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Mitologia grega: diferenças entre revisões

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[[Ficheiro:Zeus Otricoli Pio-Clementino Inv257.jpg|thumb|Busto de [[Zeus]], em [[Otricoli]] ([[Museus Vaticanos|Sala Rotonda, Museu Pio-Clementino]], [[Vaticano]]). Cópia romana de original grego, século 4 [[AD]].]]
'''Mitologia grega''' é o estudo dos conjuntos de narrativas relacionadas aos [[mito]]s dos [[Grécia antiga|gregos antigos]], de seus significados e da relação entre eles e os povos — consideradas, com o advento do [[cristianismo]], como meras [[Alegoria|ficções alegóricas]].<ref name=sacconimitologia>[[Luiz Antonio Sacconi|Sacconi, Antonio]]. ''Minidicionário Sacconi''. Verbete: mitologia 1-2 (sobre mitologia grega), p. 462. </ref> Para muitos estudiosos modernos, contudo, entender os mitos gregos é o mesmo que lançar luz sobre a compreensão da sociedade grega antiga e seu comportamento, bem como suas práticas [[ritual]]ísticas.<ref>"Volume: Hellas, Article: Greek Mythology". Encyclritualopaedia ''The Helios''. (1952). </ref> O mito grego explica as origens do mundo e os pormenores das vidas e aventuras de uma ampla variedade de [[Lista de figuras mitológicas gregas|deuses, deusas, heróis, heroínas]] e outras [[Lista de criaturas mitológicas gregas|criaturas mitológicas]].

Ao longo dos tempos, esses [[mito]]s foram expressos através de uma extensa coleção de narrativas que constituem a [[literatura grega]] e também na representação de outras artes, como a [[pintura da Grécia Antiga]] e a [[Registro de pintura vermelha em cerâmica grega|pintura vermelha em cerâmica grega]].<ref>Sem Nome, "[http://www.mitosedeuses.hpg.ig.com.br/viagens/9/index_int_2.html Arte Grega]", em http://www.mitosedeuses.hpg.ig.com.br. Acesso: 1 de fevereiro, 2009 </ref><ref>Sem nome, "[http://www.historiadaarte.com.br/artegrega.html Arte grega]". Acesso: 1 de fevereiro, 2009 </ref> Inicialmente divulgados em [[Tradição oral|tradição oral-poética]],<ref name="Interesse">Sem nome, "[http://www.geocities.com/oficinadehistoria/mito1.htm Temas de interesse: Compreender os mitos]". Acesso: 1 de fevereiro, 2009</ref> hoje esses mitos são tratados apenas como parte da literatura grega.<ref>Sem nome, "[http://www.brasilescola.com/literatura/literatura-grega.htm Literatura Grega]", em [http://www.brasilescola.com/literatura/literatura-grega.htm Brasil Escola]. Acesso: 1 de fevereiro, 2009</ref> Essa literatura abrange as mais conhecidas fontes literárias da Grécia Antiga: os [[Poema épico|poemas épicos]] ''[[Ilíada]]'' e ''[[Odisséia]]'' (ambos atribuídos a [[Homero]] e que focam sobre os acontecimentos em torno da [[Guerra de Tróia]], destacando a influência de deuses e de outros seres), e também a ''[[Teogonia]]'' e ''[[Os Trabalhos e os Dias]]'', ambos produzidos por [[Hesíodo]].<ref name=BritanGrek>"Greek Mythology". ''Encyclopaedia Britannica''. (2002).</ref> Os mitos também estão preservados nos ''[[Hinos homéricos]]'', em fragmentos de poemas do [[Ciclo Épico]], na [[poesia lírica]], no âmbito dos trabalhos das tragédias do [[século V a.C.]], nos escritos de poetas e eruditos do Período Helenístico e em outros documentos de poetas do [[Império Romano]], como [[Plutarco]] e [[Pausanias]].<ref name=BritanGrek/> A principal fonte para a pesquisa de detalhes sobre a mitologia grega são as evidências [[arqueologia|arqueológicas]] que descobrem e descobriram [[Decoração|decorações]] e outros artefatos, como desenhos geométricos em [[cerâmica]], datados do [[século VIII a.C.]], que retratam cenas do ciclo troiano e das aventuras de [[Hércules]].<ref name=BritanGrek/> Sucedendo os períodos [[Período arcaico|Arcaico]], [[Grécia antiga|Clássico]] e [[Helenismo|Helenístico]], Homero e várias outras personalidades aparecem para completar as provas dessas existências literárias.<ref name=BritanGrek/>

A mitologia grega tem exercido uma grande influência na cultura, nas artes e na literatura da [[civilização ocidental]] e permanece como parte da herança e da linguagem do [[Ocidente]].<ref name=UolEdGregOci>Sem nome. "[http://educacao.uol.com.br/historia/ult1690u33.jhtm Os mitos gregos e sua influência na cultura ocidental]". [http://educacao.uol.com.br/historia História Geral]: '''[http://educacao.uol.com.br/ Uol Educação]'''. Acesso: [[30 de agosto]], [[2008]]. </ref> Poetas e artistas desde os tempos antigos até o presente têm se inspirado na mitologia grega e descoberto que os temas mitológicos lhes legam significado e relevância em seu contemporâneo.<ref>J.M. Foley, ''Homer's Traditional Art'', 43</ref> Seu patrimônio também influi na [[ciência]], como no caso dos nomes dados aos [[planeta]]s do [[Sistema Solar]] e em estudos [[Teoria|teóricos]], [[acadêmico]]s, [[Psicanálise|psicanalíticos]], [[Antropologia|antropológicos]] e muitos outros,<ref name = "madness">Dundes, "Madness", p. 147</ref><ref>Doty, p. 11-12</ref><ref>Segal, p. 5</ref><ref>"[http://www.guiageo-grecia.com/mitologia.htm Guia Geográfico Grécia]". Acessado em 18 de Julho, 2010. </ref> além de nos dias de hoje [[Neopaganismo|tradições neopagãs]] como a [[Wicca]] serem influenciadas por ela e outras como o [[Dianismo]], a [[Stregheria]] e principalmente o [[Dodecateísmo]] (ou Neopaganismo [[Helenismo|Helênico]]) tenham tentado resgatar suas crenças.
[[Ficheiro:Dionysos satyrs Cdm Paris 575.jpg|thumb|right|[[Dioniso]] e [[sátiro]]s. Interior de um vaso com figuras vermelhas, 480 a.C.]]
[[Ficheiro:Athena Herakles Staatliche Antikensammlungen 2648.jpg|thumb|right|[[Hércules]] e [[Atena]]. Cerâmica grega antiga, 480–470 a.C.]]

== Termo e compreensão ==
Num contexto acadêmico, a palavra "mito" significa basicamente qualquer [[narrativa]] [[Sagrado (religião)|sacra]] e [[Tradição|tradicional]], seja verdadeira ou falsa.<ref>{{en}} [http://dictionary.oed.com/cgi/entry/00320409?query_type=word&queryword=myth&first=1&max_to_show=10&sort_type=alpha&result_place=1&search_id=RfJ5-aCVlir-8535&hilite=00320409 termo "mito"], ''Dicionário OED''. Acesso: 27 de janeiro, 2009 </ref><ref>{{en}} [http://wordnet.princeton.edu/perl/webwn?s=myth termo "mito"], ''Princeton Wordnet''. Acesso: 27 de janeiro, 2009 </ref> O sufixo "[[wikt:-logia|-logia]]", derivado do radical grego "logo",<ref>Aninha Duarte, ''[http://www.nupea.fafcs.ufu.br/atividades/aulas/aula-de-critica.pdf Introdução à Crítica de Arte]'' (2004), p.18. Acesso: 27 de janeiro, 2009</ref><ref name="TeraNicola209">[[Ernani Terra|Terra, Ernani]]. De Nícola, José. ''Português: De olho no mundo do trabalho''. Editora Scipione (1ª Edição, 2006). pág.209, cap.4.</ref> representa um campo de estudo sobre um assunto em particular.<ref name="TeraNicola209"/> Com a junção de ambos os termos, "mitologia grega" seria, basicamente, o estudo dos mitos gregos, ou seja, os que fazem parte da cultura da Grécia.<ref name=sacconimitologia/> Sendo assim, o termo não só alude ao estudo dos mitos como também aos próprios mitos. Como escreve o [[professor]] e escritor português [[Carlos Ceia]], "termo de dupla significação, indica, por um lado, o conjunto dos mitos ou narrativas míticas relativas a seres sobrenaturais, fantásticos ou de valor superhumano e, por outro lado, o estudo ou interpretação dos mitos."<ref name="Carlos Ceia">[[Carlos Ceia]]. "[http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=1560&Itemid=2 Mitologia]". E-Dicionário de Termos Literários. Acesso: 16 de novembro, 2010. </ref>

É um termo crítico moderno e, portanto, os próprios gregos e romanos antigos não se referiam a suas crenças como "mitos" ou "mitologia", mas como religião (ver capítulo [[Mitologia grega#Introdução|Interpretação]]), o que ainda hoje em dia ocorre com os [[Dodecateísmo|neopaganistas helênicos]], embora estes vivam um acontecimento moderno diferente de resgate e preservação e mesmo certos grupos de adeptos entendam o papel dos mitos como [[arquétipo]]s ou [[símbolo]]s (ver seção [[Mitologia grega#Influ.C3.AAncia#Neopaganismo e resgate|Neopaganismo e resgate]]).

Para mais informações sobre o histórico de interpretação dos mitos gregos, dirija-se até as sub-seções: [[Mitologia grega#Concepções greco-romanas|Concepções greco-romanas]] e [[Mitologia grega#Interpretações modernas|Interpretações modernas]]. É importante ressaltar que, nesse artigo, as palavras "mitologia" e "mito" são usadas para as narrativas tradicionais e sagradas das culturas clássicas, sem qualquer implicação de que esta ou aquela seja verdadeira ou falsa.

== Introdução ==
=== Mito e sociedade ===
[[Ficheiro:1876 Frederic Leighton - Daphnephoria.jpg|thumb|190px|right|''As dafnefórias'' (1876), oléo sobre tela de Frederic Leighton: a ''dafnefória'' era um festival dedicado a [[Apolo]] celebrado pelos gregos a cada nove anos, em [[Tebas]], [[Beócia]].<ref>RIBEIRO JR., W.A. ''As dafnefórias''. [http://greciantiga.org Portal Graecia Antiqua], [[São Carlos]]. Disponível em www.greciantiga.org/img/index.asp?num=0534. Consulta: 1/2/2009.</ref>]]
A mitologia grega era assunto principal nas aprendizagens das crianças da Grécia Antiga, como meio de orientá-las no entendimento de fenômenos naturais e em outros acontecimentos que ocorriam sem o intermédio dos homens.<ref name=GregIntro> Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0717 Introdução à mitologia grega]". [http://greciantiga.org Grecia Antiga.Org]. Acesso: 30 de agosto, 2008. </ref> Os gregos antigos atribuíam a cada fenômeno natural uma criatura ou um deus diferente.<ref name="Marilena200537">Chaui, Marilena: ''Convite à Filosofia'' (2005), p. 37 </ref> Certos estudiosos modernos dizem que, quando passaram a inventar meios de calcular o tempo e quando criaram mecanismos de datação como o [[calendário]], seus mitos declinaram (ver [[Mitologia grega#Declínio|seção Declínio]] logo abaixo).<ref name="Marilena200537"/> Os poetas atribuíam esses estados térmicos, como também as relações e as características humanas, aos deuses e a outras histórias lendárias, e elas serviram durante um bom tempo como cultos ritualísticos na sociedade da Grécia antiga.<ref name=GregIntro/>

[[Ficheiro:AGMA Kylix femme autel.jpg|thumb|190px|left|Mulher ajoelhada diante de um altar. [[Registro de pintura vermelha em cerâmica grega|Pintura vermelha em cerâmica]], ca. 510-500 [[a.C.]] [[Ágora de Atenas|Antigo Museu Ágora de Atenas]].]]
Além das crianças serem educadas através dos mitos, as famílias aristocráticas da Grécia, assim como os reis, e também profissionais, como os médicos, possuíam a tradição de se ligarem [[Genealogia|genealogicamente]] a antepassados míticos, geralmente divinos, ou até mesmo heróicos.<ref name=GregIntro/> Os comerciantes também cultuavam deuses, como [[Hermes]], sempre em tentativa de deixá-lo satisfeito e assim conseguir bons resultados em suas vendas.<ref>Sem nome, "[http://www.suapesquisa.com/mitologiagrega/ Mitologia Grega]", em ''[http://www.suapesquisa.com Sua Pesquisa]''. Acesso: 31 de janeiro, 2009 </ref> Além de serem habituados aos [[sacrifício]]s de animais e às [[Oração|orações]],<ref name="MonteOlimpoAdoraCren">Nome do autor não-definido, "[http://molimpo2.sites.uol.com.br/ Adorações e crenças]". Acesso: 31 de janeiro, 2009</ref> os gregos antigos adotavam um deus particular ou um grupo deles para sua cidade, e os cidadãos construíam templos e o(s) venerava(m).<ref name="MonteOlimpoAdoraCren"/> Essas cidades não possuíam qualquer organização religiosa oficial, mas honravam os deuses em lugares determinados, como [[Apolo]] exclusivamente em [[Delfos]].<ref name="MonteOlimpoAdoraCren"/>

Muitos festivais religiosos eram realizados na Grécia antiga. Alguns eram especificadamente dedicados a uma deidade particular ou cidade-estado. A [[Lupercalia]], por exemplo, era comemorada na [[Arcadia]] e dedicada à pastoral [[Pã]]. Existiam também os jogos que eram realizados anualmente em locais diferentes, e que culminaram nos [[Jogos Olímpicos da Antiguidade]], realizados a quatro anos e dedicados a [[Zeus]]. Os gregos, frequentemente, encontravam desígnios dos deuses em muitas características da natureza. Os ''adivinhos'', por exemplo, acreditavam haver mensagens divinas contidas no vôo das aves e nos sonhos.<ref name="GregMitoReli"/> Nas cidades, os [[oráculo]]s — locais sagrados — eram usados por um sacerdote que, tomado por [[êxtase]] ou ''loucura divina'', servia de intermédio entre o diálogo de um fiel e seu deus de adoração.<ref name="GregMitoReli"/>

Nas primeiras eras em que a recente filosofia vivia ao lado da tradicional mitologia, para o povo grego a [[sabedoria]] plena e completa pertencia aos deuses, mas os homens poderiam desejá-la e amá-la, tornando-se [[filósofo]]s (philo= ''amizade, amor fraterno, respeito''; sophia= ''sabedoria'').<ref name=OlhoMundoTrabalho>[[Ernani Terra|Terra, Ernani]]. De Nícola, José. ''Português: De olho no mundo do trabalho''. Editora Scipione (1ª Edição, 2006). pág.98, cap.16.</ref>

=== Mito e religião ===
{{artigo principal|Religião na Grécia Antiga}}
[[Ficheiro:Bell-krater sacrifice scene MAN n2.jpg|thumb|left|Cena de [[Religião na Grécia Antiga#Sacrifício|sacrifício grego]] em [[Registro de pintura vermelha em cerâmica grega|pintura vermelha em cerâmica]] do século 5 [[a.C.]]. [[Museu Arqueológico de Espanha]].]]
É preciso haver um esclarecimento acerca da diferença entre mito e [[religião]]. Hoje, todas as mitologias de todos os povos são entendidas como um conjunto de crenças enraizadas em relatos modernamente tidos como fictícios e imaginados pelos poetas, enquanto a religião propõe-se a criar rituais ou práticas com a finalidade de estabelecer vínculos com a [[espiritualidade]].<ref name=GregIntro /> "Mitologia" é um termo indiscutivelmente técnico e moderno e nunca utilizado pelos próprios gregos ou romanos.<ref name="GregMitoReli">Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0299 Mitologia e religião para iniciantes]". [http://greciantiga.org Grecia Antiga.Org]. Acesso: 1 de fevereiro, 2009.</ref> Seus cultos compreendiam uma [[Politeísmo|religião politeísta]] da qual os especialistas de hoje agrupam no que se chama "mitologia grega", analisando as narrativas poéticas como legados da literatura antiga, ao passo que os próprios gregos, sobretudo antes da fama da filosofia, acreditavam serem reais. Pode-se dizer que "mito" é todo o conjunto que nós compreendemos hoje o que em suas épocas os gregos chamavam "religião".

[[Ficheiro:Opticorr.JPG|thumb|right|Concepção de um templo grego, onde se reverenciavam os deuses: muitas dessas [[Arquitetura da Grécia|obras arquitetônicas da Grécia]] ainda estão preservadas no território do país.]]
Para ficar mais claro, podemos dizer que os [[Texto sagrado|textos sacros]] dos gregos são o que chamamos agora de mitologia ou [[Literatura grega|literatura da Grécia antiga]]. A ''[[Teogonia]]'' e ''[[Os Trabalhos e os Dias]]'' de [[Hesíodo]], a ''[[Ilíada]]'' e a ''[[Odisséia]]'' de [[Homero]] e as ''[[Odes]]'' de [[Píndaro]] estão entre as obras que os gregos consideravam sacros.<ref>[http://books.google.com/books?id=uvtebmqZZDYC&pg=PA634&dq=odyssey+sacred+text&cd=5#v=onepage&q=odyssey%20sacred%20text&f=false Religions of the ancient world: a guide]</ref> Estes são os principais textos que foram considerados inspirados pelos deuses e geralmente incluem no prólogo uma invocação às [[Musas]] para que elas auxiliem o trabalho do poeta.

Os gregos faziam cultos os deuses do [[Olimpo]], realizados em [[templo]]s comuns ou em [[altar]]es e, também, culto aos heróis históricos, realizados em suas respectivas [[tumba]]s.<ref name="GregMitoReli" /> Dedicados a um deus ou a um herói, os templos, decorados com [[escultura]]s (de deuses ou heróis) em relevo entre o teto e o topo das [[coluna]]s, eram constituídos de pedras nobres como o [[mármore]], usadas no alto da [[acrópole]].<ref name="TemploArquitet">RIBEIRO JR., W.A. Arte grega para iniciantes. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. Disponível em www.greciantiga.org/arquivo.asp?num=0313. Consulta: 1/2/2009.</ref> Os [[Teatro na Grécia Antiga|antigos teatros gregos]], também, eram construídos para determinada figura mitológica, deuses ou heróis, como o teatro de [[Dioniso]] no Santuário de Apolo em [[Delfos]].<ref>RIBEIRO JR., W.A. O teatro de Dioniso em Delfos. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. Disponível em www.greciantiga.org/arquivo.asp?num=0432. Consulta: 1/2/2009. </ref>

Além da religião ter sido praticada através de [[Festival|festivais]], nela se acreditava que os deuses interferiam diretamente nos assuntos humanos e que era necessário acalmá-los por meio de [[sacrifício]]s.<ref name="GregMitoReli"/> Estes rituais de sacrifício desempenharam um papel importante na formação da relação entre o homem e o divino.<ref>Meuli 1946</ref> Um dos conceitos mais importantes quanto à [[moral]] para os gregos era o medo de cometer [[húbris]] (arrogância), o que constitui muitas coisas, do [[estupro]] à profanação de um cadáver.<ref>Omitowoju, P.36</ref><ref>Cartledge, Millet & Todd, P.126</ref>

=== Classificação ===
A gama de personagens, seres e ambientes que formam a mitologia grega podem ser separados em três partes, sendo a última um apêndice para a literatura mitológica, de onde conseguimos grande parte das informações sobre os mitos:
:1. ''Raças, divindades, criaturas; personagens em geral'', que abrange os [[Ventos (mitologia)|ventos]], [[centauro]]s, [[ctónico]]s, [[ciclope]]s, [[Dragão|dragões]], [[erínias]], [[Gigante (mitologia grega)|gigantes]], [[górgona]]s, [[hecatônquiros]], [[Harpia (mitologia)|harpia]], [[musas]], [[moiras]], [[Homo sapiens|mortais]], [[Ninfa (mitologia)|ninfas]], [[deuses olímpicos]], [[deuses primordiais]], [[sátiro]]s e [[Titã (mitologia)|titãs]].
::1 a. Aqui também são incluídos os heróis [[Héracles]], [[Aquiles]], [[Odisseu]], [[Jasão]], [[Argonautas]], [[Perseu]], [[Édipo]], [[Teseu]] e [[Triptolemos]].

:2. ''Lugares'', que abrange os ambientes em que essas figuras, na imaginação dos gregos, viveram suas aventuras, que são [[Delfos]], [[Delos]], [[Olímpia]], [[Hades (reino)]], [[Atlântida]], [[Olimpo]], [[Tróia]], e [[Temiscira]].

:3. ''Literatura mitológica clássica'', inclui o estudo da literatura antiga grega, que contou com nomes como [[Homero]], que incluía em sua narrativa a crença de deuses.

== Fontes ==
A mitologia grega é conhecida nos dias de hoje através da [[literatura grega]] e de expressões artísticas visuais como a [[cerâmica grega]] que datam do Período Geométrico<REF group=nota>'''Período Geométrico''': trata-se de uma fase da arte grega, caracterizada por pinturas em vasos, que data de 900 a.C a 800 a.C.</ref> em diante.<ref name=F.Graf>F. Graf, ''Greek Mythology'', 200 </ref> O objetivo deste capítulo é entender como nós, contemporâneos, tivemos a oportunidade de arrecadar hoje em dia informações tão antigas quanto são os mitos gregos.

=== Fontes literárias ===
A narração mítica desempenhou um papel importante em quase todos os gêneros da literatura grega. No entanto, o único manual mitográfico que sobreviveu da [[Grécia Antiga]] foi a famosa ''[[Biblioteca (obra literária)|Biblioteca Mitológica]]'', do escritor denominado [[Pseudo-Apolodoro]],<ref>[http://laborintus.planetaclix.pt/dicio-DB.html#M Breve dicionário mito-labirintiano.] Guia: Letra A, segundo verbete. Acesso: 30 de agosto, 2008. </ref> que tenta conciliar os contos contraditórios dos poetas e fornece um resumo da mitologia grega e suas lendas históricas.<ref name="HardRoutled">R. Hard, ''The Routledge Handbook of Greek Mythology'', 1 </ref> O verdadeiro [[Apolodoro]] viveu entre c. 180-120 [[a.C.]], escreveu sobre muitos destes temas e seus escritos podem ter formado a base para a coleção dessa obra, porém a ''Biblioteca'' aborda eventos que ocorreram muito tempo após sua morte, daí o nome Pseudo-Apolodoro.<ref name="HardRoutled" />

[[Ficheiro:Iliad VIII 245-253 in cod F205, Milan, Biblioteca Ambrosiana, late 5c or early 6c.jpg|thumb|left|''[[Ilíada]]'', Livro VIII, linhas 245-53, manuscrito grego, final do 5º e começo do 6º século [[AD]].]]
Entre as fontes literárias da primeira era, destacam-se os dois [[Poema épico|poemas épicos]] de [[Homero]]–''[[Ilíada]]'' e ''[[Odisséia]]''. Completando esse ciclo épico, temos escritas de poetas cujos documentos foram perdidos ao longo do tempo. Apesar da sua denominação tradicional, os [[Hinos homéricos]], hinos em [[coral]] da primeira fase da então-denominada [[poesia lírica]],<ref name=Miles> Miles, ''Classical Mythology in English Literature'', 7</ref> não possuem relação alguma com Homero.<ref name=greciaantigahinoshomericos>Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/lit/lit03a-1.asp Hinos homéricos]". greciaantiga.org. Acesso: 21 de Setembro, 2008. </ref> [[Hesíodo]], possível contemporâneo de Homero, produziu ''[[Teogonia]]'', o documento mais recente sobre mitos gregos, que elabora uma [[genealogia]] dos deuses e explica a origem dos [[Titã]]s e dos [[Gigantes]]. ''[[Os Trabalhos e os Dias]]'', também de Hesíodo, é um poema didático sobre a vida da agricultura que apresenta os mitos de [[Pandora]] e da Era dos Homens. O poeta dá conselhos sobre a melhor maneira de ter sucesso em um mundo perigoso tornado ainda mais arriscado por esses deuses.<ref name=BritanGrek /> ''Os Trabalhos e os Dias'' também apresenta o mito de [[Prometeu]], que, mais tarde, constituiu na base de uma trilogia de tragédias, possivelmente iniciada por [[Ésquilo]], que são: ''[[Prometeu Acorrentado]]'', ''Prometeu Desacorrentado'' e ''Prometeu, o Condutor do Fogo''.<REF group=nota>'''''Prometeu Acorrentado''''': o texto da peça está em domínio público e pode ser lido em [[pdf]] ou em [[html]] através das seguinte ligações: ''[http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/prometeu.html Prometeu Acorrentado (html)]; [http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/prometeu.pdf Prometeu Acorrentado (pdf)]''. Ligação externa: [http://www.ebooksbrasil.org/ Ebooks Brasil.org].</ref>

Os poetas líricos direcionaram por vezes seus temas aos mitos, todavia esse tratamento ficou cada vez menor, enquanto que sua alusões à narrativa cresceu. Os poetas líricos gregos, como [[Píndaro]] e [[Simónides de Ceos]], e os poetas bucólicos, incluindo [[Teócrito]], forneceram incidentes mitológicos individuais.<ref name=Klatt>Klatt-Brazouski, ''Ancient Greek and Roman Mythology'', xii</ref> Além disso, o mito foi tema central no [[drama]] [[Atenas|Ateniense]]: os dramaturgos trágicos [[Eurípides]], [[Sófocles]] e [[Ésquilo]] produziram seus enredos envolvendo a Era dos Heróis e a Guerra de Tróia. Muitas das grandes históricas trágicas (ou seja, [[Agamemnon]] e seus filhos, [[Édipo]], [[Jasão]] e [[Medéia]], etc.) trouxeram em sua forma clássica estas peças trágicas.
[[Ficheiro:RomanVirgilFolio014rVergilPortrait.jpg|thumb|O poeta romano [[Virgílio]], aqui retratado no manuscrito do século 15 ''[[Vergilius Romanus]]'', preservou muitos detalhes da mitologia grega em suas composições.]]
Os historiadores [[Heródoto]] e [[Diodoro Sículo]], e os geógrafos [[Pausânias (geógrafo)|Pausânias]] e [[Estrabão]], que viajaram ao redor do mundo grego e anotaram as histórias que ouviram, forneceram numerosos mitos locais, apresentando diversas vezes versões alternativas pouco conhecidas dos mitos.<ref name=Klatt /> Heródoto, especialmente, procurou as várias tradições apresentando e encontrando as raízes históricas ou mitológicas no conflito entre a Grécia e o Oriente.<ref>P. Cartledge, ''Os espartanos'', 60, e ''Os gregos'', 22</ref> Heródoto procurou conciliar as origens e a mistura de diferentes conceitos culturais.

A poesia das eras Helenística e [[Roma Antiga|Romana]], que embora tenha sido composta mais como literatura do que um exercício de culto aos mitos, contém muitos detalhes importantes que de outra forma seriam perdidos. Essa categoria inclui:

:'''1.''' Os poetas romanos [[Ovídio]], [[Sêneca]] e [[Virgílio]].
:'''2.''' Os poetas gregos da [[Antiguidade tardia]]: [[Antonino Liberal]] e [[Quinto de Esmirna]].
:'''3.''' Os poetas gregos do [[Período Helenístico]]: [[Apolónio de Rodes]], [[Calímaco]], [[Eratóstenes]] e [[Partênio]].
:'''4.''' Antigos romances de gregos e romanos, como [[Apuleio]], [[Petrônio]] e [[Heliodoro]].

Em contrapartida com o gênero lírico, a ''Fabulae'' e a ''Astronomica'' do escritor romano [[Higino]] são duas composições não-poéticas importantes sobre o mito. As obras ''Imagens'' e ''Descrições'', de Filóstrato e Calístrato (respectivamente), são dois trabalhos literários úteis para o estudo dos mitos gregos.

Finalmente, o [[Apologética|apologético]] [[Cristianismo|cristão]] [[Arnóbio]], citando práticas religiosas para desacreditá-las, e vários outros escritores bizantinos proporcionam detalhes importantes dos mitos, alguns deles procedentes de obras gregas perdidas durante os anos. Entre estes, inclui-se os [[léxico]]s de [[Hesíquio de Alexandria|Hesíquio]], a ''[[Suda]]'', e os tratados de [[João Tzetzes]] e de [[Eustácio de Salônica]]. O ponto de vista moralizador cristão a respeito dos mitos gregos se resume no dito ἐν παντὶ μύθῳ καὶ τὸ Δαιδάλου μύσος (''en panti muthōi kai to Daidalou musos'', "em todo mito está a profanação de Dédalo"), sobre o que disse a Suda que alude o papel de [[Dédalo]] ao satisfazer a "luxúria antinatural" de [[Pasífae]] pelo trono de [[Posídon]]: "Desde que a origem e a culpa desses males se atribuíram a Dédalo e foi odiado por eles, se converteu no objeto do provérbio." <ref>Pasiphae, Encyclopedia: Greek Gods, Spirits, Monsters</ref>

=== Fontes arqueológicas ===
[[Ficheiro:Akhilleus Charun Cdm Paris 2783 full.jpg|thumb|upright|[[Aquiles]] (esq.) mata um prisioneiro de [[Tróia]] diante de [[Caronte]], numa [[Registro de pintura vermelha em cerâmica grega|pintura-vermelha]] [[Etruscos|etrusca]], realizada no fim do [[Século IV a.C.|século IV]] e início do [[século III a.C.]].|left]]
A descoberta da [[Micenas|civilização micênica]] pelo [[arqueólogo]] amador alemão [[Heinrich Schliemann]] no [[século XIX]], e a descoberta da [[civilização minóica]] em [[Creta]] pelo arqueólogo britânico [[Sir Arthur Evans]] no [[século XX]], ajudaram a esclarecer muitas dúvidas a respeito dos épicos de Homero e outras questões da mitologia, como as crenças em deuses e em heróis. A evidência sobre os mitos e os rituais nos sítios [[Arqueologia|arqueológicos]] das civilizações micênica e minóica é inteiramente monumental, uma vez que a [[linear B]] (método de escrita antigo, encontrado em [[Creta]] e na Grécia continental) era usada principalmente para o registro de [[inventário]]s, embora os nomes de deuses e de heróis tenham sido dificilmente revelados.<ref name=BritanGrek />

Schliemann começou seu trabalho em [[1870]], com o intuito de averiguar se as histórias que ouvia de seu pai quando criança, a respeito dos épicos homéricos, eram verdadeiras; numa madrugada, juntamente com sua esposa, conseguiu encontrar dois [[diadema]]s de ouro, 4.066 [[plaqueta]]s, 16 [[estatueta]]s, 24 [[colar]]es de ouro, [[Anel|anéis]], [[agulha]]s, [[pérola]]s (total de 8.700 artefatos) e pesquisas posteriores deixaram certezas que a mítica cidade de Tróia existiu no local há milênios.<ref name=ArquioMito>Sem Nome. "[http://www.arqueologyc.hpg.ig.com.br/grecia.htm Arqueologia: Grécia Antiga]". [http://www.arqueologyc.hpg.ig.com.br Portal Arqueologia]. Acesso: 31 de agosto, 2008. </ref>

Existem desenhos geométricos em cerâmica datados do [[século VIII a.C.]] que retratam o [[Tróia|Ciclo de Tróia]], como também as aventuras de [[Hércules]].<ref name=BritanGrek /> Por dois motivos, essas representações visuais dos mitos possuem enorme importância: em primeiro lugar, muitos mitos gregos foram comprovados em desenhos de [[vaso]]s antes do que na literatura escrita–das doze elaborações sobre Hércules, por exemplo, somente a aventura de [[Cérbero]] é apresentada pela primeira vez em um texto literário<ref>Homero, ''Iliad'', 8. Poema épico sobre a [[Guerra de Tróia]]. </ref>–e, em segundo lugar, as fontes visuais muitas vezes fornecem cenas míticas que não são apresentadas em quaisquer fontes literárias existentes. Em alguns casos, a primeira representação conhecida de um mito na arte geométrica antecede, em questão de muitos anos e séculos, a sua primeira aparição conhecida na poesia arcaica.<ref name=F.Graf /> Nos períodos Arcaico (750–c. 500 a.C), Clássico ( 480–323 a.C), e Helenístico, Homero e várias outras personalidades surgem para completar as evidências literárias da existência da mitologia grega.

== História ==
{| class="toccolours" style="float: left; margin-left: 1em; margin-right: 2em; font-size: 85%; background:#ddeeff; color:black; width:30em; max-width: 25%;" cellspacing="0"
| style="text-align: left;" |
"Os complexos fenómenos da natureza foram certamente os primeiros a serem explicados de forma fantástica, sendo aí que nasce verdadeiramente o primeiro conjunto de narrativas míticas organizadas em texto escrito, muito depois de terem circulado de geração em geração até ao tempo de [[Homero]] e de [[Hesíodo]]."
|-
| style="text-align: right;" |—[[Carlos Ceia]].<ref name="Carlos Ceia"/>
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[[Ficheiro:Balkan topo en.jpg|thumb|upright|250px|[[Topografia|Descrição topográfica]] da [[Península]] [[Bálcãs|Balcânica]].]]
A origem dos mitos da Grécia não deriva puramente da civilização grega, mas de uma mistura entre a cultura dos [[indo-europeus]], pré-gregos, e até mesmo dos [[Ásia|asiáticos]], [[Egito|egípcios]] e outros povos com as quais os gregos estabeleceram contato.<ref name=MitoFontes>Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/mit/mit01.asp Os Mitógrafos]". [http://greciantiga.org Grecia Antiga.Org]. Acesso: 30 de agosto, 2008. </ref>

Um dos fatores de evolução da mitologia grega foi a grande transformação que ela experimentou através dos tempos, e tal transformação serviu para enriquecer sua própria cultura.<ref name="Johnson1718">Johnson, C. D. (2003), ''Entendendo a Odisséia'', 17–18, Greenwood Press. ISBN 0-313-30881-0.</ref> Os primeiros habitantes da [[Península]] [[Bálcãs|Balcânica]], em grande parte agricultores, atribuíam a cada aspecto da natureza um espírito.<ref name="Johnson1718"/> Finalmente, estes espíritos vagos assumiram a forma humana e entraram na mitologia local como deuses e deusas.<ref name="Johnson1718"/> Quando as tribos do norte invadiram a Península Balcânica, trouxeram consigo um novo panteão de deuses e crenças, voltadas à conquista, à força e à valentia, à batalha e ao heroísmo violento.<ref name="Albala18">Albala-Johnson-Johnson, ''Understanding the Odyssey'', 18</ref> Outras divindades mais antigas que povoavam a mente dos habitantes agrícolas se fundiram com aquelas dos invasores mais poderosos, ou então desvaneceram-se na insignificância.<ref name="Albala18"/>
[[Ficheiro:Mytikas summit PJS.jpg|thumb|left|250px|A mais alta [[montanha]] da [[Grécia]], o [[Monte Olimpo]], em foto de [[2005]], onde os gregos antigos acreditavam ser a morada dos [[Doze Deuses do Olimpo|Doze Deuses]].<ref>Sem nome, "[http://www.mingaudigital.com.br/article.php3?id_article=475 Grécia]", em [http://www.mingaudigital.com.br/ Mingau Digital]. Acesso: 31 de janeiro, 2009</ref>]]
Após a metade do período arcaico, que possuía mitos sobre as relações entre homens e deuses masculinos, os heróis tornaram-se cada vez mais aclamados, indicando o desenvolvimento paralelo da pederastia pedagógica, que pensa-se ter sido introduzido por volta de 630 a.C. Nos finais do século V a.C, os poetas haviam atribuído pelo menos um eromenos à todos os deuses importantes, exceto [[Ares]] e outras figuras lendárias.<ref>A. Calimach, ''Lovers' Legends: The Gay Greek Myths'', 12–109</ref> Outros mitos anteriormente existentes, como o de [[Aquiles]] e o de [[Pátroclo]], foram reinterpretadas como mitologia homossexual.<ref>W.A. Percy, Pederastia e Pedagogia na Grécia Arcaica, 54</ref>

O sentido da poesia épica foi criar ciclos históricos, e resultar num desenvolvimento de um senso da cronologia mitológica; assim, a mitologia grega desdobra-se como uma etapa no desenvolvimento do mundo e do homem.<ref name=Dowden>K. Dowden, ''Os usos da Mitologia grega'', 11</ref> As auto-contradições nas histórias fazem com que seja impossível montar um cronograma absoluto a respeito da Mitologia grega, mas podemos elaborar uma cronologia concordável. A história mitológica do mundo pode ser dividida em 3 ou 4 grandes períodos:

::1. '''''Mito da origem ou da era dos deuses''''': é a teogonia, o nascimento dos deuses, os mitos sobre a origem do planeta, dos deuses e da raça humana.
::2. '''''Era em que os homens e os deuses se mesclam livremente:''''' histórias das primeiras interações entre deuses, semi-deuses e mortais juntos.
::3. '''''Era dos heróis (era heróica)''''', onde a atividade divina ficou mais limitada. As últimas e maiores lendas heróicas são da Guerra de Tróia e suas consequências (consideradas por alguns investigadores como um quarto período separado).<ref>G. Miles, ''Mitologia Clássica na Literatura Inglesa'', 35</ref>
Embora a Era dos deuses tem sido freqüentemente alvo de interesse pelos alunos contemporâneos da mitologia grega, os autores arcaicos e clássicos possuíam uma clara preferência pela Era dos heróis. As heróicas ''Ilíada'' e ''Odisséia'', por exemplo, estavam e ainda se encontram atualmente sobre maior destaque que a ''Teogonia'' e que os hinos homéricos – e prevaleceram em popularidade e continuidade. Sob a influência de Homero, o culto heróico conduziu uma reestruturação na vida espiritual, expresso na separação entre o reino dos deuses do reino dos mortos (heróis), e dos deuses olímpicos dos [[ctónico]]s.<ref name=Burket>W. Burkert, ''Religião Grega'', 205</ref> No ''O Trabalho e Os Dias'', Hesíodo monta um esquema de quatro Era dos homens (ou Raças): de Ouro, de Prata, de Bronze e de Ferro. Estas raças ou eras são criações separadas dos mitos dos deuses, correspondendo à Era Dourada ao reino de [[Cronos]] e sendo as seguintes raças criações de [[Zeus]]. Hesíodo intercalou a Era (ou Raça) dos heróis pouco depois da [[Idade do Bronze]]. A ultima idade foi a [[Idade do Ferro]]. Em ''[[Metamorfoses]]'', Ovídio segue o conceito de Hesíodo e apresenta essas quatro idades.

=== Era dos deuses ===
==== Cosmogonia e cosmologia ====
{{Artigos principais|[[Deuses primordiais]] e [[Genealogia dos deuses gregos]]}}
{| class="float" width="33%" align="right" style="background-color:inherit;border-collapse:collapse;border-style:none;margin: .5em .75em;"
| width="20" valign="top" style="color:#B2B7F2;font-size:40px;font-family:'Times New Roman',serif;font-weight:bold;text-align:left;padding:2 2px;padding-top: 4px" | “
| valign="top" align="left" style="padding:0 10px;" |''Ἤτοι μὲν πρώτιστα Χάος γένετ'· αὐτὰρ ἔπειτα Γαῖ' εὐρύστερος, πάντων ἕδος ἀσφαλὲς αἰεὶ.<br />
Pois bem, no princípio nasceu Caos; depois, Gaia de amplo seio, a eterna base de tudo''
| width="20" valign="bottom" style="color:#B2B7F2;font-size:40px;font-family:'Times New Roman',serif;font-weight:bold;text-align:right;padding:2 2px;padding: 4px;" | ”
|-
| colspan="3" style="padding-top: 10px" |<p style="font-size:smaller;line-height:1em;text-align: right"><cite style="font-style:normal;">—[[Hesíodo]], ''[[Teogonia]]'', 116-7.<ref name=greciaportalgenese>Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/mit/mit02a.asp Gênese]". [http://greciantiga.org greciaantiga.org]. Acesso: 05 de setembro, 2008. </ref>
|}
[[Ficheiro:Amor Vincet Omnia.jpg|thumb|upright|''[[O Amor Conquista Tudo]]'', representação do deus [[Eros]], pelo pintor do [[barroco]] [[Caravaggio]].|left]]
"Mitos de origem" ou "mitos de criação", na mitologia grega, são termos alusivos à intenção de fazer com que o universo torne-se compreensível e com que a origem do mundo seja explicada.<ref>[http://www.rainhadapaz.g12.br/corpo.htm Colégio Rainha da Paz]. "[http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/portugues/generos_textuais/mitos/mitos_de_origem.htm Mitos de origem]". Acesso: [[5 de setembro]] de 2008. </ref> Além de ser o mais famoso, o relato mais coerente e mais bem estruturado sobre o começo das coisas, a ''Teogonia'' de Hesíodo também é visto como didático, onde tudo se inicia com o [[Caos (mitologia)|Caos]]: o vazio primitivo e escuro que precede toda a existência.<ref name=greciaportalgenese /> Dele, surge [[Gaia (mitologia)|Gaia]] (a Terra), e outros seres divinos primordiais: [[Eros]] (atração amorosa), [[Tártaro (mitologia)|Tártaro]] (escuridão primeva) e [[Érebo]].<ref name=greciaportalgenese /> Sem intermédio masculino, Gaia deu à luz [[Urano (mitologia)|Urano]], que então a fertilizou. Dessa união entre Gaia e Urano, nasceram primeiramente os [[Titã (mitologia)|Titãs]]: seis homens e seis mulheres ([[Oceano (mitologia)|Oceano]], [[Céos]], [[Créos]], [[Hiperião]], [[Jápeto]], [[Téia]] e [[Reia]], [[Têmis]], [[Mnemosine]], [[Febe]], [[Tétis (titânide)|Tétis]] e [[Cronos]]); e logo os [[Ciclope]]s de um só olho e os [[Hecatônquiros]] (ou Centimanos). Contudo, Urano, embora tenha gerado estas divindades poderosas, não as permitiu de sair do interior de Gaia e elas permaneceram obedientes ao pai.<ref name=greciaportaltitacronos>Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/mit/mit03a.asp O titã Cronos]". greciaantiga.org. Acesso: 06 de setembro, 2008.</ref> Somente Cronos, ''"o mais jovem, de pensamentos tortuosos e o mais terrível dos filhos"''<ref>Hesíodo, ''Teogonia'', versos 116-138. </ref>, castrou o seu pai–com uma [[foice]] produzida das entranhas da mãe Gaia–e lançou seus [[Genital|genitais]] no mar, libertando, assim, todos os irmãos presos no interior da mãe. A situação final foi que Urano não procriou novamente, mas o [[esperma]] que caiu de seus genitais cortados produziu a deusa [[Afrodite]], saída de uma espuma da água, ao mesmo tempo que o sangue de sua ferida gerou as [[Ninfa (mitologia)|Ninfas]] [[Melíades]], as [[Erínias]] e os [[Gigantes (mitologia grega)|Gigantes]], quando atingiu a terra.<ref name=greciaportaltitacronos /> Sem a interferência do pai, Cronos tornou-se o rei dos titãs com sua irmã e esposa Reia como cônjuge e os outros Titãs como sua corte.

O pensamento antigo grego considerava a teogonia–que engloba a cosmogonia e a cosmologia, temas desssa subseção–como o protótipo do gênero poético e lhe atribuía poderes quase mágicos. Por exemplo: [[Orfeu]], o [[poeta]] e [[músico]] da mitologia grega, proclamava e cantava as teogonias com o intuito de acalmar ondas e tormentas–como consta no [[poema épico]] ''[[Argonautas#Obras relacionadas|Os Argonautas]]'', de [[Apolónio de Rodes]]–e também para acalmar os corações frios dos deuses do [[Mundo inferior (mitologia grega)|mundo inferior]], quando descia à [[Hades]]. A importância da teogonia encontra-se também no ''Hino Homérico à Hermes'', quando [[Hermes]] inventa a [[lira]] e a primeira coisa que faz com o instrumento em mãos é cantar o nascimento dos deuses.<ref>Hino Homérico à Hermes, 414–435 </ref>
[[Ficheiro:The Mutiliation of Uranus by Saturn.jpg|thumb|250px|upright|''Cronos Mutilando Urano'', por [[Giorgio Vasari]] e Gherardi Christofano ([[século XVI]]). [[Palazzo Vecchio]], [[Florença]].]]

Contudo, a ''Teogonia'' não é somente o único e mais completo tratado da mitologia grega que se conservou até nossos dias, mas também o relato mais completo no que diz respeito a função arcaica dos poetas, com sua larga invocação preliminar das [[Musa]]s. Foi também tema de muitos poemas perdidos, incluindo os atribuídos à Orfeu, Museu, [[Epimênides]], [[Ábaris]] e outros profetas legendários, cujos versos costumavam ser usados em rituais privados de purificação e em [[religião de mistérios]]. Inclusive, há indícios de que [[Platão]] se familirizou com alguma versão da teogonia órfica.<ref>G. Betegh, ''The Derveni Papyrus'', p. 147 </ref> Poucos fragmentos dessas obras sobreviveram em [[citação|citações]] de filósofos [[Neoplatonismo|neoplatonistas]] e em fragmentos recentemente desenterrados, escritos em [[papiro]]. Um desses documentos, o [[papiro de Derveni]], demonstra atualmente que pelo menos no século V a. C. existiu um poema teogônico-cosmogônico de Orfeu. Este poema tentou superar a ''Teogonia'' de Hesíodo e a genealogia dos deuses se ampliou com o surgimento de [[Nix]] (a [[Noite]]), marcando um começo definitivo que havia surgido antes dos seres Urano, Cronos e Zeus.<ref> [[Walter Burkert|W. Burkert]], Religião Grega, p. 236 </ref><ref>G. Betegh, O Papiro de Derveni, p. 147 </ref>

==== Deuses gregos ====
{{Artigos principais|[[Deuses olímpicos]] e [[Monte Olimpo]]}}
{| class="float" width="33%" align="right" style="background-color:inherit;border-collapse:collapse;border-style:none;margin: .5em .75em;"
| width="20" valign="top" style="color:#B2B7F2;font-size:40px;font-family:'Times New Roman',serif;font-weight:bold;text-align:left;padding:2 2px;padding-top: 4px" | “
| valign="top" align="left" style="padding:0 10px;" |''ἐμοὶ δὲ θαυμάσαι θεῶν τελεσάντων οὐδέν ποτε φαίνεται ἔμμεν ἄπιστον. <br />
Para mim, quando os deuses realizam maravilhas, nada parece inacreditável.''
| width="20" valign="bottom" style="color:#B2B7F2;font-size:40px;font-family:'Times New Roman',serif;font-weight:bold;text-align:right;padding:2 2px;padding: 4px;" | ”
|-
| colspan="3" style="padding-top: 10px" |<p style="font-size:smaller;line-height:1em;text-align: right"><cite style="font-style:normal;">—[[Píndaro]], Pi, P. 10.48-50.<ref name=greciaportaldeusesolimp>Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/mit/mit09.asp Introdução aos deuses olímpicos]". greciaantiga.org. Acesso: 21 de setembro, 2008. </ref>
|}
[[Ficheiro:Olympians.jpg|thumb|upright|Os [[Deuses olímpicos|Doze Deuses Gregos]] (Zeus no trono), por Nicolas-André Monsiau (1754- 1837), finais do século XVIII.|left]]
Quando Cronos tomou o lugar de Urano, tornou-se tão perverso quanto o pai. Com sua irmã Reia, procriou os primeiros deuses olímpicos ([[Héstia]], [[Deméter]], [[Hera]], [[Hades]], [[Poseídon]] e [[Zeus]]), mas logo os devorou enquanto nasciam, pelo medo de que um deles o destronasse. Mas Zeus, o filho mais novo, com a ajuda da mãe, conseguiu escapar do destino e travou uma guerra contra seu progenitor, cujo vencedor ganharia o trono dos deuses.<ref name=greciaportaltitacronos /> Ao final, com a força dos Cíclopes–a quem libertou do [[Tártaro (mitologia)|Tártaro]]–Zeus venceu e condenou Cronos e os outros [[Titã (mitologia)|Titãs]] na prisão do Tártaro, depois de obrigar o pai a vomitar seus irmãos.<ref name=greciaportaltitacronos /> Para a mitologia clássica, depois dessa destituição dos Titãs, um novo panteão de deuses e deusas surgiu. Entre os principais deuses gregos estavam os olímpicos- cuja limitação de seu número para doze parece ter sido uma idéia moderna, e não antiga <ref>H.W. Stoll, ''Religião e Mitologia dos Gregos'', p. 8 </ref> - que residiam no [[Olimpo]] abaixo dos olhos de Zeus. Nesta fase, os olímpicos não eram os únicos deuses que os gregos adoravam: existiam uma variedade de divindades rupestres, como o deus-cabra [[Pã]], as [[ninfa]]s— [[Náiade]]s (que moravam nas nascentes), [[Dríade]]s (espíritos das árvores) e as [[Nereidas]] (que habitavam o mar) —, deuses de rios, [[Sátiro]]s e outras divindades que residiam em florestas, bosques e mares. Além dessas criaturas, existiam no imaginário grego seres como as [[Erínias]] (ou Fúrias) (que habitavam o submundo), cuja função era perseguir os culpados de [[homicídio]], má conduta familiar, [[heresia]] ou perjúrio.<ref>Brito, Rafael.''[http://www.templodoconhecimento.com/portal/modules/smartsection/item.php?itemid=8 Alguns Deuses, Coribantes, Dáctilos e Erínias].'' [http://www.templodoconhecimento.com/portal/ Templo do Conhecimento]. Acesso: 21 de Setembro, 2008. </ref>

Para honrar o antigo panteão grego, compôs-se os famosos [[hinos homéricos]] (conjunto de 33 canções).<ref name=greciaantigahinoshomericos /> Alguns estudiosos, como Gregory Nagy, consideram que os hinos homéricos são simples prelúdios, se comparado com a ''Teogonia'', onde cada hino invoca um deus.<ref>G. Nagy, ''Greek Mythology and Poetics'', p. 54 </ref> No entanto, os deuses gregos, embora poderosos e dignos de homenagens como as presentes nestes hinos, eram essencialmente humanos (praticavam [[violência]], possuíam [[ciúme]], coléra, [[ódio]] e [[inveja]], tinham grandezas e fraquezas humanas), embora fossem donos de corpos físicos ideais.<ref name=spectrum6>Vara Branco, Alberto Manuel. ''[http://www.ipv.pt/millenium/Millenium31/4.pdf A Mitologia Grega, uma concepção genial produzida pela humanidade: os condicionalismos religiosos e históricos na Civilização Helénica]'', p.6</ref> De acordo com o estudioso [[Walter Burkert]], a definição para essa característica do antropomorfismo grego é que "os deuses da Grécia são pessoas, e não abstrações, idéias ou conceitos".<ref>W. Burkert, ''Religião grega'', 182 </ref> Independentemente de suas formas humanas, os deuses gregos tinham muitas habilidades fantásticas, sendo as mais importantes: ter a condição de ser imúne a [[doença]]s, [[ferida]]s e ao [[tempo]]; ter a capacidade de se tornar invisível; viajar longas distâncias instantaneamente e falar através de seres humanos sem estes saberem. Os gregos consideravam a [[imortalidade]] — que era assegurada pela alimentação constante de [[ambrosia]] e pela ingestão de [[néctar]] — como a característica distintiva dos deuses.<ref name=spectrum6 /><ref>Cláudio Moreno,"[http://www.sualingua.com.br/02/02_mitol_1.htm mitologia e linguagem (4): hermético, néctar e sirene]", [http://www.sualingua.com.br/ SuaLingua]. Acesso: 22 de Setembro, 2008.</ref>
[[Ficheiro:Giovanni Battista Tiepolo 081.jpg|upright|thumb|''Olimpo'' (século XVIII), de [[Giovanni Battista Tiepolo]] (Museo del Prado, [[Madrid]]).]]

Cada deus descende de uma genealogia própria, prossegue interesses próprios, tem uma certa área de especialização, e é regido por uma personalidade singular; no entanto, essas descrições surgem a partir de uma infinidade de locais arcaicos variantes, que não coincidem sempre com elas. Quando esses deuses eram aludidos na poesia, na oração ou em cultos, essas práticas eram realizadas mediante uma combinação de seus nomes e [[epíteto]]s, que os identificavam por essas distinções do resto de suas próprias manifestações (e.x. ''Apolo Musageta'' era "Apolo, [como] chefe das [[Musas]]").

A maioria dos deuses foram associados a aspectos específicos de suas vidas: [[Afrodite]], por exemplo, era deusa do amor e da beleza, [[Ares]] era deus da guerra, [[Hades]] o deus da morte, e [[Atena]] a deusa da sabedoria e da coragem.<ref name="stollhw"> H.W. Stoll, ''Religion and Mythology of the Greeks'', p. 20</ref> Certos deuses, como [[Apolo]] e [[Dionísio]], apresentam personalidades complexas e mais de uma função, enquanto outros, como [[Héstia]] e [[Hélios]], revelam pequenas personificações. Os [[Templo grego|templos gregos]] mais impressionantes tendiam a estar dedicados a um número limitado de deuses, que foram o centro de grandes cultos panhelênicos.<ref name="stollhw" /> De maneira interessante, muitas regiões dedicavam seus cultos a deuses menos conhecidos e muitas cidades também honravam os deuses mais conhecidos com ritos locais característicos e lhes associavam mitos desconhecidos em outros lugares.<ref name="stollhw" /> Durante a era heróica — que veremos na próxima sub-seção — o culto dos heróis (ou semi-deuses) complementou a dos deuses e ambas as criaturas se fundiram no imaginário da Grécia.

=== Era dos deuses e dos mortais ===
{{Artigos principais|[[Eras do homem (mitologia)|Eras do homem]]}}
[[Ficheiro:Venus and Anchises.jpg|thumb|[[Afrodite]] e [[Anquises]], por [[Annibale Carracci]]: o relacionamento entre a deusa da beleza e um homem mortal, demonstra como ficou frequente as relações entre deuses e humanos no imaginário grego.]]
Unindo a idade em que os deuses viviam sós e a idade em que a interferência divina nos assuntos humanos era limitada, havia uma era de transição em que os deuses e os homens (mortais) se misturaram livremente. Estes foram os primeiros dias do mundo, quando os grupos se misturavam com mais liberdade do que fizeram depois. A maior parte das crenças dessas histórias foram reveladas posteriormente na obra ''[[Metamorfoses]]'' de [[Ovídio]], e frequentemente são divididas em dois grupos temáticos: histórias de amor e histórias de castigo.<ref>G. Mile, ''Classical Mythology in English Literature'', p. 38 </ref> Ambas histórias tratam do envolvimento dos deuses com os humanos, seja de uma forma ou de outra:

* Os ''contos de amor'' muitas vezes envolvem [[incesto]], sedução ou violação de uma mulher mortal por parte de um deus, resultando em uma descendência histórica. Essas histórias sugerem geralmente que as relações entre deuses e mortais precisam ser evitadas, sendo que raramente esses envolvimentos possuem finais felizes.<ref>G. Mile, ''Classical Mythology in English Literature'', p. 39 </ref> Em poucos casos, uma divindade feminina procura um homem mortal e vive com ele, como no Hino Homérico à [[Afrodite]], onde a deusa se relaciona com o príncipe [[Anchises]] e acaba concebendo o chefe troiano [[Enéias]].<ref>Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/mit/mit09-6.asp Afrodite]". greciaantiga.org. Acesso: 21 de Setembro, 2008 </ref>

[[Ficheiro:Hans Rottenhammer 001.jpg|left|thumb|O Casamento de [[Peleu]] e [[Tétis]], por [[Hans Rottenhammer]]]]
* Os ''contos de castigo'' envolvem a apropriação ou invenção de algum artefato cultural importante, como quando Prometeu roubou o fogo dos deuses e quando ele ou [[Licaão]] inventou o sacríficio, quando [[Tântalo]] roubou o néctar e a ambrósia da mesa de Zeus e de seus súditos, revelando-lhes o segredo dos deuses, ou quando [[Deméter]] ensinou [[agricultura]] e os [[Mistérios de Elêusis]] a [[Triptolemos]], ou quando [[Mársias]] inventou os [[aulos]] e, com ela, ingressou num concurso musical ao lado de [[Apolo]]. As aventuras de Prometeu marcam um ponto entre a história dos deuses e a dos homens.<ref> Morris, I. (1999), ''Archaeology As Cultural History: Words and Things in Iron Age Greece'', p.291, Blackwell Publishing. ISBN 0-631-19602-1.</ref> Um fragmento de papiro anônimado, datado do século III a.C., retrata vividamente o castido que Dionísio aplicou à Lucurgo, rei de [[Trácia]], cujo reconhecimento de novos deuses chegou demasiado tarde, ocasionando horrivéis penalidades que se estenderam por toda vida.<ref>J. Weaver, ''Plots of Epiphany'', 50</ref> A história da chegada de Dionísio para estabelecer seu culto em Trácia foi também o tema de uma trilogia de peças dramáticas do poeta antigo [[Ésquilo]]: como em ''As Bacantes'', onde o rei de [[Tebas (Grécia)|Tébas]], [[Penteu]], é castigo por Dionísio por ter sido desrespeitoso com as [[Ménades]], suas adoradoras.<ref>R. Bushnell, ''A Companion to Tragedy'', p. 28 </ref><ref> K. Trobe,'' Invoke the Gods'', p. 195 </ref>

Ainda no assunto de relação entre deuses e mortais, há um conto antigo baseado em um tema folclórico,<ref>Flávia Silvia, ''Deméter, deusa da fertilidade - Mitologia Grega'', 2ª parte: ''O mitologema de Deméter e Perséfone'', WordPress, Junho 1, 2008 </ref> onde Deméter está procurando por sua filha [[Perséfone]], depois de ter tomado a forma de uma anciã chamada Doso e recebido hospitalidade de Celéu, o rei de [[Elêusis]] em [[Ática]]. Por causa de sua hospitalidade, Deméter planejou fazer imortal seu filho Demofonte, como um ato de agradecimento, mas não pôde completar o ritual porque a mãe de Demofonte, Metanira, entrou e viu seu filho rodeado de fogo, visão essa que lhe provocou, instantâneamente, um grito agudo, que enfureceu Deméter, cuja lamentação veio depois, ao refletir o fato de que os "estúpidos mortais não entendem práticas divinas".<ref>''Hino Homérico a Deméter'', versos 255–274 </ref>

=== Era heróica ===
{| class="float" width="33%" align="right" style="background-color:inherit;border-collapse:collapse;border-style:none;margin: .5em .75em;"
| width="20" valign="top" style="color:#B2B7F2;font-size:40px;font-family:'Times New Roman',serif;font-weight:bold;text-align:left;padding:2 2px;padding-top: 4px" | “
| valign="top" align="left" style="padding:0 10px;" |''O fato de entre os homens e os deuses existir ainda uma terceira classe especial de heróis, que são denominados também "semi-deuses", é uma particularidade da mitologia e da religião gregas para a qual quase não existem paralelos.''
| width="20" valign="bottom" style="color:#B2B7F2;font-size:40px;font-family:'Times New Roman',serif;font-weight:bold;text-align:right;padding:2 2px;padding: 4px;" | ”
|-
| colspan="3" style="padding-top: 10px" |<p style="font-size:smaller;line-height:1em;text-align: right"><cite style="font-style:normal;">—[[Walter Burkert]], 1993.<ref name=greciaportalintroherois>Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/mit/mit05.asp Introdução aos mitos heróicos]". greciaantiga.org. Acesso: 21 de setembro, 2008. </ref>
|}
A idade em que os heróis viveram na mitologia grega é conhecida como Era (ou Idade) Heróica.<ref> F.W. Kelsey, ''An Outline of Greek and Roman Mythology'', p. 30 </ref> A Era Heróica surgiu no [[Período Arcaico]], quando os gregos imaginavam "heróis" ([[Língua grega|gr]]. ἥρωες; sg. ἥρως) como certos personagens de lendas épicas.<ref name=greciaportalintroherois /> Embora sujeitos à mortalidade, os heróis/semi-deuses se diferenciavam dos humanos pelo fato de serem capazes de façanhas impossíveis, talvez pelo fato de serem frutos de uma relação entre um mortal e um deus.<ref name=greciaportalintroherois />

Após a ascensão do culto heróico, os deuses e os heróis constituíram a esfera sagrada e são invocados juntos nos juramentos e nas orações que são dirigidas a eles.<ref>W. Burkert, ''Greek Religion'', 205 </ref> Em contraste com a era dos deuses, durante a heróica a lista de heróis nunca é fixa e definitiva; já não nascem grandes deuses, mas sempre podem surgir novos heróis do exército dos mortos. Outra importante diferença entre o culto dos deuses e o dos heróis é que o segundo dos dois se torna o centro da identidade do grupo local.<ref>Burkert, W. (2002),'' Greek Religion: Archaic And Classical'', 205–206, Blackwell Publishing. ISBN 0-631-15624-0</ref>

Os eventos monumentais de [[Hércules]] são considerados o começo da era dos heróis. Também se anexam a eles três grandes sucessos militares: a [[Argonautas|expedição argonáutica]] e a [[Guerra de Tróia]], como também a Guerra de Tebas.<ref>F.W. Kelsey, ''An Outline of Greek and Roman Mythology'', 30</br> * H.J. Rose, ''A Handbook of Greek Mythology'', 340 </ref>

==== Hércules e os Heráclidas ====
{{Artigos principais|[[Hércules]] e [[Invasões dóricas]]}}
{{double image|left|Pelike Geras Louvre G234 n2.jpg|180|Herakles Niobid krater Louvre G341.jpg|160|Hércules golpeando [[Geras]], filho de [[Nyx]] e personificação da [[velhice]]. Figura em cerâmica vermelha da [[Ática]], ca. 480-470 a.C.|Hércules com uma [[coroa de louros]], vestindo [[pele de leão]] e segurando um [[Arco (arma)|arco]]. Cerâmica grega antiga, 460–450 a.C.||}}
Certos estudiosos acreditam que, por de trás das complexas histórias que envolvem o mito de [[Hércules]] (ou [[Herácles]]), existiu um homem verdadeiro, talvez um senhor de [[vassalo]]s em [[Argos]].<ref name=durpris8>C. F. Dupuis, ''The Origin of All Religious Worship'', p. 86</ref> Outros sugerem que o mito de Hércules é uma alegoria da passagem anual do sol pelas doze [[constelações]] do [[zodíaco]].<ref name=durpris8 /> Existe um terceiro grupo que acredita que o mito deriva de outras culturas, revelando que a história de Hércules é uma adaptação regional de mitos heróicos já estabelecidos anteriormente. Embora a existência de todas essas e muitas outras especulações, a tradição afirma que Hércules foi filho de Zeus com a mortal [[Alcmena]], neta de [[Perseu]].<ref name=greciaportalhercules>Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/mit/mit06.asp Heracles]". Grecia Antiga.Org. Acesso: 27 de agosto, 2008. </ref> Suas fantásticas façanhas, que envolvem diversos [[Folclore|temas folclóricos]], proporcionaram muito material às lendas populares. É retratado como um sacrificador, um guerreiro dotado de imenso vigor físico, com força e proezas maravilhosas, protegido por armaduras e itens das quais utilizava com destreza, demonstrando superioridade às habilidades do homem mortal comum.<ref name=greciaportalhercules /> Quanto à iconografia, nas artes visuais — pelo menos no período arcaico — Hércules sempre fora apresentado com barba, pele de leão e [[clava]] nas mãos, com grandes músculos expostos nas pernas e nos braços.<ref>Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/mit/mit06.asp Heracles]", Iconografia. Acesso: 27 de agosto, 2008. </ref> Já no [[século IV]], a popularidade do herói decresceu e, talvez um pouco por isso, suas características humanas foram reforçadas mais do que as heróicas, e passou a ser representado sem barba e frequentemente sem armas de combate.<ref name=greciaportalhercules />

{{double image|right|Hercules_Musei_Capitolini_MC1265_n2.jpg|180|Herakles and Telephos Louvre MR219.jpg|180|Escultura de Hércules, artista desconhecido. [[Arte romana]] datada do século II a.C., [[Musei Capitolini]], [[Roma]], [[Itália]].|Os Heráclidas eram os descendentes de Hércules. Nesta escultura, o legendário herói e seu bebê [[Télefo]]. ([[Museu do Louvre]]).||}}
Na literatura, [[Eurípedes]] escreveu a peça trágica ''Hércules'' (ou ''Hércules Enlouquecido'', ''Hércules Furioso''), onde explora o mito do herói, revelando sua conturbada existência, e sua vontade de cometer [[suicídio]], mas que logo é encorajado a viver pelo amigo e rei de Atenas, [[Teseu]].<ref>Para mais detalhes da peça de Eurípedes, ver: Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/lit/lit05c-7.asp Héracles, de Erípedes]". Acesso: 27 de setembro, 2008 </ref> Na peça ''As Traquinianas'', Hércules aparece aqui através da escrita de [[Sófocles]].<ref>Para mais detalhes da peça de Sófocles, ver: Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/lit/lit05b-3.asp As traquinianas]". Acesso: 27 de setembro, 2008 </ref> Esses dois textos da Grécia antiga, resguardados até os dias atuais, nos conferiram detalhes preciosos acerca dos mitos sobre o herói mais popular e interessante da mitologia grega.<ref name=greciaportalhercules />

Hércules atingiu o mais alto prestígio social através de sua nomeação como ancestro oficial dos reis [[dóricos]]. Isto serviu provavelmente como legitimação para as [[invasões dóricas]] no [[Peloponeso]]. Um exemplo disto é o herói mitológico [[Hilo (mitologia)|Hilo]], epônimo de uma tribo dórica, que se converteu em Heráclida (nome que recebiam os numerosos descendentes de Hércules,<ref name=greciaportalheraclidas>Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/lit/lit05c-4.asp Os Heráclidas]". Acesso: 27 de setembro, 2008 </ref> especialmente os descendentes de Hilo — outros Heráclidas existentes são [[Macária]], Lamos, Manto, Tlepólemo e Télefo). Estes Heráclidas conquistaram os reinos peloponesos de [[Micenas]], [[Esparta]] e Argos, alegando, segundo o mito, o direito de governá-los devido sua ascendência. A ascensão dos Heráclidas é muitas vezes denominada "Invasão Dórica" (ver artigo). Um fato interessante é que os reis lídios e, posteriormente, os reis macedôniso — como governantes de um mesmo reino — também passaram a ser Heráclidas.<ref>[[Heródoto]], ''As histórias'', i.6–7</ref>

Embora Hércules tenha morrido, como é destino de todo mortal, por conta de seu ''lado humano'' (derivado da mãe [[Alcmena]]), alguns gregos — especialmente [[Píndaro]], que o chamava de "herói-deus"<ref>Pi. ''N''. versos 3.22 </ref> — acreditavam que, por conta de seu ''lado divino'' (advindo da descendência de Zeus), ele subiu ao Olimpo e tornou-se um deus.<ref name=greciaportalhercules /> Sua figura lendária, portanto, permeou durante algum tempo uma simbologia voltada à terra, aos heróis, ao homem mortal, mas também atencionada ao céu, aos deuses, ao divino, ao perfeito, ao ideal.<ref name=greciaportalhercules /> Essa figura mista que Hércules apresenta, em que o lado mortal e o lado divino se confundem, era muito reforçada em diversos cultos e sacrifícios realizados em [[Creta]], onde os gregos ofereciam-lhe sacrifícios duplos, primeiramente como herói e, somente depois, como um ser divino.<ref>BURKERT, W. ''Religião Grega na Época Clássica e Arcaica'', pag. 405 </ref>

Além das façanhas heróicas de Hércules, outros membros dessa primeira geração de heróis, como [[Perseu]], [[Teseu]], [[Deucalião]] e [[Belerofonte]], realizaram feitos muito semelhantes a ele, sempre realizando-os solitariamente, sem nenhuma outra ajuda, o que aconteceu quando enfrentaram monstros como [[Quimera]] e [[Medusa]] em mitos que beiram à [[Conto de fadas|contos de fadas]] (esses combates solitários só apresentam ainda mais a capacidade sobrehumana dessas personagens). Enviar um herói a uma morte presumida é um tema frequente nesta primeira tradição heróica, como acontece nas lendas de Perseu e de Belerofonte.<ref>Kirk, G. S. (1973), ''Myth: Its Meaning and Functions in Ancient and Other Cultures'', pag. 183, University of California Press. ISBN 0-520-02389-7.</ref>

==== Argonautas ====
[[Ficheiro:Krater Niobid Painter A Louvre G341.jpg|upright|thumb|Captura dos [[Argonautas]], [[cerâmica]] [[ática]], 460–450 [[a.C.]], [[Louvre]]|left]]
Único épico helenístico conservado até os dias atuais, ''Argonautica'', de [[Apolônio de Rodes]], narra o mito da jornada de [[Jasão]] e os [[Argonautas]] para recuperarem o [[Velo de Ouro]] da mítica terra de [[Cólquida]]. Em ''Argonautica'', Jasão é impelido à sua busca pelo rei [[Pélias]], que havia recebido uma profecia onde um homem de sandálias se tornaria seu [[Nêmesis (mitologia)|nêmesis]]. Jasão perde uma sandália em um rio da região, chegando na corte de Pélias e iniciando, assim, a epopéia. Quase todos os membros da seguinte geração de heróis, assim como Hércules, partiram com Jasão ao [[Argo]] para buscar o velo de ouro. Essa geração de heróis também inclui: o mito de Teseu, que partiu à Creta para enfrentar o [[Minotauro]]; [[Atalanta]], a heroína feminina, Meleagro, que por sua vez tinha um ciclo épico que rivalizava com a ''Ilíada'' e a ''Odisséia'', Idas, que lutou contra [[Apolo]] por Marpessa, os filhos de Boreas: Zeto e Calais, que desempenharam um importante papel na ilha de Fineu e na luta contra os Cinocéfalos, Laerte, pai de [[Ulisses]] e também Peleu, pai de [[Aquiles]].
Píndaro, Apolônio e Apolodoro se esforçaram em dar listas detalhadas sobre os Argonautas.<ref> Apolodoro, ''Biblioteca e Epítome'', i.9.16;</br> Apolonio, ''Argonáuticas'', i.20 y sig.; </br>Píndaro, Odes Píticas iv.1</ref>

Embora Apolônio tenha escrito seu poema no século III a.C, a composição da história dos argonautas é anterior à ''Odisséia'', que demonstra familiaridades com os enredos de Jasão.<ref name=verbeteargonaut>Verbete "Argonaut". Encyclopaedia Britannica. (2002).</ref><ref name=grimmal58>P. GRIMMAL, ''The Dictionary of Classical Mythology'', pág.58</ref> Em épocas antigas, a expedição mítica era considerada como um fato histórico, um incidente na abertura do [[Mar Negro]] ao comércio e à colonização grega.<ref name=verbeteargonaut /> Também tornou-se muito popular, cuja função vai desde a criação de novas lendas locais à inspiração de diversas tragédias gregas.<ref name=grimmal58 />

==== Casa de Atreu e Ciclo Tebano ====
{{Artigo principal|[[Sete Contra Tebas|Os Sete Contra Tebas]]}}
Entre o Argo (capítulo anterior) e a Guerra de Tróia (capítulo seguinte), houve uma geração conhecida por seus crimes. Isto inclui os feitos de [[Atreu]] e [[Tiestes]] em Argos. Atrás do mito da casa de Atreu (uma das principais dinastias heróicas juntamente com a Casa de [[Lábdaco]]), está o problema da devolução do poder e a forma de ascensão do trono. Os gêmeos Atru e Tiéstes com seus descendentes desempenharam o papel de protagonistas na tragédia acerca da devolução de poder em Micenas.<ref>Y. Bonnefoy, ''Greek and Egyptian Mythologies'', p. 103</ref>

[[Ficheiro:Cadmus teeth.jpg|upright|thumb|''[[Cadmo]] Semeando Dentes do Dragão'', por [[Maxfield Parrish]], 1908.|left]]
O Ciclo Tebano trata dos sucessos associados especialmente à [[Cadmo]], o fundador da cidade de Tebas, e, posteriormente, com os feitos de [[Laio]] e [[Édipo]] na mesma região; uma série de histórias que levaram ao saqueio final da cidade a mando dos Epigonis e d'Os Sete Contra Tebas (não se sabe se estes figuraram no épico original).<ref>R. Hard, ''The Routledge Handbook of Greek Mythology'', p. 317</ref> Acerca de Édipo, os antigos relatos épicos têm seguido um padrão diferente (no qual ele continuou governando Tebas depois da revelação de que [[Jocasta]] era sua mãe e também posteriormente ao seu casamento com uma mulher que se converteu em mãe de seus filhos) do que conhecemos graças às tragédias — especialmente a mais famosa do assunto, ''[[Édipo Rei]]'', de [[Sófocles]] — e aos relatos mitológicos posteriores a este texto antigo.<ref>Hard, R. (2003), ''The Routledge Handbook of Greek Mythology: Based on H.J. Rose's “Handbook of Greek Mythology”'', p. 311–317, Routledge. ISBN 0-415-18636-6.</ref>

==== Guerra de Tróia e consequências ====
{{Artigo principal|[[Guerra de Tróia]] e [[Ciclo Épico]]}}
[[Ficheiro:The Rage of Achilles by Giovanni Battista Tiepolo.jpeg|thumb|Em ''A Fúria de Aquiles '', de [[Giovanni Battista Tiepolo|Tiepolo]] (1757, afresco, [[Villa Valmarana]], [[Vicenza]]), [[Aquiles]] está enfurecido pela ameaça de [[Agamemnon]] tirar seu despojo da guerra, [[Briseis]], e desembainha sua espada para acertá-lo. A súbita aparição de [[Minerva]], que no afresco segura os cabelos de Aquiles, evita o assassinato.]]
A mitologia grega culmina na Guerra de Tróia, a famosa luta entre os gregos e os [[troiano]]s, incluindo suas causas e consequências. Nos trabalhos homéricos, as principais histórias já haviam tomado forma e substância, e os temas individuais foram elaborados mais tarde, especialmente dentro dos enredos dos dramas gregos. A Guerra de Tróia adquiriu também um grande interesse para a [[cultura romana]] por conta das histórias de [[Enéas]], herói troiano, cuja jornada à [[Tróia]] levou a fundação da cidade que um dia se converteria em Roma, e é recontada por Vírgilio em ''[[Eneida]]'' (cujo Livro II contém o relato mais famoso do saqueio de Tróia).<ref name=trojanwar>Verbete "Trojan War". Encyclopaedia The Helios. (1952).</ref><ref name=verbetetroy>Verbete "Troy". Encyclopaedia Britannica. (2002).</ref>

O Ciclo da Guerra de Tróia, uma coleção de poemas épicos, começa com os sucessos que levaram a guerra: [[Éris]] e a maçã de ouro, o julgamento de [[Páris]], o rapto de [[Helena (mitologia)|Helena]], e o sacríficio de [[Ifigénia]] em Aulis. Para resgatar Helena, os gregos organizaram uma grande expedição abaixo do mando do irmão de [[Menelau]], Agamemnon, rei de Argos ou de Micenas, mas os troianos não quiseram libertá-la. A ''Ilíada'', que se desenrola no décimo ano da guerra, narra em uma de suas páginas o combate entre Agamemnon com Aquiles, que era até então o melhor guerreiro da Grécia, e também narra as consequências da morte de [[Pátroclo]] (amigo de Aquiles) e de [[Heitor]], filho mais velho de [[Príamo]]. Antes da morte, se uniram aos troianos dois exóticos aliados: [[Pentesileia]] e [[Memnon]].<ref name=verbetetroy />
[[Ficheiro:Laocoon02.jpg|upright|thumb|Escultura atribuída a [[Agesandro]], [[Polidoro]] e [[Atenodoro]] representando o [[Grupo de Laocoonte]] ([[Museu do Vaticano]], Roma), personagens mortos por serpentes marinhas num espisódio da Guerra de Tróia, retratado na ''[[Ilíada]]'' e na ''[[Eneida]]''.|left]]

[[Aquiles]] matou ambos, até Páris atingir seu calcanhar mortalmente com uma flecha (daí a expressão ''Calcanhar de Aquiles''; para mais informações, veja o artigo do guerreiro). Antes de tomar Tróia, os gregos tiveram que roubar da cidadela a imagem de madeira de Palas Atenas. Finalmente, com a ajuda de Atenas, eles construíram o [[Cavalo de Tróia]]. Apesar das advertências de [[Cassandra]] (filha de Príamo), os gregos foram convencidos por Sinon — grego que, fingindo sua argumentação, conseguiu levar o gigantesco cavalo para dentro das muralhas de Atenas. O sacerdote [[Laocoonte]] tentou destruir o cavalo, mas acabou sendo impedido por serpentes marinhas que, com suas forças, o mataram. Ao anoitecer, a frota grega regressou e os guerreiros do cavalo abriram as portas da cidade.

O Ciclo Troiano proporcionou uma variedade de temas e se converteu em fonte principal de inspiração para os antigos artistas gregos (por exemplo, as [[métopa]]s de [[Partenon]] representando o saqueio de Tróia). Essa preferência artística pelos temas procedentes do ciclo troiano nos indica sua importância para a antiga civilização grega.<ref name=trojanwar /> O mesmo ciclo mitológico, posteriormente, também inspirou uma série de obras literárias da Europa. Os escritores europeus medievais troianos, desconhecedores da obra de Homero, encontraram na lenda de Tróia uma rica fonte de histórias heróicas e românticas e um marco que encorajou seus próprios ideais cortesãos e cavalarescos. Alguns autores do [[século XII]], como Benoît de Sainte-Maure (em seu ''Poema de Tróia'') e José Iscano (em seu ''De bello troiano''), descrevem a guerra simplesmente reescrevendo a versão padrão que encontraram em ''Dictis'' e ''Dares'', seguindo o conselho de [[Horácio]] e o exemplo de [[Virgílio]]: reescrever um poema de Tróia com veracidade, em lugar de contar algo completamente novo.<ref> D. Kelly, ''The Conspiracy of Allusion'', p. 121</ref>

== Declínio ==
A mitologia estava no coração da vida quotidiana na Grécia Antiga.<ref name="Johnson15">Albala-Johnson-Johnson, ''Understanding the Odyssey'', 15</ref> Os gregos consideravam toda a gama de enredos e personagens que hoje denominamos "mitologia grega" parte de sua história. Usavam o mito para explicar fenômenos naturais, variações de cultura, inimizades e amizades. Além disso, a mitologia serviu como fonte de orgulho para se traçar ascendência de grandes líderes e heróis mitológicos ou até mesmo deuses. Poucos eram os gregos que não criam nos relatos acerca da [[Guerra de Tróia]], da ''[[Ilíada]]'' e da ''[[Odisséia]]''. De acordo com estudiosos como [[Victor Davis Hanson]] e [[John Heath]], o conhecimento profundo da obra homérica era considerada pelos gregos a base de sua aculturação. Homero era a "educação da Grécia" (Ἑλλάδος παίδευσις) e sua poesia, "O Livro".<ref name="Hanson37">Hanson-Heath, ''Who Killed Homer'', 37</ref> Nas seções a seguir, veremos como gregos e romanos começaram a dar novas interpretações acerca das coisas, e como começaram a desacreditar dos poetas e dos dramaturgos. A figura do poeta era, sobretudo nos primeiros anos da era alfabetizada, a autoridade máxima, embora já nos tempos clássicos a sua posição tivesse mudado:

:"Não acredito que os deuses se induljam em relações profanas; e para pôr vínculos nas mãos, eu nunca pensei ser digno de crença, nem serei agora tão persuadido, não mais acreditarei que um só deus seja dono e senhor de outro. Para a divindade, se realmente ela é uma divindade, não há desejos; isso não passa de miseráveis contos escritos por poetas."</small> ([[Hércules]] para [[Teseu]]. [[Eurípides]], ''[[Héracles (tragédia grega)|Héracles]]'' 1340).

[[Ficheiro:Model of a greek trireme.jpg|upright|thumb|200px|Concepção de um [[trirreme]] da Grécia Antiga: as explorações marítimas dos gregos, uma das primeiras do homem antigo, contribuíram para a decadência do mito.|left]]
Embora o primeiro exemplo acima tenha sido dito por um personagem sobrehumano, Hércules, ao tentar aprofundar sua compreensão sobre os mitos gregos o próprio cidadão da Grécia antiga encontrou certas limitações e contradições nessas histórias, o que desencadeou em uma série de processos filosóficos. A filosofia surge justamente para compreender a verdade, mas de uma outra forma. Para a intelectual brasileira [[Marilena Chaui]] uma dessas contradições foi o fato de que os gregos começaram a realizar certas viagens marítimas e explorar algumas regiões das quais acreditavam serem habitadas por deuses, sendo que, quando a visitaram, puderam constatar que era povoada por outros seres humanos.<ref name=benito>Benito S. Pepe. "[http://www.planetanews.com/news/2007/10736 Do Mito à Filosofia, O caso da Astronomia]. Acesso: 28 de Setembro, 2008</ref>

Outros estudiosos acreditam que os gregos, ao inventarem o [[calendário]], conseguiram calcular o tempo como forma de prever e entender os estados térmicos e também o [[Sol]], a [[chuva]] e outros fatores climáticos (vistos, anteriormente, como feitos divinos e incompreensíveis) e, assim, proporcionaram uma grande mudança na crença dos mitos.<ref name="Marilena200537"/> De forma semelhante, a invenção da [[moeda]] como forma de trocas abstratas e a [[Alfabeto|escrita alfabética]] como forma de materialização de textos outrora propagados somente pela [[oratória]], além da invenção da política para a exposição das opiniões sociais, seriam marcos da sociedade grega que, com o início dessa vida urbana e um tanto mais moderna, começou a tecer bases para o [[artesanato]], o [[comércio]] e outras criações que começaram a desprezar os mitos.

Com essas mudanças, o homem veria em si mesmo uma necessidade de entendê-las e de desenvolvê-las, no que se criou a filosofia para suprir essa incompreensão.<ref name="Marilena200537"/> [[Pierre Grimal]] compartilha dessa idéia escrevendo:

::<small>"O mito se opõe ao ''logos'' como a fantasia à razão, como a palavra que narra à palavra que demonstra. ''Logos'' e mito são as duas metades da linguagem, duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos sendo uma argumentação, pretende convencer. O ''logos'' é verdadeiro, no caso de ser justo e conforme à 'lógica'; é falso quando dissimula alguma burla secreta ([[sofisma]]). Mas o mito tem por finalidade apenas a si mesmo. Acredita-se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante um ato de fé, caso pareça 'belo' ou verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar. O mito, assim, atrai em torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano; por sua própria natureza, é aparentado à arte, em todas as suas criações."</small><ref>[[Pierre Grimal|GRIMAL, Pierre]]. ''A mitologia grega'', p. 8 – 9.</ref>

[[Ficheiro:The Triumph of Civilization.jpg|thumb|right|''O Triunfo da Civilização'', 1793. Pintura por Jacques Réattu (1760-1833)]]
Há boa parcela de estudiosos modernos que crêem, portanto, que as habilidades poderosas de mudança saíram das mãos dos deuses imaginários e foram assumidas pelos homens antigos (e se estendem até nossos dias atuais, onde, por exemplo, acreditamos que uma administração política adequada — realizada e levada em frente pelos homens e não pelos deuses — pode resultar numa influência positiva nas sociedades, assim como uma administração inadequada resulta em influências negativas).<ref name="Marilena200537"/> Outros pensadores também atribuem à vinda do [[Cristianismo]] o declínio do mito grego. Antonio Salatino escreveu:

:<small>"O cristianismo também representou o fim da mitologia, um processo que conduziu ao desenvolvimento do pensamento racional, favorecendo assim o desenvolvimento da ciência. Por seu turno, as conquistas científicas dos séculos 17 e 18 reforçaram a confiança na superioridade do ser humano e fortaleceram o suposto direito do homem, baseado em fundamentos religiosos, de domínio sobre a natureza. A sobrevalorização dos conhecimentos derivados da ciência e do mundo civilizado e a negação dos valores dos povos selvagens conquistados levaram à extinção das tradições e línguas de muitas nações nativas."</small><ref>Antonio Salatino, "Nós e as plantas". ''Revista Brasil''. Bot., São Paulo, V.24, n.4 (suplemento), p.483-490, dez. 2001.</ref>

A [[astrologia]], que, após a morte de [[Alexandre, o Grande]], foi introduzida pela [[Mesopotâmia]] e pelo [[Egito antigo]] no mundo grego, chegou a um período de ouro na [[Roma imperial]] e contribuiu para a preservação dos mitos durante a [[Idade Média]].<ref>Carlos Parada, "[http://homepage.mac.com/cparada/GML/BriefHistory.html Brief history of the Greek myths: From the beginnings to the end of the Middle Ages]". Acessado em 16 de julho, 2010. </ref> Contudo, na própria Grécia clássica, o surgimento e a popularidade do racionalismo e da filosofia criaram até mesmo um debate entre a idéia de que os [[corpos celestes]] eram mesmo divindades em oposição à idéia de que eram meras pedras vagando pelo céu:

:<small>"A posição no presente é, como eu já disse, exatamente o oposto daquilo que foi quando aqueles que examinavam esses objetos os consideravam sem alma. Entretanto, mesmo então constituíam objetos de admiração, e a convicção que é agora realmente sustentada já era motivo de suspeita de todos que os estudavam acuradamente, a saber, que se fossem sem alma, e por conseguinte destituídos de intelecto, jamais obedeceriam a cálculos de precisão tão maravilhosos. E até naquela época havia quem ousava arriscar-se a afirmar que a razão é a ordenadora de tudo que está no céu. Mas os mesmos pensadores, num equívoco quanto à natureza da alma e concebendo-a como posterior e não anterior ao corpo, transtornaram, por assim dizer, todo o universo e, acima de tudo, eles próprios." ([[Platão]].</small> ''[[Leis (diálogo)|Leis]]'' 967b et seq.).

=== Concepções greco-romanas ===
==== Filosofia e mito ====
A filosofia surge através do mito, mas a ele acaba se opondo.<ref name=wellmoura>Wellington de Lucena Moura. "[http://paginas.terra.com.br/arte/epicuro/filosofia/filosofiaemito.htm Filosofia e mito]". Acesso: 28 de Setembro, 2008</ref> Nos finais do século V a.C., depois do auge da filosofia, da oratória, e da prosa, o destino e a veracidade dos mitos se tornaram incertos e as genealogias mitológicas deram lugar a uma nova concepção da origem das coisas, sendo que essa concepção tinha como prioridade a exclusão do supernatural (isto se mostra claro nas histórias [[Tucídides|tacidianas]]).<ref name=griffin>Griffin, J. (1986), «Greek Myth and Hesiod» ''The Oxford Illustrated History of Greece and the Hellenistic World'', p. 80, Oxford University Press. ISBN 0-19-285438-0.</ref> Enquanto os poetas e dramaturgos elaboravam os mitos, os historiadores e os filósofos desprezavam-os e criticavam-os.<ref> Miles, G. (1999), ''Classical mythology in English literature: a critical anthology'', p. 7–8, Londres, Nueva York: Routledge. ISBN 978-0-415-14755-2.</ref>
[[Ficheiro:Plato-raphael.jpg|thumb|left|O [[Platão]] de [[Rafael]] em ''[[A Escola de Atenas]]'' (provavelmente à semelhança de [[Leonardo da Vinci]]). O filósofo expulsou o estudo de [[Homero]], das tragédias e das tradições relacionados aos mitos gregos de sua utópica ''[[A República]]''.]]
Certos filósofos radicais, como [[Xenófanes]], começaram no século VI a. C. a rotular os textos dos poetas como blasfêmias. Queixava-se de que Homero e Hesíodo atribuiam aos deuses "tudo o que é vergonhoso e escandaloso entre os homens, pois os deuses roubam, matam, cometem adultério, e enganam uns aos outros".<ref name=flitz>Fritz, G. (1996 reimpr.),'' Greek Mythology: An Introduction'', p. 169–170, Johns Hopkins University Press. ISBN 0-8018-5395-8.</ref> Essa linha de pensamento encontrou sua expressão mais dramática em ''[[A República]]'' (acerca da justiça, do universo e dos diversos tipos de governo) e em ''Leis'' (que trata da lei divina e natural, da educação e da relação entre filosofia, política e religião) de [[Platão]]. Platão criou os seus próprios mitos alegóricos (como o [[mito da caverna]] e o [[mito de Er]] em ''A República''), atacando os contos tradicionais dos trucos, e tratando os furtos e os adultérios como imorais, opondo-se ao papel central que vinham tomando na literatura grega. A crítica de Platão - que rotulava os mitos de "palavrões antigos" -<ref> Platón, Teeteto, 176b</ref> foi o primeiro exercício e desafio sério à tradição mitológica homérica.<ref name=hansonheath>Hanson-Heath,''Who Killed Homer'', p. 37 ISBN 0-684-84453-2. </ref> [[Aristóteles]], por sua vez, criticou o enfoque filosófico pré-socrático quase-mitológico e destacou que "Hesíodo e os escritores telógicos estavam preocupados unicamente com o que lhes parecia plausível e não tinham respeito pelos outros [...] Mas não merece a pena tomar a sério os escritores que alardeiam o estilo mitológico; aqueles que procedem a demonstrar suas afirmações devem ser re-examinados".<ref name=griffin /> Mesmo no início do [[Império romano|império da Roma]], o livro ''[[Metamorfoses]]'', do romano [[Ovídio]], possui nos finais do poema um pseudo-discurso do filósofo e matemático grego [[Pitágoras]] que, reivindicando a [[vida após a morte]], o [[vegetarianismo]] e a esperança, diz ''Porque temeis o [[Estige]], as trevas e os nomes inexistentes, matéria para poetas [...]'',<ref>''[[Metamorfoses|Met]]''. Livro XV. Versos 154-55. </ref> embora o discurso de Pitágoras escrito por Ovídio seja permeado por alusões a criaturas e deuses romanos como [[Juno]], [[Lúcifer]], [[Palas (filho de Crio)|Palante]], [[Febo]], [[Tíndaro]], entre outros.<ref>''[[Metamorfoses|Met]]''. Livro XV. Versos 164, 189, 191, e 232, respectivamente. </ref>

As explicações filosóficas gregas que pretendiam revisar as mitológicas criaram conseqüências drásticas para os seus autores: [[Anaxágoras]], por exemplo, partiu para um auto-exílio fora de Atenas, por duvidar que a [[lua]] fosse uma deusa (explicação mitológica) e afirmar que, pelo contrário, vislumbrava em sua terra mares e montanhas.<ref name=wellmoura /> Aristóteles, que não aceitava a explicação de que o titã [[Atlas]] carregava a terra e o céu nas costas (afirmação que rotulou de "ignorância e superstição do povo grego")<ref>MARX, K. ''Diferença da Filosofia da Natureza de Demócrito e de Epicuro''. Tradução: Conceição Jardim e Eduardo Lúcio Nogueira. Lisboa, Editorial Presença. 1972, pág. 204. </ref>, exilou-se por temer que terminasse como [[Sócrates]], que obteve acusação de impiedade e morreu.<ref name=wellmoura /> [[Sócrates]] foi condenado com 71 anos, acusado, entre outras coisas, de [[ateísmo]] e de corromper os jovens gregos com seus ensinamentos.<ref name="GuidadoEstudante">Guia do Estudante - ''Atualidades Vestibular + Enem'' 2011, edição 12, p.93. [[Editora Abril]].</ref> [[Meleto]], poeta e um de seus acusadores, havia argumentado que "[...]Sócrates é culpado do crime de não reconhecer os deuses reconhecidos pelo Estado e de introduzir divindades novas; ele é ainda culpado de corromper a juventude. Castigo pedido: a morte". <ref>Jean Brun, pág. 37 </ref> Sócrates, após ficar preso a ferros durante 30 dias, morreu num método de auto-envenenamento da prisão da época,<ref>Sem nome. "[http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/socrates/mortedesocrates.htm Sócrates]". [http://www.educ.fc.ul.pt educ.pt] Acesso: 30 de setembro, 2008 </ref> ingerindo [[cicuta]] mas, antes de falecer, segundo Platão, incutiu uma dúvida a seus acusadores: "E agora chegou a hora de nós irmos, eu para morrer, vós para viver; quem de nós fica com a melhor parte ninguém sabe, exceto o Deus."<ref name="GuidadoEstudante" />

Essas perseguições se estenderam épocas depois, atingindo seu auge na [[Idade média]] (onde o [[cristianismo]] substituiu a filosofia) e declinando durante o [[Renascimento]] e principalmente no [[Iluminismo]] (onde a filosofia grega começava a ser retomada e revisada).<ref name=wellmoura /> Todavia, [[Platão]] não cuidou de separar si mesmo e sua sociedade da influência dos mitos: os estudiosos notam que sua própria caracterização de [[Sócrates]] baseia-se nos patronos tradicionais trágicos e homéricos, usados pelo filósofo para louvar o curso de vida e morte do seu mestre.<ref name=hansonheath /> Em ''[[Apologia de Sócrates]]'', Platão prescreve o discurso dado supostamente por Sócrates em seu julgamento:

{{cquote|<small>Mas talvez pudesse alguém dizer: "Não te envergonhas, Sócrates, de te aplicardes a tais ocupações, pelas quais agora está arriscado a morrer?" A isso, porei justo raciocínio, e é o seguinte: "não estás falando bem, meu caro, se acreditas que um homem, de qualquer utilidade, por menor que seja, deve fazer caso dos riscos de viver ou morrer, e, ao contrário, só deve considerar uma coisa: quando fizer o que quer que seja, deve considerar se faz coisa justa ou injusta, se está agindo como homem virtuoso ou desonesto. Porquanto, segundo a tua opinião, seriam desprezíveis todos aqueles semi-deuses que morreram em [[Tróia]]. E, com eles, o filho de [[Tétis]], o qual, para não sobreviver à vergonha, desprezou de tal modo o perigo que, desejoso de matar [[Heitor]], não deu ouvido à predição de sua mãe, que era uma deusa, e a qual lhe deve ter dito mais ou menos isto:

:Filho, se vingares a morte de teu amigo [[Pátroclo]] e matares Heitor,
:tu mesmo morrerás, porque, imediatamente depois de Heitor, o teu destino estará terminado" </small> (Hom. Il. 18.96) [...] <ref>Platão, ''Apologia de Sócrates''. Retirado de: ''[http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000065.pdf Apologia de Sócrates]'', Trad. Maria Lacerda de Souza, p.13 (em domínio público)</ref>}}

[[Victor Davis Hanson]] e [[John Heath]] estimam que a rejeição de Platão acerca da tradição homérica não obteve boa recepção pela base da civilização grega.<ref name=hansonheath /> Nesta etapa, os mitos mais antigos se mantiveram em cultos locais e seguiram influenciando a poesia e constituindo o tema principal da [[pintura da Grécia antiga]] e da [[escultura da Grécia antiga]].<ref name=griffin /> No teatro, de forma mais esportiva, [[Eurípedes]] elaborava [[intertextualidade]]s com as antigas tradições e, embora suas personagens zombassem dos mitos tradicionais e duvidassem de boa parte deles, o foco dessas peças são completamente voltados aos mitos. A obra deste dramaturgo impugna principalmente os mitos sobre os deuses e inicia sua crítica à mitologia com um argumento similiar ao previamente expresso por [[Xenófanes]]: "os deuses, como são tradicionalmente representados, são grosseiramente [[antropomórficos]]".<ref name=flitz />

=== Racionalismo helenístico e romano ===
No [[Helenismo]], a mitologia adquire o prestígio do conhecimento da elite que encontrava nos feitos de seus possessores algo pertencente a determinada classe. Ao mesmo tempo, o giro cético da idade clássica tornou-se ainda mais defendida e pronunciada.<ref name=gale94>Gale, M. (1994), ''Myth and Poetry in Lucretius'', p.87–89, Cambridge University Press. ISBN 0-521-45135-3. </ref> O mitógrafo grego [[Evêmero]], por exemplo, estabeleceu uma tradição cuja prioridade era buscar uma base histórica real para seres e eventos míticos.<ref>Verbete "Euhemerus". Em ''[[Encyclopædia Britannica]]'', 2002 </ref> Embora sua obra original (''Sagradas Escrituras'') esteja perdida, muito do que ele escreveu sobre o assunto foi preservado por [[Diodoro Sículo]] e [[Lactâncio]].<ref>R. Hard, ''The Routledge Handbook of Greek Mythology'', p.7.</ref>
[[Ficheiro:M-T-Cicero.jpg|thumb|upright|[[Cícero]] via-se como o defensor da ordem estabelecida, apesar de seu ceticismo em relação aos mitos e sua inclinação de fazer concepções mais filosóficas sobre as divindades.|left]]

O racionalismo [[hermenêutica|hermenêutico]] (relativo à [[Hermes]]) acerca do mito tornou-se ainda mais popular sob o [[Império Romano]], graças às teorias fisicalistas do [[estoicismo]] e graças à filosofia [[epicurismo|espicurista]]. Os estoicos apresentavam explicações dos deuses e dos heróis como fenômenos físicos, enquanto que os evêmeristas compreendiam-os como figuras históricas. Contudo, os estoicos — assim como os [[neoplatonismo|neoplatonistas]] — promoviam os significados morais da tradição mitológica, frequentemente basendo-se nas etimologias gregas.<ref name=chance94>Chance, J. (1994), ''Medieval Mythography: From Roman North Africa to the School of Chartres'', A.D. 433–1177, 69, University Press of Florida. ISBN 0-8130-1256-2.</ref> Mediante sua mensagem epicuriana, [[Lucrécio]] buscava expulsar os temores supersticiosos das mentes de seus vizinhos e cidadãos.<ref name=walsh>Walsh, P. G. (1998), ''The Nature of the Gods'', xxvi–xxvii, Oxford University Press. ISBN 0-19-282511-9.</ref> [[Tito Lívio|Lívio]], igualmente, é cético acerca da tradição mitológica e clama que não tinha como intenção ajuizar tais lendas.<ref name=gale94 /> O desafio dos romanos com um forte sentido apologético da tradição religiosa era defender essa tradição enquanto concediam que isto era frequentemente um terreno fértil para a superstição. O antiquário [[Marco Terêncio Varrão|Varrão]] — que considerava a religião uma instituição romana de grande importância para a preservação do bem social — dedicou rigorosos anos de sua vida a estudar as origens dos cultos religiosos. Em sua ''Antiquitates Rerum Divinarum'' (que não sobreviveu aos nossos dias, embora ''[[De Civitate Dei]]'', de [[Agostinho]], conserva seu foco geral), Varrão argumenta que, enquanto o homem supersticioso teme os deuses, a autêntica persona religiosa os venera como parentes de uma mesma família.<ref name=walsh />

Em sua obra, existiam três tipos de deuses:

* 1. ''Os deuses da natureza'': personificações de fenômenos como a chuva e o fogo;<ref name=walsh />
* 2. ''Os deuses dos poetas'': inventados pelos bardos sem escrúpulos para incitar as paixões;<ref name=walsh />
* 3. ''Os deuses da cidade'': inventados pelos sábios legisladores para iluminar e acalmar a população.<ref name=walsh />

Cotta, um acadêmico romano, ridicularizou tanto a acepção literal dos mitos como a alegórica, declarando rotundamente que ambas não teriam lugar na filosofia.<ref name=gale94 /> [[Cícero]], por sua vez, desprezava os mitos, mas, como Varrão, era enfático em seu apoio para a religião e suas consecutivas instituições estatais.<ref name=gale94 /> É difícil saber quão baixo se estendia esse racionalismo na escala social.<ref name=gale94 /> Cícero afirma que ninguém (nem mesmo velhos, mulheres ou crianças, ou qualquer outro tipo de coisa) é tolo a ponto de crer nos terrores de [[Hades]] ou na existência de [[Cila]], de [[centauro]]s e de outras criaturas compósitas,<ref> Cicero, ''Tusculanae disputationes'', i.11</ref> todavia o orador queixa-se constantemente do caráter supersticioso e crédulo das pessoas.<ref>Cicero, ''De divinatione'', ii.81</ref> ''De natura deorum''
é o resumo mais exaustivo dessa linha de pensamento fixada por ele.<ref name=gale94 />

=== Tendências sincronatórias ===
{{Artigo principal|[[Sincretismo]]}}
{{Veja|Mitologia romana}}
[[Ficheiro:Apolocitaredo8.jpg|right|thumb|Na [[Mitologia romana|religião romana]], o culto do deus grego [[Apolo]] (na imagem estátua romana de um original grego, no [[Musei Capitolini]], [[Roma]]) foi sincronizado com o culto de [[Deus Sol Invicto|Sol Invicto]]. A adoração do sol como protetor do império permanceu como principal culto imperial até ser substiuído pelo [[Cristianismo]].]]
Durante a época do auge romano, apareceu uma tendência popular de [[Sincronização|sincronizar]] os múltiplos deuses gregos e estrangeiros em novos cultos estranhos e quase irreconhecíveis. A sincronização ocorreu principalmente pelo fato dos romanos terem um conjunto/panteão de mitos muito precário, fazendo com que a tradição de mitos gregos fossem misturadas com os principais deuses romanos (interligando equivalentes das duas tradições).<ref name=gale94 /> Os deuses [[Zeus]] e [[Júpiter (mitologia)|Júpiter]] são exemplos desse envolvimento mitológico. Ainda nessa etapa de combinação entre duas tradições mitológicas, tudo indica que a associação dos romanos com a religião oriental resultou em mais sincronizações.<ref> Beard, M.; North, J. A., Simon, R. F. P. (1998), ''Religions of Rome: A History'', p. 259, Cambridge University Press. ISBN 0-521-31682-0.</ref> Um exemplo é o culto do sol, introduzido em Roma depois das campanhas de [[Aureliano]] na [[Síria]]. As divindades [[Mitra]] e [[Baal]], ambas asiáticas, foram sincronizadas com o deus grego [[Apolo]] e com [[Hélio]] numa só figura, o [[Deus Sol Invicto]] — que possuía (segundo a crença dos povos) atributos somados e, nas práticas de cultos, ritos conglomerados.<ref>Hackin, J. (1932), ''Mitologia asiática'', p. 38. ISBN 1-4179-7695-0.</ref> Apolo podia ser cada vez mais identificado na religião com Hélios ou incluso com [[Dionísio]], mas os textos que recapitulavam seus mitos raramente refletiam essas metamorfoses. A literatura mitológica tradicional estava cada vez mais disassociada das práticas religiosas reais.

A coleção de Hinos Órficos e da ''[[Saturnália]]'' de [[Macróbio]], conservadas desde o século II, também estão influídas pelas teorias racionalistas e pelas tendências sincronatórias. Os hinos órficos são um conjunto de composições poéticas pré-clássicas, atribuídas à [[Orfeu]]. Na realidade, estes poemas foram provavelmente compostos por vários poetas, e contém um rico conjunto de pistas sobre a mitologia pré-históricas da [[Europa]]. O objetivo da ''[[Saturnália]]'' é a de transmitir a cultura helênica que havia obtido de suas leituras, apesar de seu tratamento dos deuses ser contaminado pela mitologia e pela [[Religião no Antigo Egito|teologia egípcia]] e [[África do Norte|norte-africana]] (que também acabam afetando as interpretações de [[Virgílio]]). Na ''Saturnália'', reaparecem os comentários mitográficos influídos pelos evemeristas, estoicos e pelos neoplatônicos.<ref name=chance94 />

== Interpretações modernas ==
{{Artigos principais|[[Psicologia analítica]] e [[Antropologia estruturalista]]}}
[[Ficheiro:Johann Joachim Winckelmann (Angelika Kaufmann).jpg|thumb|upright|O [[Alemães|alemão]] [[Johann Joachim Winckelmann]], através dos trabalhos de estudiosos como [[Johann Matthias Gesner|Gesner]] e [[Christian Gottlob Heyne|Heyne]], estabeleceu as primeiras distinções entre arte grega, greco-romana e romana.]]
A gênesis da moderna compreensão da mitologia grega é considerada por certos escolares como uma dupla reação dos finais do [[século XVIII]] contra "a tradicional atitude da animosidade do cristianismo", onde a reinterpretação cristiana dos mitos como uma "mentira" ou "[[fábula]]" havia se conservado.<ref>Ackerman, R. (1991 reimpr.), «Introdução» ''Prolegomena to the Study of Greek Religion'', xv, Princeton University Press. ISBN 0-691-01514-7.</ref> Na [[Alemanha]], em cerca de 1795, houve um crescente interesse por Homero e pela mitologia grega. Em [[Göttingen|Gotinha]], [[Johann Matthias Gesner]] começou a dar alma aos estudos gregos, enquanto seu sucessor, [[Christian Gottlob Heyne]], trabalhou com [[Johann Joachim Winckelmann]], e desenvolveu as bases para a pesquisa e investigação mitológica tanto na Alemanha como em outros lugares.<ref>Fritz, G. (1996 reimpr.), ''Greek Mythology: An Introduction'', p. 9, Johns Hopkins University Press. ISBN 0-8018-5395-8.</ref> Heyne abordou o mito como filólogo e moldou os alemães educados na concepção da antiguidade ao longo de quase meio século, durante o qual a Grécia antiga exerceu uma intensa influência na vida intelectual da Alemanha.<ref>F. Graf, ''Mitologia grega'', p.9</ref>

A mitologia comparativa é a comparação dos mitos de diferentes culturas que possui a intenção de identificar os temas e as características compartilhadas.<ref> Littleton, p. 32</ref> A mitologia comparativa tem servido de uma variedade de fins acadêmicos. Por exemplo: os estudiosos têm utilizado as relações entre os diversos mitos para rastrear a evolução das religiões e das culturas, para propor origens comuns de diferentes culturas, e para apoiar várias [[Psicologia|teorias psicológicas]]. Falando em psicologia, as modernas interpretações do mito grego abriu espaço para uma abrangente compreensão psicológica acerca deles. Alguns estudiosos propõem que mitos de diferentes culturas revelam a mesma, ou semelhante, força psicológica no trabalho dessas culturas. Assim, alguns pensadores [[freud]]ianos têm identificado histórias semelhantes à história grega de [[Édipo]] em culturas diferentes. Eles argumentam que estas histórias refletem as diferentes expressões do [[Complexo de Édipo]] nessas culturas.<ref>Johnson e Price-Williams, ''passim''</ref> De mesmo modo, pensadores [[Carl Gustav Jung|junguianos]] têm identificado imagens, temas e padrões que aparecem, do mesmo modo, nos mitos de muitas culturas diferentes. Eles acreditam que essas semelhanças são resultados de arquétipos presentes no [[inconsciente coletivo]] dos níveis mentais de cada pessoa.<ref>Graves, p. 251</ref>

=== Enfoques comparativos e psicanalíticos ===
[[Ficheiro:Max Muller.jpg|thumb|upright|[[Max Müller]] é considerado um dos fundadores da mitologia comparativa. Em seu ''Mitologia Comparativa'' (1867), Müller analisa a "perturbadora" similaridade entre as mitologias de "raças selvagens" com as das primeiras européias.|left]]
O desenrolar da filologia comparativa no [[século XIX]] — junto com os descobrimentos [[Etnologia|etnológicos]] do [[século XX]] — fundou a "ciência da mitologia".<ref name=mythen>Verbete "myth": ''Encyclopædia Britannica'', 2002.</ref> Desde o [[Romantismo]], todo o estudo dos mitos era comparativo: Wilhelm Mannhardt, [[James Frazer]] e [[Stith Thompson]] ampliaram o foco comparativo para recoletar e classificar os temas do [[folclore]] e da mitologia.<ref name=mythen/> Em [[1871]], [[Edward Burnett Tylor]] publicou seu ''Primitive Culture'', onde aplicou o método comparativo com a intenção de explicar a origem e a evolução da religião.<ref name=allend>Allen, D. (1978), ''Structure and creativity in religion: hermeneutics in Mircea Eliade's phenomenology and new directions'', p.9–12, Walter de Gruyter. ISBN 90-279-7594-9.</ref><ref>Segal, R. A. (1999), ''Theorizing About Myth'', p.16, University of Massachusetts Press. ISBN 1-55849-191-0.</ref> O procedimento de Taylor de agrupar o material mítico, ritualístico e cultural de culturas ampliamente separadas influenciou tanto [[Carl Gustav Jung]] como [[Joseph Campbell]].<ref name=allend/> [[Max Müller]] aplicou a nova ciência da mitologia comparativa ao estudo dos mitos, no qual se detectou os restos distorcionados do culto à natureza [[Arianos|ariana]].<ref name=mythen /> [[Bronisław Malinowski]] enfatizou as formas nas quais os mitos cumpriam funções sociais comuns.<ref name=mythen /> [[Claude Lévi-Strauss]] e outros estruturalistas compararam as relações formais e paternas em mitos de todo o mundo.<ref name=mythen />
[[Ficheiro:Kerenyi karoly.jpg|upright|thumb|[[Károly Kerényi]] foi um dos maiores estudiosos de mitologia e línguas clássicas do [[século XX]].<ref name="DanielSilva2008">Daniel Silva, "[http://www.templodoconhecimento.com/portal/modules/smartsection/print.php?itemid=262 Resenha: Deuses Gregos, de Karl Kerényi]" (08/3/2008) Acesso: 7 de Dezembro, 2008 </ref>]]

[[Sigmund Freud]], com a [[psicanálise]], introduziu uma concepção transhistórica e [[Biologia humana|biológica do homem]] a uma visão do mito como expressão de idéias reprimidas.<ref name="Caldwell344">Caldwell, R. S. (1995), ''The Origin of the Gods: A Psychoanalytic Study of Greek Theogonic Myth'', p.344, Oxford University Press. ISBN 0-19-507266-9</ref> Através de mitos como o de [[Édipo]],<ref name="ComplexOedipus">Alex Vaz, ''[http://www.portalimpacto.com.br/docs/01AlexVazVestAula01OMundodosMitos.pdf O mundo dos mitos]'', p.2</ref> Freud estabeleceu concepções inovadoras a respeito da mente humana, criando teorias diferentes de tudo o que se tinha pensado até então,<ref>[http://www.sinprorp.org.br/Cursos/2007/233.htm ÉDIPO, APOLO E DIONISO: Mitologia grega e a Psicanálise]. Acesso: 2 de fevereiro, 2009 </ref> como o [[Complexo de Édipo]]<ref name="ComplexOedipus"/> e, fundamentalmente, a idéia de [[inconsciente]].<ref name="ComplexOedipus"/> Essa sugestão encontraria um importante ponto de acercamento entre as visões estruturalistas e psicoanalísticas dos mitos no pensamento de Freud. [[Carl Gustav Jung]] estendeu o enfoque transhistórico e psicológico com sua teoria do [[inconsciente coletivo]] e os arquétipos (patronos arcaicos herdados), às vezes codificiados nos mitos, que são derivados da mesma.<ref name=BritanGrek /> Segundo Jung, "os elementos estruturais que formam os mitos devem ser apresentados na psique inconsciente".<ref>Jung, C. G.; Kerényi, K. (2001 reimpr.), ''The Psychology of the Child Archetype'' ''Essays on a Science of Mythology'', p.85, Princeton University Press. ISBN 0-691-01756-5.</ref> Comparando a metodologia de Jung com a teoria de Joseph Campbell, Robert A. Segal conclui que "para interpretar um mito, Campbell simplesmente identifica os arquétipos nele. Uma interpretação de ''A Odisséia'', p. ex., mostraria como a vida de Odisseu se ajusta a um patrono heróico. Jung, pelo contrário, considera a identificação de arquétipos meramente no primeiro passo da interpretação de um mito".<ref> Segal, R. A. (4 de abril de 1990). ''The Romantic Appeal of Joseph Campbell''. Christian Century: p.332–335.</ref> [[Károly Kerényi]], um dos fundadores dos estudos modernos do mito grego,<ref name="DanielSilva2008"/> e um dos maiores estudiosos de tal folclore,<ref name="DanielSilva2008"/> abandonou seus primeiros pontos de vista sobre os mitos para aplicar as teorias de arquétipos de Jung à mitologia grega.<ref>Fritz, G. (1996 reimpr.), ''Greek Mythology: An Introduction'', p.38, Johns Hopkins University Press. ISBN 0-8018-5395-8.</ref> Segundo Kerényi, a mitologia grega é "um conjunto de contos sobre deuses, deusas, batalhas heróicas e jornadas ao mundo subterrâneo, sendo contos famosos, mas já não tão propícios a possíveis reformulações."<ref>Jung-Kerényi, ''Essays on a Science of Mythology'', p.1–2 </ref>

=== Teorias da origem ===
{{Veja|Sincretismo}}
[[Ficheiro:IngresJupiterAndThetis.jpg|thumb|left|''Júpiter e Tétis'' (1811), quadro do [[francês]] [[Neoclassicismo|neoclássico]] [[Jean Auguste Dominique Ingres|Dominique Ingres]].]]
Existem diversas teorias sobre a origem da mitologia grega. De acordo com a ''Teoria Escritural'', todas as lendas mitológicas procedem de relatos dos [[Texto sagrado|textos sagrados]], no qual os feitos reais foram disfarçados e, posteriormente, alterados.<ref name=bulfinch>Bulfinch, T. (2000), ''Bulfinch's Greek and Roman Mythology: The Age of Fable'', p.241–242, Dover Publications. ISBN 0-486-41107-9.</ref> A ''Teoria Histórica'', por sua vez, defende a tese de que todas as personas mencionadas na mitologia foram uma vez seres humanos reais, e as lendas sobre elas são meras adições de épocas posteriores (assim, supõem-se que a história de [[Éolo]] surgiu do fato de que este era governante de algumas ilhas do [[Mar Tirreno]]).<ref name=bulfinch /> Já a ''Teoria Alegórica'' supõe que todos os mitos antigos eram alegóricos e simbólicos,<ref name=bulfinch /> embora tivessem em seu contexto determinada verdade moral, religiosa ou filosófica ou um fato histórico que, com o passar do tempo, passaram a ser aceitas como verdade.<ref>Medeiros, Manoela. ''[http://www.frb.br/ciente/Impressa/Psi/2004.2/episteme/1.AfroditeManoela.pdf Afrodite e a Mitologia]'', p. 1 </ref> Finalmente, a ''Teoria Física'' se adere à idéia de que os elementos como [[ar]], [[fogo]] e [[água]] foram originalmente objetos de adoração religiosa, sendo que as principais deidades passaram a ser personificações desses poderes da natureza.<ref name=bulfinch /> [[Max Müller]] tentou compreender uma forma religiosa indo-européia determinando sua manifestação "original": em 1891, ele afirmou que "o descobrimento mais importante que se tem feito no século XIX a respeito da história antiga da humanidade [...] foi essa simples equação: Dyeus-pitar [[sânscrito]] = Zeus grego = [[Júpiter (mitologia)|Júpiter]] latino = [[Tyr]] nórdico."<ref name=allend /> Em outros casos, perto dos paralelos o cárater e a função sugerem uma herança comum, mas a ausência de evidências linguísticas faz com que seja difícil prová-la, como na comparação entre [[Urano (mitologia)|Urano]] e o [[Varuna (mitologia)|Varuna]] sânscrito, ou entre as [[Moiras]] e as [[Nornas]].<ref>Poleman, H. I. (marzo de 1943). ''Review of “Ouranos-Varuna. Etude de mythologie comparee indo-europeenne by Georges Dumezil”''. '''Journal of the American Oriental Society 63''' (1): p.78–79.</ref><ref>Winterbourne, A. (2004), ''When the Norns Have Spoken: Time and Fate in Germanic Paganism'', p.87, Fairleigh Dickinson University Press. ISBN 0-8386-4048-6.</ref>
[[Ficheiro:Aphrodite Adonis Louvre MNB2109.jpg|thumb|[[Afrodite]] e [[Adónis]], cerâmica com figuras vermelhas em forma de aríbalo, ca. 410 a.C, [[Louvre]].]]
A arqueologia e a mitografia, numa outra consideração, tem revelado que os gregos foram inspirados por algumas civilizações da [[Ásia Menor]] e do [[Oriente Próximo]]. [[Adônis]] parece ser o equivalente grego — mais claramente nos cultos do que em suas histórias míticas — de um "deus moribundo" do Oriente Próximo.<ref name="Edmunds90">Edmunds, L. (1990), ''Approaches to Greek Myth'', p.184, Johns Hopkins University Press. ISBN 0-8018-3864-9.</ref> Tudo indica que [[Cíbele]], por sua vez, tem suas raízes na [[Anatólia|cultura anatólica]], enquanto grande parte da [[iconografia]] de [[Afrodite]] surge das deusas semíticas.<ref name="Edmunds90"/> Existem possíveis paralelismos entre as gerações divinas mais antigas (Caos e seus filhos) e [[Tiamat]] em ''[[Enuma Elish]]''.<ref>Segal, R. A. (1991), ''Adonis: A Greek Eternal Child Myth and the polis'', Cornell University Press. ISBN 0-8014-2473-9.</ref> Segundo o estudioso Meyer Reinhold, "os conceitos teogônicos do Oriente Próximo, incluindo a sucessão divina mediante a violência e os conflitos gerados pelo poder, encontraram seu caminho [...] na mitologia grega."<ref> Reinhold, M. (20 de outubro de 1970). ''The Generation Gap in Antiquity''. Proceedings of the American Philosophical Society 114 (5): 347–365.</ref> Seguindo as origens indo-européias e do Oriente Próximo, alguns investigadores especulam sobre as obrigações da mitologia grega com as sociedades pré-helênicas: [[Creta]], [[Micenas]], [[Pilos]], [[Tebas]] e [[Orcómeno]].<ref name=burkert2324>Burkert, W. (2002), ''Greek Religion: Archaic And Classical'', p.23–24, Blackwell Publishing. ISBN 0-631-15624-0.</ref> Os historiadores da religião estavam fascinados por várias configurações de mitos aparentemente antigos relacionados com Creta (o deus como toro, Zeus e Europa, [[Pasífae]] que produz toro e dá a luz ao [[Minotauro]]; etc.).<ref name="Wood112">Wood, M. (1998), ''In Search of the Trojan War'', p.112, University of California Press. ISBN 0-520-21599-0.</ref> O professor Martin P. Nilsson concluiu que todos os grandes mitos da Grécia antiga estavam atados aos centros micênicos e âncorados em épocas pré-históricas.<ref name="Wood112"/> Todavia, de acordo com [[Walter Burkert]], a iconografia do período do palácio cretentese praticamente não tem dado confirmação alguma sobre a veracidade de todas estas teorias.<ref name=burkert2324 />

== Legado e importância ==
{| class="toccolours" style="float: right; margin-left: 1em; margin-right: 2em; font-size: 85%; background:#c6dbf7; color:black; width:30em; max-width: 25%;" cellspacing="0"
| style="text-align: left;" |
"O mito é o nada que é tudo.[...]"
|-
| style="text-align: right;" |—[[Fernando Pessoa]]<ref name>Sem nome, "[http://fredb.sites.uol.com.br/pessoa.html O Enigma em Pessoa: Introdução à Obra de Fernando Pessoa]". Acesso: 29 de janeiro, 2008 </ref>
|}
Localizada na juntura da [[Europa]], [[Ásia]] e [[África]], a Grécia é o berço de nascimento da [[democracia]],<ref>Finley, M. I. Democracy Ancient and Modern. 2d ed., 1985. London: Hogarth.</ref> da [[filosofia ocidental]],<ref> History of Philosophy, Volume 1 by Frederick Copleston</ref> dos [[Jogos Olímpicos]], da [[Literatura|Literatura ocidental]] e da [[historiografia]], bem como da [[Ciência política]], dos mais importantes princípios matemáticos, e também o berço de nascimento do teatro ocidental, incluindo os gêneros do [[drama]], [[tragédia]] e o da [[comédia]].<ref>Brockett, Oscar G. History of the Theatre. sixth ed., 1991. Boston; London: Allyn and Bacon.</ref> Apaixonados pelo [[debate]] e pela [[controvérsia]],<ref name="IntroGregEducaLit">Sem nome, "[http://www.nele.ufrgs.br/index.php?option=com_content&task=view&id=47&Itemid=70 Grego Clássico: Apresentação]" (2005), [http://www.nele.ufrgs.br/ NELE]. Acesso: 29 de janeiro, 2008 </ref> os gregos criaram os primeiros ordenamentos políticos com cunho democrático, onde compartilhavam e defendiam [[Argumento|argumentações]].<ref name="IntroGregEducaLit"/> Esses princípios fundamentais definiram o curso do mundo ocidental, e também divulgaram a mitologia grega, que ainda se torna eficiente, segundo muitos autores, para a educação acadêmica nas escolas de ensino fundamental e superior, como também para um entendimento mais profundo e filosófico do ser humano, como veremos a seguir:

=== Educação e literatura ===
Em ''Como e por que ler os clássicos universais desde cedo'' (2002), livro que dá dicas de como impor de forma criativa e prazerosa os grandes clássicos da cultura ocidental para as crianças,<ref>''[http://www.objetiva.com.br/objetiva/cs/?q=node/6 Editora Objetiva]'', [http://www.objetiva.com.br/objetiva/cs/?q=node/572 Sinopse: Como e Por que Ler os Clássicos Universais Desde Cedo]. Acesso: 1 de fevereiro, 2009</ref> [[Ana Maria Machado]] considera a cultura grega antiga como um tesouro da humanidade que desperta entusiasmo a muitos leitores de diferentes épocas.<ref name="AnaMaria26">MACHADO, 2002, p. 26</ref> Machado ainda complementa: "[a cultura grega antiga] são uma fonte inesgotável, onde sempre podemos beber. Para muita gente, eles são os mais fascinantes de todos os clássicos. Provavelmente são os que mais marcaram toda a cultura ocidental."<ref name="AnaMaria26"/>
{| class="toccolours" style="float: right; margin-left: 1em; margin-right: 2em; font-size: 85%; background:#ddeeff; color:black; width:30em; max-width: 25%;" cellspacing="0"
| style="text-align: left;" |
"Os jovens que têm cultura clássica estão menos sujeitos a se deixarem escravizar por seitas limitadoras, por religiões aprisionadoras. Eles têm uma liberdade espiritual trazida pela consciência de que a cultura tem sua história, seu desenvolvimento, sua diversidade."
|-
| style="text-align: right;" |—[[José Antonio Alves|JAA Torrano]], 2005.<ref>''Dialética trágica marca obra de Ésquilo''. [[Folha de São Paulo]], caderno MAIS!, edição de 16 de janeiro de 2005.</ref>
|}
Hoje em dia, a preocupação escolar acerca da criação de um "aluno leitor" bem formado, principalmente em países em desenvolvimento como o [[Brasil]], busca caminhos na [[literatura grega]] que aproximem esse aluno das histórias míticas enraizadas em temas como amor, ódio, felicidade e morte, para que esses alunos sintam-se seduzidos pelo bom livro, a fim de se interessarem por literatura.<ref name="MariaPereira1">Almeida Pereira, Kênia Maria de; ''[http://www.alb.com.br/anais16/sem12pdf/sm12ss05_02.pdf. A universidade e a formação do aluno leitor]'', [[Universidade Federal de Uberlândia]], p. 1. </ref> Para o estudioso Roland Barthes,<ref name="Barthes16">BARTHES (1978, p.16)</ref> se todas as disciplinas desaparecessem dos currículos universitários, bastaria que permanecesse a literatura porque essa contém todas as outras.<ref name="Barthes16"/> A literatura grega, segundo Barthes, contribuiria para a formação de leitores críticos e sensíveis com sua realidade, porque "[são] um logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem."<ref name="Barthes16"/>

Para alguns estudiosos e pesquisadores em educação, restou aos cargos da [[pedagogia]] compartilhar e criar interesse na leitura de uma bibliografia competente e agradável ao aluno.<ref name="MariaPereira1"/> Se, por um lado, a utilização da mitologia grega nas salas das faculdades ou das escolas pode parecer uma atividade sem originalidade, a professora Kênia Maria de Almeida Pereira, em um ensaio da [[Universidade Federal de Uberlândia]], defende que estudá-la seria "[...] uma atividade complexa e atual, rica em detalhes, prazerosa e surpreendente."<ref name="Kenia3">Almeida Pereira, Kênia Maria de; ''[http://www.alb.com.br/anais16/sem12pdf/sm12ss05_02.pdf. A universidade e a formação do aluno leitor]'', [[Universidade Federal de Uberlândia]], p. 3. </ref> Ela cita [[Julia Kristeva]], que afirmava que todo texto se converte num mosaico de citações, de absorção e transformação de outros textos,<ref>KRISTEVA, 1974 </ref> e também cita [[Umberto Eco]], para quem os livros sempre falam de outros livros e qualquer história conta uma história já contada,<ref>ECO (1984, p.20-1). </ref> além de dizer: "[...]todo texto devora outro, numa espécie de antropofagia infinita, em que o artista digere as linhas alheias para recompor seu próprio texto: eis aí uma das facetas da originalidade."<ref>PEREIRA (1998, p.196). </ref>

A professora sugere que os pedagogos trabalhem com textos gregos clássicos que tratem da mitologia, e com textos prosaicos ou poéticos da [[literatura brasileira]] (e outras) que façam [[intertextualidade]] com esses primeiros.<ref name="Kenia5">Almeida Pereira, Kênia Maria de; ''[http://www.alb.com.br/anais16/sem12pdf/sm12ss05_02.pdf. A universidade e a formação do aluno leitor]'', [[Universidade Federal de Uberlândia]], p. 5. </ref> Tal método estaria estabelecendo uma maior aproximação da literatura nacional e os temas que ela aborda,<ref name="Kenia5"/> como também aguçando a leitura dos alunos para observarem casos em que o poeta cita outros.<ref name="Kenia5"/> Kênia encerra seu ensaio citando o livro ''Pedagogia da Autonomia'', de [[Paulo Freire]], em que ele diz que "o educador é aquele profissional que desencadeia o exercício da curiosidade, da intuição e da imaginação em seus educandos."<ref name="Kenia8">Almeida Pereira, Kênia Maria de; ''[http://www.alb.com.br/anais16/sem12pdf/sm12ss05_02.pdf. A universidade e a formação do aluno leitor]'', [[Universidade Federal de Uberlândia]], p. 8. </ref> O professor cumpriria seu papel ao destacar a curiosidade no estudante, que seria capaz de conjecturar, comparar, e provocar, e essas inquietações iriam ser a base para a formação de seu espírito crítico, que também pesquisa e devota a leitura, numa forma de usá-la como ferramenta auxiliadora de segurança, competência e generosidade em seu caminho acadêmico e profissional posterior ao universitário.<ref name="Kenia8"/>

=== Cultura: língua e atividade ===
Profissionais envolvidos com [[filosofia]], [[história]], [[letras]], [[teatro]] e [[religião]] são frequentemente solicitados a conhecerem a [[língua grega]] uma vez que esse conhecimento possibilita a leitura dos textos de referência na forma original.<ref>Sem nome, "[http://www.nele.ufrgs.br/index.php?option=com_content&task=view&id=52&Itemid=75#Interesse_profissional Grego Clássico :: Por que estudar Grego?::Interesse profissional]", NELE. Acesso: 29 de janeiro, 2008</ref> Conhecer a língua grega implica ter a possibilidade de ler os mitos gregos com a riqueza de detalhes em que foram originalmente escritos.<ref name="ConhecimentoMitos">Sem nome, "[http://www.nele.ufrgs.br/index.php?option=com_content&task=view&id=52&Itemid=75#Conhecimento_dos_mitos Grego Clássico :: Por que estudar Grego?::Conhecimento dos mitos]", NELE. Acesso: 29 de janeiro, 2008</ref> Seguindo esse pensamento, profissionais envolvidos com [[psicologia]] e [[psicanálise]], ou com a [[sociologia]], se beneficiariam na atividade da leitura original, uma vez que [[Sigmund Freud]] abriu uma série de estudos acerca do mito de [[Édipo]], enquanto que [[Marx]] se debruçou sobre [[Prometeu]].<ref name="ConhecimentoMitos"/> O domínio do grego clássico propicia uma vantagem prática na elaboração de textos em [[língua portuguesa]], uma vez que esta tenha em sua estrutura palavras derivadas de equivalentes gregos,<ref>Sem nome, "[http://www.nele.ufrgs.br/index.php?option=com_content&task=view&id=52&Itemid=75#Habilidades_lingüísticas Grego Clássico :: Por que estudar Grego?::Habilidades_lingüísticas]", NELE. Acesso: 29 de janeiro, 2008</ref> e o aprendizado de sua [[etimologia]] auxiliaria na deducação e dissecação de muitos significados de palavras e expressões em outras línguas.<ref>Sem nome, "[http://www.nele.ufrgs.br/index.php?option=com_content&task=view&id=52&Itemid=75#Etimologia Grego Clássico :: Por que estudar Grego?::Etimologia]", NELE. Acesso: 29 de janeiro, 2008</ref> Através do domínio de sua [[linguagem]], a cultura grega se aproxima de tal forma que é possível desvendar as origens de muitas características da própria origem de quem a estuda, além do estudioso ser capaz de fazer contrastes necessários entre as duas, como também investigar sua visão e sua ação no mundo, uma vez que a cultura e a língua andam juntas.<ref>Sem nome, "[http://www.nele.ufrgs.br/index.php?option=com_content&task=view&id=52&Itemid=75#Distanciamento_entre_culturas Grego Clássico :: Por que estudar Grego?::Distanciamento entre culturas]", NELE. Acesso: 29 de janeiro, 2008</ref>

Por meio de todo esse aspecto cultural e línguistico, os mitos aparecem como sendo uma alternativa ou um caminho de conhecimento do mundo e dos seres humanos, talvez um modo de conhecer as questões fundamentais da existência humana,<ref>Sem nome, "[http://www.nele.ufrgs.br/index.php?option=com_content&task=view&id=52&Itemid=75#Questões_fundamentais_da_existência_humana Grego Clássico :: Por que estudar Grego?::Questões fundamentais da existência humana]", NELE. Acesso: 29 de janeiro, 2008</ref> como veremos na próxima subseção.

=== Preservação, humanismo, psicologia, antropologia ===
Através dos mitos, e de outros aspectos de sua cultura, aos gregos antigos são creditadas muitas contribuições ao mundo Ocidental de hoje, dentre as quais:

:• o desenvolvimento harmonioso do corpo e da mente humana;<ref name="InfluGregoOci">RIBEIRO JR., W.A. ''A influência dos gregos''. [http://greciantiga.org Portal Graecia Antiqua], [[São Carlos]]. Disponível em www.greciantiga.org/arquivo.asp?num=0024. Consulta: 1/2/2009.</ref>
:• a cidade autônoma;<ref name="InfluGregoOci"/>
:• a concepção da arte;<ref name="InfluGregoOci"/>
:• a especulação filosófica.<ref name="InfluGregoOci"/>
[[Ficheiro:Jan Cossiers - Prometheus Carrying Fire.jpg|right|thumb|''Prometeu Carregando Fogo'', por Jan Cossiers: preservado pelo século XVII, o mito de [[Prometeu]] é considerado humanista a partir do momento que ele rouba fogo divino e compartilha com os humanos, numa tentativa comum de tornar-se o dono do mundo.<ref>LACROIX (1997, p.25) </ref><ref>Ana Paula Quíntela Ferreira Sottomayor, "A Esperança de Prometeu" (1995), ''Revista da Faculdade de Letras'', Língua e Literatura, Porto, XII, pp. 221-231.</ref>]]
A mitologia grega foi retomada e revista nas artes e nos campos intelectuais dos séculos posteriores àqueles em que tinha se originado, e a preservação de seus mitos contribuiu fundamentalmente na compreensão do ser humano enquanto figura do [[humanismo]].<ref>Martins Melo, António Maria; ''[http://www2.dlc.ua.pt/classicos/mitologia.pdf A mitologia clássica no humanismo do renascimento português]'', [[Universidade Católica Portuguesa]], [[Braga]]. </ref><ref>Dircenéa De Lázzari Corrêa, "[http://www.ondetem.com/dircenea/Arteterapia.htm Arteterapia Humanista e Desenvolvimento Espiritual]" (2000). Acesso: 29 de janeiro, 2008</ref> Em ''Linguagem e Mito'', o filósofo [[Ernst Cassirer]] afirma que "[...]a mitologia irrompeu com mais força nos tempos mais antigos da história do pensamento humano, mas nunca desapareceu por inteiro".<ref>CASSIRER (1992, p.19).</ref> Sendo assim, os mitos gregos influíram, indiscutivelmente, na [[filosofia]], na [[parapsicologia]], e nas consciências [[educação|educacionais]], [[ecologia|ecológicas]] e sobre nós mesmos.<ref>Sem Nome, "[http://ocb.sites.uol.com.br/psicaintroducao.htm Introdução à Parapsicologia]". Acesso: 29 de janeiro, 2009 </ref><ref>Daniely Gonçalves Lopes Vieira, [http://www.confrariamisticabrasileira.org.br/artigos/mostra_artigo.php?id_artigo=127 A importância da Mitologia para o Atual Estado de Consciência]. Acesso: 29 de janeiro, 2009</ref><ref>Leonardo Daniel Ribeiro Borges, ''[http://www.conhecer.org.br/enciclop/2006/Mitologia%20grega.pdf. Mitologia Grega e a Consciência Ecológica]'', [[Universidade Federal de Goiás]].</ref><ref>Sem nome, "[http://www.flaviobatista.com.br/arquivos/01032007075601.pdf Filosofia, Mito e Pré-Socráticos]" (pdf) </ref> Na psicologia, especificamente, os simbolismos da mitologia grega representam um papel fundamental: os psicólogos associam a [[borboleta]] a uma estreita relação entre a mente do homem e a sua natureza espiritual, bem como a transformação, alma, libertação, sorte, sensualidade, e psiquê<ref>Mr.Tlaloc, "[http://www.wingdings.com.br/artigo_borboleta.htm Borboleta: Símbolo da Alma]" (2007). Acesso: 29 de janeiro, 2008 </ref> (cuja origem vem do grego ''psyché'')<ref name="Arroyo27">Arroyo, 1975, p.27</ref>. Muito antes, contudo, os gregos representavam a alma humana como uma borboleta, como meio de dar-lhe o significado simbólico de transformação, e da passagem da vida corpórea para a vida espiritual.<ref name="Arroyo27"/><ref>Guimarães, 1996, p.267-268</ref> Portanto, muitos dos conceitos atuais se apoiaram em heranças que a mitologia da Grécia nos legou. Para [[Mircea Eliade]], "os mitos gregos, efetivamente, narram não apenas a origem do Mundo, dos animais, das plantas e do homem, mas também de todos os acontecimentos primordiais em conseqüência dos quais o homem se converteu no que é hoje um ser mortal, sexuado, organizado emsociedade, obrigado a trabalhar para viver, e trabalhando de acordo com determinadas regras."<ref> ELIADE (1994, p.16).</ref>

Maria Lucia Gili Massi<ref name="VitorinoMarcello">Vitorino Marcello. "[http://www.ipen.br/sitio/?idc=510 Entrevista: Mitos ajudam a entender relações]". [http://www.ipen.br Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares]. Acesso: 30 de agosto, 2008.</ref>, chefe da área de desenvolvimento de recursos humanos, apontou numa entrevista de maio de 2005, que os "mitos ajudam a entender relações humanas."<ref name="VitorinoMarcello"/> Para o professor de [[Literatura]] e [[História da Arte]] Fábio Brazil,<ref name=BrasilMito>Brazil, Fábio. ''[http://www.google.com.br/url?sa=t&source=web&ct=res&cd=1&url=http%3A%2F%2Fwww.lendoeaprendendo.sp.gov.br%2F2005%2FDiretoria%2F5%2520VC%2520-%2520agosto%25202005%2520-%2520MITOLOGIA%2520GREGA%2520texto%2520NOVO%2520-%2520F%25C3%25A1bio%2520Brasil.doc&ei=CK65SKOIMKXgeOCCiYgD&usg=AFQjCNHt0Qt1w5eLSSJkUG1N0FdeN6zPlw&sig2=gVBUwIyA2gqPMYHsal19rw Mitologia grega: um convite à curiosidade.doc]'' '''(documento do [[microsoft word]])'''. Documento presente em [http://www.lendoeaprendendo.sp.gov.br/ Lendo e Aprendendo.gov]. Acesso: 29 de agosto, 2008. </ref> conhecer os mitos, "sejam eles polinésios, tupinambás, maias, sumérios ou gregos não é o estudo de um fenômeno local e temporal, é o estudo e conhecimento da resposta simbólica do homem diante da natureza interna e externa à sua [[psique]] [...]", e reforça que os mitos gregos "[são] para nós um ato de [[autoconhecimento]]."<ref name=BrasilMito/> Segundo Brazil, através dessa convenção olhar o mito pela face da religião fará com que olhemos também seus desdobramentos na história e na [[arte]]; se olharmos o mito pela face da arte, olharemos, inevitavelmente, seus desdobramentos na religião e na história e, por último, se o olharmos através da história, inevitavelmente seremos obrigados a olhá-lo também na arte e na religião.<ref name=BrasilMito /> Para o francês [[Lévi-Strauss]], fundador da [[antropologia estruturalista]],<ref>"Antropologia estruturalista", em [http://www.babylon.com/ Babylon]. Acesso: 29 de janeiro, 2008 </ref> as narrativas míticas, com seu poder de fascinar por meio de heróis audaciosos, ainda são fontes de vigor, resistência, e de referência para os ocidentais.<ref name="Strauss8">STRAUSS (2004, p.8).</ref> No livro ''O Cru e o Cozido'' (2004), Strauss afirma que os mitos gregos são vantajosos por serem capazes de configurarem-se em "[[analogia]]s universais que, independentes da língua materna de cada um, podem ser familiares a todos nós."<ref name="Strauss8"/>

== Influência ==
=== Artes ===
==== Europa e América do Norte ====
[[Ficheiro:Botticelli Venus.jpg|left|thumb|''[[O Nascimento de Vênus]]'', de [[Botticelli]] (c. 1485–1486, [[Uffizi]], [[Florença]]) é uma ''Venus Pudica'' revivida para um novo ponto de vista da antiguidade [[Paganismo|pagã]]: muitos a compreendem como o resumo do espírito [[Renascimento|renascentista]].<ref name=BritanGrek />]]
A ampla adoção do [[Cristianismo]] no Ocidente não freou a popularidade dos mitos greco-romanos. Com o redescobrimento da antiguidade clássico no [[Renascimento]], a poesia de Ovídio se converteu em uma influência importante para a imaginação dos poetas, dramaturgos, músicos e artistas ocidentais.<ref name=BritanGrek /><ref name=burnl>Burn, L. (1992), ''Mitos gregos, p.75–76, Madrid: Ediciones Akal. ISBN 84-460-0117-9.</ref> Desde os primeiros anos do Renascimento, personalidades como [[Leonardo da Vinci]], [[Michelângelo]] e [[Rafael]] retrataram os temas pagãs da mitologia grega adicionando temas cristianos mais convencionais.<ref name=burnl /> Mediante o latim e as obras de Ovídio, os mitos gregos influenciaram poetas medievais e renascentistas como [[Petrarca]], [[Boccaccio]] e [[Dante]], na [[Itália]].<ref name=BritanGrek />
[[Ficheiro:Johann Heinrich Wilhelm Tischbein 007.jpg|right|thumb|[[Goethe]] nutria um imenso interesse pela atitude dos [[deuses olímpicos]], em detrimento de motivos mais humanos.<ref>Biblioteca de Ouro da Literatura Universal, Vol. 9 - ''[[Édipo Rei]]'', [[Sófocles]]. Trad., prefácio e notas: Agostinho da Silva, 1988. </ref>]]
No Norte da Europa, a mitologia grega nunca alcançou a mesma importância nas artes visuais, mas sua influência na literatura foi colossal. Os mitos gregos produziram efeitos na imaginação inglesa de nomes como [[Geoffrey Chaucer|Chaucer]] e [[John Milton]] e seguiu em destaque de [[Shakespeare]] à Robert Bridges, no século XX. [[Racine]] da [[França]] e [[Goethe]] da [[Alemanha]] reviveram os dramas do teatro grego antigo, re-interpretando os mitos mais antigos.<ref name=BritanGrek /><ref name=burnl /> Embora o [[Iluminismo]] tenha estendido por toda a Europa uma reação contra os mitos gregos, estes continuaram sendo uma importante fonte de material para os dramaturgos, incluindo os autores de ''[[libreto]]s'' de muitas [[ópera]]s, como [[Händel]] e [[Mozart]].<ref name=burnl /> Em finais do século XVIII, o [[Romantismo]] proporcionou um aumento no entusiasmo da cultura grega, incluindo a mitologia. Na [[Grã-Bretanha]], novas traduções em cima das tragédias gregas e das obras de Homero inspiraram poetas (como [[Alfred Tennyson]], [[John Keats|Keats]], [[Byron]] e [[Percy Bysshe Shelley|Shelley]]) e pintores contemporâneos (como Lord Leighton e [[Lawrence Alma-Tadema]]).<ref name=burnl /> Em épocas mais recentes, os temas clássicos foram re-interpretados pelos dramaturgos [[Jean Anouilh]], [[Jean Cocteau]] e [[Jean Giraudoux]] na França, [[Eugene O'Neill]] nos Estados Unidos e [[T.S. Eliot]] na Grã-Bretanha, e por novelistas como [[James Joyce]] e [[André Gide]].<ref name=BritanGrek />

==== Brasil e Portugal ====
[[Ficheiro:Luís de Camões por François Gérard.jpg|thumb|upright|Em [[Camões]], a mitologia serve como "oficina de imagens; corpo poético para a revelação de forças hostis ou benéficas da natureza, das relações sociais e do coração humano; e veículo da fé do poeta num Deus único, eterno e superior aos homens".<ref name="medievalrenascentista">De acordo com [[Gabriel Perissé]], apud Luiz Roberto Wagner in "[http://linguaportuguesa.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/22/imprime178954.asp Como argumentar um texto expositivo?]". Reportagem de [http://linguaportuguesa.uol.com.br/ Língua Portuguesa UOL]. Acesso: 16 de novembro, 2010.</ref>]]
A mitologia grega foi utilizada pelos [[lusófonos]] de forma expressiva e ampla, sendo aproveitada em campos como a [[música]], a [[literatura]] e notavelmente o [[teatro]], refletindo as características de seus mitos com os aspectos sociais condizentes com seu tempo. Em sua ''[[magnum opus]]'' ''[[Os Lusíadas]]'', [[Luís de Camões]] modelou sua linguagem adotando a mitologia grega com o intuito de ordenar e enfatizar seu poema.<ref name="medievalrenascentista" /> Camões acreditava que poetizar a mitologia era dar "uma unidade de ação e um enredo dinâmico ao seu poema e usufruir do sentido autônomo de beleza que as imagens possuem".<ref>António José Saraiva e Óscar Lopes. ''História da Literatura Portuguesa''. 6a ed., Porto, Porto Editora, s/d., p. 355. </ref> Sua obra é vista como uma tentativa de converter os mitos em termos de realidade histórica, servindo-se do [[Clacissismo|estilo clássico]] para elevar os ideais do [[Cristianismo]].<ref>Hernâni Cidade. ''Luís de Camões''. 2a ed., Lisboa, Revista da Faculdade de Letras, 1953, vol. II – O Épico, 113. </ref> Certos críticos observam que Camões atribui a [[Vênus]] características harmoniosas e de organização para representar o espírito do [[Ocidente]], enquanto que [[Baco]] é a corporização do espírito do [[Oriente]], com características vaidosas e desorganizadas.<ref name="medievalrenascentista" /> Seu estilo é visto como uma espécie sem definições definitivas.<ref>Álvaro Lins. ''Discurso sobre Camões e Portugal''. Rio de Janeiro, Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura, 1956, p. 52-3. </ref>
[[Ficheiro:Monteiro Lobato.jpg|thumb|upright|A obra de [[Monteiro Lobato|Lobato]] introduz uma ampla variedade de deuses, semideuses, heróis e outras criaturas mitológicas engendradas em linguagens apropriadas para sua [[literatura infanto-juvenil]].<ref name="RecantoLetras">Sem nome, "[http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/1165269 José Bento Monteiro Lobato reconta a Mitologia Grega]", in: Recanto das Letras. Acesso: 13 de maio, 2009. </ref>|left]]
[[Monteiro Lobato]] — apaixonado pela influência que a [[cultura grega]] sobrepôs na [[língua portuguesa]]<ref name="Bratsiotis">Ericka Sophie Bratsiotis, ''A mitologia grega na obra do minotauro de Monteiro Lobato'', in: http://biblioteca.universia.net. Acesso: 13 de maio, 2009. </ref> — explorou a tradição da mitologia grega cumprindo seus projetos ligados a um público infanto-juvenil (dessa forma, a obra de Lobato foi norteada através de sua compreensão de que o mito grego era o alimento do espírito, algo que ele especifica no mito nacional do [[Saci]]).<ref>Ângela Maria de Oliveira Lignani, "[http://www.abralic.org.br/enc2007/anais/62/1092.pdf Monteiro Lobato e Isabel Allende: apropriações míticas e mitológicas]", '''''Conclusão p. 11''''', </ref> Lobato, cuja intertextualidade dá-se por meio de uma linguagem simples (às vezes incluindo definições de [[vocábulo]]s),<ref name="Bratsiotis"/> retomou temas mitológicos em obras como ''O Minotauro'' e ''Os Doze Trabalhos de Hércules'', adotando uma linguagem infantil em ambas as obras.<ref name="RecantoLetras"/> Suas intenções eram transmitir mensagens sobre [[família]], [[educação]] e [[imaginação]], ao mesmo tempo que mostrava "o maravilhoso [do mundo mitológico]" como a "pueril mágica do cotidiano".<ref name="RecantoLetras"/> Antes de Lobato, a intertexualidade já se dava por meio do [[Padre Antonio Vieira]], que escrevia seus [[Sermão|sermões]] em [[Brasil|território brasileiro]], utilizando muitas vezes as figuras de [[Narciso]], de [[Midas]] e das [[Parca]]s para referir-se à [[vaidade]], a [[avareza]] e a [[morte]], explicando: "Só uma coisa há que não pode passar, porque o que nunca foi, não pode deixar de ser, e tais parece que foram as fábulas que neste mesmo tempo se inventaram e fingiram."<ref>“Sermão da Primeira Dominga do Advento”. Em: ''Os sermões''. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1968, p. 139.</ref> Inspirado pelas ''[[Metamorfoses]]'' de [[Ovídio]], [[António Dinis Cruz e Silva|Cruz e Silva]] produziu doze metamorfoses, inteiramente influenciado pelo mito grego.<ref>Helena Costa Toipa, "[http://www4.crb.ucp.pt/biblioteca/Mathesis/Mat13/Mathesis13_125.pdf A Presença das ''Metamorfoses'' de Ovídio nas ''Metamorfoses'' de Cruz e Silva]". Acesso: 5 de Outubro, 2008</ref>
[[Ficheiro:Tomás Antônio Gonzaga.JPG|thumb|upright|No séc. XVIII, [[Tomás Antônio Gonzaga|Gonzaga]] incorporou a mitologia clássica em ''[[Marília de Dirceu]]'', utilizando da tradição [[arcadismo|arcadista]] de retomar a cultura grega em obras literárias.<ref name="Kenia4">Almeida Pereira, Kênia Maria de; ''[http://www.alb.com.br/anais16/sem12pdf/sm12ss05_02.pdf. A universidade e a formação do aluno leitor]'', [[Universidade Federal de Uberlândia]], p. 4. </ref>]]
Na poesia, destacam-se: ''Prosopoéia'', de [[Bento Teixeira]] (poeta fascinado por [[Camões]]),<ref name="Kenia3"/> cuja estrofe XV faz referência à [[Proteu]];<ref>TEIXEIRA, 1977, p.20</ref> ''Marília de Dirceu'', escrito por [[Tomás Antônio Gonzaga]] no século XVIII, época em que o [[Arcadismo]] retomava o costume de citar textos da Grécia clássica,<ref name="Kenia4"/> onde Gonzaga diz, "[...] O terno corpo despido/ E de [[Amor]], ou de [[Cupido]]...";<ref>GONZAGA (1977, p.19</ref> ''Vozes DÁfrica'', poema do baiano [[Castro Alves]], em que ele cita [[Prometeu]],<ref>ALVES (1986, p.290)</ref> incluindo [[hipérboles]] e [[Comparação|comparações]] ao seu estilo romântico;<ref name="Kenia4"/> o poema ''Helena'', de [[Luiz Delfino]], onde há alusões à [[Helena de Tróia]], [[Paros]] e à Grécia antiga;<ref>DELFINO (1998, p.38)</ref> [[Augusto dos Anjos]], adepto do [[Simbolismo]] e com seu [[pessimismo]] típico, evoca a figura da [[Quimera]] no poema ''Versos Íntimos'',<ref>ANJOS: 1995, p.280</ref> onde há uma espécie de angústia perante o século novo e a ameaça da [[Primeira Guerra Mundial]];<ref name="Kenia5"/> o poema do [[Modernismo]] ''Bacanal'', de [[Manuel Bandeira]], onde Bandeira cita o nascimento do vinho e do teatro, com a figura de [[Dionísio]], além de saudar: "Evoé [[Baco]]!",<ref>BANDEIRA, 1996, p.157</ref> e — finalmente — [[Carlos Drummond de Andrade]] com o poema ''Rapto'', onde o evoca a cena bizarra de [[Ganimedes]] sendo raptado pelo [[Júpiter (mitologia)|Deus Júpiter]] na porta de uma boate carioca.<ref>ANDRADE, 1998, p.230</ref><ref name="Kenia6">Almeida Pereira, Kênia Maria de; ''[http://www.alb.com.br/anais16/sem12pdf/sm12ss05_02.pdf. A universidade e a formação do aluno leitor]'', [[Universidade Federal de Uberlândia]], p. 6. </ref>
[[Ficheiro:Vinicius.jpg|thumb|left|Em [[Vinicius de Moraes|Vinicius]], a mitologia aparece como um meio de dizer sobre [[amor]], [[paixão]] e [[música]].]]
[[Vinicius de Moraes]] escreveu ''[[Orfeu da Conceição]]'' originalmente em 1942, reescreveu seu texto em 1955, e a peça só foi montada em 1956 no Rio de Janeiro.<ref name="MariaLuciaCandeias">Maria Lúcia Candeias, "[http://www.jobim.com.br/colab/orfeu/analise_critica.html Análise crítica do texto ''Orfeu da Conceição'']" (4.fevereiro.2002). Acesso: 28 de janeiro, 2008 </ref> A peça baseia-se no mito de [[Orfeu]], que descia até [[Hades]] com [[Eurídice]] cantando docemente para que os mortos deixassem os dois passarem.<ref name="Pachane2005">Pachane, Graziela G. ''A Literatura e suas Interlocuções na Sala de Aula da Educação Superior''. [[Uberlândia]], [[Minas Gerais|MG]]: Edibrás, 2005. </ref> Aproveitando os dotes musicais que os gregos antigos atribuíam a Orfeu, cantor e instrumentista da [[lira]], Moraes fez de seu Orfeu um condutor de bonde e sambista que mora num morro do [[Rio de Janeiro]].<ref name="MariaLuciaCandeias"/> A obra de Vinicius, que é vista como uma tentativa de unir o drama com a poesia lírica,<ref name="MariaLuciaCandeias"/> rendeu o álbum musical ''[[Orfeu da Conceição]]'' com as músicas da peça, uma adaptação ítalo-franco-brasileira famosa e premiada para o cinema intitulada ''[[Orfeu Negro]]'', sob a direção de [[Marcel Camus]], e também um de seus grandes sucessos com [[Tom Jobim]]: a canção "[[Se Todos Fossem Iguais a Você]]".<ref name="MariaLuciaCandeias"/><ref name="JBOrfeudaConceicao"> "Orfeu da Conceição, o início da parceria Tom e Vinicius", [[Jornal do Brasil|JB]], 1956 </ref> Aliás, a peça marcou o início da amizade e da produção artística dos dois,<ref>"[http://www.biscoitofino.com.br/bf/cat_produto_cada.php?id=392#apresentacao ''Canção do Amor Demais CD'' "em Apresentação"]. [http://www.biscoitofino.com.br Biscoito Fino]. Acesso: 28 de janeiro, 2008</ref><ref>Sem nome, "[http://www.jobim.com.br/dischist/sdiscfr_orfeu_eng.html Sobre Orfeu da Conceição]". Acesso: 20 de janeiro, 2008</ref> sendo esse acontecimento, para Vinicius, o ponto principal dos resultados obtidos por ele em sua composição da obra.<ref name="JBOrfeudaConceicao"/>
[[Ficheiro:JSJoseSaramago.jpg|thumb|right|A obra de [[José Saramago|Saramago]], como a de [[Chico Buarque|Chico]], adota a mitologia para falar de política e situações da contemporaneidade.]]
[[Oduvaldo Viana Filho]] adaptou para a [[televisão brasileira]] o texto de ''Medéia'', do grego [[Eurípedes]], e, a partir dessa produção, [[Chico Buarque de Holanda]] e [[Paulo Pontes]] recuperaram o mito de [[Medéia]] ao escreverem um musical intitulado ''[[Gota d'água]]'' (1975),<ref name="Gotadagua">[http://www.chicobuarque.com.br/construcao/tea_gotadagua.htm Fortuna Crítica: ''Gota d'água'', de Chico Buarque e Paulo Pontes]. [http://www.chicobuarque.com.br Chico Buarque Sítio Oficial]. Acesso:28 de janeiro, 2008 </ref> retratando o abandono que Joana, a personagem principal, sofre pelo marido, e as consequências trágicas que a levam a assassinar os próprios filhos numa favela do [[Rio de Janeiro]], à semelhança de Medéia, que os assassinou após ser deixada por [[Jasão]].<ref name="Pachane2005"/> Ambientada numa área urbana do Rio de Janeiro, a tragédia incorporava em seu texto mais de quatro mil versos,<ref name="Gotadagua"/> e sua primeira encenação teve [[Bibi Ferreira]] no papel principal.<ref name="Gotadagua"/> ''Gota d'água'', de Buarque e Pontes, é vista como um drama que tenta focalizar a realidade brasileira da [[década de 70]] e sua [[desigualdade social]], a resistência de sua [[democracia]] durante sua [[ditadura militar]],<ref>Souza; Dolores Puga Alves de, "[http://www.revistafenix.pro.br/PDF4/Artigo%2003%20-%20Dolores%20Puga%20Alves%20de%20Sousa.pdf. Tradições e Apropriações da Tragédia: ''Gota D'água'' Nos Caminhos da ''Medéia'' Clássica e da ''Medéia'' Popular]" (2005), [[Universidade Federal de Uberlândia]], ''Revista Fênix'', Resumo, p.1.</ref> e sua [[Autoritarismo|política autoritarista]],<ref>Souza; Dolores Puga Alves de, "[http://www.revistafenix.pro.br/PDF4/Artigo%2003%20-%20Dolores%20Puga%20Alves%20de%20Sousa.pdf. Tradições e Apropriações da Tragédia: ''Gota D'água'' Nos Caminhos da ''Medéia'' Clássica e da ''Medéia'' Popular]" (2005), [[Universidade Federal de Uberlândia]], ''Revista Fênix'', p.14 e seguintes.</ref> bem como os temas mais universais como a [[traição]], [[moralidade]] e o [[amor]] (presentes no original grego). [[José Saramago]], em território português, publicou ''[[O Homem Duplicado]]'' em 2002, revestindo o mito de [[Anfitrião]] a um [[Pós-Moderno|estilo pós-morderno]] ao narrar as consequências que o personagem Tertuliano vem a sofrer por ter perdido sua [[individualismo|individualidade]] após se envolver com uma cultura alienante e massificadora.<ref name="Pachane2005"/> Através desse enredo, Saramago propõe uma reflexão sobre [[política]] e [[cidadania]] e estabelece uma [[intertextualidade]] moderna e criativa da mitologia grega.<ref name="Pachane2005"/>

=== Neopaganismo e resgate ===
{{principal|Religião na Grécia Antiga}}
{{principal|Reconstrucionismo politeístico helênico}}
[[Ficheiro:YSEE ritual.jpg|thumb|300px|right|Neopaganistas helênicos do [[Supremo Conselho dos Gentios Helenos]] no festival anual ''Prometheia'', junho de 2006, Grécia.]]
Com o advento do [[Neopaganismo]], surgiram grupos de homens da [[Grécia]] moderna interessados em resgatar os mitos gregos e adorá-los como religião e verdade. De fato, esse grupo neopagão não os vê como mitos e não veneram o que hoje conhece-se como "mitologia grega", e sim são resgatadores da [[Religião na Grécia Antiga|religião da Grécia Antiga]]. O [[Dodecateísmo]] (também chamado de Neopaganismo [[Helenismo|Helênico]]) desde a [[década de 1990]] tenta reviver as [[Religião na Grécia Antiga|práticas religiosas]] da [[Grécia antiga]]. Este movimento, por vezes englobado dentro de um mais amplo chamado [[Reconstrucionismo politeístico helênico]], prega o [[politeísmo]], a [[ortopraxia]], e reconhece os [[Deuses olímpicos|doze deuses olímpicos]] ([[Zeus]], [[Hera]], [[Poseídon]], [[Apolo]], [[Ártemis]], [[Afrodite]], [[Ares]], [[Hefesto]], [[Atena]], [[Hermes]], [[Deméter]], [[Héstia]] e [[Dionísio]]), embora dentro do Dodecateísmo tenham surgido grupos e/ou organizações menores que preferem focar seus rituais em um deus ou deuses específicos. O [[Supremo Conselho dos Gentios Helenos]] (em grego, ''Ύπατο Συμβούλιο των Ελλήνων Εθνικών'' ou YSEE) se estabeleceu em 1997 e está rapidamente se tornando a organização preeminente que representa a religião em todo o mundo helênico. Não se sabe ao certo quantos adeptos existem dentro do Neopaganismo Helênico, contudo sabe-se que há uma comunidade significativa nos [[Estados Unidos da América]] e que cerca de 2.500 pessoas participaram do festival anual chamado ''Prometheia'' de 2005, promovido pelo YSEE. Mesmo tradições que não sofram influência direta do mundo grego se interessam pela mitologia grega. É o caso da [[Wicca]] que, embora foque na [[religião celta]] e no [[Culto Bruxo]], possui adeptos ecléticos que simpatizam com antigos conceitos de [[mente]], [[corpo]] e [[espírito]] legado da [[filosofia grega]].<ref>Hine, Phil, citado em Evans, Dave (2007). ''The History of British Magick after Crowley''. Hidden Publishing. Página 204.</ref> Com a primeira evidência de uma prática pagã de bruxaria nos anos 30 (o que hoje é reconhecido como Wicca),<ref name="WiccanRoots">{{cite book |title=Wiccan Roots: Gerald Gardner and the Modern Witchcraft Revival |first=Philip |last=Heselton |authorlink=Philip Heselton |publisher=Capall Bann Pub. |location=Freshfields, Chieveley, [[Berkshire]] |month=November |year=2001 |isbn=1861631103 |oclc=46955899}}</ref><ref>[[Nevill Drury]]. "Why Does Aleister Crowley Still Matter?" Richard Metzger, ed. ''Book of Lies: The Disinformation Guide to Magick and the Occult.'' Disinformation Books, 2003. </ref> na [[Inglaterra]], diversos grupos pelo país, em [[Norfolk (Inglaterra)|Norfolk]],<ref>Bourne, Lois (1998). ''Dancing With Witches''. Hale. Página 51.</ref> [[Cheshire]]<ref>Heselton, Philip (2003). ''Gerald Gardner and the Cauldron of Inspiration''. Capall Bann. Página 254.</ref> e outros, estavam abertos a influências de diversas outras fontes como o [[Romantismo]], as [[:Categoria:Religião na Ásia|religiões asiáticas]] e também a mitologia grega.<ref>{{cite web |url=http://www.wildideas.net/temple/library/frew.html |title=Crafting The Art Of Magic: A Critical Review |work=Wildideas.net |author=D. Hudson Frew (Morgann) |date=1991 |accessdate=14 de novembro, 2010. |quote=}}</ref>

=={{Ver também}}==
*[[Temas LGBT na mitologia clássica]]

== Notas ==
<references group=nota/>

{{Referências|col=3}}

== {{Bibliografia}} ==
<div class="references-small">

;Literária (gregas, romanas, e brasileiras)
Trata-se da bibliografia literária citada no corpo do presente artigo:

* [[Apolodoro de Atenas|APOLODORO]]. ''Biblioteca Mitológica''. Trad. J.G. Moreno. Madrid: Alianza, 1993.

* [[Apolônio de Rodes|APOLÔNIO DE RODES]], ''Argonáuticas'', Livro I

* [[Eurípides|EURÍPIDES]]. ''[[Hipólito]]''. Trad. B.S. Oliveira. Coimbra: INIC, 1979.

* [[Hesíodo|HESÍODO]]. ''[[Os Trabalhos e os Dias]]''. Trad. M.C.N. Lafer. São Paulo: Iluminuras, 1990.

* [[Hesíodo|HESÍODO]]. ''[[Teogonia]]. A origem dos deuses''. Trad. J.A.A. Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1991.

* [[Homero|HOMERO]]. ''[[Ilíada]]''. Trad. E. Lassèrre (versão portuguesa de O.M. Cajado). São Paulo: Círculo do Livro, 1983.

* [[Homero|HOMERO]]. ''[[Odisséia]]''. Trad. M. Dufour (versão portuguesa de A.P. Carvalho). São Paulo: Abril, 1978.

* [[Ovídio]], ''[[Metamorfoses]]''. Ed. Cotovia. ([http://la.wikisource.org/wiki/Metamorphoseon original em latim]; [http://www.germinaliteratura.com.br/officina6.htm baco e os piratas tirrenos]; [http://www.fflch.usp.br/dlcv/Index/Docentes/Materialdeapoio/Ov%EDdio,%20Metamorfoses.docadma.doc Livro I em português])

* [[Castro Alves|ALVES, Castro]]. ''Obras completas''. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.

* [[Carlos Drummond de Andrade|ANDRADE, Carlos Drummond de]]. ''Poesia e Prosa''. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988.

* [[Augusto dos Anjos|ANJOS, Augusto dos]]. ''Poesia completa''. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1980.

* [[Manuel Bandeira|BANDEIRA, Manuel]]. ''Poesia completa e prosa''. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986

;Principal (em [[Língua portuguesa|português]], [[Língua inglesa|inglês]] e [[espanhol]])
Bibliografia principal acerca de estudos, ensaios e concepções sobre mitologia grega, usada nas notas de rodapé da seção "[[Mitologia grega#Referências|Referências]]":

* ARROYO , S. ''Astrologia, Psicologia e os Quatro Elementos''. Trad. De Maio Miranda, S. Paulo : Editora Pensamento , 2ª ed. 1985.

* BRANDÃO, J.S. ''Mitologia Grega'', 3 v. Petrópolis: Vozes, 2ª ed. (v. 1), 1986-1987.

* CARPENTER, T.H. ''Art and Myth in Ancient Greece''. London: Thames and Hudson, 1991.

* COMMELIN, P. ''Mitologia Grega e Romana''. Trad. E. Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

* DOWDEN, K. ''Os Usos da Mitologia Grega''. Trad. C.K. Moreira. Campinas: Papirus, 1994.

* GRIMAL, P. ''Dicionário da Mitologia Grega e Romana.'' Trad. V. Jabouille. Lisboa: DIFEL, 2ª ed., 1993.

* GUIMARÃES , R. ''Dicionário da Mitologia Grega''. S. Paulo : Cultrix, 1996.

* HAMILTON, E. ''A Mitologia''. Trad. M.L. Pinheiro. Lisboa: Dom Quixote, 3ª ed., 1983.

* LACROIX, Michel. ''Princípio de Noé ou a Ética da Salvaguarda'', Lisboa: Instituto Piaget, 1997.

* MACHADO, Ana Maria. ''Como e por que ler os clássicos universais desde cedo''. Objetiva: Rio de Janeiro, 2002

* MALHADAS, D. & MOURA NEVES, M.H. Antologia dos Poetas Gregos de Homero a Píndaro. Araraquara: FFCLAr-UNESP, 1976.

* HUMBERT, J. ''Mitologia griega y romana''. Trad. B.O.O. Barcelona: Gustavo Gili, 1997.

* KERÉNYI, C. ''Os Heróis Gregos''. Trad. O.M. Cajado. São Paulo: Cultrix, 1993.

* BARTHES, Roland. ''Aula''. São Paulo: Cultrix, 1978.

* KERÉNYI, C. ''Os Deuses Gregos''. Trad. O.M. Cajado. São Paulo: Cultrix, 1993.

* KIRK, G.S. ''La Naturaleza de los Mitos Griegos''. Trad. B.M. Maragall y P. Carranza. Barcelona: Labor, 1992.

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* SERBH, K. ''Greek Mythology''. Athens: Ekdotike, 1998.

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* BRANDÃO, Junito de Sousa. ''Mitologia grega''. Petrópolis: Vozes, 2002. B

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* CASSIRER, Ernst. ''Linguagem e mito''. São Paulo: Perspectiva, 1992.

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* ECO, Umberto. ''Seis passeios pelos bosques da ficção''. São Paulo: Companhia dasLetras, 1994.

* ELIADE, Mircea. ''Mito e realidade''. São Paulo: Perspectiva, 1994.

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* KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. São Paulo: Perspectiva, 1984.

* MELETÍNSKI, E. M. ''Os arquétipos literários''. São Paulo: Ateliê, 1988.

* MINDLIN, Dulce Maria V. ''Ficção e mito''. Goiânia: CEGRAF, 1992.

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* SEVCENKO, Nicolau. ''A corrida para o século XXI''. São Paulo: Companhia dasLetras, 2005.

* SPALDING, Tassilo. ''O Dicionário de Mitologia Greco-Latina''. Belo. Horizonte: Itatiaia, 1965.

* TEIXEIRA, Bento. ''Prosopopéia''. São Paulo: Melhoramentos, 1977.

;Adicional
Bibliografia adicional acerca da Grécia antiga e sua cultura, como também de seus mitos:

* CARTLEDGE, P. (org.). História Ilustrada da Grécia Antiga. Trad. L. Alves e A. Rebello. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

* CONTI, F. ''Como Reconhecer a Arte Grega''. Trad. M. Torres. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

* FUNARI, P.P.A. ''Grécia e Roma''. Campinas: Contexto, 2001.

* HAMILTON, E. ''A Mitologia''. Trad. M.L. Pinheiro. Lisboa: Dom Quixote, 3ª ed., 1983.

* Maria de Fátima Sousa e Silva. ''Ensaios sobre Eurípides''. Lisboa: Cotovia, 2005. 406 p.

* RUBESTEIN, Richard E. ''Herdeiros de Aristóteles''. Trad. V. Ribeiro. Rio de Janeiro: Rocco, 2005

* MAFFRE, J.J. ''A Vida na Grécia Clássica''. Trad. L. Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989.

* [[Monteiro Lobato|MONTEIRO LOBATO]], J.B. ''O Minotauro''. São Paulo: Brasiliense, 1958.

* _________. ''Os Doze Trabalhos de Hércules'', 2 v. São Paulo: Brasiliense, 1958.

* LLOYD-JONES, H. (coord.). ''O Mundo Grego''. Trad. W. Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

* ROBERT, F. ''A Literatura Grega''. Trad. G.C. Cardoso de Souza. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

* PRIETO, M.H.U. ''Dicionário de Literatura Grega''. Lisboa: Verbo, 2001.
</div class>

== {{Ligações externas}} ==
{{commonscat|Greek mythology}}
* {{link|pt|2=http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/mitologia-grega/index-mitologia-grega.php|3=Mitologia grega - Deuses, heróis, etc.}}
* {{link|en|2=http://www.pantheon.org/|3=Encyclopedia Mythica}}
* {{link|en|2=http://www.hellenism.net/eng/mythology.htm|3=Hellenism.net/mythology}}
* {{link|en|2=http://ancienthistory.about.com/library/bl/bl_myth_index.htm|3=Ancient History Myth}}

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[[zh-classical:希臘神話]]

Revisão das 17h05min de 15 de fevereiro de 2011

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