Neomys anomalus

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Como ler uma infocaixa de taxonomiaMusaranho-de-água

Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Infraclasse: Placentalia
Ordem: Soricomorpha
Família: Soricidae
Género: Neomys
Espécie: N. anomalus
Nome binomial
Neomys anomalus
Cabrera, 1907
Distribuição geográfica

O musaranho-de-água (Neomys anomalus) é uma espécie de musaranho pertencente à família Soricidae e ao género Neomys.

Descrição física[editar | editar código-fonte]

O musaranho-de-água apresenta a coloração negra na sua pelagem dorsal, característica essa que permite a sua fácil distinção dos outros musaranhos da fauna portuguesa. A coloração da pelagem no ventre é branca (Hutterer, 2005). A cauda é longa com comprimento entre 54 e os 63 milímetros e é bicolor, sendo castanho escura no dorso e branca na parte ventral, terminando como um pincel. Tem um peso médio de 10 gramas e um comprimento cabeça-corpo entre 68 e 88 milímetros (Hamid, 2007). Os indivíduos desta espécie apresentam maior dimensão corporal no limite Sul da sua distribuição geográfica e fora da área de competição com a sua congénere Neomys fodiens (Spitzenberg, 1999).

Distribuição geográfica[editar | editar código-fonte]

Mapa
Mapa do Atlas de Mamíferos de Portugal, 2ª edição (2019) '"`UNIQ--ref-00000000-QINU`"'

O musaranho-de-água é uma espécie euroasiática, ocorrendo desde a Península Ibérica até à Ásia Menor, situando-se o seu limite setentrional na costa do Mar Báltico (Spitzenberger, 1999). Em Portugal, a espécie ocorre no Norte e Centro do país, particularmente nas zonas montanhosas. Esta espécie já foi capturada no Parque Natural de Montesinho, no Parque Nacional da Peneda-Gerês e no Parque Natural da Serra da Estrela (Cabral et al., 2005). O musaranho-de-água ocorre desde o nível do mar até aos 1.850 metros de altitude (Spitzenberger, 1999). Estudos recentes, indicam a presença do musaranho-de-água na Lituânia (Balciauskas e Balciauskiené, 2012).

Habitat e ecologia[editar | editar código-fonte]

O musaranho-de-água habita nas proximidades de cursos de água limpa, margens de rios com vegetação e pântanos, tendo sido esporadicamente detectado a alguma distância da água, em zonas com elevado grau de humidade (Hutterer et al., 2008). Esta espécie varia a sua preferência de habitats dentro e fora da área de simpatria com Neomys fodiens (Spitzenberg, 1999). Fora da área de competição com Neomys fodiens, o musaranho-de-água torna-se mais aquático e habita preferencialmente os pequenos cursos de água, charcos e as zonas ripícolas associadas (Tapisso, 2014). Dentro da sua área de competição, a espécie torna-se mais vulnerável e evita procurar alimentos dentro de água (Rychlik, 1997).

Factores de Ameaça[editar | editar código-fonte]

A principal ameaça do musaranho-de-água é a perda do seu habitat. Esta espécie é afectada por alterações da geomorfologia dos cursos de água, da estrutura do leito e das margens e do regime hidrológico, consequências da extracção de água, da agricultura, da construção de estradas e de outras actividades humanas (Palomo e Gisbert 2002; Cabral et al., 2005). A má qualidade da água também constitui uma ameaça para esta espécie, devido à constante poluição pelo lançamento de produtos químicos agrícolas, efluentes industriais e esgotos (Cabral et al., 2005; Hutterer, 2008). A utilização de pesticidas também pode ser um problema em algumas zonas da sua distribuição (Palomo e Gisbert 2002; Huterrer, 2008).

Conservação[editar | editar código-fonte]

O musaranho-de-água está classificado como Pouco Preocupante (LC) pela IUCN pois apesar de a população não estar quantificada, apresenta uma ampla distribuição geográfica (Hutterer et al., 2008). A espécie encontra-se listada no Apêndice III da Convenção de Berna, ocorrendo em várias áreas protegidas da sua distribuição geográfica. Recomenda-se a realização de estudos de bio-ecologia e distribuição que permitam avaliar qual a situação da espécie em Portugal, já que o musaranho-de-água é vulnerável a perda de habitat aquáticos (Cabral et al., 2005; Hutterer, 2008).

Referências[editar | editar código-fonte]

  • Balciauskas L. e Balciauskiené L. (2012). Mediterranean water shrew, Neomys anomalus (Cabrera, 1907). A new mammal species for Lithuania. North-Western Journal of Zoology.
  • Cabral, M. J., Almeida, J., Almeida, P. R., Dellinger, T., Ferrand de Almeida, N., Oliveira, M. E., Palmeirim, J. M., Queiroz, A. I., * Rogado, L. e Santos-Reis, M.. (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa.
  • Hamid, R. (2009). "Noteworthy record of the Mediterranean water shrew (Neomys anomalus) from south-western Iran (Mammalia: Soricomorpha)." Turkish Journal of Zoology 32.2: 163-166.
  • Hutterer, R. (2005). Order Soricomorpha. Em: Mammal Species of the World: A Taxonomic and Geographic Reference. 3rd ed., Vol. 1 (eds. D.E. Wilson and A.M. Reeder). Johns Hopkins University Press, Baltimore, pp. 220-311.
  • Hutterer, R., Amori, G., Kryštufek, B., Yigit, N., Mitsain, G., Meinig, H., Bertolino, S. & Palomo, L.J. (2008). Neomys anomalus. Em: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species. Versão 2013.2. <www.iucnredlist.org>. Acedido a 1 de Maio de 2014.
  • Palomo, L. J. e Gisbert, J. (2002). Atlas de los mamíferos terrestres de España. Dirección General de Conservación de la Naturaleza. SECEM-SECEMU, Madrid.
  • Rychlik, L. (1997): "Differences in foraging behaviour between water shrews: Neomys anomalus and Neomys fodiens." Acta Theriologica 42.4: 351-386.
  • Spitzenberger, F. (1990). Neomys anomalus (Cabrera, 1907) - Sumpfspitzmaus. J. Niethammer and F. Krapp (eds), Handbuch der Säugetiere Europas. Band 3/I, Insectivora, Primates, Aula Verlag, Wiesbaden.
  • Spitzenberger, F. (1999): Neomys anomalus (Cabrera, 1907). Em: Mitchell-Jones, A.J., Amori, G., Bogdanowicz, W., Kryštufek, B., * Reijnders, P.J.H., Spitzenberger, F., Stubbe, M., Thissen, J.B.M., Vohralík, V., Zima, J. (eds), The Atlas of European Mammals. Academic Press, London.
  • Tapisso, J. S. T. (2014): "How historical and present climate conditions affected the distribution of the mediterranean water shrew?: a phylogeographical and ecological approach." Doctoral thesis. Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
  1. Joana Bencatel, Helena Sabino-Marques, Francisco Álvares, André E. Moura & A. Márcia Barbosa (eds.). Atlas de Mamíferos de Portugal – uma recolha do conhecimento disponível sobre a distribuição dos mamíferos no nosso país. [S.l.: s.n.] ISBN 978-989-8550-80-4. Consultado em 4 de junho de 2020