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Pedro I do Brasil: diferenças entre revisões

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{{minidesambig|por outros significados|Dom Pedro (desambiguação)}}
{{wikificação}}
{{Imperadores do Brasil|
|título = D. Pedro I do Brasil<br>D. Pedro IV de Portugal
|imagem = DpedroI-brasil-full.jpg
|legenda = D. Pedro na qualidade de [[imperador]] do [[Brasil]].
|ordem = 1
|cognomes = ''O Libertador''<br>''O Rei-Soldado''<br>''O Rei-Imperador''
|início = [[7 de setembro]] de [[1822]] (Brasil)<br />[[10 de Março]] de [[1826]] (Portugal)
|término = [[7 de abril]] de [[1831]] (Brasil)<br />[[28 de Maio]] de [[1826]] (Portugal)
|aclamação = [[12 de outubro]] de [[1822]],<br />[[Capela Imperial]], [[Rio de Janeiro]]
|predecessor = [[João VI de Portugal|D. João VI]] (Portugal)<br> '''Inexistente''' (Brasil)
|sucessor = [[Pedro II do Brasil|D. Pedro II]] (Brasil)<br />[[Maria II de Portugal|D. Maria II]] (Portugal)
|pai = [[João VI de Portugal|D. João VI]]
|mãe = [[Carlota Joaquina|D. Carlota Joaquina]]
|data_nascimento = [[12 de outubro]] de [[1798]]
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|local_falecimento = [[Palácio de Queluz]],[[Portugal]]
|consorte = [[Maria Leopoldina de Áustria]]<br />[[Amélia de Leuchtenberg]]
|herdeiro = [[Pedro II do Brasil|D. Pedro II]] (Brasil)<br> [[Maria II de Portugal|D. Maria II]] (Portugal)
|dinastia = [[Dinastia de Bragança|Bragança]]
}}

[[Dom (título)|Dom]] '''Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon''' ([[Queluz (Sintra)|Queluz]], [[12 de outubro]] de [[1798]] — Queluz, [[24 de setembro]] de [[1834]]) foi o primeiro imperador do [[Brasil]] (de [[1822]] a [[1831]]) e 28º rei de [[Portugal]] (durante sete dias de 1826).

Recebeu os títulos de infante, grão-prior do Crato, príncipe da Beira, príncipe do Reino Unido de Portugal do Brasil e Algarves, príncipe regente do Reino do Brasil além de primeiro [[imperador do Brasil]], como '''D. Pedro I''', de [[12 de outubro]] de [[1822]] a [[7 de abril]] de [[1831]], e ainda 28º [[lista de Reis de Portugal|Rei de Portugal]] (título herdado de seu pai, [[João VI de Portugal|D. João VI]]), durante um período de sete dias (entre [[26 de abril]] e [[2 de maio]] de [[1826]]), como '''D. Pedro IV'''.

Em Portugal é conhecido como ''O Rei-Soldado'', por combater o irmão [[Miguel I de Portugal|D. Miguel]] na [[Guerra Civil de 1832-34]] ou ''O Rei-Imperador''. É também conhecido, de ambos os lados do [[oceano Atlântico]], como ''O Libertador'' — ''Libertador'' do Brasil do domínio português e ''Libertador'' de Portugal do governo absolutista.

D. Pedro I abdicou de ambas as coroas: da portuguesa para a filha [[Maria II de Portugal|D. Maria da Glória]] e da brasileira para o filho [[Pedro II do Brasil|D. Pedro II]]. D. Pedro I era o quarto filho (segundo varão) do rei D. João VI e de sua mulher, [[Carlota Joaquina de Bourbon]], princesa de [[Espanha]], primogênita do rei espanhol [[Carlos IV da Espanha]]. Tornou-se herdeiro depois da morte do seu irmão mais velho, [[Francisco António, Príncipe da Beira|Francisco]] ([[1795]] - [[1801]]).

==Infância e juventude==
Dom Pedro de Alcântara nasceu em [[12 de outubro]] de [[1798]] sendo filho de [[dom João VI]], Rei de Portugal, Brasil e Algarves e dona [[Carlota Joaquina]], infanta da Espanha. Seus avós paternos eram dom [[Pedro III de Portugal|Pedro III]], Rei de Portugal e Algarves e [[Maria I de Portugal|dona Maria I]], Rainha de Portugal e Algarves, enquanto seus avós maternos eram dom [[Carlos IV da Espanha|Carlos IV]], Rei da Espanha e dona [[Maria Luísa de Parma|Maria Luísa]], princesa de Parma. Era o quarto filho, e segundo varão de seus pais, e não era esperado que um dia viesse a ascender ao trono. O falecimento de seu irmão mais velho, [[Francisco António, Príncipe da Beira|dom Antonio]], em [[1801]], tornou-o o herdeiro de seu pai, então regente em nome de dona Maria I.<ref>[[Isabel Lustosa|LUSTOSA, Isabel]]. D. Pedro I. São Paulo: [[Companhia das Letras]], [[2007]], p.37</ref><ref>[[Ronaldo Vainfas|VAINFAS, Ronaldo]]. Dicionário do Brasil Imperial. [[Rio de Janeiro]]: [[Objetiva]], 2002, p.194</ref>
[[Imagem:Dom pedro I na infancia.jpg|thumb|left|200px|Dom Pedro de Alcântara na infância.]]
O príncipe passou a infância no [[Palácio de Queluz]], onde também nascera, e convivera com a avó paterna, que estava completamente insana. Sua mãe não lhe dava muita atenção, preferindo voltar-se para seu irmão mais novo, dom Miguel. Seu pai o estimava muito, considerando-o o filho predileto, mas por ser reservado e sofrer de [[depressão]], mantinha pouco contato com o seu [[herdeiro]].<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.37</ref> Em [[1807]], Dom João VI, preocupado com os acontecimentos na Europa, realizou um plano de enviar o seu filho mais velho para o Brasil e assim impedir que a mais valiosa [[Colônia (história)|colônia]] portuguesa pudesse sofrer o mesmo destino das colônias espanholas.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.38</ref> Entretanto, a [[Guerra Peninsular|invasão de Portugal]] por tropas de [[Napoleão Bonaparte]] o fizeram mudar de idéia e decidiu-se pela [[Vinda da Família Real para o Brasil|transmigração]] não só da Família Real portuguesa, mas de todo aparato estatal do império lusitano. No Brasil, dom Pedro viveu no [[Palácio da Quinta da Boa Vista]] em [[São Cristóvão]] junto com seu pai e dom Miguel, mas também residiu na [[Fazenda de Santa Cruz]] e no [[Paço Imperial]]. <ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.195</ref>

Dom Pedro e seu irmão dom Miguel compartilhavam a aparência, o temperamento e afeições. Ambos possuíam uma relação de amor e ódio um com o outro, e brincavam e brigavam quando crianças.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.63</ref> Na infância, os dois irmãos criavam pequenos regimentos formados por amigos que se combatiam simulando batalhas entre exércitos.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.59</ref> A predileção de dom Pedro pela vida militar não se restringiu apenas à infância, e mesmo como adulto manteve o gosto pela carreira. Anos mais tarde, em [[1825]], um estrangeiro diria que não havia no Brasil pessoa melhor que o então Imperador no manejo com armas.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.59</ref>

As principais atividades do herdeiro da coroa portuguesa até os seus dezesseis anos de idade foram os exercícios físicos, a [[equitação]] e a [[marcenaria]]. Seu interesse pelos [[cavalos]] não se restringia a apenas montar, mas também cuidava dos mesmos, arreando, dando banho e até mesmo os ferrando.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.58</ref> Na mocidade se divertia indo as tavernas do Rio de Janeiro, onde as freqüentava em companhia dos empregados do palácio, mas sempre disfarçado para que não fosse reconhecido. Em uma dessas andanças noturnas conheceu [[Francisco Gomes da Silva]], que mais tarde se tornaria um dos seus mais fiéis amigos e seria conhecido como o "[[Chalaça]]".<ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.195</ref>

===Características===
De acordo com Isabel Lustosa, dom Pedro se ''“bem que não fosse bonito, era simpático, bem constituído, de cabelos pretos e anelados; tinha nariz aquilino, olhos pretos e brilhantes, uma boca regular e dentes muito alvos”''.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.69</ref> Para José Murilo de Carvalho, ele era ''“comandado por emoções, às vezes contraditórias, a que não aprendera a impor barreira alguma. Era impulsivo, romântico, autoritário, ambicioso, generoso, grosseiro, sedutor. Era capaz de grandes ódios e grandes amores”''.<ref>CARVALHO, José Murilo de. Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.17</ref> Heitor Lyra o define da seguinte maneira:<ref>LYRA, Heitor. História de Dom Pedro II: Ascensão. São Paulo, USP, 1977, p.10</ref>

<blockquote>''De temperamento, era um impulsivo. Volúvel até os extremos, era capaz dos maiores egoísmos e das mais largas generosidades. Tudo nele era incompleto: mal educado, mal guiado, mal aconselhado, faltou-lhe sempre o senso da medida. Mas, como todas as naturezas espontâneas, tinha um fundo de grande bondade.''

''Herdou do velho Rei seu pai a liberalidade'' [...]. ''Tinha, da mãe, sobretudo, a impetuosidade. Foi essa impetuosidade, aliada ao seu estabanado cavalheirismo, que o levou a libertar dois povos.''

''Um punhado, largo, de boas qualidades: bravura, honestidade, desprendimento pessoal, idealismo. E um acentuado desejo de bem fazer – o que o não impedia de ser, muita vez, injusto e agressivo até com os seus melhores amigos.''</blockquote>

O príncipe era extremamente simples, e enquanto a sociedade da época como um todo considerava qualquer forma de trabalho manual algo relegado somente a escravos, dom Pedro não se importava em trabalhar com as próprias mãos.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.58</ref> Fazia questão de manter uma relação direta com o povo, e sentia prazer em estar entre gente comum. <ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.60</ref> Isabel Lustosa expressa claramente este lado do Imperador como no episódio em que ''“ele saia da igreja misturado com a gente do povo que gracejava e ria, não dando a menor demonstração de repulsa ao profanus vulgus, mas sim de desejar confraternizar-se com eles. Quando d. Pedro era abordado por qualquer pessoa do povo, entabulava familiarmente uma conversa”''.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.61</ref>

====Dom Pedro e a escravidão====
Dom Pedro I não acreditava em diferenças raciais e muito menos em uma presumível inferioridade do negro como era comum à época e perduraria até o final da II Guerra Mundial. O Imperador deixara clara a sua opinião sobre o tema: ''“Eu sei que o meu sangue é da mesma cor que o dos negros”''.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.129</ref> Era também completamente contrário a escravidão e pretendia debater com os deputados da Assembléia Constituinte uma forma de extinguí-la. O monarca acreditava que a melhor maneira de eliminar a escravidão seria de uma maneira gradual em conjunto com a imigração de trabalhadores europeus para substituir a mão de obra que viria a faltar.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.129</ref>
[[Imagem:Engenho de acucar 1816.jpg|thumb|right|220px|Engenho de açúcar no nordeste brasileiro, 1816.]]
Dom Pedro tinha noção de que não detinha meios para abolir o sistema escravocrata, a não ser convencendo a sociedade brasileira. Contudo, a escravidão não era utilizada por apenas ricos aristocratas como popularmente se imaginava. Pessoas humildes compravam com seus poucos recursos escravos que pudessem trabalhar por elas. Libertos também detinham seus próprios escravos e até mesmo estes possuíam escravos. A escravidão não se resumia somente a negros, e havia casos de brancos escravos também.<ref>CARVALHO, José Murilo de. Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.130</ref> O Imperador combatia publicamente a escravidão e entrava em choque com a população brasileira como um todo que via em suas ações uma demonstração de autoritarismo. Segundo o próprio dom Pedro I:<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.129</ref>

<blockquote>''“Os escravos nos inoculam todos os seus vícios, e nos fazem corações cruéis, inconstitucionais e amigos do despotismo. Todo senhor de escravo desde pequeno começa a olhar o seu semelhante com desprezo, acostuma-se a proceder a seu alvedrio'' [arbítrio]'', sem lei nem roca, às duas por três julga-se, por seu dinheiro e pelo hábito contraído, superior a todos os mais homens, espezinha-os'' [humilha-os] ''quando empregado público, e quando súdito em qualquer repartição não tolera nem sequer a menor admoestação'' [repreensão com brandura]'', que logo o seu coração, pelo hábito de vingar-se e de satisfazer-se as suas paixões, lhe esteja dizendo: ‘Se tu foras meu escravo’...”''</blockquote>
[[Imagem:Familia e escravos Brasil 1822.jpg|thumb|left|220px|Família sendo seguida por seus escravos, 1822.]]
Poucas foram as pessoas que se aliaram a dom Pedro na primeira metade do século XIX na luta pelo fim da escravidão, tais como: José Bonifácio, João Severiano Maciel da Costa e Hipólito da Costa.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.129</ref> A maior parte, entretanto, permaneceu hostil as idéias abolicionistas. Seriam necessárias várias décadas até que o seu filho, dom Pedro II e sua neta, a princesa Isabel, lograssem convencer a sociedade brasileira da necessidade de extinguir a escravidão, que era chamada de ''“cancro'' [câncer] ''social”''. De acordo com José Murilo de Carvalho, a prova ''“da força da escravidão é o fato de que nenhuma das muitas revoltas regenciais propôs sua abolição geral. Quando os malês se rebelaram em 1835, buscavam a liberdade apenas para os irmãos de fé muçulmana”''.<ref>CARVALHO, José Murilo de. Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.130</ref> O abolicionismo de dom Pedro I e de dom Pedro II viria a custar à coroa de ambos. Sobre o papel do primeiro Imperador na luta pelo fim da escravidão, a historiadora Isabel Lustosa diz que:

<blockquote>“[...] ''d. Pedro I foi um governante muito à frente da elite brasileira do seu tempo. Ele afrontou os valores da escravidão, combatendo com vigor o hábito de alguns funcionários públicos de mandar escravos para trabalhar em sue lugar; concedendo lotes aos escravos que libertou na Fazenda de Santa Cruz; no Rio de Janeiro e na Bahia, onde os ricos circulavam em liteiras e qualquer pessoa que pudesse ter dois escravos tinha condições de se fazer transportar pelas ruas numa rede amarrada num pau que os escravos sustentavam nos ombros, lembra Macaulay, d. Pedro andava a cavalo ou circulava numa carruagem puxada por cavalos ou mulas e dirigida por ele mesmo; e, como foi visto, não permitiu que seus súditos lhe prestassem a homenagem tradicional de carregar sua carruagem nas costas por ocasião do Fico.''<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.131</ref></blockquote>

===Educação===
O início da instrução de dom Pedro coube a ''“austera e grave”'' dona Maria Genovena do Rego e Matos e em seguida tornou-se responsabilidade do ''“erudito”'' Frei Antônio de Nossa Senhora de Salete. O clérigo lhe ensinou o catecismo e latim. Seu ensino na língua latina foi aperfeiçoado pelo Frei Antônio de Arrábida, futuro Bispo de Anemúria.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.99</ref> Também foi educado em matemática, disciplina pela qual dom Pedro era ''“apaixonado”'',<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.100</ref> pelo ''“cultíssimo”'' João Monteiro da Rocha, que ao falecer em 10 de dezembro de 1819, legou a dom Pedro a sua vasta biblioteca pessoal.<ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.194</ref><ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.38</ref>
[[Imagem:Dom Pedro I 1817.jpg|thumb|right|180px|Dom Pedro, Príncipe Real de Portugal, Brasil e Algarves, 1817.]]
Aprendeu francês com o cônego René Pierre Boiret e inglês com Guilherme Paulo Tilbury<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.38</ref>, capelão da Divisão Militar da Guarda Imperial de Polícia.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.101</ref> João Rademaker também atuou como preceptor do príncipe e ''“foi verdadeiramente o seu mestre, no sentido preciso e restrito do termo, lucrou imensamente o jovem príncipe. Sábio e poliglota, o antigo ministro de Portugal na Dinamarca e em Buenos Aires reunia em si as qualificações indispensáveis a direção moral e cientifica de D. Pedro”''.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.100</ref> Além do seu português nativo, dom Pedro sabia ler, escrever e falar em francês e latim, e compreendia o inglês<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.70</ref><ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.194</ref> e o alemão.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.101</ref>

Na viagem da Família Real portuguesa ao Brasil em 1808, dom Pedro com apenas nove anos de idade, quando não estava entre os marinheiros aprendendo as manobras de bordo, era sempre visto sentado encostado em um dos mastros do navio lendo a clássica obra Eneida do romano Virgílio no original em latim.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.99</ref> Leu os sermões do padre Antônio Vieira, as cartas de Madame de Sévigné, as obras de Edmund Burke, de Voltaire e de Benjamin Constant. <ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.194</ref> Até o fim de seus dias o príncipe reservou diariamente cerca de duas horas a leitura e ao estudo.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.101</ref> Também escreveu diversas poesias:

<blockquote>''Meu amor, meu grande amor,''</blockquote>
<blockquote>''Sem ti não quero viver''</blockquote>
<blockquote>''Tua imagem é a meiga flor''</blockquote>
<blockquote>''Que eu vivo a bem-querer...''</blockquote>

Assim como seus antepassados da Casa de Bragança, dom Pedro tinha fascinação e vocação para a música. Foi educado na arte musical por Maurício Nunes Garcia, Marcos Antônio Portugal e Sigismund Neukomm.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.105</ref> O príncipe compôs diversas obras, tais como: ''“uma missa cantada, sinfonias e um Te Deum, além de hinos, como o Hino da Maçonaria, uma das versões do hino da Independência do Brasil e o Hino da Caeta, considerado até 1911 como o Hino Nacional português”''.<ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.194</ref>
[[Imagem:Dom Pedro compondo hino da independencia.jpg|thumb|left|260px|Dom Pedro I compondo o Hino Nacional (hoje [[Hino da Independência do Brasil|Hino da Independência]]), em 1822.]]
O príncipe sabia tocar instrumentos musicais como: piano, flauta, fagote, trombone, violino, clarinete, violão, lundu e cravo.<ref>BUENO, Eduardo. Brasil: uma História. São Paulo: Ática, 2003, p.170</ref> Tinha grande interesse por atividades que requeressem uma certa habilidade física, como pintura, litografia, escultura e freqüentou constantemente as aulas de desenho da Academia de Belas-Artes.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.108</ref> Era também um excelente mecânico, marceneiro e torneiro, além de desprender bastante tempo a exercícios físicos, equitação e caça.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.108 e 109</ref>

Apesar da visão costumeira que se trata nos livros escolares, dom Pedro não era o semi-analfabeto que sempre se imaginou.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.69</ref><ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.195</ref><ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.98</ref> De fato não recebeu a educação esperada para um futuro Chefe de Estado,<ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.194</ref> mas ainda assim fora muito melhor do que a recebida pela maior parte dos seus contemporâneos e mesmo atualmente. A instrução deficiente que recebeu não o impediu de sempre buscar aprimorar seus conhecimentos e o príncipe fora na realidade um autodidata.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.99</ref> Se tivesse sido educado conforme a sua posição como herdeiro do trono exigia, teria ''“sido um príncipe quase perfeito”''.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.117</ref> Napier diria a seu respeito: ''“As suas boas qualidades eram propriamente suas; as más, devido à falta de educação; e homem nenhum conhecia melhor este defeito do que ele mesmo”''.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.117</ref>

Dom Pedro tinha clara noção da falha em sua educação e buscava aconselhar tantos os seus filhos legítimos como os ilegítimos a estudarem e não cometerem o mesmo erro que ele próprio cometera. Sabia também do valor da educação e uma de suas primeiras medidas como regente fora à extinção de qualquer tributação sobre livros importados e a abolição da censura prévia. Criou cursos jurídicos e relegou ao Estado a obrigação de manter escolas primárias.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.117</ref>

===Casamento com Leopoldina de Habsburgo===
Em [[1818]], quando tinha 19 anos, [[Casamento|casa-se]] com a [[Arquiduquesa]] [[Maria Leopoldina de Áustria|Dona Leopoldina]], filha do Imperador [[Francisco I da Áustria]], e de sua segunda esposa, [[Maria Teresa de Bourbon]], Princesa das [[Duas Sicílias]], de um ramo dos [[Casa de Bourbon|Bourbons]] franceses.

A cerimônia foi realizada na [[Igreja de Santa Ifigênia]], na [[Rua da Alfândega]], tendo o cortejo nupcial desfilado pelo que é hoje a [[Rua Primeiro de Março]]. Nela, dizem os historiadores que se dançou pelas ruas o [[Catupé]], variedade de [[Congo]], antigamente ligado a festejos religiosos e, depois, ao [[Carnaval]]. Do enlace nasceram, entre outros filhos, [[Maria II de Portugal|D. Maria da Glória]] ([[1819]]), [[Rainha de Portugal]] como [[Dona Maria II]], e [[Pedro II do Brasil|D. Pedro de Alcântara]] ([[1825]]), sucessor do pai como [[Imperador do Brasil]] com o título de D. Pedro II.

Viúvo desde [[11 de dezembro]] de [[1826]], em agosto de [[1829]] contrai segundas núpcias por procuração com [[Amélia de Beauharnais]], [[Princesa]] da [[Baviera]], [[Duquesa de Leuchtenberg]], neta da [[Josefina de Beauharnais|Imperatriz Josefina]] da França, esposa repudiada de [[Napoleão Bonaparte]].

==O Movimento da Independência do Brasil==
===A Revolução no Porto e o retorno da família real===
Em março de [[1816]], com a morte de [[Dona Maria I]], ''a Louca'' e a elevação de seu pai a [[Rei de Portugal]], recebeu o título de [[Príncipe Real]] e Herdeiro do Trono (o irmão mais velho, [[Antônio Príncipe da Beira]], falecera em [[1801]]). Irrompe então a [[Revolução Liberal do Porto|revolução constitucionalista de 1820]], exigindo a restituição do [[Pacto Colonial]] e o retorno da [[Família Real]] ao reino. D. João VI a ignora, mas devido à pressão popular do clero, da nobreza e da burguesia portuguesa, em 1821 decide retornar à metrópole depois de cerca de treze anos no [[Rio de Janeiro (cidade)| Rio de Janeiro]]. Em Portugal, as [[Cortes Constituintes]] já iniciavam a elaboração da [[Constituição]] do reino. Mas esta decisão régia foi mal recebida no Brasil.

Ao voltar à Portugal, D. João VI deixa seu filho D. Pedro I como [[Príncipe Regente do Brasil]]. Os direitos concedidos ao Brasil, entretanto, foram sendo rescindidos pelas cortes. D. Pedro I então alinha-se ao descontentamento brasileiro provocado pelas medidas portuguesas.

===O Dia do Fico===
{{Ver artigo principal|[[Dia do Fico]]}}
[[Imagem:Independencia brasil 001.jpg|thumb|200px|Tela a óleo sobre a Independência do Brasil, de [[François-René Moreaux]].]]
Preocupada com a evolução do Brasil, a elite política portuguesa pressionava as cortes que redigiam a Constituição Portuguesa a rebaixar novamente à categoria de colônia o Brasil (que tinha sido elevado à condição de Reino Unido a [[Portugal]] e [[Algarves]]). Pressionado por essas cortes, D. João VI assinou um documento que tornava inefetivo o título de [[príncipe regente no Brasil]] concedido a D. Pedro I. Uma ordem judicial exigiu a volta imediata do príncipe a Portugal. Foi enviada uma frota ao Rio de Janeiro, destinada a repatriá-lo.
Após ter recebido um [[abaixo-assinado]] com centenas de assinaturas (conhecido como [[Petição do Fico]]), que pedia que ele permanecesse no Brasil, o regente recusou-se a embarcar para a [[Europa]] e, em [[9 de janeiro]] de [[1822]], pronunciou, em um episódio que ficou conhecido como [[Dia do Fico]], a frase histórica: "''Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico!''", declarando também que nenhuma ordem das cortes portuguesas seria cumprida no Brasil sem a sua autorização.

===Proclamação da Independência===
{{Ver artigo principal|[[Independência do Brasil]]}}
[[Imagem:Coroaçao pedro I 001.jpg|right|thumb|200px|Cerimônia de coroação como imperador do Brasil]]
Em abril a popularidade do príncipe foi comprovada durante uma viagem a [[Minas Gerais]]. De lá seguiu para [[São Paulo]], a fim de pacificar rebeliões na província. Em [[7 de setembro]], quando ia de [[Santos]] para a capital paulista, recebeu notícias de Portugal por cartas da esposa e de seu ministro [[José Bonifácio]]. Assim tomou conhecimento de que fora rebaixado da condição de regente a mero delegado das cortes de [[Lisboa]]. Ali mesmo, junto ao [[riacho do Ipiranga]] ([[São Paulo (cidade)|São Paulo]]), o herdeiro de D. João VI, ao receber a última ordem do pai para regressar em vergonha ao país, proferiu o famoso '''[[grito do Ipiranga]]''': "''Independência ou Morte!''".

D. Pedro I contou, naturalmente, com o apoio do "povo" e, de volta ao Rio de Janeiro, em [[12 de outubro]], foi proclamado imperador e "defensor perpétuo do Brasil". Em [[1 de dezembro]] foi sagrado e coroado. A [[Independência do Brasil]] foi contestada em território brasileiro por tropas do [[Exército Português]], especialmente nas regiões onde, por razoes estratégicas, elas se concentravam, a saber, nas então Províncias [[Cisplatina]], da [[Bahia]], do [[Piauí]], do [[Maranhão]] e do [[Grão-Pará]] ([[Guerra da Independência do Brasil]]). A Independência foi oficialmente reconhecida por [[Portugal]] e pelo [[Reino Unido]] somente em [[1825]].

==Imperador do Brasil==

===Constituição Imperial===
A visão histórica ensinada nas escolas até os dias atuais é a de que um dom Pedro I autoritário e despótico teria entrado em conflito com a liberal e democrática Assembléia, fechando esta última contra a vontade do povo brasileiro e acabando por outorgar (impôr) uma Constituição de cunho absolutista sobre o país. Trata-se de uma invenção posterior dos republicanos para desmoralizar o passado monárquico do Brasil.<ref>LIMA, Manuel de Oliveira. O Império brasileiro. São Paulo: USP, 1989, p.60</ref> A realidade dos fatos foi completamente diversa.

====Constituinte de 1823====
No dia 3 de março de 1823, a Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil iniciou sua legislatura com o intento de realizar a primeira Constituição Política do país. No mesmo dia, dom Pedro I discursou para os deputados reunidos, deixando clara a razão de ter afirmado durante sua coroação no final do ano anterior que a Constituição deveria ser digna do Brasil e de si (frase esta que fora idéia de José Bonifácio e não do Imperador<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.159</ref>):

<blockquote>''Como Imperador Constitucional, e mui especialmente como Defensor Perpétuo deste Império, disse ao povo no dia 1 de dezembro do ano próximo passado, em que fui coroado e sagrado – que com a minha espada defenderia a Pátria, Nação e a Constituição, se fosse digna do Brasil e de mim..., uma Constituição em que os três poderes sejam bem divididos... uma Constituição que, pondo barreiras inacessíveis ao despotismo quer real, aristocrático, quer democrático, afugente a anarquia e plante a árvore da liberdade a cuja sombra deve crescer a união, tranqüilidade e independência deste Império, que será o assombro do mundo novo e velho. Todas as Constituições, que à maneira de 1791 e 1792 têm estabelecido suas bases, e se têm querido organizar, a experiência nos tem mostrado que são totalmente teóricas e metafísicas, e por isso inexeqüíveis: assim o prova a França, a Espanha e, ultimamente, Portugal. Elas não tem feito, como deviam, a felicidade geral, mas sim, depois de uma licenciosa liberdade, vemos que em uns países já aparecem, e em outros ainda não tarda a aparecer, o despotismo em um, depois de ter sido exercido por muitos, sendo conseqüência necessária ficarem os povos reduzidos à triste situação de presenciarem e sofrerem todos os horrores da anarquia.''<ref>HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Brasil Monárquico: o processo de emancipação. 4. ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1976, p.184</ref></blockquote>
[[Imagem:Pedro I Imperador 1822.jpg|thumb|right|230px|Dom Pedro I, por volta do mesmo período da Constituinte de 1823.]]
Dom Pedro lembrou aos deputados em seu discurso que a Constituição deveria impedir eventuais abusos não somente por parte do monarca, mas também por parte da classe política e da própria população. Para tanto, seria necessário evitar implantar no país leis que na prática seriam desrespeitadas. A Assembléia num primeiro momento se prontificou a aceitar o pedido do Imperador,<ref>LIMA, Manuel de Oliveira. O Império brasileiro. São Paulo: USP, 1989, p.57</ref> mas alguns deputados se sentiram incomodados com o discurso de dom Pedro. Um deles, o deputado por Pernambuco Andrade de Lima, manifestou claramente seu descontentamento, alegando que a frase do monarca fora por demais ambígua.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.159</ref> Os deputados que se encontravam na Constituinte eram em sua grande maioria liberais moderados, reunindo ''“o que havia de melhor e de mais representativo no Brasil”''.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.160</ref> Foram eleitos de maneira indireta e por voto censitário e não pertenciam a partidos, que ainda não existiam no país.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.160</ref> Havia, contudo, facções entre os mesmos, sendo três discerníveis: os "''bonifácios''", que eram liderados por José Bonifácio e defendiam a existência de uma monarquia forte, mas constitucional e centralizada, para assim evitar a possibilidade de fragmentação do país, e pretendiam abolir o tráfico de escravos e a escravidão, realizar uma reforma agrária e de desenvolver econômicamente o país livre de empréstimos estrangeiros.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.166</ref> Os "''portugueses absolutistas''", que compreendiam não apenas lusitanos, mas também brasileiros e defendiam uma monarquia absoluta e centralizada, além da manutenção de seus privilégios econômicos e sociais. E por último, os "''liberais federalistas''", que contavam em seus quadros com portugueses e brasileiros, e que pregavam uma monarquia meramente figurativa e descentralizada, se possível federal, em conjunto com a manutenção da escravidão, além de combaterem com veemência os projetos dos bonifácios.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.166</ref> Ideologicamente, o Imperador se identificava com os bonifácios tanto em relação aos projetos sociais e econômicos, quanto em relação aos políticos, pois não tinha interesse nem em atuar como um monarca absoluto e muito menos em servir como ''“uma figura de papelão no governo”''.<ref>LIMA, Manuel de Oliveira. O Império brasileiro. São Paulo: USP, 1989, p.72</ref>

O esboço da Constituição de 1823 foi escrito por Antonio Carlos de Andrada, que sofreu forte influência das Cartas francesa e norueguesa.<ref>HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Brasil Monárquico: o processo de emancipação. 4. ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1976, p.186</ref> Em seguida foi remetido a Constituinte, onde os deputados iniciaram os trabalhos para a realização da carta. Existiam diversas diferenças entre o projeto de 1823 e a posterior Constituição de 1824. Na questão do federalismo, era centralizadora, pois dividia o país em comarcas, que são divisões meramente judiciais e não administrativas.<ref>CARVALHO, José Murilo de. A Monarquia brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1993, p.23</ref> As qualificações para eleitor eram muito mais restritivas que a Carta de 1824.<ref>HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Brasil Monárquico: o processo de emancipação. 4. ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1976, p.254</ref> Definia também que seriam considerados cidadãos brasileiros somente os homens livres no Brasil, e não os escravos que eventualmente viessem a serem libertados, diferentemente da Constituição de 1824.<ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.171</ref> Era prevista a separação dos três poderes, sendo o Executivo delegado ao Imperador, mas a responsabilidade por seus atos recairia sobre os ministros de Estado. A Constituinte optou também pela inclusão do veto suspensivo por parte do Imperador (assim como a de 1824), que poderia inclusive vetar se assim o desejasse o próprio projeto de Constituição. Entretanto, mudanças nos rumos políticos levaram os deputados a proporem tornar o monarca uma figura meramente simbólica, completamente subordinado à Assembléia. Este fato, seguido pela aprovação de um projeto em 12 de junho de 1823 pelo qual as leis criadas pelo órgão dispensariam a sanção do Monarca levou dom Pedro I a entrar em choque com a Constituinte.<ref>HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Brasil Monárquico: o processo de emancipação. 4. ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1976, p.244</ref>

Por trás da disputa entre o Imperador e a Assembléia,<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.161</ref> havia uma outra, mais profunda e que foi a real causa da dissolução da Constituinte. Desde o início dos trabalhos legislativos os liberais federalistas tinham como principal intuito derrubar o ministério presidido por José Bonifácio a qualquer custo e se vingar pelas perseguições que sofreram durante a Bonifácia ocorrida no ano anterior. Os portugueses absolutistas, por outro lado, viram seus interesses feridos quando José Bonifácio emitiu os decretos de 12 de novembro de 1822 e 11 de dezembro de 1822, onde no primeiro eliminava os privilégios dos lusitanos e no segundo seqüestrava os bens, mercadorias e imóveis pertencentes aos mesmos que tivessem apoiado Portugal durante a independência brasileira.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.66</ref> Apesar das diferenças, os portugueses e os liberais se aliaram com o objetivo de retirar do poder o inimigo comum.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.166</ref> Os liberais e portugueses aliciaram os:

<blockquote>[...]''"desafetos dos Andradas, cujo valimento junto ao Imperador açulava muitas invejas e cuja altaneira, por vezes grosseira, suscetibilizava muitos melindres e feria muitas vaidades. Duros para com os adversários, os Andradas tinham suscitado fartura de inimigos no prestígio conquistado pela sua superioridade intelectual e pela sua honestidade. Os descontentes uniram-se para derrubá-los e na aliança se confundiram moderados com exaltados”''.<ref>LIMA, Manuel de Oliveira. O Império brasileiro. São Paulo: USP, 1989, p.16</ref></blockquote>

As duas facções aliadas arregimentaram os amigos íntimos do Imperador para o seu lado, que logo trataram de envenenar a amizade do monarca com o seu grande amigo, José Bonifácio. Vendo a maior parte da Assembléia abertamente descontente com o Ministério Andrada e influenciado por seus amigos, que se identificavam com os interesses dos portugueses, dom Pedro I demitiu os ministros de Estado.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.167</ref> Iniciou-se então uma guerra de ataques entre os jornais do país, que defendiam uma ou outra facção política. A aliança entre os liberais e portugueses foi efêmera. Logo que o Ministério Andrada foi demitido, os dois grupos voltaram-se um contra o outro. Para o monarca qualquer relação com os liberais seria inadmissível, pois sabia muito bem de suas intenções em transformá-lo numa figura meramente decorativa. Os ataques contra os portugueses em geral e até mesmo contra dom Pedro por parte dos jornais e deputados a favor dos Andradas levou o Imperador a se aproximar dos portugueses.
[[Imagem:Paço Imperial 1830.jpg|thumb|left|230px|Vista do Paço Imperial (a esq.) onde dom Pedro assistia de longe os trabalhos da Constituinte que se realizava em um prédio próximo.]]
A crise tornou-se ainda mais séria quando um episódio que normalmente seria completamente ignorado acabou por ser utilizado para fins políticos. Um boticário nascido no Brasil, que também praticava o jornalismo, sofreu agressões físicas por parte de dois oficiais lusitanos que erroneamente acreditavam que ele tivesse sido o autor de artigo injurioso. Os Andradas aproveitaram a oportunidade para alegar que a agressão sofrida pelo boticário fora na realidade um atentado contra a honra do Brasil e do povo brasileiro.<ref>LIMA, Manuel de Oliveira. O Império brasileiro. São Paulo: USP, 1989, p.17</ref><ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.168</ref> Antônio Carlos de Andrada e Martim Francisco de Andrada foram levados sobre os ombros de uma multidão e seguiu-se uma onda de xenofobia anti-lusitana que acirrou ainda mais os ânimos. A tudo dom Pedro assistiu da janela do Paço Imperial que se encontrava ao lado da ''“Cadeia Velha”'', nome do local onde estava se realizando a Constituinte. O Imperador ordenou que o Exército se preparasse para um conflito.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.168</ref> Dom Pedro I detinha a fidelidade da oficialidade, que se sentira agredida pelos insultos direcionados a si e ao Imperador pelos jornais aliados aos Andradas e exigia uma punição aos mesmos. Os deputados demonstraram apreensão e exigiram respostas sobre a razão da reunião de tropas em São Cristóvão. O ministro do Império, Vilela Barbosa, representando o governo, dirigiu-se a Assembléia demandando que se processassem os irmãos Andradas pelos supostos abusos que cometeram. Os deputados reunidos debateram sobre a proposta do governo e permaneceram em sessão durante a madrugada. Mas no dia seguinte quando Vilela Barbosa retornou a Assembléia para dar explicações sobre a reunião das tropas, alguns deputados gritaram exigindo que dom Pedro I fosse declarado “''fora-da-lei''”. O Imperador ao saber disto, antes mesmo que o ministro do Império retornasse da Assembléia, assinou o decreto dissolvendo a Constituinte.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.169</ref> Sobre o episódio, Oliveira Lima afirmou que:

<blockquote>''“A madrugada da ‘noite de agonia’ não iluminou todavia martírio algum. Os deputados que se tinham declarado prontos a cair varados pelas baionetas imperiais, voltaram tranqüilamente para suas habitações, sem que os soldados os incomodassem. Seis tão-somente foram deportados para a França, entre eles os três Andradas”.''<ref>LIMA, Manuel de Oliveira. O Império brasileiro. São Paulo: USP, 1989, p.17</ref></blockquote>

Os portugueses propuseram a dom Pedro I que enviasse os irmãos Andradas para Portugal pois lá muito provavelmente seriam condenados a morte por suas participações na independência brasileira. Pediram apenas o seu consentimento. “''Não! Não consinto porque é uma perfídia'' [deslealdade]”, respondeu o monarca.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.315</ref> Apesar da apreensão de dom Pedro I quanto a possibilidade de se tornar uma figura nula no governo do país e sua demonstração de descontentamento, não foi a razão principal do fechamento da Constituinte. Os deputados deveriam ter se reunido para elaborarem uma Constituição para o país e debater seus artigos. Contudo, perderam-se em disputas pelo poder e somente para defender seus próprios interesses levaram a capital do Império à beira da anarquia. Este não foi o fim dos deputados, entretanto. Da Constituinte saíram 33 senadores, 28 ministros de Estado, 18 presidentes de província, 7 membros do primeiro conselho de Estado e 4 regentes do Império.<ref>LIMA, Manuel de Oliveira. O Império brasileiro. São Paulo: USP, 1989, p.56</ref>

====Promulgação da Constituição brasileira====
Não era o desejo de dom Pedro I imperar como um déspota, pois ''“sua ambição era ser guardado pelo amor de seu povo e pela fidelidade das suas tropas e não impor sua tirania”''.<ref>LIMA, Manuel de Oliveira. O Império brasileiro. São Paulo: USP, 1989, p.72</ref> O Imperador, por tal razão, encarregou o Conselho de Estado criado em 13 de novembro de 1823 de redigir um novo projeto de Constituição que estaria finalizado em apenas quinze dias. Era um ''“conselho de notáveis”''<ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.106</ref> formado por juristas renomados, sendo todos brasileiros natos.<ref>HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Brasil Monárquico: o processo de emancipação. 4. ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1976, p.253 </ref> O grupo incluía Carneiro de Campos, principal autor da nova Carta, além de Villela Barbosa, Maciel da Costa, Nogueira da Gama, Carvalho e Mello, dentre outros. O Conselho de Estado utilizou como base o projeto da Constituinte e assim que terminou, enviou uma cópia da nova Constituição para todas as câmaras municipais. Esperava-se que a Carta servisse como um projeto para uma nova Assembléia Constituinte.<ref>LIMA, Manuel de Oliveira. O Império brasileiro. São Paulo: USP, 1989, p.60</ref>
[[Imagem:Alegoria juramento constituição 1824.jpg|thumb|right|230px|Alegoria do juramento da Constituição de 1824. Dom Pedro salva a índia (que representa o Brasil) da ameaça do absolutismo.]]
Contudo, as câmaras municipais sugeriram ao Imperador ao invés que se adotasse ''“imediatamente”'' o projeto como a Constituição brasileira.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.175-176</ref><ref>LIMA, Manuel de Oliveira. O Império brasileiro. São Paulo: USP, 1989, p.60</ref> Em seguida, as câmaras municipais, compostas por vereadores eleitos pelo povo brasileiro como seus representantes, votaram a favor por sua adoção como a Carta Magna do Brasil independente.<ref>SCANTIMBURGO, João de. O Poder Moderador. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1980, p.140</ref><ref>LIMA, Manuel de Oliveira. O Império brasileiro. São Paulo: USP, 1989, p.60</ref><ref>CARVALHO, José Murilo de. A Monarquia brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1993</ref>
Pouquíssimas câmaras fizeram qualquer tipo de observação a Constituição<ref>HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Brasil Monárquico: o processo de emancipação. 4. ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1976, p.253</ref> e praticamente nenhuma fez alguma reserva.<ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.170</ref> A primeira Constituição brasileira foi então promulgada por dom Pedro I e solenemente jurada na Catedral do Império, no dia 25 de março de 1824.<ref>HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Brasil Monárquico: o processo de emancipação. 4. ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1976.</ref>

A Carta promulgada em 1824 foi influenciada pelas Constituições francesa de 1791 e espanhola de 1812.<ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.170</ref> Era um ''“belo documento de liberalismo do tipo francês”'', <ref>CALMON, Pedro. História da civilização brasileira. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2002, p.203</ref> com um sistema representativo baseado na teoria da soberania nacional.<ref>BONAVIDES, Paulo. Reflexões; política e direito. 2 ed. Fortaleza: Imprensa Universitária, p.228</ref> A forma de governo era a monárquica, hereditária, constitucional e representativa, sendo o país dividido formalmente em províncias e o poder político estava dividido em quatro, conforme a filosofia liberal das teorias da separação dos poderes e de Benjamin Constant. <ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.170</ref> A Constituição era uma das mais liberais que existiam em sua época,<ref>SCANTIMBURGO, João de. O Poder Moderador. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1980, p.20</ref><ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.175</ref> até mesmo superando as européias.<ref>CARVALHO, José Murilo de. A Monarquia brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1993, p.46</ref> Fora mais liberal, em diversos pontos,<ref>HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Brasil Monárquico: o processo de emancipação. 4. ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1976, p.254</ref> e menos centralizadora que o projeto da Constituinte,<ref>CARVALHO, José Murilo de. A Monarquia brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1993, p.23</ref> revelando que os ''“constituintes do primeiro reinado que estavam perfeitamente atualizados com as idéias da época”''.<ref>SCANTIMBURGO, João de. O Poder Moderador. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1980, p.19</ref> Apesar da Constituição prever a possibilidade de liberdade religiosa somente em âmbito doméstico, na prática, ela era total. Tanto os protestantes, como judeus e seguidores de outras religiões mantiveram seus templos religiosos e a mais completa liberdade de culto.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.175</ref> Continha uma inovação, que era o Poder Moderador, cujo surgimento na letra da lei fora atribuída a Martim Francisco de Andrada, um grande admirador de Benjamin Constant. <ref>HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Brasil Monárquico: o processo de emancipação. 4. ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1976, p.186</ref> Este Poder serviria para ''“resolver impasses e assegurar o funcionamento do governo”''.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.175 </ref> A separação entre o Poder Executivo e Moderador surgiu a partir da prática no sistema monárquico-parlamentarista britânico.<ref>CARVALHO, José Murilo de. A Monarquia brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1993, p.23</ref>

Havia na Carta Magna ''“algumas das melhores possibilidades da revolução liberal que andava pelo ocidente – as que iriam frutificar, embora imperfeitamente, no reinado de D. Pedro II”''.<ref>HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Brasil Monárquico: o processo de emancipação. 4. ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1976, p.253</ref>
Isabel Lustosa diz que ''“segundo'' [Neill] ''Macaulay, ele proporcionou uma Carta invulgar, sob a qual o Brasil salvaguardou por mais de 65 anos os direitos básicos dos cidadãos de maneira melhor ‘do que qualquer outra nação do hemisfério ocidental, com a possível exceção dos Estados Unidos’”''.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.175</ref> De acordo com João de Scantimburgo:<ref>SCANTIMBURGO, João de. O Poder Moderador. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1980, p.21</ref>

<blockquote>''"D. Pedro e os seus constituintes tiveram o bom senso de escolher o melhor regime para a nação tropical, que se emancipava na América, sem copiar os Estados Unidos já consolidados, e as nações hispano-americanas retaliadas por tropelias sem fim, pelo revezamento de breves períodos democráticos e ditaduras caudilhescas".''</blockquote>

===A Confederação do Equador===

A dissolução da Constituinte não trouxe maiores prejuízos à não ser para os bonifácios. Frei Caneca, um dos líderes dos liberais federalistas em Pernambuco, considerava como culpados pelo ocorrido ''“os ministros que segundo ele iludiam o imperador e, entre eles, o mais terrível era Bonifácio. A d. Pedro caberia livrar-se dos maus conselheiros e retomar o caminho constitucional para preservar a unidade”''.<ref>DOLHNIKOFF, Miriam. Pacto imperial: origens do federalismo no Brasil do século XIX. São Paulo: Globo, 2005, p.56</ref> Para o clérigo, antigo republicano, não importava a forma de governo que o país implantasse, fosse ela monarquia ou república, contanto que existisse uma federação.<ref>DOLHNIKOFF, Miriam. Pacto imperial: origens do federalismo no Brasil do século XIX. São Paulo: Globo, 2005, p.56</ref> Caneca inclusive apoiou com entusiasmo a manutenção da monarquia no Brasil após a independência, onde o próprio afirmou que: ''“Império constitucional? Colocado entre a monarquia e o governo democrático, reúne em si as vantagens de uma e de outra forma e repulsa para longe os males de ambas. Agrilhoa o despotismo e estanca os furores do povo indiscreto e volúvel”''.<ref>DOLHNIKOFF, Miriam. Pacto imperial: origens do federalismo no Brasil do século XIX. São Paulo: Globo, 2005, p.56-57</ref>

Com a Constituição promulgada após a aceitação em massa das câmaras municipais brasileiras, os liberais federalistas pernambucanos se revoltam contra o governo central. Estes liberais não diferiam em praticamente nada dos que participaram da Constituinte: defendiam os interesses das oligarquias dominantes e não estavam em busca de mudanças profundas na sociedade.<ref>DOLHNIKOFF, Miriam. Pacto imperial: origens do federalismo no Brasil do século XIX. São Paulo: Globo, 2005, p.27</ref> A revolta ocorrida em Pernambuco e que se denominou "''Confederação do Equador''", contou com o apoio dos federalistas de outras províncias do nordeste brasileiro mas foi rapidamente debelada ainda no início de 1824. O fato de ter ocorrido justamente enquanto o Império ainda estava em guerra pela independência contra Portugal, dificultando o esforço bélico, em conjunto com a destruição e mortes causadas pelos revoltosos, impediu qualquer possibilidade de entendimento com os mesmos. Dom Pedro I estava decidido a impor a ordem ao país e comentou: ''“O que estavam a exigir os insultos de Pernambuco? Certamente um castigo, e um castigo tal que sirva de exemplo para o futuro”''.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.176</ref> Ainda assim tiveram direito ao devido processo legal que teve como duração cerca de seis meses.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.182</ref> Os revoltosos sofreram penas diversas, mas Caneca e outros companheiros foram sentenciados a morte.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.181</ref> A revolta teve por conseqüência aproximar ainda mais o Imperador dos portugueses, pois aquele passou a enxergar os federalistas com total desconfiança.

===As Coroas de Dom Pedro===
====Rei da Grécia====
Após cerca de quatrocentos anos de domínio opressivo turco, as antigas províncias do Império Romano do Oriente (erroneamente, mas popularmente chamado de Império Bizantino) na região dos Bálcãs estavam conseguindo sua liberdade. Apesar da recusa dos países ocidentais em colaborar com as insurreições contra o Império Otomano, diversos europeus se voluntariaram espontaneamente para combater ao lado dos cristãos orientais. Contudo, não havia Casas Principescas, Reais ou Imperiais nativas nos países balcânicos. A Dinastia Comnenus e a Dinastia Paleólogo, que imperaram em Constantinopla, tinham se extinguido cerca de quatrocentos anos antes. A Grécia, um dos novos países que surgiram das insurreições que perduraram por todo o século XIX, buscou um príncipe estrangeiro para ocupar seu trono vago.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.171</ref></blockquote>

Os gregos enviaram emissários a dom João VI para propor que o seu filho mais velho, dom Pedro, viesse a tornar-se o primeiro Rei da Grécia independente. Dom Pedro, apesar de membro da Casa de Bragança (que por sua vez era um ramo português da Dinastia Capetíngea), era descendente dos Imperadores romanos da Dinastia Comnenus e Paleólogo. Para os portugueses, a proposta era-lhes muito interessante, pois acreditavam que com o príncipe longe do Brasil poderiam impedir a independência do Brasil e retorná-lo a condição de simples colônia.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.172</ref> As mensagens dos gregos com a oferta do trono heleno alcançaram dom Pedro logo após os acontecimentos do Dia do Fico, mas o:

<blockquote>[...] ''"príncipe regente, porém, não traiu a confiança nele depositada pela nação brasileira, que o aclamaria seu Defensor Perpétuo. Amando verdadeiramente o povo da pátria que o viu nascer e tendo a intuição profunda da missão histórica que lhe seria dada desempenhar na terra bárbara e selvagem do Novo Continente, resistiu à vaidade de ostentar em sua fronte o diadema da pátria de Homero e de Péricles".''</blockquote>

<blockquote>''"E, assim, o Príncipe D. Pedro, primeiro imperador do Brasil, recusou a coroa dessa Grécia imortal, berço maior da cultura humana".''<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.173</ref></blockquote>

Com a recusa de dom Pedro, os gregos optaram em 1832 pelo príncipe Oto da Casa de Wittelsbach como seu Rei e após sua deposição, em 1862, escolheram Jorge, príncipe da Dinamarca, da Casa de Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glücksburg, ramo cadete da Dinastia de Oldemburg.

====Rei de Portugal e dos Algarves====
[[Imagem:29- Imperador Rei D. Pedro IV - O Soldado.jpg|thumb|200px|right|D. Pedro na qualidade de rei de Portugal, envergando a [[Banda das Três Ordens]].]]
De Portugal, D. João VI tentou sem sucesso reaver o Brasil. A única solução encontrada para reunir Portugal e Brasil foi a de nomear D. Pedro I seu sucessor em Portugal, apesar de este ter sido deserdado em consequência dos acontecimentos de [[1822]]. Em maio de [[1826]], após a morte de D. João VI, Dona [[Isabel Maria de Bragança]] assume a regência do reino e reconhece o monarca brasileiro como ''"dom Pedro IV, Rei de Portugal e dos Algarves daquém e d'além mar, em África Senhor da Guiné, e da Conquista, Navegação, Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia, e da índia, etc"''.

O jovem Imperador decide contrariar as restrições da constituição imperial brasileira, que ele próprio aprovara, e assumir o poder em [[Lisboa]]. D. Pedro I começa por idealizar a junção das duas Coroas, mas depressa muda de idéias, outorgando aos portugueses a [[Carta Constitucional portuguesa de 1826|Carta Constitucional]] ([[1826]]) e abdicando, no mês seguinte, em favor de sua filha primogênita, [[Dona Maria da Glória]], de sete anos, mediante duas condições: o casamento da [[Rainha]] com o seu tio [[Miguel I de Portugal|D. Miguel]], entretanto nomeado regente, e o juramento da Carta Constitucional escrita em [[Taubaté]].

Após a doação da Carta portuguesa, a situação torna-se complicada nos dois reinos. Em Portugal, D. Miguel torna-se senhor de um trono absolutista ([[1827]]), faltando ao compromisso assumido com seu irmão, e, no Brasil, D. Pedro I tornou-se cada vez mais impopular por seu [[absolutismo]] — ironicamente, visto sua posição nos acontecimentos a seguir em Portugal.

====Rei da Espanha e Imperador da Ibéria====
A Espanha passava por um período de repressão sem precedentes desde a restauração da Casa de Bourbon ao trono com a queda de Napoleão Bonaparte. Dom Fernando VII, Rei da Espanha e irmão de Carlota Joaquina, completamente inabalável em relação ao seu sentimento absolutista, extingue a Constituição e ordena a prisão em massa dos espanhóis que defendiam o liberalismo. A imprensa foi censurada e eliminou-se qualquer vestígio das garantias individuais. A Espanha entra num caos que perduraria durante todo o século XIX até o final da Guerra Civil espanhola na primeira metade do século XX. Os conflitos entre absolutistas e liberais atinge proporções internacionais, criando instabilidade também nos países vizinhos, como Portugal e França. Em 1826, os liberais espanhóis ofereceram a coroa de seu país a dom Pedro, a quem consideravam um ''“bem-feitor dos Povos”'' e muito ''“digno”'', e que resultaria na unificação do Império do Brasil, do Reino de Portugal e dos Algarves e do Reino da Espanha sob sua pessoa.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.193</ref> Se tivesse aceitado, dom Pedro imperaria sobre um Império que se estenderia de Cuba, passando pelo Brasil, pelo continente africano nas colônias de Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe, e atingindo no extremo oriente em Macau e nas Filipinas. Mas não o aceitou, alegando que era necessário primeiramente consolidar o Império brasileiro e repetira tal asserção três anos mais tarde, após uma nova proposta por parte dos espanhóis.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.197</ref>

Contudo, a situação se agravou na Espanha durante este período com o falecimento de dom Fernando VII. Seu herdeiro era seu irmão mais novo, dom Carlos, mas o Rei modificara as regras de sucessão para beneficiar sua filha, dona Isabel, que se tornou Rainha com a sua morte. Dom Carlos não aceitou a perda do trono e aliou-se aos absolutistas, que formaram a facção dos Carlistas que viria a causar grandes problemas a Espanha durante todo o século XIX.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.196-197</ref> No ano de 1830, os liberais mais uma vez se voltaram para dom Pedro I e propuseram dessa vez que se tornasse o Imperador da Ibéria, resultado da unificação de Portugal com a Espanha.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.197</ref> Desta vez, entretanto, o monarca brasileiro aceitou a proposta e realizou os preparativos para partir para a Europa e derrotar os absolutistas em favor dos constitucionalistas. A aceitação da oferta da coroa imperial da península Ibérica seria uma das razões que levaria dom Pedro a abdicar do trono brasileiro.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.199</ref>

===Guerra da Cisplatina===

A região onde se situa atualmente o Uruguai foi inicialmente colonizada por Portugal, em 1679. Os portugueses fundaram a vila de Sacramento, e por quase cem anos a região permaneceu praticamente em suas mãos. Esta colônia mais ao sul da América portuguesa era importante, pois, controlando o estuário do Prata seria possível manter a comunicação com os regiões interiores que hoje formam o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (preocupação esta que os brasileiros iriam herdar e que viria a resultar mais tarde na Guerra do Paraguai). Em 1817 toda a região, denominada Banda Oriental (da região do Prata), foi reconquistada pelos portugueses por ordem de dom João VI e renomeada Cisplatina (que significa literalmente “este lado do Prata”). Esta província era povoada tanto por castelhanos, como por portugueses e também por seus descendentes, resultando numa amálgama cultural que dificultava o surgimento de uma identidade própria para seus habitantes.
[[Imagem:Tropas brasileiras 1825.jpg|thumb|280px|right|Tropas brasileiras partindo para Montevidéu.]]
A província aceitou fazer parte do Império do Brasil, inclusive enviando deputados para a Constituinte de 1823 (e antes mesmo para as Cortes em 1822). Contudo, trinta e dois nativos da província liderados por Juan Antonio Lavalleja revoltaram-se contra o Brasil e declaram a união da Cisplatina com as Províncias Unidas do Rio da Prata (futura Argentina). Tal insurreição fora possível graças à colaboração material e financeira por parte das Províncias Unidas.<ref>CALMON, Pedro. História da civilização brasileira. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2002, p.192</ref> Tal atentado contra a soberania brasileira por parte de uma nação estrangeira foi revidada por uma declaração formal de guerra em 10 de dezembro de 1825.<ref>CALMON, Pedro. História da civilização brasileira. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2002, p.193</ref> Apesar de deter um Exército com mais de 26 mil homens<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.246</ref> e uma poderosa marinha de guerra, o Brasil foi incapaz de derrotar as forças rebeldes da Cisplatina e as tropas das Províncias Unidas. No campo militar, as tropas brasileiras, preparadas para batalhas convencionais, eram incapazes de fazer frente às tropas gaúchas que utilizavam táticas que atualmente seriam consideradas de guerrilha. O Exército brasileiro manteve sua presença nas cidades e vilas da Cisplatina, mas não encontrava maneiras de desferir um golpe certeiro no inimigo que preferia atuar de maneira inconsistente na região rural. No campo estratégico e político, dom Pedro viu a oposição dos liberais federalistas ao conflito, que manipulavam a opinião pública culpando o monarca pela guerra. Para os federalistas que defendiam os interesses dos fazendeiros escravocratas e dominavam a Assembléia, a guerra não lhes importava, pois a Cisplatina possuía uma terra imprópria para o cultivo de café e cana-de-açúcar.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.245-6</ref>

Dom Pedro se viu numa situação delicada, pois os políticos ao invés de colaborarem com o esforço de guerra para defender os interesses da nação, faziam justamente o contrário, por interesses pessoais e políticos. Dificultavam o envio de ajuda material e financeira para as tropas no teatro de guerra ao recusarem os pedidos do Executivo. As províncias também não enviavam voluntários suficientes e assim a guerra se estendeu em prejuízo do Império, que se via em graves dificuldades financeiras.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.246</ref> <ref>CALMON, Pedro. História da civilização brasileira. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2002, p.193</ref> O Imperador partiu para o teatro de operações para tentar resolver o problema pro si só, visto que não conseguia o apoio dos políticos. Iniciou sua viagem em 29 de novembro de 1826, em seguida desembarcou na província de Santa Catarina e realizou um longo percurso por terra por mais de quatrocentos quilômetros a cavalo até atingir Porto Alegre, na província do Rio Grande do Sul em 7 de dezembro do mesmo ano. Dom Pedro encontrou o Exército brasileiro desmoralizado, sem recursos e sem qualquer perspectiva de tomar iniciativa. Imediatamente demitiu os oficiais incompetentes e corruptos, e reorganizou as tropas, assim como a administração civil e militar.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.244</ref> Não teve como ficar muito tempo, pois ao receber a notícia do falecimento de Leopoldina, retornou ao Rio de Janeiro no início de 1827.<ref>CALMON, Pedro. História da civilização brasileira. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2002, p.193</ref>
[[Imagem:Tropas brasileiras 1835.jpg|thumb|300px|left|Terceiro batalhão do Exército brasileiro em treinamento em São Cristóvão, Rio de Janeiro.]]
Ao chegar na capital do Império, encontrou mais dificuldade em lidar com os liberais federalistas. Estes atacavam, através dos jornais e por discursos na Assembléia, os imigrantes europeus que chegavam ao país para estabelecer suas moradias.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.275</ref> Vários deles foram recrutados para a guerra e eram atacados nas ruas por escravos incentivados por seus senhores, ligados aos liberais.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.276</ref> Revoltados com o tratamento recebido no Brasil, os estrangeiros que haviam sido recrutados e contratados como mercenários entraram em negociações secretas com o governo argentino para trocarem de lado. Em contra-partida, os estrangeiros receberiam a província de Santa Catarina para lá se instalarem como país independente, enquanto o Rio Grande do Sul seria anexado pelas Províncias Unidas.<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.130 e 132</ref> Para facilitar esta ação, os soldados estrangeiros iriam rebelar-se no Rio de Janeiro e raptariam dom Pedro, <ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.145-6</ref> levando-o para Buenos Aires, onde lá seria forçado a aceitar as exigências dos argentinos e estrangeiros. A revolta foi precipitada pela punição injusta de um militar alemão por um oficial brasileiro ocorrida em 9 de junho de 1828.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.276</ref> Isabel Lustosa afirma<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.276</ref> que o estrangeiro recebeu cerca de 230 chibatadas e então seus companheiros se rebelaram. Sérgio Corrêa da Costa alega<ref>COSTA, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.124</ref> que o militar não chegou a ser punido fisicamente graças à intervenção de um outro oficial brasileiro. Contudo, as tropas estrangeiras se revoltaram, e após vários combates na cidade do Rio de Janeiro, foram derrotadas por tropas leais ao Imperador e por vários civis brasileiros. Centenas de pessoas de ambos os lados morreram devido aos confrontos armados.

O tratado de paz entre o Brasil e as Províncias Unidas veio logo após, em 28 de agosto de 1828, ao preço da perda da província Cisplatina (que se tornou o Uruguai), mais de 30 milhões de dólares em gastos e 8 mil brasileiros mortos.<ref>LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.277</ref> Dom Pedro teve sua imagem abalada profundamente pelo término do conflito que custou vidas e recursos desnecessariamente e foi culpado pelo desmembramento do território.<ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.322</ref> Por sua vez, o Imperador percebeu claramente que não poderia confiar nos liberais federalistas, que mais uma vez causaram mortes que poderia ter sido evitadas graças à defesa de seus próprios interesses em detrimento dos da Nação (a semelhança do que ocorreu na Confederação do Equador que foi iniciada durante a Guerra da Independência). A Guerra da Cisplatina teve um papel importante na abdicação de dom Pedro, ao colaborar com o aumento do seu desprestígio.<ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.322</ref>

===Abdicação===
[[Imagem:Pedro I por Henrique José da Silva.jpg|thumb|250px|D. Pedro I e a [[coroa]] imperial do [[Brasil]].]]
A indecisão entre o Brasil e Portugal contribuiu para minar a popularidade e o prestígio de D. Pedro I. Os problemas do Imperador agravaram-se a partir de [[1825]], quando, no plano interno, fracassavam as forças brasileiras na [[Campanha Cisplatina]] ([[1825]] - [[1827]]). O Imperador chegou a ir ao [[Rio Grande do Sul]], a fim de participar pessoalmente da campanha, no final de [[1826]]. A notícia da morte da [[Imperatriz Leopoldina]] obrigou-o a mudar os planos e retornar ao Rio de Janeiro.

Além do malogro militar, da perda da [[província da Cisplatina]] (em [[1828]]), e dos constantes atritos com a Assembléia, a vida privada do Imperador também contribuía para o desgaste de sua imagem. Era notório seu relacionamento com [[Domitila de Castro Canto e Melo]], a quem fez [[viscondessa]] e depois [[marquesa de Santos]]. O romance teve início em [[1822]] e durou até o segundo casamento de D. Pedro I, em [[1829]], com [[Amélia de Beauharnais]], [[duquesa de Leuchtenberg]]. O [[marquês de Barbacena]], encarregado de encontrar uma noiva para o Imperador que atendesse às exigências de [[nobreza]], formosura, virtude e educação, enfrentara humilhantes recusas por parte de várias casas reais européias que viam com horror o relacionamento do Imperador com a [[Marquesa de Santos]],e o sofrimento que este causara na [[Imperatriz Leopoldina]].

Tudo isso, ao lado das dificuldades financeiras, provocaram o protesto das elites brasileiras. Apesar da renúncia, sua relação com os assuntos internos de Portugal o tornaram cada vez mais impopular no Brasil. O constante declínio de seu prestígio e a crise provocada pela dissolução do gabinete, em [[1830]], fez o Imperador sofrer oposição liberal e reação popular, levando-o a [[Abdicação de D. Pedro I|abdicar]] em favor do filho [[Pedro II do Brasil|D. Pedro II]] (com apenas seis anos) em [[7 de abril]] de [[1831]].

==Duque de Bragança==
===Guerras Liberais===

[[Imagem:Liberal Wars.jpg|thumb|300px|[[Charge]] do confronto entre Dom Pedro I e Dom Miguel nas [[Guerras Liberais]] ([[1831]]-[[1834]]).]]

D. Pedro I retorna à Europa e assume a liderança da luta para restaurar os direitos da filha, usurpados por D. Miguel. Em Portugal se viviam as [[Guerras Liberais]] entre os miguelistas, partidários do absolutismo defendido por Miguel, que usurpara a Coroa de [[D. Maria II]], Rainha em título, e os liberais, defensores do constitucionalismo. Após conseguir os apoios financeiros necessários e organizar os liberais imigrados, chega aos [[Açores]] em [[1832]], onde assume a regência na qualidade de [[Duque de Bragança]], nomeia um Ministério composto por [[Mouzinho da Silveira]], [[Pedro de Sousa Holstein|Marquês de Palmela]] e [[Agostinho José Freire]] (do qual se destaca o primeiro pela legislação que vai promulgando, que viria a alterar a estrutura jurídica e social do país), e prepara força expedicionária para invadir Portugal e colocar a sua filha no trono.

Em junho a expedição militar parte para o norte do país, vindo a desembarcar no [[Pampelido]] em [[8 de julho]] e seguindo depois para o [[Porto]]. As tropas chegam à cidade no [[9 de julho|dia seguinte]] e, ao contrário do que tinham inicialmente previsto, sofrem um longo e penoso cerco, dando-se início a uma guerra civil. Em [[24 de julho]] de [[1834]], depois da [[batalha de Lisboa]], ganha pelo marechal-duque da Terceira, os liberais derrotam os miguelistas.

===Morte===
As cortes de agosto de [[1834]] confirmam a regência de D. Pedro I, que repõe a filha no trono português. Apesar de ter reconquistado o trono português para sua filha, D. Pedro I voltou [[Tuberculose|tuberculoso]] da campanha e morreu em [[24 de setembro]] de [[1834]], pouco depois da [[Convenção de Évora Monte]] (que selara a vitória da causa liberal, de que se fizera paladino), no [[palácio de Queluz]], na mesma sala onde nascera 36 anos antes.

Foi sepultado no [[Panteão dos Braganças]], na [[Igreja de São Vicente de Fora]], como simples general, e não como rei. O seu [[coração]] foi doado, por decisão [[Testamento|testamentária]], à [[Igreja da Lapa (Porto)| Igreja da Lapa]], no [[Porto]], onde se encontra conservado, como relíquia, num [[mausoléu]] na capela-mor da igreja, ao lado do [[Evangelho]]. Em [[1972]], no sesquicentenário da [[Independência]], seus despojos foram trasladados do panteão de São Vicente de Fora para a cripta do [[monumento do Ipiranga]], em São Paulo, no Brasil, ao lado da primeira esposa, a [[Maria Leopoldina de Áustria|Imperatriz Leopoldina]] e da segunda esposa, [[Amélia de Leuchtenberg|Imperatriz Amélia]].

==Legado==
Dom Pedro I é visto atualmente pelos brasileiros como um déspota arbitrário e absolutista que estava mais preocupado com as diversas amantes do que com o Brasil. Esta visão é fruto da propaganda realizada primeiramente pelos liberais federalistas contra o monarca e seguida mais tarde pelos republicanos para desacreditarem o período monárquico brasileiro. Tal quadro viria a se modificar somente na década de 1950, quando o historiador Otávio Tarqüínio de Souza lançou em 1952 a obra biográfica "''A vida de D. Pedro I''".<ref>VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.197</ref> Sobre a visão histórica a respeito do primeiro Imperador brasileiro Oliveira Lima afirmou que:<ref>LIMA, Manuel de Oliveira. O Império brasileiro. São Paulo: USP, 1989, p.173</ref>

<blockquote>''"Foi até moda, que só passou com a República, difamar D. Pedro I e zombar o mais possível do bom Rei D. João VI, a quem o Brasil deve sua organização autônoma, suas melhores fundações de cultura e até seus devaneios de grandeza".'' [...] ''"De D. Pedro I mil coisas se inventaram, entre elas uma deslealdade tão consumada que só parecia roubada aos tiranetes'' [pequenos tiranos] ''da Itália da Renascença".''</blockquote>

No entanto, ao abdicar em 1831, o Brasil que dom Pedro deixou era a maior potência latino-americana. O Exército, com cerca de 24 mil homens, era tão bem equipado e preparado quanto os seus equivalentes europeus, apesar da diferença numérica.<ref>PEDROSA, José Fernando Maya. A Catástrofe dos Erros: razões e emoções na guerra contra o Paraguai. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2004, p.229</ref> A Marinha detinha mais de oitenta modernos navios de guerra.<ref>MAIA, Prado. A Marinha de Guerra do Brasil na Colônia e no Império (2a. ed.). Rio de Janeiro: Cátedra, 1975. p. 133-135</ref> As demais nações republicanas da América Latina sofriam com intermináveis guerras civis, golpes de Estado, ditaduras, desmembramentos territoriais e caudilhos disputando o poder pelas forças das armas. O Brasil recebeu os seus primeiros investimentos em indústria, tendo o Estado criado incentivos governamentais em 1826.<ref>SZMRECSÁNY, Tamás e LAPA, José Roberto do Amaral. História Econômica da Independência e do Império. 2. ed. São Paulo: USP, 2002, pg.298</ref> Havia plena liberdade de imprensa, respeito às garantias individuais e as eleições ocorriam periodicamente sem interrupções. A Constituição promulgada em 1824 sofreu uma única grande modificação em 1834 e perdurou por todo o Império e ao ser extinta em 1889, era a terceira mais antiga ainda em vigor no mundo.<ref>LYRA, Heitor. História de Dom Pedro II: Ascenção 1825-1870. Belo Horizonte: Itatiaia, 1977, p.200</ref> Após a revolta da Confederação do Equador em 1824 e apesar das disputas entre as facções políticas, pelos próximos sete anos de reinado de dom Pedro I houve paz interna. Armitage afirmou que apesar ''“de todos os erros do Imperador, o Brasil durante os dez anos de sua administração fez certamente mais progressos em inteligência'' [desenvolvimento] ''do que nos três séculos decorridos do seu descobrimento à proclamação da Constituição portuguesa de 1820”''.<ref>NABUCO, Joaquim. Um Estadista do Império. Volume único. 4 ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1975, p62-63</ref> Contudo, o maior legado de dom Pedro I foi ter garantido a integridade territorial de um Império de proporções continentais, permitindo aos habitantes de regiões longínquas do norte na nascente do rio Ailã em Roraima, ao sul no arroio Chuí no Rio Grande do Sul, ao leste em Ponta do Seixas na Paraíba e a oeste na nascente do rio Moa no Acre considerarem-se hoje pertencentes a uma única nacionalidade: a brasileira.<ref>HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira: Declínio e Queda do Império. 2 ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1974, pg.272</ref>

==Ascendência==
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{{ahnentafel-compact5
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|1= 1. '''Pedro I do Brasil'''
|2= 2. [[João VI de Portugal]]
|3= 3. [[Carlota Joaquina de Bourbon]]
|4= 4. [[Pedro III de Portugal]]
|5= 5. [[Maria I de Portugal]]
|6= 6. [[Carlos IV de Espanha]]
|7= 7. [[Maria Luísa de Parma]]
|8= 8. [[João V de Portugal]] (=20)
|9= 9. [[Maria Ana da Áustria]] (=21)
|10= 10. [[José I de Portugal]]
|11= 11. [[Mariana Vitória de Espanha]]
|12= 12. [[Carlos III de Espanha]]
|13= 13. [[Maria Amália da Saxónia]]
|14= 14. [[Filipe, Duque de Parma]]
|15= 15. [[Princesa Luísa Isabel de França]]
|16= 16. [[Pedro II de Portugal]]
|17= 17. [[Maria Sofia Isabel de Neuburgo]]
|18= 18. [[Leopoldo I, Sacro Imperador Romano-Germânico]]
|19= 19. [[Leonor Madalena de Neuburgo]]
|20= 20. [[João V de Portugal]] (=8)
|21= 21. [[Maria Ana de Áustria]] (=9)
|22= 22. [[Filipe V de Espanha]] (=24)
|23= 23. [[Isabel Farnésio]] (=25)
|24= 24. [[Filipe V de Espanha]] (=22)
|25= 25. [[Isabel Farnésio]] (=23)
|26= 26. [[Augusto III da Polônia]]
|27= 27. [[Maria Josefa da Áustria]]
|28= 28. [[Filipe V de Espanha]] (=22)
|29= 29. [[Isabel Farnésio]] (=23)
|30= 30. [[Luís XV de França]]
|31= 31. [[Maria Leszczynska]]
}}
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==Descendência==
D. Pedro teve ao todo 18 filhos. De sua esposa em primeiras núpcias, a [[Imperatriz Leopoldina]], Arquiduquesa da [[Áustria]], nasceram:
*[[Maria II de Portugal|D. Maria II]], rainha de [[Portugal]] ([[1819]]-[[1853]]), casada por procuração com seu tio, [[Miguel I de Portugal|D. Miguel I]], rei de [[Portugal]], em primeiras núpcias com [[Augusto de Beauharnais]], [[duque de Leuchtenberg]], e em segundas núpcias com o príncipe [[Fernando II de Portugal|Fernando de Saxe-Coburgo-Gota]], [[Rei de Portugal|rei consorte de Portugal]];
*Infante [[Miguel de Bragança (1820)|D. Miguel de Bragança]] ([[1820]]), [[príncipe da Beira]];
*Infante [[João Carlos de Bragança (Infante)|D. João Carlos de Bragança]] ([[1821]]-[[1822]]), príncipe da Beira;
*[[Januária Maria de Bragança|D. Januária Maria]] ([[1822]]-[[1901]]), princesa imperial do Brasil, casada com o príncipe Luís de Bourbon e Duas Sicílias, conde de Áquila;
*[[Paula Mariana de Bragança|D. Paula Mariana]] ([[1823]]-[[1833]]);
*[[Francisca de Bragança|D. Francisca]] ([[1824]]-[[1898]]), princesa do Brasil, casada com o [[Francisco Fernando de Orléans]], príncipe de Joinville;
*[[Pedro II do Brasil|D. Pedro II]] ([[1825]]-[[1891]]), [[imperador do Brasil]], casado com [[Teresa Cristina Maria de Bourbon|D. Teresa Cristina de Bourbon e Duas Sicílias]], princesa de Duas Sicílias.
[[Imagem:Dompedroiibebe.jpg|thumb|right|150px|D. [[Pedro II do Brasil]] quando bebê.]]
De sua esposa em segundas núpcias, Dona [[Amélia de Leuchtenberg]], imperatriz do Brasil ([[1829]] - [[1831]]), duquesa de Leuchtenberg e de Bragança:
*D. [[Maria Amélia de Bragança]] ([[1831]]-[[1853]]), princesa do Brasil.

De sua amante, [[Domitília de Castro e Canto Melo]], marquesa de Santos:
*''rapaz'' ([[1823]]), menino natimorto;
*D. [[Isabel Maria de Alcântara Brasileira]] ([[1824]]-[[1898]]), [[duquesa de Goiás]], casada com Ernesto José João Fischler von Treuberg, conde de Treuberg;
*D. [[Pedro de Alcântara Brasileiro]] ([[1825]]–[[1826]]);
*D. [[Maria Isabel de Alcântara Brasileira]] ([[1827]]–[[1828]]), [[duquesa do Ceará]];
*D. [[Maria Isabel II Alcântara Brasileira]] ([[1830]]–[[1896]]), que se casou com [[Pedro Caldeira Brant]], conde de Iguaçu.

Com a [[França|francesa]] [[Noémi Thierry]] teve:
*D. Pedro, falecido antes de completar um ano;
*Menina, falecida antes de completar um ano.

Com [[Maria Benedita de Castro Canto e Melo]], baronesa de Sorocaba e irmã da [[Domitília de Castro e Canto Melo|marquesa de Santos]], teve:
*D. [[Rodrigo Delfim Pereira]].

Com a [[uruguai]]a [[María del Carmen García]] teve uma criança natimorta.

De sua amante francesa [[Clémence Saisset]] teve:
*D. Pedro de Alcântara Brasileiro<ref>{{Referência a livro
|Autor = [[Otávio Tarqüinio de Sousa|Sousa, Otávio Tarqüinio de]]
|Título = A vida de D. Pedro I
|Local de publicação = [[Rio de Janeiro]]
|Editora = [[José Olympio]]
|Ano = [[1954]]}}</ref>.

Com a monja portuguesa [[Ana Augusta]] teve outro menino de nome D. Pedro.

Apesar das possíveis aparências, muitos biógrafos consideram D. Pedro um pai zeloso pelo menos com a maior parte de sua prole, fosse ela legítima ou não. Procurou, na medida do possível, cuidar pessoalmente da educação de todos, chegando inclusive a se indispor com D. Leopoldina quando exigiu que a [[duquesa de Goiás]] fosse educada juntamente com as princesas imperiais. Ainda sobre a duquesa, já exilado em Paris, fez com que viesse a viver juntamente com [[Maria da Glória|D. Maria da Glória]] e [[Amélia de Leuchtenberg]] - que finalmente a aceitara após uma primeira rejeição, ainda no Brasil.

De acordo com Isabel Lustosa, D. Pedro costumava brincar com os filhos e lhes ministrar pessoalmente remédios e outros cuidados médicos. Otávio Tarqüinio relata como o ex-imperador ficara consternado com a morte de cada um de seus filhos. O corpo da menina que tivera com [[Noémi Thierry]] foi, a seu mando, embalsamado e trasladado para a [[Quinta da Boa Vista]], onde ali permaneceria velado pelo regente até sua partida do Brasil. Maior tristeza lhe abateu quando da morte do Príncipe da Beira, D. [[João Carlos de Bragança (Infante)|João Carlos de Bragança]], a quem, em seu leito de morte, deu-lhe o "último beijo" e a "derradeira benção paterna". Mesmo no exílio, manteve constante comunicação com D. Pedro de Alcântara, futuro [[Pedro II do Brasil]], por cartas enviadas mesmo durante as [[Guerras Liberais]].

==Títulos==
*'''1798-1816''': ''Sua Alteza o [[Príncipe da Beira]]
*'''1816-1822''': ''Sua Alteza Real o [[Príncipe Real do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves]]
*'''1822-1828''': ''Sua Majestade Imperial o Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil
*'''1826-1826''': ''Sua Majestade Fidelíssima El-Rei (de Portugal)
*'''1828-1834''': ''Sua Majestade Imperial e Real, D. Pedro, [[Duque de Bragança]]

==Na cultura popular==
D. Pedro I já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por:
*[[Achiles Lambertini]] no filme "''[[O Grito do Ipiranga]]''" (1917)
*[[Tarcísio Meira]] e seu filho [[Tarcísio Filho]] no filme "''[[Independência ou Morte]]''" (1972)
*[[Tarcísio Meira]] na novela "''[[Saramandaia]]''" (1976) (aparição especial)
*[[Gracindo Júnior]] na minissérie "''[[Marquesa de Santos (minissérie)|Marquesa de Santos]]''" (1984)
*[[Tarcísio Filho]] na novela "''[[Dona Beija]]''" (1986)
*[[Marcos Palmeira]] no filme "''[[Carlota Joaquina - Princesa do Brazil]]''" (1995)
*[[Pedro Palli]] na minissérie "''[[Entre o Amor e a Espada]]''" (2001)
*[[Marcos Pasquim]] na minissérie "''[[O Quinto dos Infernos]]''" (2002)

===Efígie===
Também teve sua efígie impressa na nota de Cr$ 200 (duzentos cruzeiros) de 1951 e na de Cr$ 5,00 (cinco cruzeiros) de 1970; cunhada no verso das moedas de Cr$ 1 (um cruzeiro) e Cr$ 20 (vinte cruzeiros) — comemorativas do sesquicentenário da independência, em 1972 — e, atualmente, de 10 centavos de [[real (moeda)|real]].

{{ref-section|Referências|2}}

==Bibliografia==
*[[Isabel Lustosa|LUSTOSA, Isabel]]. ''D. Pedro I: um herói sem nenhum caráter''. São Paulo: [[Companhia das Letras]], 2006 {{ISBN|85-359-0807-2}}
*[[Octávio Tarquínio de Sousa|SOUSA, Otávio Tarqüinio de]]. ''A vida de D. Pedro I''. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954.
*[[Oswaldo Rodrigues Cabral|CABRAL, Oswaldo Rodrigues]]. ''A História da Política em Santa Catarina Durante o Império''. Edição em 4 volumes, organizada por Sara Regina Poyares dos Reis. Florianópolis : Editora da UFSC, 2004.

=={{Ver também}}==
{{Correlatos|
|commons =Category:Pedro I of Brazil
|wikisource =Autor:Dom Pedro I
|wikiquote =Pedro I do Brasil
|wikilivros =
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}}
*[[Árvore genealógica dos reis de Portugal]]
*[[Família Imperial Brasileira]]
*[[Imperial Ordem da Rosa]]
*[[Hino da Independência]]
*[[Panteão da Pátria]]

=={{Ligações externas}}==
*[http://www.monarquia.org.br/ Casa Imperial do Brasil]

{{start box}}
|-
! colspan="3" style="background: #FBEC5D;" |'''[[Família Imperial Brasileira|Casa de Bragança]]''' <small><br />Nascimento: [[12 de outubro]] de [[1798]]; Morte: [[24 de setembro]] de [[1834]]</small>
|- style="text-align:center;"
|width="30%" align="center" rowspan="5"| Precedido por<br />'''[[João VI de Portugal|D. João VI]]'''
|-
|width="40%" style="text-align: center;"|[[Imagem:Brazilimperialblason2.svg|70px]]<br />[[Imperador do Brasil]]<br /><small>como D. Pedro I do Brasil</small><br />[[1822]]–[[1831]]
|width="30%" align="center"| Sucedido por<br />[[Pedro II do Brasil|D. Pedro II]]
|-
|width="40%" style="text-align: center;"|[[Imagem:Flag Portugal (1707).svg|90px]]<br />[[Lista de reis de Portugal|Rei de Portugal e dos Algarves<br />d'Aquém e d'Além-Mar em África, etc.]]<br /><small>como D. Pedro IV de Portugal</small><br />[[1826]]
|width="30%" align="center"| Sucedido por<br />[[Maria II de Portugal|D. Maria II]]
|-
|width="40%" style="text-align: center;"|[[Imagem:Armas novas duques bragança.png|35px]]<br />[[Duque de Bragança]]<br /><small>como D. Pedro I de Bragança</small><br />[[1831]]–[[1834]]
|-
|}

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{{Monarcas de Portugal}}

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[[ca:Pere I del Brasil i IV de Portugal]]
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[[nl:Peter I van Brazilië]]
[[no:Pedro I av Brasil]]
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[[ru:Педру I (император Бразилии)]]
[[sl:Pedro I. Brazilski]]
[[sr:Pedro I od Brazila]]
[[sv:Peter I av Brasilien]]
[[uk:Педру I (імператор Бразилії)]]
[[vi:Pedro I của Brasil]]
[[zh:佩德罗一世 (巴西)]]

Revisão das 17h04min de 2 de dezembro de 2008