Saltar para o conteúdo

Números (militar)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Números
País Império Bizantino
Unidade guarda imperial
Criação século IX
Extinção século XI
Comando
Comandante Doméstico dos números
Sede
Guarnição Constantinopla

Os números (em grego: Νούμεροι; romaniz.: Noumeroi; sing. em grego: Νούμερον; romaniz.: Noumeron; do latim numerus, lit. número no sentido de "regimento") foram uma unidade de guarnição de infantaria bizantina da capital imperial, Constantinopla. A principal tarefa deles envolveu a proteção do Grande Palácio de Constantinopla e o Numera, uma das prisões da cidade.

História e funções

[editar | editar código-fonte]

A origem e data de estabelecimento dos Números é desconhecido. Eles são atestados seguramente pela primeira vez durante o reinado de Miguel III, o Ébrio (r. 842–867): a unidade é mencionada no Taktikon Uspensky de 842/843, e o nome de um dos comandantes, Leão Lalacão, também sobrevive a partir do mesmo período.[1][2] J. B. Bury considera um sela dos séculos VII-VIII que menciona um "drungário dos nú[meros]" como uma indicação de um predecessor da unidade do século IX, e baseado na nomenclatura de seus oficiais subalternos sugere uma origem no exército romano oriental do século VI,[3] enquanto John Haldon traça sua linhagem hipotética no final do século VII. A unidade sobreviveu até o século XI, quando deixou de ser mencionada, indicando que foi dissolvida.[4][5]

O termo número (transcrito do latim numerus; em grego também traduzido como arithmós) em si foi um termo comum para uma unidade militar regular de tamanho indeterminado usado na Antiguidade Tardia.[6] Foi apenas mais tarde, no século VIII e possivelmente mesmo no século IX, que o nome veio a especificar esta unidade em particular.[7] O regimento, por sua vez, deu nome ao Numera, um edifício adjacente ao Hipódromo de Constantinopla que serviu como quartel deles e como uma prisão da cidade. O estudioso francês Rodolphe Guilland identifica o Numera do século IX com a prisão conhecida como Prandíara de épocas anteriores.[2][8]

Os números eram classificados entre as tagmas imperiais, os regimentos profissionais estacionados em e em torno de Constantinopla.[9] Ao contrário de muitas tagmas, os números foram compostos de infantaria e nunca deixaram Constantinopla, sendo incumbidos com missões de guarda na cidade,[10] especialmente vigiando a prisão Numera e compartilhando a proteção do Grande Palácio de Constantinopla com outras duas tagmas, o Vigla, uma unidade de cavalaria que acompanhou o imperador em campanha, e outra unidade de infantaria sob o conde ou doméstico dos muros (komēs/domestikos ton teichōn).[7][11][12] O último tinha estreitos laços com os números: eles compartilharam uma função comum e tinham a mesma estrutura interna,[13][14] e ao menos até o reinado de Miguel III, os dois comandos parecem ter sido combinados sob um único oficial, como atestado na pessoa de um certo Niceforitzes durante esta época.[1][4] O conde e seus homens foram originalmente responsáveis pela defesa do Muralha de Anastácio, e depois, como os números, encarregados com a supervisão da prisão do Calce e deveres de guarda no Grande Palácio.[15][16]

Estrutura de comando

[editar | editar código-fonte]

Como muitas das tagmas, o comandante dos números tinha o título de doméstico (em grego: δομέστικος τῶν Νουμέρων; romaniz.: domestikos tōn Noumerōn), geralmente nomeado simplesmente como "o número" (ὁ νούμερος). Com base em selos sobreviventes, no século IX ele geralmente tinha o postos de espatário e protoespatário.[2][4] Tal como acontece com outros comandantes das tagmas, o doméstico dos números desempenhou um importante papel nas cerimônias da corte, e foi associado com a facção de corrida dos Azuis, e o tagma sênior dos escolas, enquanto os muros foram associados com a facção Verde e o segundo tagma mais sênior, os excubitores.[17]

Como outras tagmas, o doméstico foi assistido por um topoterita (em grego: τοποτηρητής; romaniz.: topotērētés; lit. "tenente"), um secretário chamado cartulário (em grego: χαρτουλάριος; romaniz.: chartoulários) e um mensageiro chefe chamado protomandador (πρωτομανδάτωρ). Os oficiais subalternos foram intitulados, na forma antiga mais recente, tribunos (em grego: τριβοῦνοι; romaniz.: tribounoi) e vigários (em grego: βικάριοι; romaniz.: vikarioi; em latim: vicarii), correspondendo aos condes (komētēs) e centarcos (kentarchoi; centuriões) de outras tagmas. Houve também um número de mensageiros, chamados mandadores (μανδάτορες, mandatores), e porteiros, chamados portários (πορτάριοι, portarioi),[18] os últimos evidentemente relacionados com os deveres de guarda da prisão do regimento.[7]

Referências

  1. a b Guilland 1969, p. 48.
  2. a b c Bury 1911, p. 65.
  3. Bury 1911, p. 65–66.
  4. a b c Kazhdan 1991, p. 641.
  5. Guilland 1969, p. 51.
  6. Bury 1911, p. 61.
  7. a b c Guilland 1969, p. 49.
  8. Guilland 1969, p. 41–49, 51–52.
  9. Kazhdan 1991, p. 2007.
  10. Bury 1911, p. 48.
  11. Bury 1911, p. 48, 60.
  12. Kazhdan 1991, p. 663, 1140.
  13. Bury 1911, p. 68.
  14. Guilland 1969, p. 50.
  15. Kazhdan 1991, p. 1140.
  16. Bury 1911, p. 67–68.
  17. Guilland 1969, p. 49–50.
  18. Bury 1911, p. 66.
  • Bury, John Bagnall (1911). The Imperial Administrative System of the Ninth Century: With a Revised Text of the Kletorologion of Philotheos (em inglês). Londres: Oxford University Press 
  • Guilland, Rodolphe (1969). Recherches sur les Institutions Byzantines, Tome I. Berlim: Akademie-Verlag