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Pierre-Gaëtan Leymarie

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Pierre-Gaëtan Leymarie (Tulle, 2 de Maio de 1827 - Paris, 10 de Abril de 1901) foi um espírita francês. Destacou-se por ter dado continuidade à obra de Allan Kardec.

Biografia

Descendia de família distinta. Desde cedo, para não sobrecarregar as despesas da família, interrompeu os seus estudos e procurou emprego em Paris, passando a depender do seu trabalho e de seus esforços.

Seguidor das ideias republicanas, foi, à época do golpe de Estado de 1851, arrolado entre os adversários irredutíveis do Cesarismo e constrangido ao exílio. Nele, porém, teve a sorte de contatar a elite do partido proscrito.

Proclamada a anistia, retornou à França, casou-se e assumiu a direção de uma alfaiataria, até 1871. Mais tarde, uma autoridade, referindo-se a ele, afirmou que, se os seus negócios não alcançaram prosperidade, a sua probidade foi escrupulosa e nenhuma reprovação jamais lhe foi feita.

Colaborou com Kardec desde o início da publicação da "Revue Spirite" e das obras da codificação da Doutrina espírita. Juntamente com Camille Flammarion e Victorien Sardou, foi um dos mais ardorosos seguidores de Kardec.

Pouco antes de falecer, Kardec fundou uma Sociedade Anônima, à qual legou os seus bens, com o objetivo de assegurar a difusão do Espiritismo. Leymarie, um dos fundadores, tornou-se o seu administrador. Com a morte de Kardec (1869), passou a exercer as funções de redator-chefe e diretor da "Revue Spirite" (1870 a 1901) e gerente da "Librairie Spirite" (1870 a 1897).

Durante trinta anos, no conturbado período que se seguiu à morte de Kardec, Leymarie manteve-se em atividade. Os trabalhos de William Crookes, na Inglaterra foram divulgadas na revista, e o próprio Leymarie realizou experiências com um médium fotógrafo, obtendo uma série de fotografias, publicada em suas páginas.

Pela ação de Leymarie, as obras de Kardec foram traduzidas para vários idiomas.

Realizou diversas viagens de divulgação à Bélgica, Espanha e Itália.

Participou como delegado do "I Congresso de Bruxelas". Em 1888 foi eleito para ocupar uma das presidências do Congresso Espírita de Barcelona. Nessa ocasião, foi lida uma moção de gratidão, enviada da prisão de Tarragona, por um grupo de condenados a trabalhos forçados, convertidos à fé espírita.

Em 1889 Leymarie organizou o I Congresso Espírita da França.

O "Processo dos Espíritas"

Nessa época, estavam em voga as fotografias de materializações de espíritos. Tendo a "Revue Spirite" publicado algumas, o assunto foi investigado pela justiça francesa quando o fotógrafo Buguet, acusado de uso de meios fraudulentos para a obtenção desse tipo de fotografias, foi processado pelo Ministério Público. Os nomes de Leymarie e Firman foram envolvidos, em vista dos laços que mantinham com Buguet, e desta forma, julgados coniventes na fraude.

Desse modo, a 16 de Junho de 1875, na 7a. Câmara da Polícia Correcional do Sena, em Paris, teve lugar a primeira audiência do rumoroso processo dos espíritas, sendo indiciados por trapaça[1]:

  • Pierre-Gaëtan Leymarie - na qualidade de sucessor de Kardec na gerência da "Sociedade para a continuação das obras espíritas de Allan Kardec" (antiga "Sociedade Anónima do Espiritismo") e da "Revue Spirite";
  • Éduard Buget - médium e fotógrafo belga;
  • Alfred Henri Firman, médium de efeitos físicos estadunidense.

Julgados, Buguet e Leymarie foram condenados a um ano de prisão e ao pagamento de quinhentos francos de multa[2].

No cárcere, Leymarie elaborou uma notável "Memória à Corte Suprema", atestando, perante a sua consciência e os seus filhos, a sua inocência, mostrando-se confiante na decisão final daquele tribunal. Com remorsos, Buguet escreveu ao Ministro da Justiça dando testemunho sobre a inocência de Leymarie, acrescentando que, embora muitas das fotos fossem verdadeiras, devido ao desconhecimento que tinha da Doutrina Espírita, quando não as conseguia com sua mediunidade, praticava a fraude. Nela concluía:

"Lastimo, pois, haver dito, na minha fraqueza, o contrário da pura verdade, renunciando eu à minha mediunidade e pedindo perdão a Deus por esse ato que deploro, pois, que ele serviu para incriminar um homem probo, cuja boa fé se tornou suspeita em face das minhas afirmações."

A viúva de Karcec, Amélie Gabrielle Boudet, já octogenária, consta no processo como testemunha. Cartas de solidariedade de todo o mundo foram enviadas a Leymarie. A Sociedade para Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec recebeu manifestações de simpatia de diversos países, inclusive do Brasil, partindo elas tanto dos encarnados como dos desencarnados.

Pouco mais tarde, anulada a sentença condenatória, Leymarie voltou às atividades, retomando tanto a direção da Sociedade como da "Revue Spirite".

A esposa de Leymarie, Marina, em defesa de seu marido redigiu a memória "Procés des Spirites", fonte essencial para o estudo daquele período da História do Espiritismo.

Obra

  • Histoire du Spiritisme et biographie d'Allan Kardec - trabalho apresentado nos Congressos Espíritas de 1888 e 1889.
  • Oeuvres Posthumes d'Allan Kardec. Paris: Librairie Spirite, 1890. compilação com documentos inéditos deixados por Allan Kardec.
  • L'Évolution et la Révélation - compilação apresentada ao Congresso Internacional Espiritualista (Londres, 1898).

Notas

  1. LEYMARIE, Madame P.-G.. Processo dos Espíritas. p. 32.
  2. Op. cit., p. 39.

  • BARRERA, Florentino. O Processo dos Espíritas: a História de uma Injustiça. São Paulo: Madras, 2004. 87p. ISBN 8573747897
  • LUCENA, Antônio de Souza; GODOY, Paulo Alves. Personagens do Espiritismo. São Paulo: FEESP, .
  • LEYMARIE, Madame P.-G.. Procés des Spirits: Processo dos Espíritas. Rio de Janeiro: FEB, 1999. 254p. fotos. ISBN 8573281987
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