Democrático]] (PSD) em São Borja.<ref name="part">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=55}}</ref> Protásio percebeu que Goulart poderia ter sucesso na carreira política, mas o jovem recusou o convite por intervenção de Getúlio.<ref name=part/> Alguns meses depois, entretanto, Jango aceita o convite de Getúlio para entrar no [[Partido Trabalhista Brasileiro (1945)|Partido Trabalhista Brasileiro]] (PTB).<ref name=part/> Foi o primeiro presidente do PTB local<ref name=part/> e, mais tarde, tornar-se-ia presidente do PTB estadual e nacional.<ref>{{Harvnb|Braga|Souza|Dioni|2014|p=28}}</ref>

Em 1947 Getúlio convenceu-o a concorrer a um assento na [[Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul|Assembleia Legislativa]].<ref name="resultado">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=57}}</ref> Foi eleito com {{Fmtn|4150}} votos, tornando-se o quinto candidato mais votado, à frente de seu futuro cunhado [[Leonel Brizola]], outra estrela em ascensão do PTB.<ref name=resultado/> Jango não era um membro ativo da instituição,<ref name=resultado/> só discursando uma única vez em defesa dos interesses dos pequenos criadores de gado em São Borja.<ref name=resultado/> Ele virou confidente e protegido de Vargas,<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=52}}</ref> insistindo para que este concorresse às [[eleição presidencial brasileira de 1950|eleições presidenciais de 1950]].<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=61}}</ref>

Em 18 de abril de 1950{{efn|De forma não oficial, Goulart havia anunciado a candidatura de Getúlio no dia 19 de abril de 1949.<ref>{{Harvnb|Braga|Souza|Dioni|Bones|2014|p=29}}</ref>}} Goulart anunciou a candidatura do amigo<ref name="gcand">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=65}}</ref> e no dia seguinte Getúlio comemorou os seus 67 anos na Granja São Vicente.<ref name=gcand/> Jango também foi eleito para a [[Câmara dos Deputados do Brasil|Câmara dos Deputados]], com {{fmtn|39832 votos}},<ref name="result1">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=68}}</ref> tornando-se o segundo candidato mais votado do PTB no Rio Grande do Sul. Assumiu o cargo de deputado federal em fevereiro de 1951, mas licenciou-se do mandato para exercer o cargo de Secretário de Estado de Interior e Justiça, na gestão de [[Ernesto Dorneles]], primo de Getúlio.<ref name= FGV>{{citar web|url=http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/joao-belchior-marques-goulart|titulo=João Belchior Marques Goulart|acessodata=14-04-2018|publicado=FGV CPDOC|wayb=20180414232731}}</ref> Durante o período em que foi secretário, até 7 de março de 1952, ele se comprometeu com a reestruturação do sistema carcerário e possível melhoria das condições de vida dos presos.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=73}}</ref> Mais tarde, ele renunciou a esse cargo a pedido de Vargas, que precisava de ajuda para resolver um impasse político no [[Ministério do Trabalho e Emprego|Ministério do Trabalho]].<ref name="ind">{{Harvnb|Ferreira|2011|pp=79-80}}</ref> O ex-deputado usou sua influência no movimento sindical.<ref name=ind/>

=== O Caso dos Pinhos ===
Em 1954, fora iniciada uma investigação para apurar o financiamento ilegal da campanha presidencial de Getúlio Vargas de 1950. A acusação era de dinheiro vindo da Argentina, à época governada pelo General [[Juan Domingo Perón]]. O interlocutor das tratativas com Perón, segundo documentos publicados nos jornais, era João Goulart, homem da confiança de Getúlio e que concorreu e se elegeu como deputado federal pelo PTB naquele mesmo pleito, tendo posteriormente sido indicado à pasta do Ministério do Trabalho.<ref>{{citar periódico|titulo=JANGO RECEBEU DINHEIRO DE PERÓN PARA A ELEIÇÃO DE GETÚLIO VARGAS|jornal=Tribuna da Imprensa|url=http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=154083_01&PagFis=29884|data=16/08/1956|local=Rio de janeiro}}</ref>

A interferência de Perón no governo brasileiro já havia sido denunciada pelo Ministro das Relações Exteriores de Vargas, o sr. [[João Neves da Fontoura]], em 1954. Denúncia que deu ensejo a uma crise naquele governo e que culminou no [[Morte de Getúlio Vargas|suicídio de Getúlio]].<ref>{{citar periódico|titulo=TENTOU O SR. GETÚLIO ENTREGAR-NOS AO GENERAL PERÓN|jornal=Diário de Notícias|url=http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=093718_03&PagFis=31410|data=04/04/1954|local=Rio de Janeiro}}</ref>

A internalização do suposto dinheiro usado para financiar os petebistas Vargas e Jango se deu por meio da exportação de "toras de pinho". Perón havia criado uma série de estatais em 1947 que detinham o monopólio de quase toda a atividade econômica no país. Uma dessas empresas, a CIFEN (Comercial, Inmobiliaria y Financiera E. N.) era a responsável pelo comércio de madeira. Perón ordenou que se pagasse um preço supervalorizado dos carregamentos de pinho provenientes do Brasil e ainda autorizava o pagamento de comissões de corretagem a uma empresa na qual João Goulart era sócio, a Vale do Uruguai Ltda., com sede em São Borja-RS.<ref>{{citar periódico|titulo=CONFIRMA O DEPUTADO BALEEIRO AS INFORMAÇÕES SOBRE O SR. RONCHETTI|jornal=Diário de Notícias|url=http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=093718_03&PagFis=54007|data=28/09/1956|local=Rio de Janeiro}}</ref>

=== Ministro do Trabalho ===
Em 1953, com o agravamento desse impasse, Vargas nomeia Jango o novo Ministro do Trabalho.<ref name=ind/> A gestão estava numa profunda crise.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=85}}</ref> Insatisfeitos com os baixos salários,<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|pp=112-113}}</ref> os trabalhadores convocavam greves,<ref name="Não-nomeado-xXfP-1">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=86}}</ref> e, ao lado da classe média e da [[União Democrática Nacional]] (UDN), faziam forte oposição ao governo.<ref name="Não-nomeado-xXfP-2">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=104}}</ref>

Assim que assumiu, Goulart teve que responder às críticas de vários jornais, incluindo o ''[[The New York Times|New York Times]],'' que o acusou de manipular o movimento sindical aos moldes do [[peronismo]].<ref>{{Harvnb|Braga|Souza|Dioni|Bones|2014|p=47}}</ref> Como Ministro do Trabalho, ele convocou o 1º Congresso Brasileiro de Previdência Social<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=90}}</ref> e assinou uma série de decretos em favor da previdência, tais como o financiamento de casas, a regulação de empréstimos pelo [[Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários]] (IAPB) e o reconhecimento dos funcionários do Conselho Fiscal do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários.<ref>{{Harvnb|Braga|Souza|Dioni|Bones|2014|pp=47-48}}</ref>

Em seu tempo no ministério, como testemunhado por [[Hugo de Araújo Faria|Hugo de Faria]], João Goulart estava disposto a desgastar o seu prestígio com o ministro da Fazenda na defesa da classe trabalhadora.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=93}}</ref> Goulart era capaz de tirar dinheiro do próprio bolso para ajudar quem pedisse ajuda, mas era "meio pão-duro" com o dinheiro público, como dito por seu "ministro-administrativo, Hugo de Faria.<ref name="MinA">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=96}}</ref> Goulart preferia se relacionar com as classes populares<ref name=MinA /> e elegia Hugo de Faria a participar das formalidades em seu lugar - Hugo o considerava um dos homens de "mais paciência do mundo" no seu trato com o público<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=95}}</ref> e de acordo com o historiador Jorge Ferreira: "O ministro logo tornou-se conhecido pela maneira sincera de não discriminar pessoas".<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=97}}</ref>

A forma como ele recebia "trabalhadores, sindicalistas e pessoas comuns" em seu gabinete chocou os setores civis e militares conservadores, em algo que misturava tanto preconceito de classe e de etnia.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=98}}</ref> Como ministro, também optava por negociações entre grevistas e patrões, em vez de métodos repressivos.<ref name="Não-nomeado-xXfP-1"/> Em resposta a acusação de que se oporia ao regime capitalista, ele dizia que sempre esteve disposto a aplaudir os capitalistas que investiam nos meios de produção e que legalmente, "criavam riquezas num sentido social, humano e patriótico", mas que era contra o "capitalismo parasitário, especulativo, exorbitante e imediatista no lucro".<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|pp=110 e 137}}</ref>

Em fins de 1953, Jango começou a estudar um aumento no [[salário mínimo|salário-mínimo]],<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=113}}</ref> enfrentando dois tipos de pressão: a mobilização dos trabalhadores nas grandes cidades a favor de um reajuste de 100% e a rejeição dos empresários desde o [[Governo Eurico Gaspar Dutra|Governo Eurico Dutra]], que contribuiria para o empobrecimento de vários segmentos da sociedade brasileira. As entidades empresariais concordavam com um aumento de 42%, no mínimo, uma medida que, segundo elas, igualaria os custos de vida aos de 1951. No [[Dia do Trabalhador]], Vargas assinou o decreto do novo salário-mínimo, aumentado em 100%, como exigia a classe trabalhadora.<ref>{{citar web|url=http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FPolitica%2Fodio-ao-PT-%2F4%2F33042|título=Ódio ao PT?|data=11/03/2015|obra=Carta Maior|wayb=20150315155513|urlmorta=sim}}</ref>

No dia 22 de fevereiro de 1954, João Goulart entregou sua carta de demissão ao presidente Getúlio Vargas.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=117}}</ref>{{efn|Mesmo com a sua demissão, os trabalhadores e o movimento sindical ainda realizaram ações, como abaixo-assinado dos sindicalistas no dia 1 de maio de 1954, defendendo seu retorno.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=120}}</ref>}} Depois do suicídio de Vargas e de assumir a presidência nacional do PTB, ele foi considerado o principal nome [[trabalhismo|trabalhista]] do país.<ref name="Não-nomeado-xXfP-2"/>

===Entre Vargas e a Vice-Presidência===
====Decisão de continuar====
Após o [[Morte de Getúlio Vargas|suicídio de Vargas]], de quem recebeu uma cópia da [[Carta-testamento de Getúlio Vargas|Carta Testamento]],<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=133}}</ref> Jango Ficou muito deprimido, pensou em se afastar da política e, de acordo com Maria Thereza, demorou dois meses para recuperar-se do choque, após recolher-se em sua estância em São Borja e cuidar dos negócios.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=134}}</ref> No enterro de Vargas, Goulart declarou que "Nós, dentro da ordem e da lei, saberemos lutar com patriotismo e dignidade, inspirados no exemplo que nos legaste".<ref>{{Harvnb|Braga|Souza|Dioni|Bones|2014|p=51}}</ref>

Jango decidiu continuar na política após receber uma carta de [[Oswaldo Aranha]], entregue por [[Leonel Brizola]] e [[José Gomes Talarico]].<ref name="OLJ">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=135}}</ref> Em outubro, Jango participou das eleições legislativas, mas foi derrotado.<ref name=OLJ/>

Após o suicídio de Vargas, uma nova geração passa a fazer o PTB crescer.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|pp=136-137}}</ref> Esta geração liderada por Goulart tornou o PTB num partido de "feições reformistas", num sentido que veio a radicalizar-se até 1964.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=138}}</ref>

Para ter poder como Presidente do PTB, Jango passou a concentrar no Diretório Nacional pessoas leais a si, assim transformando o PTB num dos partidos "mais antidemocráticos e centralizados no quadro político brasileiro", nas palavras do historiador Jorge Ferreira.<ref name="PodePTB">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=139}}</ref> Porém, Goulart ajudou que o partido tivesse um perfil político e ideológico mais consistente.<ref name=PodePTB/> Jango e o PTB também reinventaram o trabalhismo para o contexto de sua geração, mais preocupada com causas sociais.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|pp=140-143}}</ref>

====Eleições de 1955 e casamento====
{{AP|Eleição presidencial no Brasil em 1955}}
[[Imagem:Rv-joão-goulart-tereza-cruzeiro25fev1956.jpg|thumb|left|200px|Goulart e Maria Thereza em 1956]]
[[Ficheiro:Cédula presidencial brasileira de 1955.png|thumb|200px|right|Primeira cédula eleitoral oficial, com candidatos a presidente e vice]]
Disposto a realizar eleições em outubro de 1955, o presidente [[Café Filho]] procurou apresentar, após sugestão militar, um candidato de "união nacional".<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=145}}</ref> Em resposta à grupos conservadores, o [[Partido Social Democrático (1945)|PSD]] lançou [[Juscelino Kubitschek]] como candidato à Presidência.<ref name="JKcand">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=146}}</ref> Jango foi lançado como candidato à Vice-Presidência, o que causou polêmica em grupos conservadores como as Forças Armadas, sentimento que aumentou após apoio de [[Luis Carlos Prestes]].<ref name=JKcand/><ref>{{Harvnb|Braga|Souza|Dioni|Bones|2014|p=55}}</ref>

Em abril de 1955 o acordo partidário foi selado.<ref name="AcPsPTB">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=147}}</ref> Dentro do PTB havia descontentes devido ao controle que Goulart exercia e o medo de que a chapa provocasse um golpe militar, mas Jango foi bem-sucedido no diálogo entre partidos, fazendo coisas como exigir cargos federais para setores do PTB.<ref name=AcPsPTB/>

Na tentativa de afastar Juscelino, o presidente [[Café Filho]] disse-lhe para desistir da candidatura, ou haveria um golpe militar—o que JK recusou.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=148}}</ref> Círculos civis e militares pregavam o golpe.<ref name="CriJJK">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=149}}</ref> Grande parte da mídia do Rio de Janeiro se posicionou pela legalidade e o Ministro da Guerra, General [[Henrique Teixeira Lott]], procurou afastar as Forças Armadas da crise.<ref name=CriJJK/> Oficiais do Exército falavam abertamente sobre golpes na ''Tribuna da Imprensa'',<ref name="FAAjud">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=150}}</ref> enquanto a Aeronáutica passou a ajudar Juscelino e Jango com a campanha.<ref name=FAAjud/>

Pela impossibilidade de vir a assumir o cargo enquanto solteiro, Jango precisava-se casar-se. Porém, [[Maria Thereza Goulart|Maria Thereza]], então com 17 anos, sentia-se insegura e demorou um pouco para aceitar a ideia, que já estava arranjada.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|pp=151-152}}</ref> A cerimônia no civil ocorreu no dia 14 de maio de 1955, mas foi por procuração, pois uma tempestade impediu que o avião de Jango chegasse.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=153}}</ref> Quatro dias depois ocorreu o casamento no religioso, seguido por uma lua-de-mel curta, devido a campanha.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=154}}</ref>

A sociedade civil passou a posicionar-se contra declarações de golpe.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=155}}</ref> Carlos Lacerda, no Congresso Nacional, denunciou que Jango estaria estocando armas, mas uma investigação mostrou que as armas foram roubadas por um oficial do Exército e repassadas para Lacerda.<ref name="JKeleito">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=157}}</ref>{{efn|Noutro episódio na mesma época, a "Carta Brandi" supostamente evidenciava que Jango estaria contrabandeando armas pela fronteira com a Argentina.<ref name=CBr>{{Harvnb|Ferreira|2011|pp=156-157}}</ref> O presidente da Comissão Militar do Inquérito [[Emílio Maurell Filho]] concluiu que a assinatura de [[Antonio Brandi]] havia sido falsificada grosseiramente<ref name=CBr/> e dois dias antes o responsável pela falsificação havia sido preso em [[Rio Grande do Sul]], alegando que havia sido coagido por Carlos Lacerda.<ref name=EuclZ/>}} Apesar das manifestações contra, JK foi eleito com 37% dos votos no dia 3 de outubro,<ref name=JKeleito/> e Jango foi eleito com mais de 500 mil votos que seu companheiro de chapa.<ref name="JJkre">{{Harvnb|Braga|Souza|Dioni|Bones|2014|p=57}}</ref> A [[União Democrática Nacional|UDN]] passou a lutar contra a posse.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=158}}</ref>

====Lott vs Luz====
{{AP|Movimento de 11 de Novembro}}
[[File:Histórias do Brasil - Dois impeachments em apenas dez dias.webm|right|thumb|Vídeo da [[TV Senado]] sobre o evento]]
Com oficiais das Forças Armadas favoráveis a um rompimento institucional, o general [[Euclides Zenóbio da Costa]] lançou uma declaração em torno da legalidade em torno do general Henrique Teixeira Lott.<ref name="EuclZ">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=159}}</ref> Porém, seguindo a disciplina, Lott puniu Euclides por este ato.<ref name="Pu">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=160}}</ref>

Em novembro de 1955,<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=165}}</ref> o presidente Café Filho, devido a uma crise cardíaca, é substituído por [[Carlos Luz]], que era próximo de grupos conservadores interessados no golpe.<ref name=Pu/>

Oficiais a favor do golpe assumem as Forças Armadas e Lott junta-se com militares legalistas num contra-golpe, onde esperavam não ocorrer derramamento de sangue, contra Carlos Luz.<ref name=Luz/>{{efn|No funeral de [[Canrobert Pereira da Costa]], o Coronel [[Jurandir Bizarria Mamede]] fez um discurso "desafiador da hierarquia e disciplina militar".<ref name="Pu"/> Quando o recém empossado presidente Luz decidiu contra a punição, Lott pediu sua exoneração.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=161}}</ref>}} Carlos Luz tem seu "impedimento" realizado pela Câmara dos Deputados, assim assumindo [[Nereu Ramos]].<ref name="Luz">{{Harvnb|Ferreira|2011|pp=161-162}}</ref> Carlos Luz e outras 11 pessoas foram então para [[Santos]] no cruzador [[C Tamandaré (C-12)|Tamandaré]], com o objetivo de lá, estabelecer o governo.<ref name=Luz/> Quando Nereu foi efetivado, Carlos Cruz não conseguiu apoio do [[Governador de São Paulo]] [[Jânio Quadros]] e ao perceber que as lideranças de grupos do Exército eram legalistas, encerrou a tentativa de golpe.<ref name="Luzimp">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=163}}</ref>

Não houve punições e Carlos Luz teve seu [[Impeachment de Carlos Luz|impedimento votado]].<ref name=Luzimp/> Com o contra-golpe bem-sucedido, Lott ganhou muito prestígio.<ref name=Luzimp/>

Após sair do hospital, Café Filho tenta retornar à Presidência,<ref name=Luzimp/> mas tem seu [[Impeachment de Café Filho|impedimento]] votado pelo Congresso, que também votou pela duração de um mês do [[Estado de sítio no Brasil|estado de sítio]], até que Juscelino e Goulart tomassem posse no dia 31 de janeiro de 1956.<ref name="FdN">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=164}}</ref>

== Vice-presidência ==

====JK—Jango====
{{AP|Governo Juscelino Kubitschek}}
[[Imagem:Posse de Juscelino Kubitschek como Presidente da República e de João Goulart como Vice.tif|left|thumb|Posse de [[Juscelino Kubitschek]] como Presidente da República e de João Goulart como Vice. Janeiro de 1956. [[Arquivo Nacional]]|285x285px]]
Na [[Posse de Juscelino Kubitschek|cerimônia de posse]], após receber a faixa e saudar o povo, [[Juscelino Kubitschek|JK]] mandou abrir os portões.<ref name="InauJK">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=177}}</ref> Jango e Juscelino tinham um tato parecido no contato com o povo humilde,<ref name=InauJK/> mas de início Juscelino, com ciúmes do resultado eleitoral de Jango, tentou isolá-lo politicamente.<ref name="JJKE">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=178}}</ref> mas voltou atrás, e como Hugo de Faria falou, Jango não queria concorrer à presidência.<ref name=JJKE/> Goulart não permitia que falassem de Juscelino com falta de respeito.<ref name=JJKE/>

Pela capacidade de negociar com o movimento sindical, Jango foi em grande parte responsável pela estabilidade política do Governo JK.<ref name="SindCont">{{Harvnb|Ferreira|2011|pp=174-175}}</ref> Porém, devido a esse contato, grupos conservadores o acusavam de "fomentador de greves".<ref name=SindCont/> Apesar disso, Jango atuou como negociador e apoiador do governo Juscelino na área sindical.<ref name=SindCont/> João Goulart costumava receber líderes sindicalistas em sua casa para reuniões, o que também representava uma união entre comunistas e trabalhistas pelos trabalhadores.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=176}}</ref>

Como Vice-Presidente, João Goulart também era [[Lista de presidentes do Senado Federal do Brasil#República (1889–presente)|Presidente]] do [[Senado Federal do Brasil]], de acordo com a [[Constituição de 1946]].<ref name=InauJK/><ref>{{citar web|url=https://www25.senado.leg.br/web/senadores/pos-1930|título=Pós-1930|website=Senado Federal}}</ref>

No Governo JK, o [[PTB (1945)|PTB]] ocupou os ministérios do [[Ministério do Trabalho (Brasil)|Trabalho]], [[Ministério da Agricultura (Brasil)|Agricultura]] e Jango indicou o primeiro escalão da [[Previdência Social]].<ref name="Debate1956">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=180}}</ref>

Como resultado do [[Movimento de 11 de Novembro|contra-golpe]], em março de 1956 foi fundada, pelo coronel Canabarro Lucas, a ''Frente de Novembro'', com militares legalistas, nacionalistas e de esquerda, liderados por Lott (anticomunista declarado) e tendo o Vice-Presidente João Goulart como "Presidente de Honra".<ref name=FdN/> O grupo passou a rivalizar com grupos de direita.<ref name=FdN/>
[[Ficheiro:Visita_vice-presidencial_aos_Estados_Unidos.jpg|alt=|miniaturadaimagem|220x220px|Maria Thereza, Jango, [[Pat Nixon]], [[Richard Nixon]] e João Carlos Muniz, em 1956]]
Em abril de 1956, Jango foi aos EUA, retribuindo a visita de [[Richard Nixon]], onde também debateu o tema do comunismo o qual, em sua visão, era um assunto de preocupação interna do Brasil,<ref name=Debate1956/> enquanto para os Estados Unidos este era um problema que lhes dizia respeito tanto na área diplomática quanto militar.<ref name="Viag56">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=181}}</ref> Após sua visita aos Estados Unidos, ele foi, com sua esposa, ao Canadá e de forma não oficial, para a Europa, México e Uruguai.<ref name=Viag56/> Ocorreu uma tentativa de golpe militar duas semanas após a posse.<ref name="Ju56">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=182}}</ref> Em julho de 1956, assumiu interinamente a Presidência da República devido a uma viagem de Juscelino ao Panamá e saiu dessa posição com seu retorno no dia 27.<ref name=Ju56/> Lacerda expôs outra denúncia contra Jango,<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=183}}</ref> que não deu em nada.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=184}}</ref>

Economicamente Jango era a favor de evitar a dependência dos EUA no comércio exterior.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=187}}</ref> Dentro do PTB, diversos membros foram expulsos devido às críticas.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=188}}</ref> Devido a precariedade funcional, subalternos das Forças Armadas passaram a aproximar-se do trabalhismo.<ref name="FAtr">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=190}}</ref> Apesar da oficialidade conservadora,<ref name=FAtr/> haviam oficiais nacionalistas e em 1956, os sargentos conseguiram sua estabilidade.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=191}}</ref> Apesar de estar no poder, o PTB agia como oposição, fazendo críticas abertas ao governo.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|pp=192, 201}}</ref>
[[Imagem:Maria Thereza Goulart, 1963.jpg|thumb|left|200px|Maria Thereza Goulart]]
Durante esta época nasceram [[João Goulart Filho|João Vicente]] e Denise.<ref name= fsp/><ref name="protGVi">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=192}}</ref> Apesar de sua posição, Goulart não tinha guarda-costas.<ref name=protGVi/> Em contraste com suas visões progressistas no campo político, na vida privada ele era um homem tradicional, principalmente na [[Papel social de gênero|dinâmica entre marido e esposa]], fazendo com que Maria Thereza tenha de impor-se.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=193}}</ref> Porém, com o nascimento dos filhos, ele tornou-se um pai participativo e amoroso, além de mudar sua relação com Maria Thereza, que de acordo com ela, foi quando ele assumiu o papel de marido.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=195}}</ref> Porém, Jango teve diversos casos extraconjugais.<ref>{{citar web|url=https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/amantes-exilio-e-ciumes-a-agitada-vida-privada-de-joao-goulart.phtml|título=Amantes, exílio e ciúmes: a agitada vida privada de João Goulart|data=2020-06-21|acessodata=2021-01-06|wayb=20201028121421|urlmorta=não}}</ref>

Um ano após o [[Movimento de 11 de Novembro|golpe preventivo]], Jango participou das homenagens ao General Lott, que recebeu uma espada de ouro.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|pp=196-198}}</ref> Ao não permitir que outros oficiais realizassem declarações políticas, Lott causou uma crise que terminou com Juscelino colocando na ilegalidade tanto a ''Frente de Novembro'' e o ''Clube da Lanterna''.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=199}}</ref>

Em 1959, foram reatadas as relações comerciais com a [[URSS]], devido a expansão do café africano.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=200}}</ref>

Ao final do governo, a economia ficou instável<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=202}}</ref> e na dificuldade da implantação de medidas que ajudariam os setores mais pobres da população, Jango passou a acreditar que a [[Constituição de 1946]] havia deixado de representar a realidade social.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=203}}</ref>

No mesmo ano, eram iniciadas as discussões sobre as candidaturas para as [[Eleição presidencial no Brasil em 1960|próximas eleições]].<ref name="JuMa">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=205}}</ref> Juscelino planejava lançar [[Juracy Magalhães]] como candidato, planejando retornar após cinco anos,<ref name=JuMa/> mas foi frustrado no dia 5 de maio com o lançamento da candidatura de [[Jânio Quadros]].<ref name="Cand60">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=206}}</ref>

Em fevereiro de 1959,<ref name=Cand60/> foi lançada a candidatura de Lott.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=207}}</ref> Jango considerava esta como sendo uma candidatura fraca.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=208}}</ref> Porém, em fevereiro de 1960, o PTB homologou a candidatura do Marechal Lott, tendo Jango como Vice-Presidente.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=209}}</ref> Para a pesquisadora Maria Celina D'Araujo, o PTB "buscava a democracia militarizada, através da aliança de quartéis, sindicato e partido...".<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=210}}</ref>

Pela fraqueza eleitoral de Lott, apareceu a chapa informal "''Jan-Jan''", ou "Jânio-Jango".<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=211}}</ref> Devido a ameaças de Jânio de desistir da candidatura e boatos de que Brizola daria um golpe de estado, a [[Força Aérea Brasileira|FAB]] tentou investir contra as instituições no episódio conhecido como "Aragarças", que não obteve adesões e os oficiais saíram em exílio ao exterior.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=212}}</ref>

Como esperado, a chapa "Jan-Jan" saiu vencedora.<ref name="JanJanR">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=213}}</ref>

=== Jan-Jan ===
{{VT|Período_Populista#Governo_Jânio_Quadros_(1961)}}
Jânio herdou um país falido e na cerimônia de posse, com seu formalismo, tratou de marcar sua distância do vice.<ref name="GovQua">{{Harvnb|Ferreira|2011|pp=219-220}}</ref> Jânio criou um ministério conservador composto de militares, fez proibições morais - como proibir o uso de [[biquíni]]s na televisão - e na política externa procurou ser independente, o que causou a simpatia da esquerda.<ref name=GovQua/>

Em comissões iniciadas para "punir atos de corrupção e desvio de dinheiro público", Jango foi atingido por investigações que o apontavam como beneficiário de propaganda eleitoral e teve sua resposta negada pelo presidente.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|pp=221-222}}</ref>

O PTB veio assumir o seu lado de oposição e de esquerda, também se aproximando do [[Partido Comunista - Seção Brasileira da Internacional Comunista|PCB]] e devido a críticas na direita e esquerda, junto da insatisfação com os inquéritos, Jânio foi ficando cada vez mais isolado no [[Congresso Nacional do Brasil|Congresso Nacional]].<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=223}}</ref> A família Goulart veio a morar na [[Granja do Torto]] na recém inaugurada, mas ainda incompleta, [[Brasília]].<ref name="VisCh">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=224}}</ref> Em dezembro de 1960, acompanhado por seu assessor, jornalista [[Raul Riff]], visitou a [[Tchecoslováquia]].<ref>{{Citar periódico|autor=Matyáš Pelant|url=http://www.cejiss.org/static/data/uploaded/138882817524746/Article%2006.pdf|título=Czechoslovakia and Brazil 1945-1989. Diplomats, Businessmen, Spies and  Guerrilheiros|revista=Jornal de Estudos Internacionais e de Segurança da Europa Central|publicado=Central European Journal of International and Security Studies|página=120|acessodata=04/03/2018|wayb=20180305063008|urlmorta=sim}}</ref> A [[StB]] ([[Serviço de inteligência|inteligência]] tcheca) manteve-se detalhadamente informada sobre seu governo.<ref>{{citar web|url=http://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-a-espionagem-comunista-se-infiltrou-no-governo-de-dois-ex-presidentes-brasileiros-e73p4i3scc55a8th9ycmz2a52|título=Como a espionagem comunista se infiltrou no governo de dois ex-presidentes brasileiros|autor=Tiago Cordeiro|data=21-12-2017|publicado=Gazeta do Povo|acessodata=04/03/2018}}</ref>

=== Visita a China ===
Apesar das reservas, Jango aceitou o convite do [[Ministério das Relações Exteriores (Brasil)|Ministro das Relações Exteriores]], [[Afonso Arinos de Melo Franco (sobrinho)|Afonso Arinos]]{{efn|[[José Ermírio de Moraes]] foi a primeira opção, mas recusou.<ref name=VisCh/>}} para chefiar uma missão comercial na [[China]] em julho de 1961.<ref name=VisCh/> Em escala na URSS, Goulart foi recebido com honras de Chefe de Estado por [[Nikita Khrushchov]], onde também conheceu o [[cosmonauta]] [[Gherman Titov]], que acabara de realizar a missão [[Vostok II]]<ref name="AmizC">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=225}}</ref> e [[Yuri Gagarin]].<ref>{{citar periódico|último=Caterina|primeiro=Gianfranco|data=09-03-2020|título=Gagarin in Brazil: reassessing the terms of the Cold War domestic political debate in 1961|títulotrad=Gagarin no Brasil: reavaliando os termos do debate político interno da Guerra Fria em 1961|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292020000100203&tlng=en#fn11|língua=en|periódico=Revista Brasileira de Política Internacional|volume=63|número=1|páginas=16|doi=10.1590/0034-7329202000104|acessodata=2021-01-07|wayb=20200329203849|urlmorta=não|issn = 0034-7329}}</ref>

Em [[Pequim]], entre outras coisas, Jango falou "pelo aumento diário da amizade entre os povos brasileiros e chineses".<ref name=AmizC/> De acordo com Evandro Lins e Silva, ao falar pela amizade dos dois povos, o "Ocidente viu como uma declaração de apoio ao comunismo".<ref name="FimP">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=226}}</ref>

Em seu último dia na capital, [[Mao Tsé-Tung]] o visitou no Hotel Pequim para despedir-se, um ato inédito.<ref name=FimP/> Nesse período de tempo, Jango sofreu uma indisposição cardiovascular.<ref name=FimP/> No dia 24 de agosto, a mídia brasileira publicou uma carta de Goulart para o presidente Quadros em que anunciava o sucesso da missão na China.<ref name=FimP/> No dia seguinte, [[Carta Renúncia de Jânio Quadros|Jânio havia renunciado]].<ref name="RenQ">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=227}}</ref>

=== Renúncia de Jânio Quadros ===
Jânio renunciou esperando que seu vice, que tinha alinhamento com a esquerda, não fosse aceito e com isso ele continuaria no poder.<ref name=RenQ/> Porém, o Congresso Nacional a aceitou.<ref name=RenQ/>

Seguindo sugestão de Jânio, os ministros militares [[Odílio Denys]] (Exército), [[Gabriel Grün Moss]] (Aeronáutica) e [[Sílvio Heck]] (Marinha) formaram uma [[Junta Governativa Provisória de 1961|junta]].<ref name="Mazi">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=228}}</ref> O [[Lista de presidentes da Câmara dos Deputados do Brasil|Presidente da Câmara dos Deputados]] [[Ranieri Mazzilli]] [[Governo Ranieri Mazzilli|assumiu interinamente a Presidência da República]] e leu ao Congresso Nacional um comunicado dos ministros militares em que diziam que Goulart seria preso se retornasse aos [[Estados Unidos do Brasil]].<ref name=Mazi/> Os militares esperavam que o Congresso Nacional declarasse o [[Impeachment de João Goulart|impedimento de Jango]]<ref name=Mazi/> o que não aconteceu.<ref name="janRe">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=229}}</ref>

Devido ao fuso horário, Jango soube da renúncia na madrugada do dia 26 de agosto.<ref name=janRe/> Para o senador [[Dix-Huit Rosado|Diz-Huit Rosado]], Goulart não parecia estar intimidado.<ref name=janRe/> Quando chegou na França e soube de mais detalhes, Hugo de Faria falou que Jango pensou em renunciar, mas desistiu com a tentativa de golpe militar.<ref name=janRe/>

=== Campanha da Legalidade ===
[[Imagem:"Cadeia da Legalidade" (Legality Chain).JPG|thumb|right|200px|"Legalidade: Em agosto de 1961, desta praça, [[Leonel Brizola]] assegurou com a participação do povo, o respeito à legalidade constitucional e a manutenção do estado de direito"]]
{{AP|Campanha da Legalidade}}

Na manhã do dia 25 de agosto, após ter confirmação da renúncia, [[Leonel Brizola|Brizola]] começa a agir.<ref name="LotP">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=230}}</ref> O marechal Lott, ao falar em favor da lei, foi preso—como também o foram vários oficiais das Três Forças.<ref name=LotP/>

Com o apoio de alguns coronéis e do público, Brizola inicia a [[Campanha da Legalidade]].<ref name="EstSiN">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=231}}</ref><ref name=":0">SKIDMORE, Thomas E. ''Brasil: de Getúlio a Castello (1930-1964)''. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.</ref> Na manhã do dia 26, "o país amanheceu num estado de sítio não oficial", de acordo com Jorge Ferreira.<ref name=EstSiN/>

No dia 27, em [[Zurique]], Jango soube por telefone através de Brizola sobre a ameaça de prisão, que não tirou sua vontade de retornar.<ref name=EstSiN/> No mesmo dia, o quartel general do III Exército anunciou à Brasília as ações de Brizola,<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=232}}</ref> e no dia seguinte houve o risco de bombardeio.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=233}}</ref> Brizola realizou uma transmissão anunciando a visita do comandante do [[Comando Militar do Sul|III Exército]] [[Machado Lopes]].<ref name="Vasc">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=234}}</ref> Os militares passaram a vasculhar aviões em todo o país em busca de Goulart.<ref name=Vasc/>

A Cadeia da Legalidade passou a transmitir no Brasil inteiro e no exterior, apesar da tentativa de censura do governo federal, conseguindo simpatia internacional e adesão pública nacional.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=235}}</ref>

Em Paris, no dia 28 de agosto, as afirmações públicas de Jango eram superficiais, pois ele pouco sabia da situação no Brasil, mas com a chegada do deputado [[Carlos Jereissati]], ele decidiu atrasar seu regresso,<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=237}}</ref> pressentindo uma guerra civil.<ref name="IdeiaPar">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=238}}</ref> Por telefone, [[San Tiago Dantas]] falou da "possibilidade do colapso do regime democrático no Brasil" e Juscelino Kubitschek deu a ideia do [[parlamentarismo]], que Jango aceitava como opção não violenta.<ref name=IdeiaPar/>

No Rio Grande do Sul, Machado Lopes colocou o III Exército em favor da legalidade, temporariamente evitando uma guerra civil.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=239}}</ref> Em represália, [[Odílio Denys]] o destituiu do comando.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=240}}</ref>
[[Imagem:João Goulart e Leonel Brizola.jpg|thumb|200px|left|Jango e Brizola]]
No dia 28, Goulart ainda estava em Paris recebendo notícias.<ref name="Insur">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=242}}</ref> No dia 29 de agosto, Goulart embarcou de Paris para Nova Iorque<ref name="ImpGou">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=247}}</ref> e no mesmo dia o Congresso Nacional rejeitou seu [[Impeachment de João Goulart|impedimento]].<ref name=":0"/><ref name=ImpGou/>

Na Argentina, Jango ficou isolado do público e da sua família pelos militares.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=248}}</ref> De lá, embarcou num [[DC-3]] para [[Montevidéu]].<ref name="Dct">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=249}}</ref> Lá, por plano de Brizola, havia um avião com jornalistas nacionais e internacionais, para evitar que o exército o derrubasse.<ref name=Dct/> Em "Manifesto à Nação" do dia 30 de agosto, os ministros militares falaram sobre a "inconveniência do retorno de Jango ao país".<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=246}}</ref>

No dia 31, aumentava o risco de guerra civil, pois militares de todo o país ficavam ao lado da legalidade e havia o risco de conflito entre as forças de Brizola e do governo.<ref name="Canoas">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=241}}</ref> Na [[Base Aérea de Canoas]]<ref name=Canoas/> sargentos insubordinados perfuraram os pneus e desarmaram os aviões que seriam usados no bombardeiro do [[Palácio Piratini]].<ref name=Insur/>

No Congresso Nacional, a emenda parlamentarista foi colocada na pauta de votação.<ref name="VioQ">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=243}}</ref> Desde a renúncia de Quadros, a polícia foi reagindo de forma violenta contra manifestantes,<ref name=VioQ/> com [[Guanabara]] sofrendo a mais dura repressão.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=244}}</ref> Na Câmara dos Deputados, o deputado [[Adauto Lúcio Cardoso]] falou a favor do impeachment de Mazilli e dos ministros militares por [[crime de responsabilidade]].<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=245}}</ref>
[[Ficheiro:Presidente João Goulart na posse de Tancredo Neves como Primeiro-Ministro.tif|miniaturadaimagem|Presidente João Goulart na posse de [[Tancredo Neves]] como [[Presidente do Conselho de Ministros (Brasil)|Primeiro-Ministro]] ]]
No dia 1 de setembro, [[Tancredo Neves]] e outros foram ao [[Uruguai]] discutir com João Goulart,<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=250}}</ref> que manteve Brizola e Lopes atualizados sobre o que discutiam.<ref name="MortP">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=251}}</ref> De acordo com Tancredo Neves, Jango tinha resistência ao parlamentarismo, mas terminou aceitando devido ao risco de mortes.<ref name="MortP" /> Os militares eram contra que Jango falasse ao povo e que Brizola fosse à posse e na madrugada do mesmo dia, o [[Congresso Nacional do Brasil|Congresso Naciona]]<nowiki/>l aprovou a emenda parlamentarista.<ref name="MortP" />

Na noite do mesmo dia, um avião da [[Varig]] pousou no [[Aeroporto Internacional de Porto Alegre|aeroporto Salgado Filho]] com Jango.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=252}}</ref> Apesar do desejo da população, ele não falou ao povo<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=253}}</ref> e homens da imprensa tinham resistência contra a ideia de aceitar o parlamentarismo,<ref name="ImprPart">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=254}}</ref> e o povo se estressou.<ref name=ImprPart/> Apesar de querer marchar sobre Brasília e fechar o Congresso Nacional, contrariado, Brizola aceitou a decisão de seu cunhado.<ref name=Mosq/>

Grupos de oficiais da FAB planejaram a [[Operação Mosquito]], que não foi realizada.<ref name="Mosq">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=255}}</ref> O avião que transportou Goulart para Brasília voou a 11 100 metros de altitude, assim ficando fora do alcance dos caças.<ref name=Mosq/> Jango chegou na capital no dia 5 de setembro<ref name=Mosq/> e assumiu dia [[Independência do Brasil|7 de setembro]].<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=258}}</ref><ref>{{citar web|url=https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/primeira-fase-governo-joao-goulart.htm|título=Primeira fase do Governo de João Goulart|acessodata=2021-01-07|wayb=20200925043043|urlmorta=não}}</ref>

== Presidência da República ==
{{Artigo principal|Governo João Goulart}}[[Imagem:João Goulart NYWTS.jpg|thumb|esquerda|250px|Jango desfila em carro aberto durante visita aos [[Estados Unidos]], em 1962, já Presidente da República do Brasil]]

[[Imagem:Posse de João Goulart como Presidente da República.tif|miniaturadaimagem|Posse de João Goulart como Presidente da República, 1961. [[Arquivo Nacional (Brasil)|Arquivo Nacional]]]]

[[Imagem:Presidente João Goulart inaugura duas turbinas na Usina Hidrelétrica de Três Marias (MG).tiff|thumb|esquerda|Presidente João Goulart inaugura duas turbinas na [[Usina Hidrelétrica de Três Marias]] (MG). [[Arquivo Nacional]]|254x254px]]

Em seu [[:pt:wikisource:Discurso de Tomada de Posse do Presidente João Goulart perante o Congresso Nacional (7 de setembro de 1961)|discurso de posse]], fez um apelo à "união, democracia e reformas".<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=265}}</ref> Goulart assumiu o país numa crise militar, dívidas externas e internas e sem poder de realizar seus projetos reformistas,<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=266}}</ref> mas tendo maioria no Congresso Nacional, ele esperava ser bem-sucedido a partir de acordos, além de mostrar a inviabilidade do novo sistema de governo.<ref name="ConNa">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=267}}</ref>

O primeiro gabinete, chamado de "Conciliação Nacional", foi nomeado dia 8 de setembro e tendo [[Tancredo Neves]] como primeiro-ministro.<ref name=ConNa/> Em 26 de junho de 1962, o primeiro gabinete pediu demissão para concorrerem as [[Eleições gerais no Brasil em 1962|eleições de outubro]].<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=294}}</ref> [[Francisco de Paula Brochado da Rocha|Brochado da Rocha]] teve sua indicação como primeiro-ministro aprovada pelo Congresso Nacional no dia 10 de julho.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=308}}</ref> Brochado renunciou e Hermes Lima foi empossado dia 19 de setembro de 1962.<ref name="VisCh"/>

[[Imagem:Kennedy and Goulart review troops 1962.jpg|thumb|direita|João Goulart e [[John F. Kennedy]], então presidente dos Estados Unidos, revistam tropas americanas em abril de 1962, ao lado do oficial [[Charles Murray (oficial militar)|Charles Murray]]]]

Em 1962, o governo divulgou o Plano Trienal, elaborado pelo economista [[Celso Furtado]], para combater a [[inflação]] e promover o desenvolvimento econômico. O [[Plano Trienal]] falhou, após enfrentar forte oposição, e o governo brasileiro viu-se obrigado a negociar empréstimos com o [[Fundo Monetário Internacional]], o que exigia cortes significativos nos investimentos.

Em agosto de 1962, João Goulart sancionou a Lei 4 130, que no seu artigo 2º, eliminou a idade mínima para se aposentar.<ref>[http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4130.htm LEI No 4.130, DE 28 DE AGOSTO DE 1962]</ref> Até o governo de Jango exigia-se idade de 55 anos para aposentadoria.<ref>[https://jconline.ne10.uol.com.br/canal/opiniao/opiniao/noticia/2019/05/05/reforma-da-previdencia-e-inevitavel-e-inadiavel-377882.php Reforma da Previdência é inevitável e inadiável]</ref> A exigência de idade mínima só seria restabelecida em 2019 por conta da [[Reforma da Previdência Social no Brasil]].<ref>[https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/07/maior-merito-da-reforma-e-o-fim-do-beneficio-por-tempo-de-contribuicao.shtml Maior mérito da reforma é o fim do benefício por tempo de contribuição]</ref>

Nesse período, foi convocado um [[Plebiscito sobre a forma e o sistema de governo do Brasil (1963)|plebiscito]] sobre a manutenção do parlamentarismo ou o retorno ao [[presidencialismo]] para 6 de janeiro de 1963. O parlamentarismo foi amplamente rejeitado, graças a uma forte campanha publicitária promovida pelo governo.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=323}}</ref>

==== Reformas de base ====
A [[economia]] continuava com uma [[inflação|taxa inflacionária]] elevada. Com [[San Tiago Dantas]], como [[Ministério da Fazenda (Brasil)|ministro da Fazenda]], e [[Celso Furtado]], no [[Ministério do Planejamento|Planejamento]], lançou-se o <u>Plano Trienal</u>, um programa que incluía uma série de reformas institucionais que atuavam sobre os problemas estruturais do país. Entre as medidas, previa-se o controle do déficit público e, ao mesmo tempo, a manutenção da política desenvolvimentista com captação de recursos externos para a realização das chamadas [[reformas de base|<u>reformas de base</u>]] '''-''' medidas econômicas e sociais de caráter nacionalista, que previam uma maior intervenção do Estado na economia.<ref>{{citar web|url=http://www.institutojoaogoulart.org.br/upload/jango_livro_1964.pdf|título=Os novos tempos e as novas tarefas do povo brasileiro. Introdução à mensagem presidencial de abertura da sessão legislativa de 1964|publicado=Justificativa das Reformas de Base|wayb=20101115165555|urlmorta=sim}}</ref><ref>AQUINO ''et al.'' [http://books.google.com/books?id=EU11qktO83IC&pg=PA928&dq=%22Sociedade+brasileira:+uma+hist%C3%B3ria+atrav%C3%A9s+dos+movimentos+sociais+:+da+crise%22&hl=pt-BR&ei=OOq9TZfRD465tweO8pDYBQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCkQ6AEwAA#v=onepage&q&f=false ''Sociedade brasileira: uma história através dos movimentos sociais (da crise do escravismo ao apogeu do neoliberalismo)''  Capítulo 9. "O colapso do populismo"] p. 629s. Rio de Janeiro: Record, 2007.</ref>

Nessa ampla denominação de ''reformas de base'', incluíam-se as reformas bancária, fiscal, urbana, eleitoral, agrária e educacional. Defendia-se também o direito de voto para os analfabetos e para os militares de patentes subalternas. Além disso, eram propostas medidas de corte nacionalista, com maior intervenção do Estado na vida econômica e maior controle dos investimentos estrangeiros no país, mediante a regulamentação das remessas de lucros para o exterior.<ref>{{citar web|url=http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/NaPresidenciaRepublica/As_reformas_de_base|título=As reformas de base|autor=Marieta de Moraes Ferreira|publicado=FGV-CPDOC|wayb=20100527044817|urlmorta=sim}}</ref> No que se refere a essas reformas, destacaram-se no governo João Goulart as seguintes medidas:

* [[Reforma agrária]] - Consistia em promover a democratização da terra, paralelamente à promulgação do Estatuto do Trabalhador Rural, estendendo ao campo os principais direitos dos trabalhadores urbanos. Nessa área, havia um decreto que previa a desapropriação das áreas rurais inexploradas ou exploradas contrariamente à [[função social da propriedade]], situadas às margens dos eixos rodoviários e ferroviários federais e as terras beneficiadas ou recuperadas por investimentos da União em obras de irrigação, drenagem e açudagem.<ref name="Reforma agrária" /><ref>[[João Pedro Stédile|STÉDILE, João Pedro]] (org) e  ESTEVAM, Douglas. [http://books.google.com/books?id=OysOAQAAIAAJ&pg=PA111&lpg=PA111&dq=PROJETO+DE+REFORMA+AGR%C3%81RIA+DO+GOVERNO+JO%C3%83O+GOULART+-+1964&source=bl&ots=owEs1Fj4Zo&sig=-14OJ9bQEmRaTgCPFyh3tWilo08&hl=pt-BR&ei=4tG9TcLEBIO7tweiqM3cDA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CDIQ6AEwBg#v=onepage&q=PROJETO%20DE%20REFORMA%20AGR%C3%81RIA%20DO%20GOVERNO%20JO%C3%83O%20GOULART%20-%201964&f=false ''A questão agrária no Brasil: Programas de reforma agrária, 1946-2003''.]</ref><ref>{{citar web|url=http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/NaPresidenciaRepublica/A_questao_agraria_no_governo_Jango|título=A questão agrária no governo Jango|autor=Mario Grynszpan|publicado=CPDOC-FGV|wayb=20100527071548|urlmorta=sim}}</ref> No entanto, a implementação da reforma agrária exigia mudança constitucional, já que o governo pretendia que as indenizações aos proprietários fossem pagas com [[títulos da dívida pública]], enquanto a [[Constituição de 1946|Constituição]] previa indenização paga previamente e em dinheiro;
* Reforma [[Educação|educacional]]: visava a valorização do magistério e do ensino público em todos os níveis, o combate o [[analfabetismo]] com a multiplicação nacional das pioneiras experiências do [[Método Paulo Freire]]. O governo também se propunha a realizar uma reforma universitária, com abolição da cátedra vitalícia;
* Reforma fiscal - Tinha como objetivo promover a justiça fiscal e aumentar a capacidade de arrecadação do Estado. Além disso, pretendia-se limitar a remessa de [[lucro]]s para o exterior, sobretudo por parte das empresas multinacionais, o que foi feito através do decreto nº 53 451/64;<ref>{{citar web|url=http://cutter.unicamp.br/document/?code=000114236|título=Decreto nº 53451, de 20 de janeiro de 1964, e lei nº 4131, de 13 de setembro de 1962, sobre remessa de lucros.  ''In'' A Nação e o Capital Estrangeiro: um estudo sobre a Lei de Remessa de Lucros no Governo João Goulart|autor=GENNARI, Adilson Marques|ano=1997|publicado=[[Unicamp]]|páginas=Anexo 1, p. 239, e Anexo 2, p. 249|wayb=20110706162458|urlmorta=sim}}</ref>
* Reforma eleitoral: consistia, basicamente, na extensão do direito de voto aos analfabetos e aos militares de baixa patente. Previa-se também a legalização do [[Partido Comunista Brasileiro]];
* [[Reforma urbana]], entendida como conjunto de medidas do Estado, ''"visando à justa utilização do solo urbano, à ordenação e ao equipamento das aglomerações urbanas e ao fornecimento de habitação condigna a todas as famílias"''. O projeto foi elaborado principalmente por urbanistas ligados ao [[Instituto de Arquitetos do Brasil|IAB]];<ref>[http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.109/50 A reforma urbana nos primeiros anos da década de 1960] por Cecilia Ribeiro e Virgínia Pontual. ''Arquitextos'', 109.07 ano 10, junho de 2009.</ref><ref>{{citar web|url=http://apache.camara.gov.br/portal/arquivos/Camara/internet/comissoes/cdu/artigos.html/estatutobassul.pdf|título=Projeto do Decreto de Reforma Urbana, 1964 ''In'' BASSUL, José Roberto ''Estatuto da Cidade - Quem ganhou? Quem perdeu?''|página=Anexo 2, p. 172|wayb=20110706155532|urlmorta=sim}}</ref>
* Reforma bancária: com o objetivo de ampliar o acesso ao crédito pelos produtores.

As reformas também incluíam a nacionalização de vários setores industriais - energia elétrica, refino de petróleo, químico-farmacêutico. Os congressistas não aprovaram a proposta, o que impediu que o [[Plano Trienal]] tivesse sucesso.
[[File:João Goulart recebendo o título de Cidadão São Bernardense.jpg|thumb|200px|right|João Goulart recebendo o título de Cidadão de [[São Bernardo do Campo]] em 1963<ref>{{Citar web|url=https://leismunicipais.com.br/a1/sp/s/sao-bernardo-do-campo/resolucao/1963/27/265/resolucao-n-265-1963-concede-o-titulo-de-cidadao-sambernardense-ao-exm-sr-dr-joao-belchior-marques-goulart-dignissimo-presidente-da-republica?q=Jo%E3o%20Goulart|título=CONCEDE O TÍTULO DE "CIDADÃO SAMBERNARDENSE" AO EXMº SR. DR. JOÃO BELCHIOR MARQUES GOULART, DIGNÍSSIMO PRESIDENTE DA REPÚBLICA.|data=1963-08-06}}</ref>]]
Ao longo do ano de 1963, cresceu a [[Movimentos de praças no Brasil nos anos 1960|politização entre os setores da baixa hierarquia das Forças Armadas]] (sargentos, cabos, soldados e marinheiros). Em 12 de setembro de 1963, irrompeu em Brasília uma rebelião de sargentos da Aeronáutica e da Marinha, inconformados com a decisão do [[Supremo Tribunal Federal]], baseada na [[Constituição de 1946|Constituição vigente]], de não reconhecer a elegibilidade dos sargentos para o [[poder Legislativo|Legislativo]]. O movimento foi facilmente debelado, mas a posição de neutralidade adotada por Jango diante do movimento desagradou grande parte da oficialidade militar, preocupada com a quebra dos princípios de hierarquia e disciplina das Forças Armadas.

Intensificaram-se suspeitas de que estivesse em preparação um [[golpe de Estado]], de orientação [[esquerdista]], apoiado por cabos e sargentos. Ao mesmo tempo, fortalecia-se a posição dos oficiais generais que, em 1961, haviam sido contra a posse de João Goulart como presidente. Mesmo os chamados ''[[legalista]]s'' estavam inquietos. Ainda em setembro, o general [[Peri Bevilaqua]], comandante do [[II Exército]], que fora um dos apoiadores da [[Campanha da Legalidade]], divulgou ordem-do-dia contra a rebelião dos sargentos, denunciando a ''infiltração esquerdista'' e a atuação política do [[Comando Geral dos Trabalhadores]] nos quartéis. Na sequência, o general foi exonerado do comando.<ref name="Militares">{{citar web|url=http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/NaPresidenciaRepublica/Os_militares_e_o_governo_JG|título=Os militares e o governo João Goulart|autor=Celso Castro|publicado=FGV-CPDOC|wayb=20100527045149|urlmorta=sim}}</ref>

Em outubro, uma entrevista concedida pelo governador do [[Estado da Guanabara]], [[Carlos Lacerda]], ao jornal ''[[Los Angeles Times]]'' tem forte repercussão. Na reportagem, Lacerda atacava violentamente o presidente da República e criticava também os chefes militares. A situação política do país é tensa. Os ministros militares solicitam ao presidente a decretação de [[Estado de sítio no Brasil|estado de sítio]]. O [[Pedido de estado de sítio no Brasil em 1963|pedido]], encaminhado ao Congresso Nacional, não encontra receptividade diante da maioria dos parlamentares, sendo então retirado. Diante disso, oficiais, até então neutros, passam a apoiar a [[Conspiração (política)|conspiração]] [[golpe de Estado|golpista]].<ref name="Militares" />

Desgastado com a crise econômica e com a oposição de militares, o presidente procurou fortalecer-se, participando de manifestações e comícios que defendiam suas propostas. A manifestação mais importante ocorreu no dia 13 de março de 1964, em frente ao [[Edifício Central do Brasil]], sede da [[Estrada de Ferro Central do Brasil]]. O [[Comício da Central]], como ficou conhecido, reuniu cerca de 150 mil pessoas, incluindo [[sindicato]]s, associações de servidores públicos e estudantes. Os discursos pregavam o fim da política conciliadora do presidente, com apoio de setores conservadores que, naquele momento, bloqueavam as reformas no Congresso. Em seu discurso, Goulart anunciou uma série de medidas que estavam no embrião das [[reformas de base]]; defendeu a reforma da [[Constituição de 1946|Constituição]] para ampliar o direito de voto a analfabetos e militares de baixa patente; e criticou seus opositores que, segundo ele, sob a máscara de democratas, estariam a serviço de grandes companhias internacionais e contra o povo. Jango anunciou que tinha assinado um decreto encampando as refinarias de [[petróleo]] privadas e outro desapropriando terras às margens de [[ferrovia]]s e [[rodovia]]s federais.<ref>{{citar web|url=http://www.institutojoaogoulart.org.br/conteudo.php?id=31|título=Discurso de João Goulart no comício de 13 de março de 1964, na Central do Brasil, Rio de Janeiro|wayb=20101009230926|urlmorta=sim}}</ref>

A oposição acusava o presidente de desrespeito à ordem constitucional, pois o [[Congresso]] não havia aprovado a proposta do governo de alteração na forma de pagamento das indenizações aos proprietários. [[Carlos Lacerda]], então governador da [[Guanabara]], chamou-o de "subversivo".

O decreto da Superintendência de Política Agrária (SUPRA), assinado no comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, provocou forte reação nos setores mais conservadores e contribuiu para a derrubada de João Goulart. O decreto nº 53 700, de 13 de março de 1964 (revogado por [[Ranieri Mazzilli]], em 13 de abril de 1964),<ref>{{citar web|último=Mazzilli|primeiro=Ranieri|título=Decreto nº 53.883, de 13 de Abril de 1964|url=http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-53883-13-abril-1964-394175-publicacaooriginal-1-pe.html|publicado=Câmara dos Deputados|acessodata=29-04-2017|data=13-04-1964|citação=Revoga o Decreto n. 53700, de 13 de março de 1964}}</ref> dizia:

{{Cquote|Declara de interesse social para fins de desapropriação as áreas rurais que ladeiam os eixos rodoviários federais, os leitos das ferrovias nacionais, e as terras beneficiadas ou recuperadas por investimentos exclusivos da União em obras de irrigação, drenagem e açudagem, atualmente inexploradas ou exploradas contrariamente à função social da propriedade, e dá outras providências.<ref name="Reforma agrária">{{citar web|url=http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=114765|titulo=Decreto nº 53.700, de 13 de março de 1964, sobre a desapropriação de terras inexploradas ou exploradas contrariamente à função social da propriedade|publicado=Senado Federal|acessodata=24/09/2010|wayb=20140715015256|urlmorta=sim}}</ref>}}

No dia 17 de março, tentando reunir o PSD e o PTB, Juscelino propôs que a forma de evitar o golpe era tornar o Presidente da Câmara em Presidente da República; realizar uma aliança entre comunistas e trabalhistas, lançando a si mesmo como candidato e Goulart como vice. Nem Goulart ou Prestes aceitaram.<ref>{{Citar livro|url=https://www.familiabastos.net/wp-content/uploads/2020/08/caixa-preta-compressed.pdf|título=A Caixa Preta do Golpe de 64|autor=Paulo de Mello Bastos|editora=Família Bastos|ano=2006|página=105|isbn=8589853047|wayb=20210619145503|urlmorta=sim}} [https://archive.org/details/caixa-preta-compressed IA]</ref>

Em 19 de março, em [[São Paulo]], foi organizada a [[Marcha da Família com Deus pela Liberdade]], cujo objetivo era mobilizar a opinião pública contra o governo de Jango e a política que, segundo eles, culminaria com a implantação de um regime [[totalitarismo|totalitário]] [[comunismo|comunista]] no [[Brasil]].<ref>{{citar livro|ultimo=Aggio|primeiro=Alberto|ultimo2=Barbosa|primeiro2=Agnaldo de Sousa|ultimo3=Coelho Lambert|primeiro3=Hercídia Mara Facuri|titulo=Política e sociedade no Brasil, 1930-1964|ano=2002|local=São Paulo|editora=Annablume|página=158}}</ref>

Em 20 de março de 1964, o general [[Humberto Castelo Branco]], chefe do [[Estado-Maior do Exército (Brasil)|Estado-Maior do Exército]], envia uma circular reservada aos oficiais do [[Exército Brasileiro|Exército]], advertindo contra os perigos do comunismo. No dia 28 de março, irrompe a [[Golpe Militar de 1964#Revolta dos marinheiros|revolta dos marinheiros]] e [[fuzileiros navais]] no Rio.{{nota de rodapé|Documentos recentemente "desclassificados" fornecem indicações sobre o papel do governo dos Estados Unidos no golpe contra Jango. Em arquivo sonoro de cinco minutos, obtido na Biblioteca Lyndon Baines Johnson, há uma conversa entre o Subsecretário de Estado, George Ball, o Secretário Assistente para a América Latina, Thomas Mann, e o presidente [[Lyndon Johnson]] em que este mostra claramente seu apoio à derrubada de Jango: "Penso que devemos tomar todas as medidas que pudermos e estar  preparados para fazer tudo o que for preciso". Entre os  documentos altamente secretos há telegramas enviados pelo embaixador americano no Brasil, [[Lincoln Gordon]], que pressionavam Washington a se envolver diretamente no apoio na conspiração em curso. O embaixador envia telegramas a altos funcionários do governo americano, incluindo o diretor da [[CIA]] [[John McCone]] e aos Secretários de Defesa e de Estado,  [[Robert McNamara]] e [[Dean Rusk]]. Gordon informa que Jango está trabalhando com o [[Partido Comunista Brasileiro]] para instaurar uma [[ditadura]] e pede apoio dos Estados Unidos para o então [[Marechal Castelo Branco|General Castello Branco]]. Gordon recomenda "uma remessa clandestina de armas", bem como gasolina e petróleo para os apoiadores de Castello Branco,  e sugere que esse apoio seja suplementado por operações secretas da CIA, sugerindo que o governo americano se prepare rapidamente para a possibilidade de [[intervenção política|intervenção]] aberta, em um segundo estágio.<ref>{{citar web|url=http://www.institutojoaogoulart.org.br/noticia.php?id=2987&back=1|título=Novos Documentos desclassificados sobre o Golpe de 1964 contra Jango|autor=Peter Kornbluh|língua=en|wayb=20110706161119|urlmorta=sim}}</ref>}} Goulart recusou-se a punir os insubmissos concentrados na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, o que provocou a indignação dos oficiais da [[Marinha do Brasil|Marinha]]. No dia 30 de março, Jango compareceu, como convidado de honra, a uma [[Reunião no Automóvel Clube|festa promovida pela Associação dos Sargentos e Suboficiais da Polícia Militar, na sede do Automóvel Clube do Brasil]]. Na ocasião, pronúncia um discurso em que denuncia a existência de uma poderosa campanha contra o governo.<ref>[http://www.gedm.ifcs.ufrj.br/upload/documentos/42.pdf Discurso de João Goulart durante a reunião de sargentos no Automóvel Clube, em 30 de março de 1964]</ref>

=== Cuba, 1962 ===
[[File:KN-C20807. President John F. Kennedy Meets with President João Goulart of Brazil (cropped).jpg|right|thumb|225x225px|João Goulart em 1962]]
Com a [[Crise dos mísseis de Cuba]], Kennedy enviou uma carta à Goulart propondo a participação dos militares brasileiros na possível invasão da ilha.<ref name= funag>{{Citar livro|url=http://funag.gov.br/loja/download/641-Discursos_joao_goulart.pdf|título=Discursos Selecionados do Presidente João Goulart|editor=Wanielle Brito Marcelino|ano=2010|local=Brasília|páginas=91-98|editora=FUNAG|isbn=978-85-7631-193-5}}</ref><ref name="CuI">{{Harvnb|Ferreira|2011|p=317}}</ref> Em resposta, Jango demonstrou-se contrário, afirmando que o país se opunha a este plano e era a favor da autodeterminação dos povos.<ref name= funag/><ref name=CuI/> Em carta resposta afirmou que "nunca reconheceremos a guerra como instrumento capaz de resolver conflitos entre nações" e enviou uma carta à [[Fidel Castro]] com as mesmas preocupações do governo estadunidense, mas se colocando contra a invasão.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=319}}</ref> Com essa posição, Kennedy passou a desenvolver uma hostilidade pessoal contra Goulart e passou a acreditar que o presidente brasileiro era uma ameaça contra a segurança dos Estados Unidos.<ref>{{Harvnb|Ferreira|2011|p=320}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://www.snh2019.anpuh.org/resources/anais/8/1564191004_ARQUIVO_OdiaemquepresidenteJoaoGoulartdissenaoparaopoderosoJFK.pdf|título=O dia em que o presidente João Goulart disse não para o poderoso JFK|autor=Charles Sidarta Machado Domingos|ano=2019|páginas=16|acessodata=2021-01-09|wayb=20200902181856|urlmorta=não}}</ref>

== Golpe militar de 1964 ==
{{Artigo principal|Operações militares no golpe de 1964|Golpe de Estado no Brasil em 1964|Ameaça comunista no Brasil}}

[[Imagem:João Goulart 1964.jpg|thumb|direita|João Goulart em 1964]]
Logo após a ''[[Revolta dos Marinheiros de 1964]]'', de 25 a 27 de março daquele ano - que, para os militares, representou uma quebra da [[Hierarquia militar (Brasil)|hierarquia]] - e o forte discurso no Automóvel Clube do Brasil, na reunião da Associação dos Sargentos e Suboficiais da Polícia Militar,<ref>[http://www.memoriaviva.com.br/ocruzeiro/10041964/100464_1.htm Fala aos sargentos: Princípio do fim]. [[O Cruzeiro (revista)|O Cruzeiro]], 10 de abril de 1964 - Edição extra.</ref> o general [[Olímpio Mourão Filho]] iniciou em 31 de março, a movimentação de tropas de [[Juiz de Fora]] em direção ao [[Rio de Janeiro]]. Este foi o primeiro ato dos militares que culminaria no [[Golpe de Estado no Brasil em 1964|golpe de Estado de 1964]] que depôs o presidente João Goulart.<ref>FGV-CPDOC. [http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/biografias/peri_bevilacqua Biografia de Peri Bevilacqua]</ref>

Na madrugada do dia 1º de abril, Jango voltou para [[Porto Alegre]] e foi para a casa do comandante do 3º Exército, escoltado pela companhia de guarda. Reuniu-se com Brizola e, após ficar sabendo de uma série de más notícias, teve uma crise de choro.<ref name=FSP-AS-HORAS-DO-GOLPE>{{citar web|url=http://aovivo.folha.uol.com.br/2014/03/30/3145-aovivo.shtml|título=As Horas do Golpe|acessodata=31-03-2014|data=31-03-2014|publicado=Folha de S.Paulo}}</ref> Brizola sugeriu um novo movimento de resistência, mas Goulart não acatou para evitar "derramamento de sangue" (uma [[guerra civil]]). De lá, ele voou com o general [[Argemiro de Assis Brasil|Assis Brasil]] para a Fazenda Rancho Grande, em [[São Borja]], onde estavam sua mulher e filhos. Com eles, tomou um avião rumo a um rancho às margens do [[rio Uruguai]].<ref name=FSP-AS-HORAS-DO-GOLPE/> Aconselhado por Assis Brasil, Jango traçou o caminho de fuga do Rio Grande do Sul e escreveu uma nota ao governo uruguaio pedindo asilo.<ref name=FSP-AS-HORAS-DO-GOLPE/>

No dia 2 de abril, apesar de Jango ainda se encontrar em território nacional, o Congresso Nacional declarou a vacância da Presidência da República, entregando o cargo de chefe da nação novamente ao presidente da Câmara dos Deputados, [[Ranieri Mazzilli]].<ref>{{citar web|url=http://g1.globo.com/politica/50-anos-do-golpe-militar/noticia/2014/03/ouca-o-audio-e-leia-trechos-da-sessao-do-congresso-que-depos-jango.html|titulo=Ouça o áudio e leia trechos da sessão do Congresso que depôs Jango|data=31-03-2014|acessodata=10-01-2017|publicado=G1}}</ref> No dia 10 de abril, João Goulart teve seus direitos políticos cassados por dez anos, após a publicação do [[Ato Institucional Número Um]] (AI-1).

O processo de queda do governo democrático com o [[Golpe de Estado no Brasil em 1964|golpe de Estado]] de 31 de março de 1964 suscitou a produção de inúmeras leituras e perspectivas. Na esquerda e na direita houve uma tentativa de atribuir ao presidente João Goulart a culpa pelo golpe, onde a personalidade, o comportamento ou a incapacidade política do indivíduo teriam sido determinantes para o golpe. Entretanto, esta via interpretativa personalista é considerada insuficiente por ignorar a complexidade social e conjuntural do processo histórico.<ref>{{citar livro|título=1964: o golpe que derrubou um presidente, pôs fim ao regime democrático e instituiu a ditadura no Brasil|ultimo=FERREIRA|primeiro=Jorge;|ultimo2=GOMES|primeiro2=Angela de Castro|editora=Civilização Brasileira|ano=2014|local=Rio de Janeiro|páginas=346}}</ref>

== Vida no exílio ==
[[File:João-Goulart- filho-do-ex-presidente-Lula-Foto-Lula-Marques-agência PT-6 (25972997905).jpg|thumb|right|200px|João Goulart durante o exílio]]
Em 4 de abril de 1964, Goulart e sua família desembarcaram no Uruguai em busca de [[Direito de asilo|asilo político]]. Após os primeiros anos em [[Montevidéu]], comprou uma fazenda na fronteira entre Uruguai e Brasil, onde se dedicou à criação de gado. Em 1966, ele participou do movimento político [[Frente Ampla (Brasil)|Frente Ampla]], que visava restaurar plenamente a democracia no Brasil por meios pacíficos. Em 5 de abril de 1968, a Frente Ampla teve suas atividades proibidas pelo Ministro da Justiça brasileiro, [[Luís Antônio da Gama e Silva]]. O fim da Frente Ampla também resultou no fim da atividade política de Goulart. Após sofrer um ataque cardíaco em fevereiro de 1968, Goulart decidiu se concentrar na gestão de suas fazendas localizadas no [[Uruguai]], [[Paraguai]], [[Argentina]] e [[Brasil]].<ref name= FGV/>

No final de 1973, o presidente argentino [[Juan Domingo Perón]] convidou Goulart para morar em Buenos Aires e pediu-lhe que colaborasse em um plano para expandir as exportações de carne argentina para a Europa e outros mercados que tradicionalmente não comprariam a [[commodity]] argentina. No entanto, o ministro do Bem-Estar Social e secretário privado de Perón, [[José López Rega]], se opôs à designação. Mesmo assim, Goulart decidiu ficar em Buenos Aires.<ref name= FGV/>

Em março de 1976, na cidade de [[La Plata]], o [[Exército Argentino]] desmantelou um grupo de terroristas de [[extrema-direita]] que planejava sequestrar o filho de Goulart e exigir um alto resgate em dinheiro. Com sua segurança pessoal comprometida, o ex-presidente se distanciou de Buenos Aires. Essa experiência levou Goulart a dar novos passos para seu retorno seguro ao Brasil. No entanto, isso foi adiado por causa das próximas eleições, que estavam para ocorrer em novembro daquele ano.<ref name= FGV/>

== Morte ==
Em 6 de dezembro de 1976, Goulart morreu em sua fazenda ''La Villa'', na cidade argentina de [[Mercedes (Corrientes)|Mercedes]], na província de [[Corrientes (província)|Corrientes]], supostamente de um ataque cardíaco. Como, a pedido da família, o corpo de Goulart não foi submetido a [[autópsia]] antes do sepultamento,<ref name="www1.folha.uol.com.br">{{Citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/poder/742607-historiador-rejeita-tese-de-conspiracao-contra-joao-goulart.shtml|titulo=Historiador rejeita tese de conspiração contra João Goulart|data=29/05/2010|acessodata=2022-08-23|website=Folha de S.Paulo}}</ref> a causa de sua morte não foi confirmada. Cerca de 30 000 pessoas compareceram ao funeral, apesar da [[censura]] imposta à imprensa pelo regime.<ref name= FGV/>

No entanto, existem suspeitas por parte de familiares,<ref>{{citar web|url=http://www.opovo.com.br/app/maisnoticias/mundo/dw/2013/12/05/noticiasdw,3172948/filho-de-jango-diz-que-exumacao-e-so-inicio-e-quer-que-americanos-deponham.shtml|título=Filho de Jango diz que exumação é só início e quer que americanos deponham|wayb=20150208170901|urlmorta=sim}}</ref> colegas de política<ref>{{Citar web|url=http://www.pdt.org.br/personalidades/jango_historia_6.htm#|titulo=Neiva Moreira explica fatos da morte de Jango à Comisssão na Câmara|acessodata=26-10-2007|wayb=20101115141107|urlmorta=sim}}</ref> e outras personalidades<ref>{{Citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0801200805.htm|titulo=Carlos Heitor Cony: Ainda a Operação Condor|data=08/01/2008|acessodata=2022-08-23|website=Folha de S.Paulo}}</ref> de que João Goulart tenha sido assassinado por agentes da [[Operação Condor]].<ref name="pdt-rj.org.br">{{Citar web|url=http://www.pdt-rj.org.br/paginaindividual.asp?id=79#|titulo=Depois da morte, a Operação Condor vem à luz|acessodata=26-10-2007|wayb=20130731010423|urlmorta=sim}}</ref> Em 26 de abril de 2000, o ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, [[Leonel Brizola]], afirmou que os ex-presidentes Goulart e Kubitschek foram assassinados no âmbito da Operação Condor e pediu investigações sobre suas mortes.<ref>{{Citar web|url=https://www.clarin.com/ediciones-anteriores/operacion-condor-presion-brizola-argentina_0_B1cgJWoxAte.html|titulo=Operación Cóndor: presión de Brizola sobre la Argentina|data=2000-05-06|acessodata=2021-10-21|website=Clarín|lingua=es}}</ref>

No dia 27 de janeiro de 2008, o jornal ''[[Folha de S.Paulo]]'',<ref>[http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u367282.shtml "Goulart foi morto a pedido do Brasil, diz ex-agente uruguaio" da Folha de S.Paulo]</ref> publicou uma matéria com o depoimento do ex-agente do serviço de inteligência uruguaio, Mario Neira Barreiro, que declarou que o ex-presidente foi envenenado por ordem de [[Sérgio Fleury]], delegado do [[Departamento de Ordem Política e Social]] (DOPS). A autorização teria vindo do presidente da época, [[Ernesto Geisel]] (1907-1996).

Em julho do mesmo ano, uma comissão especial da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul divulgou um relatório afirmando que ''"são fortes os indícios de que Jango foi assassinado de forma premeditada, com o conhecimento do governo Geisel"''.<ref>{{citar web|url=http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15129|título=Há fortes indícios de que Jango foi assassinado com conhecimento de Geisel|data=17-07-2008|publicado=[[Carta Maior]]|wayb=20100909021843|urlmorta=sim}}</ref>

Em março de 2009, a revista ''[[CartaCapital]]'' publicou documentos inéditos do [[Serviço Nacional de Informações]] (SNI), produzidos por um agente infiltrado nas propriedades de Jango no Uruguai, que reforçam a tese de [[envenenamento]]. A família Goulart ainda não conseguiu identificar quem seria o "agente B", como é denominado nos documentos. O agente era tão próximo de Jango que descreveu que durante a festa de 56 anos do ex-presidente, este teve uma discussão com o filho por causa de uma briga entre os funcionários Manoel dos Santos e Tito. De acordo com o agente, Manoel sacou uma faca contra Tito, um "invertido sexual", por não ter sido "atendido" por ele.<ref>NASCIMENTO, Gilberto. [http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=8&i=3605 "Jango assassinado?"]{{ligação inativa|data=janeiro de 2019}}. ''CartaCapital'', 18 de março de 2009. Acessado em 5 de abril de 2009.</ref> Após a publicação da reportagem, a Comissão de Direitos Humanos da [[Câmara dos Deputados do Brasil|Câmara dos Deputados]] decidiu investigar a suspeita de envenenamento de Jango.<ref>FORTES, Leandro. [http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=8&i=3772 "Corrêa à luz do dia - A revista serve de base para outras decisões"]{{ligação inativa|data=janeiro de 2019}}. ''CartaCapital'', 3 de abril de 2009. Acessado em 5 de abril de 2009</ref> Posteriormente, na mesma revista, [[Maria Teresa Fontela Goulart|Maria Teresa]] mostra documentos do governo uruguaio que reforçam suas denúncias do monitoramento a Jango.

Os militares uruguaios seguiam os passos de Jango, seus negócios etc. Nessas fichas de 1965 (um ano após do golpe no Brasil), em que há dados sobre Jango e a sua vida no país, consta que ele poderia ser vítima de [[atentado]]. Em documento requisitado ao [[Uruguai]] pelo ''Movimento de Justiça e Direitos Humanos'' e pelo Instituto João Goulart, o Ministério do Interior uruguaio informou que “fontes sérias e responsáveis brasileiras” falavam de um “presumível complô contra o ex-presidente brasileiro”.<ref>NASCIMENTO, Gilberto. [http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=8&i=4302 "Jango monitorado"]{{ligação inativa|data=janeiro de 2019}}. ''CartaCapital'', 18 de junho de 2009. Acessado em 8 de junho de 2009.</ref>

Em maio de 2010, após investigar por dois anos as circunstâncias da morte de Jango, o [[historiador]] [[Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira|Luiz Alberto Moniz Bandeira]] afirmou, em entrevista à ''Folha de S.Paulo,'' que a teoria do envenenamento não condiz com a verdade, acusando a família Goulart de endossar a suspeita na tentativa de obter [[indenização|indenizações]] do governo. A tese sobre o suposto assassinato do ex-presidente é analisada num trecho inédito em seu livro ''O Governo João Goulart''. Segundo o historiador, companheiro do ex-presidente no exílio, as denúncias carecem de provas, e a autópsia do corpo não foi feita não por veto da ditadura, mas por decisão da família. Ele afirma ainda não ter dúvidas de que Goulart morreu de infarto, dado seu histórico de problemas cardíacos e falta de cuidados com a própria saúde.<ref name="www1.folha.uol.com.br" />

Mesmo [[Miro Teixeira]] (REDE-RJ), aliado de Brizola reconhece: “Não há como afirmar, peremptoriamente, que João Goulart foi assassinado”.<ref name="pdt-rj.org.br"/>

No dia 6 de dezembro de 2011, 35 anos após o ocorrido, a Justiça Argentina abriu inquérito para elucidar lacunas que ainda persistem no inquérito civil que tramita na Procuradoria da República no Rio Grande do Sul. O procurador, Ivan Cláudio Marx, entrou com o pedido porque o inquérito criminal que tramitava no Brasil foi arquivado por decisão da Justiça, que acolheu a argumentação da procuradora responsável, que alegava que o fato já havia prescrito e que a lei de anistia sepultava qualquer investigação sobre as mortes ocorridas durante a ditadura militar brasileira (1964-1985). Segundo o procurador, a Argentina tem atribuição para investigar o caso, pois a morte ocorreu lá, acrescentando que a Suprema Corte Argentina declarou serem imprescritíveis os crimes cometidos durante as ditaduras no [[Cone Sul]].<ref>{{Citar web|url=http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/02/1415072-argentina-vai-investigar-morte-do-ex-presidente-joao-goulart.shtml|titulo=Argentina vai investigar morte do presidente João Goulart|data=20/02/2014|acessodata=2022-08-23|website=Folha de S.Paulo}}</ref>

=== Exumação do corpo para exames ===
[[Imagem:Transporte dos despojos do ex-presidente João Goulart (10858776605).jpg|thumb|direita|250px|Transporte dos restos mortais do ex-presidente João Goulart em [[Brasília]] no dia 11 de novembro de 2013]]
Em maio de 2013, a [[Comissão Nacional da Verdade]] decidiu pela exumação o corpo de Jango para realizar exames com o intuito de verificar a verdade sobre a morte do ex-presidente.<ref>{{citar web|url=http://www.bbc.co.uk/portuguese/ultimas_noticias/2013/05/130502_goulart_exumacao_lk_rn.shtml|título=Corpo de João Goulart pode passar por exumação|acessodata=07-05-2013|data=03-05-2013|obra=BBC Brasil}}</ref> A exumação foi marcada para o dia 13 de novembro de 2013. Para conduzi-la, a ministra [[Maria do Rosário]], da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República, formou um Grupo de Trabalho, cujos integrantes foram nomeados em portaria publicada pelo ''Diário Oficial da União'' no dia 7 de novembro de 2013.<ref>{{Citar web|url=https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=2&pagina=5&data=07/11/2013|titulo=Página 5 do Diário Oficial da União - Seção 2, número 217, de 07/11/2013 - Imprensa Nacional|acessodata=2022-08-23|website=pesquisa.in.gov.br}}</ref> A equipe contou com a participação de membros da Comissão Nacional da Verdade e de peritos da [[Polícia Federal do Brasil|Polícia Federal]], que foram responsáveis pelas análises técnicas, além de representantes da própria SDH. Especialistas forenses da [[Argentina]], do [[Uruguai]] e de [[Cuba]], países com mais experiência no tema, completaram a força-tarefa. A portaria publicada pela SDH no ''Diário Oficial da União'' garantiu à família do ex-presidente João Goulart participação e acompanhamento em todas as ações do Grupo de Trabalho.<ref>{{Citar web|url=https://www.gov.br/mdh/pt-br/sdh/noticias/2013/julho/ministra-e-cnv-anunciam-medidas-para-exumacao-do-corpo-do-ex-presidente-joao-goulart|titulo=Ministra e CNV anunciam medidas para exumação do corpo do ex-presidente João Goulart|acessodata=2022-08-23|website=Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos}}</ref>

O trabalho de exumação do corpo de Jango durou cerca de 18 horas<ref>{{Citar web|url=http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/index.php/outros-destaques/376-entenda-como-sera-exumacao-do-ex-presidente-joao-goulart|titulo=Entenda como será feita a exumação de João Goulart|acessodata=2022-08-23|website=CNV - Comissão Nacional da Verdade}}</ref> e resultou inconclusivo quanto à causa de sua morte, pois a substância que haveria causado o possível envenenamento do ex-presidente poderia já haver se deteriorado.<ref>{{Citar web|título=Laudo da exumação de Jango não consegue esclarecer causa da morte|url=http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2014/12/laudo-da-exumacao-de-jango-nao-consegue-esclarecer-causa-da-morte.html|obra=Jornal Hoje|acessadoem=2015-11-17}}</ref> A urna com os restos mortais do ex-presidente foi coberta com a bandeira do [[Brasil]] e de [[São Borja]] quando deixou o cemitério Jardim da Paz, antes de ser levada para [[Brasília]].<ref>{{citar web|url=http://noticias.terra.com.br/brasil/exumacao-do-corpo-do-ex-presidente-jango-termina-apos-mais-de-18-horas,c4741f2a9f452410VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html|título=Exumação do corpo do ex-presidente Jango termina após mais de 18 horas|acessodata=14-11-2013|autor=Luiz Roese|publicado=[[Portal Terra]]}}</ref>

== Representações na cultura ==
* ''[[Jango (filme)|Jango]]'' - documentário brasileiro dirigido por [[Sílvio Tendler]], que narra o governo de João Goulart enquanto presidente do Brasil (1961-1964), lançado em março de 1984.<ref>{{citar web|url=http://www.memoriasindical.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=567|título=Dica de filme: Jango|acessodata=20-07-2016|wayb=20160413202442|urlmorta=sim}}</ref><ref>[http://canalcurta.tv.br/pt/filme/?name=jango] {{Citar web|url=http://canalcurta.tv.br/pt/filme/?name=jango|título=Jango|acessodata=20-07-2016|urlmorta=sim|wayb=20160817090414}}</ref>
* ''[[Dossiê Jango]]'' - documentário [[roteiro|escrito]] e [[dirigido]] por Paulo Henrique Fontenelle lançado nos [[Cinema no Brasil|cinemas brasileiros]] em 5 de julho de 2013;<ref name="produção">{{citar web|título=Dossiê Jango, documentário de Paulo Henrique Fontenelle, estreia nesta sexta-feira (5) nos cinemas|url=http://entretenimento.r7.com/blogs/blogdoc/passado-nao-publico/2013/07/05/?s_cid=passado-nao-publico_blog-voltado-para-a-divulgacao-e-analise-de-documentarios-cinematograficos-e-tambem-filmes_twitter|obra=BlogDoc|publicado=[[Portal R7]]|acessodata=30-08-2013|data=30-08-2013|wayb=20141216030837|urlmorta=sim}}</ref> traz alguns fatos obscuros da história do Brasil e sobre o [[Golpe de Estado no Brasil em 1964|golpe de Estado de 1964]], tratando também das causas suspeitas de sua morte.
* ''[[Legalidade (filme)|Legalidade]]'' - filme de ficção histórica do diretor [[Zeca Brito]] sobre a [[Campanha da Legalidade]], onde Jango é representado pelo ator [[Fábio Rangel]].<ref>{{Citar web|url=https://cinemacomrapadura.com.br/criticas/559692/critica-legalidade-2019-a-democracia-e-uma-delicia-mas-tem-certos-custos/|título=Legalidade (2019): a democracia é uma delícia, mas tem certos custos|autor=Alan Fernandes|acessodata=9 de dezembro de 2020|wayb=20190925013408|urlmorta=não}}</ref>
* ''[[Vestida de Silêncio]]'' - futuro filme da diretora [[Susanna Lira]], onde Jango será interpretado por [[Alexandre Nero]].<ref>{{Citar web|url=https://vejario.abril.com.br/beira-mar/cinema-interpretar-leonel-brizola-jango/|título=Cinema: saiba quem vai interpretar Leonel Brizola no filme sobre Jango|data=06-08-2020|acessodata=09-12-2020|wayb=20200901234956|urlmorta=não}}</ref>

=== Homenagens e anistia ===
Em 1984, exatos vinte anos após o golpe militar, o [[cineasta]] [[Sílvio Tendler]] realizou um [[documentário]] reconstruindo a trajetória política de João Goulart por meio de imagens de arquivo e entrevistas. ''[[Jango (filme)|Jango]]'' atraiu mais de meio milhão de espectadores às salas de cinemas, tornando-se o sexto documentário de maior bilheteria do país. O filme também foi aclamado pela crítica, recebendo três troféus no [[Festival de Gramado]] e um no [[Festival de Havana]], além da [[Margarida de Prata]], da [[CNBB]].<ref>{{Citar web|url=http://www.filmeb.com.br/quem-e-quem/editor-de-som/maria-muricy|titulo=Maria Muricy|acessodata=2024-06-09|website=www.filmeb.com.br|lingua=pt-br}}</ref>

[[Imagem:Monumento_Jango.jpg|thumb|esquerda|Monumento a João Goulart em [[Porto Alegre]].]]

No teatro, o ator [[John Vaz]] interpretou Jango no espetáculo ''Os Bastidores do Golpe de 64'', encenado dentro do Museu da República, em 2004 (a 40 anos daquele golpe militar). Vaz também interpretou Jango na Minissérie ''JK'', da [[TV Globo]] (2005).

Em todo o país existem, pelo menos, onze escolas com o nome de João Goulart, com a proposta de homenageá-lo, de acordo com o [[Google Maps]]. A maioria delas fica no [[Rio Grande do Sul]], nos municípios de [[Alvorada (Rio Grande do Sul)|Alvorada]], [[Ijuí]], [[Novo Hamburgo]], [[Porto Alegre]], [[Viamão]] e em [[São Borja]]. Na cidade do [[Rio de Janeiro]], há três escolas homenageando Goulart: uma estadual e duas municipais (uma em [[Ipanema (bairro do Rio de Janeiro)|Ipanema]] e outra na [[Tijuca]]). Há também uma no município catarinense de [[Balneário Camboriú]] e outra no município de [[São João de Meriti]], no estado do Rio de Janeiro.

No [[Centro (Niterói)|centro]] de [[Niterói]], Rio de Janeiro, existe o [[Terminal Rodoviário João Goulart|Terminal rodoviário municipal João Goulart]], localizado na Avenida Visconde Rio Branco, em uma área adjacente à Praça Arariboia e às margens da [[Baía de Guanabara]]. Este terminal foi inaugurado em 1995 e está dividido em 13 plataformas, servindo a 102 linhas de ônibus municipais e intermunicipais e a aproximadamente 350 mil passageiros por dia.

Em 1992, durante o mandato do governador [[Leonel Brizola]], foi inaugurada na [[Rio de Janeiro|cidade do Rio de Janeiro]] a [[Via Expressa Presidente João Goulart]], popularmente conhecida como [[Linha Vermelha (Rio de Janeiro)|Linha Vermelha]]. A RJ-071, com 21 quilômetros de extensão, é uma via expressa do estado do Rio de Janeiro que liga os municípios do Rio de Janeiro e São João de Meriti, atravessando também o município de [[Duque de Caxias]]. Principal acesso ao [[Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro]], foi construída de acordo com o projeto do arquiteto grego [[Constantínos Apóstolos Doxiádis|Constantino Doxiádis]].

No dia 28 de junho de 2008, foi inaugurada a Avenida Presidente João Goulart em [[Osasco]], [[São Paulo (estado)|São Paulo]]. A Avenida tem cerca de 760 metros de extensão e é a primeira da cidade com [[ciclovia]].<ref>{{citar web|url=http://www.osascoagora.com.br/geral/avenida-presidente-joao-goulart-projeta-osasco-para-o-futuro/|título=Avenida Presidente João Goulart projeta Osasco para o futuro|acessodata=13-10-2013|data=02-07-2008|obra=Osasco Agora}}</ref> Cidades como [[Canoas]], [[Caxias do Sul]], [[Cuiabá]], [[Lages]], [[Pelotas]], Porto Alegre, [[Porto Velho]], [[Ribeirão Preto]], Rio de Janeiro, [[Rondonópolis]], São Borja, [[São Leopoldo]], [[São Paulo]] e [[Sobral (Ceará)|Sobral]] já têm vias homenageando João Goulart, de acordo com o Google Maps.

Em 15 de novembro de 2008, foi julgado pela Comissão de Anistia Política do [[Ministério da Justiça]] o pedido de anistia movido pela viúva de Goulart, Maria Teresa. O julgamento ocorreu em caráter de sessão extraordinária e foi realizado durante o 20º Congresso Nacional dos Advogados, em [[Natal (Rio Grande do Norte)|Natal]], no [[Rio Grande do Norte]]. O pedido foi aprovado e, de acordo com tal, Maria Teresa receberá uma pensão mensal de {{nowrap|R$ 5 425}}, valor correspondente ao salário de um advogado sênior, pois Jango era bacharel em Direito. O valor é retroativo a 1999, o que totalizou {{nowrap|R$ 643 900}}. Maria Teresa também foi anistiada e recebeu uma indenização de {{nowrap|R$ 100 mil}}.

{{quote2|O governo reconhece os erros do passado e pede desculpas a um homem que defendeu a nação e seu povo do qual jamais poderíamos ter prescindido.|Presidente [[Luiz Inácio Lula da Silva]]}}

=== Cassação anulada pelo Congresso Nacional em 2013 ===
[[Imagem:Jangodevolta.JPG|thumb|direita|Sessão solene para a devolução simbólica do mandato presidencial de João Goulart, em 18 de dezembro de 2013. E/D: o deputado [[Alessandro Molon]]; o senador [[Randolfe Rodrigues]]; o presidente da Câmara, [[Henrique Eduardo Alves]]; a presidente [[Dilma Rousseff]]; o presidente do Congresso, senador [[Renan Calheiros]]; o vice-presidente da República, [[Michel Temer]]; João Goulart Filho; o senador [[Pedro Simon]]; e a cantora [[Fafá de Belém]]. José Cruz / Agência Brasil]] Em 20 de novembro de 2013, em sessão conjunta do Congresso Nacional, foi anulada a seção que depôs o presidente João Goulart.<ref>{{Citar web|url=https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2013/11/21/interna_politica,399557/congresso-anula-sessao-que-cassou-mandato-de-joao-goulart-em-1964.shtml|titulo=Congresso anula sessão que cassou mandato de João Goulart em 1964|acessodata=2022-08-23|website=Acervo}}</ref> O projeto foi do deputado [[Domingos Savio (político)|Domingos Sávio]] (PMDB-MG). Destacando a sessão anulatória, o senador [[Randolfe Rodrigues]] fez menção que:<ref name="Época_1">{{citar web|url=http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2013/11/congresso-banula-sessaob-que-depos-joao-goulart.html|título=Congresso anula sessão que depôs João Goulart|data=21/11/2013|wayb=20131121144705|urlmorta=sim}}</ref>

{{cquote|João Goulart estava no comando de suas atribuições e em pleno território nacional e, por isso, o presidente do Congresso, [[Auro de Moura Andrade]], não poderia ter convocado arbitrariamente a sessão e muito menos ter declarado vaga a presidência.}}

Contemporâneo do fato, o senador [[Pedro Simon]] argumenta:<ref name="Época_1"/>

{{cquote|Não vamos reconstituir os fatos. A história apenas dirá que, naquele dia, o presidente do Congresso usurpou de maneira estúpida e ridícula a vontade popular depondo o presidente da República.}}

=== Devolução simbólica do mandato presidencial ===
Em 18 de dezembro de 2013 o Congresso Nacional, reunido em sessão simbólica, devolveu simbolicamente o mandato presidencial de João Goulart. A sessão teve a presença da presidente [[Dilma Rousseff]], de ex-presidentes da República e da viúva de Jango, Maria Teresa Goulart. A presidência do Congresso Nacional posicionou-se assim:<ref>{{citar web|url=http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/apos-49-anos-congresso-devolve-mandato-de-jango/|título=Após 49 anos, Congresso devolve mandato de Jango|publicado=Congresso em Foco|acessodata=04/01/2014}}</ref>

{{quote2| O Congresso não deve recusar ou fugir de suas responsabilidades, ainda que impliquem em um revisionismo histórico. |Presidência do Congresso Nacional}}

=== Família Goulart vs Estados Unidos ===
{{Excerto|João Goulart Filho|Processo contra os Estados Unidos}}

== Desempenho eleitoral ==
{| class="wikitable"
!Ano
!Eleição
!Cargo
!Partido
!Votos
!Resultado
|-
|1947
|[[Eleições estaduais no Rio Grande do Sul em 1947|Estaduais no Rio Grande do Sul]]
|Deputado estadual
| [[Partido Trabalhista Brasileiro (1945)|PTB]]
|4 150
|{{yes2|Eleito}}<ref name=resultado/>
|-
|1950
|[[Eleições estaduais no Rio Grande do Sul em 1950|Estaduais no Rio Grande do Sul]]
|Deputado federal
| [[Partido Trabalhista Brasileiro (1945)|PTB]]
| 39 832
|{{yes2|Eleito}}<ref name=result1/>
|-
|1954
|[[Eleições estaduais no Rio Grande do Sul em 1954|Estaduais no Rio Grande do Sul]]
|Senador
| [[Partido Trabalhista Brasileiro (1945)|PTB]]
| 346 198
| {{no2|Não eleito}}<br><ref name="OLJ"/><ref>{{citar web|título=''Banco de dados do Tribunal Superior Eleitoral''|url=http://www.tse.jus.br/|acessodata=08-07-2016}}</ref>
|-
|1955
|[[Eleição presidencial no Brasil em 1955|Presidenciais do Brasil]]
|Vice-Presidente
| [[Partido Trabalhista Brasileiro (1945)|PTB]]
|3 591 409
| {{yes2|Eleito}}<ref name=JJkre/>
|-
|1960
|[[Eleição presidencial no Brasil em 1960|Presidenciais do Brasil]]
|Vice-Presidente
| [[Partido Trabalhista Brasileiro (1945)|PTB]]
|4 547 010
|{{yes2|Eleito}}<ref name=JanJanR/>
|}

==Cronologia sumária==
{{Cronologia sumária de João Goulart}}

== Ver também ==
* [[Lista dos vinte gaúchos que marcaram o século XX segundo o jornal Zero Hora]]
* [[:Categoria:Ministros do Governo João Goulart|Ministros do Governo João Goulart]]
* [[João Goulart Filho#Processo contra os Estados Unidos|Processo da Família Goulart contra os EUA]]

{{Notas}}

{{Referências}}

=== Bibliografia ===
* AMADO, Rodrigo. ''A Política externa no governo João Goulart''. Cultura Editores Associados, 2000.
* BRAGA, Kenny. ''Meu Amigo Jango: depoimento de Manuel Leães''. Ed. Sulina, 2003
* [[Carlos Castelo Branco|CASTELO BRANCO, Carlos]]. ''Introdução à Revolução de 1964 – a queda de João Goulart''. Tomo 2. Ed. Artenova, 1975.
* DEODATO, Alberto. ''Nos tempos de João Goulart''. Livraria Itatiaia, 1965.
* JUREMA, Abelardo. ''Sexta-feira 13: os últimos dias do Governo João Goulart''. Edições O Cruzeiro.
* LÓPEZ, Luis Roberto. ''João Goulart – O Rio Grande Político''. IEL, 1990.
* OLIVEIRA, Maria Rosa Duarte de. ''João Goulart na imprensa: de personalidade a personagem''.
* PINHEIRO, Luis Adolfo. ''JK, Jânio, Jango: três jotas que abalaram o Brasil''.
* PINHEIRO NETO, João. ''Jango, um depoimento pessoal''. Ed. Record, 1993
* RYFF, Raul. ''O Fazendeiro Jango no Governo''. Avenir Editora.
* SKIDMORE, Thomas E. ''Brasil: de Getúlio a Castello (1930-1964). ''São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
* VILLA, Marco Antonio. ''Jango: um Perfil (1945-1964)''. São Paulo: Editora Globo, 2007. {{ISBN|8525037427}}
* {{Citar livro|sobrenome=Braga|nome=Kenny|sobrenome2=Souza|nome2=João Borges de|sobrenome3=Dioni|nome3=Cleber|sobrenome4=Bones|nome4=Elmar|numero-autores=1|url=http://www2.al.rs.gov.br/biblioteca/LinkClick.aspx?fileticket=2x4gueUrwIw%3d&tabid=5360|título=Parlamentares Gaúchos: João Goulart|ano=2014|editora=ALERS|local=Rio de Janeiro|isbn=978-85-66054-09-5|wayb=20201129161321|urlmorta=sim|acessodata=2021-01-02|ref=harv}}
*{{Citar livro|título=João Goulart|autor=Ferreira|primeiro=Jorge|ano=2011|editora=Civilização Brasileira|local=Rio de Janeiro|edição=3ª|isbn=978-85-200-1056-3|ref=harv}}

===Leitura adicional===
*{{Citar livro|url=https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/496936/001003248.pdf|título=João Goulart: devolução simbólica do mandato presidencial |editora=Jornal do Senado|ano=2013|autor=Congresso Nacional}}

== Ligações externas ==
{{Correlatos
|commons=Category:João Goulart
|wikiquote=João Goulart
|wikisource =Autor:João Goulart
}}
* [http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1344/ Mensagem ao Congresso Nacional 1962]
* [http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1345/ Mensagem ao Congresso Nacional 1963]
* [http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1346/ Mensagem ao Congresso Nacional 1964]
* [https://web.archive.org/web/20080729153339/http://www.presidencia.gov.br/info_historicas/galeria_pres/galgoulart1/galgoulart1/integrapresidente_view/ O governo João Goulart no sítio oficial da Presidência da República do Brasil (fase parlamentarista)]
* [https://web.archive.org/web/20080729155934/http://www.presidencia.gov.br/info_historicas/galeria_pres/galgoulart/galgoulart/integrapresidente_view/ O governo João Goulart no sítio oficial da Presidência da República do Brasil (fase presidencialista)]
* [https://web.archive.org/web/20070213072358/http://www.espacoacademico.com.br/067/67bandeira.htm Os últimos tempos de João Goulart]
* [https://web.archive.org/web/20091111024923/http://www.cpdoc.fgv.br/nav_gv/htm/biografias/Joao_Goulart.asp Biografia no sítio da Fundação Getúlio Vargas]
* [http://portalimprensa.com.br/noticias/ultimas_noticias/83279/jornalista+juremir+machado+lanca+livro+com+cartas+ineditas+do+ex+presidente+joao+goulart Jornalista Juremir Machado lança livro com cartas inéditas do ex-presidente João Goulart] [http://web.archive.org/web/20200318101355/http://portalimprensa.com.br/noticias/ultimas_noticias/83279/jornalista+juremir+machado+lanca+livro+com+cartas+ineditas+do+ex+presidente+joao+goulart arquivo]

{{Começa caixa}}
{{Caixa de sucessão
|título=[[Lista de ministros do Trabalho do Brasil|Ministro do Trabalho, Indústria<br>e Comércio do Brasil]]
|anos=1953 — 1954
|antes=[[José de Segadas Viana]]
|depois=[[Hugo de Araújo Faria]]
}}
{{Caixa de sucessão
|título=[[Lista de vice-presidentes do Brasil|14º Vice-presidente do Brasil]]
|anos=1956 — 1961
|antes=[[Café Filho]]
|depois=[[José Maria Alkmin]]
}}
{{Caixa de sucessão
|título=[[Lista de presidentes do Senado Federal do Brasil|Presidente do Senado Federal do Brasil]]
|anos=1956 — 1961
|antes=[[Café Filho]]
|depois=[[Auro de Moura Andrade]]
}}
{{Caixa de sucessão
|título={{nowrap|[[Imagem:Coat of arms of Brazil.svg|30px|Brasil]]<br />[[Lista de presidentes do Brasil|24º Presidente do Brasil]]}}
|anos=1961 — 1964
|antes=[[Ranieri Mazzilli]]
|depois=[[Ranieri Mazzilli]]
}}
{{Termina caixa}}
{{João Goulart}}
{{Presidentes do Brasil}}
{{Gabinete de João Goulart}}
{{Presidentes do Senado Federal do Brasil}}
{{Vice-presidentes do Brasil}}
{{Ministros do Trabalho do Brasil}}
{{Gabinete de Getúlio Vargas (1951–1954)}}
{{Deputados estaduais do Rio Grande do Sul - 37ª legislatura (1947 — 1951)}}

{{Controle de autoridade}}
{{Portal3|Biografias|Rio Grande do Sul|Brasil|Política|História|Educação}}

{{DEFAULTSORT:Joao Goulart}}
[[Categoria:João Goulart| ]]
[[Categoria:Brasileiros de ascendência belga]]
[[Categoria:Brasileiros de ascendência portuguesa]]
[[Categoria:Exilados do Brasil]]
[[Categoria:Exilados na ditadura militar no Brasil (1964–1985)]]
[[Categoria:Família Goulart]]
[[Categoria:Membros do Partido Trabalhista Brasileiro (1945)]]
[[Categoria:Ministros do Governo Vargas (1951-1954)]]
[[Categoria:Ministros do Trabalho do Brasil]]
[[Categoria:Mortes por infarto agudo do miocárdio]]
[[Categoria:Naturais de São Borja]]
[[Categoria:Pessoas relacionadas à ditadura militar no Brasil (1964–1985)]]
[[Categoria:Presidentes do Brasil]]
[[Categoria:Presidentes do Senado Federal do Brasil]]
[[Categoria:Políticos do Brasil depostos]]
[[Categoria:Vice-presidentes do Brasil]]
[[Categoria:Brasileiros de ascendência açoriana]]
[[Categoria:Família Brizola]]
[[Categoria:Políticos brasileiros do século XX]]