O Cão (Goya)

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O Cão
O Cão (Goya)
El Perro ou Perro semihundido
Autor Francisco Goya
Data 1819 - 1823
Género Romanticismo
Técnica Mural a óleo sobre gesso transferido para uma tela
Localização Museu do Prado, Madrid

O Cão (em castelhano: El Perro) é um quadro pintado por Francisco Goya, um famoso pintor romântico espanhol, entre 1819 e 1923, durante os seus últimos anos de vida, onde o pintor se dedicou a explorar e experimentar temas mais sombrios. O Cão  é uma obra assombrosa que representa um cão solitário a olhar para cima, apenas com a cabeça visível e encontra-se exposta no Museu do Prado, em Madrid.


As Pinturas Negras[editar | editar código-fonte]

O Cão é uma das "Pinturas Negras" de Goya, um grupo de catorze imagens que ele criou enquanto vivia numa casa chamada Quinta del Sordo, que se traduz como a Villa dos Surdos. Na fase final da sua vida, Goya sofria de doenças mentais e físicas, e foi refletido nas suas obras. Ele pintou uma série de cenas horríveis e sinistras nas paredes. O Cão foi uma dessas imagens. Mais tarde, os historiadores de arte e até os psicólogos tiveram dificuldade em interpretar as Pinturas Negras, mas geralmente concordam que as pinturas refletem o lado mais escuro da humanidade e a desilusão de Goya com o mundo em geral.[1][2]

Estas obras nunca foram concebidas para serem expostas ao público, mas são atualmente consideradas como umas das suas obras mais importantes.[3] Só foram retiradas das paredes e transferidas para tela, 50 anos após a sua morte, sob a direção de Salvador Martínez Cubells, conservador do Museu do Prado.

Contexto histórico[editar | editar código-fonte]

O Cão foi pintado depois da Guerra Peninsular, um conflito brutal e cruel que teve um impacto profundo em Espanha. Goya testemunhou os horrores e sofrimento da guerra, e pintou várias obras sobre esta tema, incluindo “2 de Maio de 1808" e  “Três de Maio de 1808". A devastação e sofrimento da guerra combinado com a turbulência política e social são refletidos nos tons sombrios e pungentes de O Cão.[1]

Composição e estilo[editar | editar código-fonte]

A composição de Goya em O Cão é simples e minimalista.

O fundo divide-se em duas partes. Na parte inferior, uma massa ondulada castanha atravessa o quadro na diagonal. O foco da nossa atenção é a cabeça de um pequeno cão que olha para cima. O fundo é permeado por um tom ocre claro, que escurece na parte direita da imagem, reforçando assim a impressão de ameaça.[4][5]

O cão parece estar a afogar-se em água invisível. O animal desamparado, não consegue libertar-se. Ele olha para o céu, à espera de uma ajuda que nunca chegará. O medo, a dor e a falta de esperança são evidentes na sua expressão.

As dimensões do quadro são invulgares Com 131,5 cm × 79,3 cm, é um quadro estreito e alto o que contribui ainda mais para um sentimento de isolamento extremo e de impotência.[6]

A utilização por Goya de uma paleta de cores suaves e de pinceladas dinâmicas reforça ainda mais uma sensação geral de desespero e isolamento.

O estilo artístico expressivo de Goya, valeu-lhe o título de antepassado da arte moderna[7][8].

Simbolismo e interpretação[editar | editar código-fonte]

Embora o tema exato de O Cão não seja claro, é certamente uma imagem profundamente perturbadora e desanimadora, perante o qual é impossível ficar indiferente.  De maneira geral, O Cão é interpretado como um símbolo da solidão, da fragilidade da vida e da inevitabilidade da morte. É também uma demonstração do poder da simplicidade.[9]

Alguns historiadores da arte sugerem que O Cão até pode representar o próprio Goya, e ser uma expressão dos sentimentos de desespero e alienação, que ele sentiu nos últimos anos da sua vida.[6]

Segundo Robert Hughes: "não sabemos o que significa, mas o seu sofrimento comove-nos a um nível abaixo da narrativa".[10]

Há certamente outras obras da arte ocidental, que representam os horrores da guerra ou os tormentos do Inferno, mas não há verdadeiramente nada que capte o horror da solidão e do desespero esmagadores, tal como O Cão.

Receção[editar | editar código-fonte]

O quadro inspirou muitos pintores posteriores, incluindo Antonio Saura, que chegou a chamar-lhe o quadro mais belo de todo o mundo[11] ou Joan Miró, que indicou ser o seu quadro favorito no Prado.

Manuela Mena, conservadora do Prado, afirmou que: "não há um único pintor contemporâneo no mundo que não reze diante de O Cão".[12]

Referências

  1. a b «The Dog by Francisco Goya - Facts & History of the Painting (totallyhistory.com)» 
  2. «Great Paintings: The Dog by Francisco Goya (Interpretation and Analysis) | by Maria Cristina | Medium» 
  3. «Drowning Dog – Goya – Nicholas Mulroy» 
  4. «The Dog by Francisco de Goya (thehistoryofart.org)» 
  5. «Francisco de Goya - The Dog (the-artinspector.com)» 
  6. a b «The Dog - Litro Magazine» 
  7. «The Dog (1820-1823) by Francisco Goya – Artchive» 
  8. «The Dog, 1820-23 by Francisco Goya» 
  9. «Goya, Francisco de: The Dog (c1820) | The Independent | The Independent» 
  10. «Hughes (2004), 382» 
  11. «O Cão by Francisco Goya via DailyArt mobile app (getdailyart.com)» 
  12. «The Secret of the Black Paintings - The New York Times (nytimes.com)»