Paulo Mendes Rodrigues

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Paulo Mendes Rodrigues
Paulo Mendes Rodrigues
Nascimento 25 de setembro de 1931
Cruz Alta (RS), Brasil
Morte 25 de dezembro de 1973 (42 anos)
Palestina (PA), Brasil
Nacionalidade brasileira
Cidadania Brasil
Progenitores
  • Francisco Alves Rodrigues
  • Otília Mendes Rodrigues
Parentesco Otília Mendes Rodrigues e Francisco Alves Rodrigues
Ocupação economista, guerrilheiro

Paulo Mendes Rodrigues (Cruz Alta, RS, 25 de setembro de 1931Palestina, PA, 25 de dezembro de 1973) foi um economista e guerrilheiro brasileiro militante do Partido Comunista do Brasil, PCdoB. Participou da luta armada contra a ditadura militar, sistema vigente no Brasil entre 1964 e 1985, integrando a Guerrilha do Araguaia sob o codinome 'Paulo'.

Paulo Mendes Rodrigues é considerado desaparecido político por não terem sido entregues os restos mortais aos seus familiares, o que não permitiu o seu sepultamento até os dias de hoje.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido em Cruz Alta, município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul, Paulo Mendes Rodrigues era filho de Otília Mendes Rodrigues e Francisco Alves Rodrigues. Formou-se economista pela UFRGS em 1959, mas devido a perseguições políticas por ter pensamentos progressistas, abandonou a profissão sendo dos primeiros a chegar à região de Caianos, no Araguaia.[1]

Segundo Jair Krischke, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, o pai de Paulo teria sido militar, e a família resolveu silenciar o fato. "A ditadura transformava as pessoas em terroristas.", afirma.[2]

"Paulo era solteiro e mantinha vida dupla. Não falava de política com a família, que acreditava que ele trabalhava no Piratini, já que saía sempre nos mesmos horários e de terno" relata Deusa Maria Sousa, doutora em História, que não encontrou indícios de Paulo ter tido algum emprego no governo. Depois de fazer a Graduação, viveu em São Leopoldo e Porto Alegre. Ele ajudou a refundar Partido Comunista do Brasil, também conhecido pela sigla PCdoB. Quando eclodiu o golpe, em 1964, há relatos de que foi à China receber treinamento militar, até virar o comandante do Destacamento C da Guerrilha do Araguaia e integrar-se ao Destacamento da Guarda da Comissão Militar.[2]

Segundo o Jornal do Brasil, de 24 de março de 1992, Paulo foi morto juntamente com outros companheiros, entre eles o ex-deputado federal Maurício Grabois, Gilberto Olímpio Maria e Guilherme Gomes Lund, numa ação comandada pelo Major Curió; seu corpo estava crivado de balas e usava o nome falso de Manoel Machado.

Morte[editar | editar código-fonte]

A Guerrilha do Araguaia foi um movimento de luta armada contra a ditadura militar, que pretendia derrubar o governo e instaurar um regime socialista por meio um levante popular, que começaria pela zona rural. Paulo foi um dos integrantes da guerrilha. No início de 1972 o governo descobriu a existência do movimento e mandou agentes da polícia federal adentrarem a região. Porém, a entidade disse aquilo não lhe dizia respeito. Então, tropas do Exército Brasileiro foram enviadas.[3]

A morte de Paulo Mendes Rodrigues foi descrita pelo Relatório Arroyo como tendo ocorrido em 25 de dezembro de 1973, no episódio posteriormente conhecido como o “Chafurdo de Natal”, cinco ou seis quilometros de distância da Base do Mano Ferreira, próximo à Palestina. Nesta ocasião, as Forças Armadas chegaram ao acampamento da comissão militar da guerrilha, onde encontravam-se muitos guerrilheiros, dentre os quais Paulo, Maurício Grabois, Guilherme Gomes Lund e Líbero Giancarlo Castiglia, que tiveram suas mortes confirmadas na ocasião.Rodrigues tinha 42 anos na época.[4]

A data também é apontada no relatório do Centro de Informações do Exército (CIE), Ministério do Exército, de 1975, que elenca Paulo em uma listagem de “subversivos” participantes da guerrilha do Araguaia. O documento utiliza, entretanto, o nome “Paulo Mauro Rodrigues” para se referir ao guerrilheiro com o codinome de Paulo na região. No relatório entregue pelo Exército ao ministro da Justiça, em 1993, o nome de Paulo consta como participante da guerrilha, sem que haja informação sobre seu paradeiro. Segundo depoimento de Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, a equipe de militares que chegou ao acampamento militar da guerrilha foi chefiada pelo major Nilton Cerqueira.

Nilton Cerqueira, um dos militares que esteve no Araguaia e que foi enviado para "resolver a situação", disse ao jornal O Estado de S. Paulo, conhecido como Estadão, que saiu da região com "a situação praticamente resolvida". De 80 guerrilheiros, menos de 20 sobreviveram. A maioria, formada majoritariamente por ex-estudantes universitários e profissionais liberais, foi morta em combate na selva ou executada após sua prisão pelos militares, durante as operações finais, em 1973 e 1974. Mais de 50 combatentes são considerados ainda hoje como desaparecidos políticos.[5]

Até 2013, não havia foto que mostrasse o rosto de Paulo. Com a Comissão Nacional da Verdade, conseguiu-se resgatar uma imagem do militante. Antes da descoberta, quando precisava retratar Paulo, colocavam-se uma ilustração de um homem com os punhos levantados e feição de tristeza. Quem resgatou a imagem dele foi a Deusa Maria Sousa, doutora em História.

Como seus restos mortais nunca foram encontrados, Paulo é considerado um dos Desaparecidos políticos da Ditadura. Conforme o exposto na Sentença da Corte Interamericana nos casos de Paulo, Maurício Grabois, Guilherme Gomes Lund e Líbero Giancarlo Castiglia, “o ato de desaparecimento e sua execução se iniciam com a privação da liberdade da pessoa e a subsequente falta de informação sobre seu destino, e permanece enquanto não se conheça o paradeiro da pessoa desaparecida e se determine com certeza sua identidade”, sendo que o Estado brasileiro “tem o dever de investigar e, eventualmente, punir os responsáveis”. Sendo assim, é recomendado que continuem as investigações sobre as circunstâncias do caso de Paulo Mendes Rodrigues para que seja feita a localização de seus restos mortais, a retificação da certidão de óbito, a identificação e que responsabilize os agentes da repressão que estão envolvidos no crime, conforme sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que obriga o Brasil “a investigar os fatos, julgar e, se for o caso, punir os responsáveis e de determinar o paradeiro das vítimas”.[4]

Victória Grabois, filha de Maurício Grabois, conviveu com Paulo na Guerrilha e foi uma das poucas sobreviventes do movimento, tendo que viver na clandestinidade por 16 anos. Ela relembra do militante como um amigo. "Paulo nos ensinou a fazer canjica e churrasco gaúcho. Ele cavava um buraco no chão e assava com a brasa. A carne era maravilhosa e barata. Era o típico gaúcho: afável, mas reservado, um grande companheiro".[2]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Paulo Mendes Rodrigues». Memórias da ditadura. Consultado em 26 de novembro de 2019 
  2. a b c «Pesquisa revela rosto de guerrilheiro gaúcho que participou dos combates no Araguaia durante a ditadura militar». GaúchaZH. 17 de agosto de 2013. Consultado em 22 de novembro de 2019 
  3. «Secretaria de Direitos Humanos | Morto ou desaparecido político». web.archive.org. 19 de janeiro de 2019. Consultado em 26 de novembro de 2019 
  4. a b «Paulo Mendes Rodrigues». Memórias da ditadura. Consultado em 22 de novembro de 2019 
  5. «'Saí de lá com a situação resolvida', diz general - Política». Estadão. Consultado em 22 de novembro de 2019