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Policleto: diferenças entre revisões

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{{Nota:|Se procura pelo liberto da corte do imperador Nero, consulte [[Policlito]].}}
[[File:Doriphorus04 pushkin.jpg|thumb|250px|O ''Doríforo'', cópia moderna, [[Museu Pushkin]]]]

'''Policleto''' (em [[Língua grega|grego]]: Πολύκλειτος, [[Transliteração|transliterado]] como ''Polykleitos''; [[Sicião|Sikyon]] ou [[Argos (Grécia)|Argos]], ativo entre c. [[460 a.C.|460]] e c. [[410 a.C.]] <ref>STEINER, Deborah Tarn. ''Images in mind: statues in archaic and classical Greek literature and thought''. Princeton University Press, 2002. p. 39. ISBN 0691094888 [http://books.google.com/books?id=Zah23ru6oCMC&pg=PA39&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR]</ref>) foi um dos mais notáveis [[Escultura|escultores]] [[Grécia Antiga|gregos]], fundador, junto com [[Fídias]], do Classicismo escultórico, e apelidado de "Pai da Teoria da Arte" do Ocidente <ref>POLLITT, Jerome (1995). ''The Canon of Polykleitos and Other Canons''. In MOON, Warren (ed). ''Polykleitos, the Doryphoros, and tradition''. University of Wisconsin Press, 1995. p. 19. ISBN 0299143104 [http://books.google.com/books?id=gSS7zAfRQQkC&printsec=frontcover&hl=pt-BR]</ref>. Também é conhecido como '''Policlito''' ou '''Polícleto de Argos'''. [[Plínio, o Velho]], o chamava de '''Policleto de Sikyon''' <ref>POLLITT, Jerome (1990). ''The art of ancient Greece: sources and documents''. Cambridge University Press, 1990. p. 75. ISBN 0521273668 [http://books.google.com/books?id=XoCNQwkNsLAC&pg=PA78&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR] </ref>.

Quase nada se sabe sobre sua vida pessoal. Um escultor conhecido como [[Policleto, o Jovem]] às vezes é considerado seu filho, e [[Pausânias (geógrafo)|Pausânias]] lhe dá um irmão, Naukydes, mais provavelmente seu sobrinho <ref> MURRAY, Alexander Stuart. ''A History of Greek Sculpture''. Volume 2. ''Under Pheidias and his Successors''. Adamant Media Corporation, 2004. p. 234. ISBN 1421236486 [http://books.google.com/books?id=kqCW1kWQ8xwC&pg=PA235&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR]</ref>. Possivelmente aluno de [[Ageladas]], na [[Idade Antiga|Antiguidade]] ficou conhecido graças às suas esculturas de atletas e a uma colossal estátua de [[Hera]], esculpida em [[marfim]] e [[ouro]], e colocada no templo desta deusa, o ''Heraion'', situado próximo a [[Argos (Grécia)|Argos]]. Mas a enorme fama de Policleto, que atravessou os séculos, deriva principalmente de seu tratado teórico intitulado ''[[Cânone (Policleto)|Cânone]]'', que exerceu profunda influência sobre inúmeras gerações de escultores, onde estabeleceu regras para a sua arte, e de uma escultura sua em particular, o ''[[Doríforo]]'', considerada por muito tempo como o ideal da beleza masculina, corporificando o sistema de proporções que o escultor definira em seu tratado <ref>[http://books.google.com/books?id=gSS7zAfRQQkC&printsec=frontcover&hl=pt-BR POLLITT (1995). p. 19]</ref>. Nenhuma de suas obras originais se conservou até hoje, mas algumas são conhecidas através de cópias romanas. O ''[[Diadúmeno]]'' e o ''[[Discóforo]]'' são outras obras famosas do artista. Policleto tornou-se um escultor popular na [[Roma Antiga|Roma]] tardo-republicana e imperial, foi saudado por uma série de autores antigos e modernos como um padrão de excelência, e em tempos recentes diversos estudiosos têm mais uma vez reiterado a importância de sua contribuição <ref>MOON, Warren. ''Preface''. In MOON, Warren (ed). ''Polykleitos, the Doryphoros, and tradition''. University of Wisconsin Press, 1995. p. xi. ISBN 0299143104 [http://books.google.com/books?id=gSS7zAfRQQkC&pg=PA38&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR] </ref>. Sua reconsagração contemporânea aconteceu entre 1990 e 1991, quando se organizou na [[Alemanha]] a grande exposição ''Policleto: O Construtor do Classicismo Grego'', reunindo todas suas obras conhecidas <ref>BORBEIN, Adolf. ''Polykleitos''. In PALAGIA, Olga & POLLITT, Jerome (eds). ''Personal Styles in Greek Sculpture''. Cambridge University Press, 1999. p. 68. ISBN 0521657385 [http://books.google.com/books?id=7qSsh7agZxEC&pg=PA66&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR]</ref>. Teve muitos discípulos, entre eles Argios, Asopodoros, Alexis, Aristides, Phryno, Dino, Athenodoros e Demeas, mas para nós são todos nomes obscuros <ref>MATTUSCH, Carol C. ''Greek bronze statuary: from the beginnings through the fifth century B.C.'' Cornell University Press, 1988. p. 163. ISBN 0801421489 [http://books.google.com/books?id=90N6G-y0TCgC&pg=PA163&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR]</ref>.

==Seu estilo==
{{AP|[[Escola de Argos]]}}
{{AP|[[Estilo Severo]]}}

Policleto atuou basicamente em Argos, cidade onde se formara importante escola de escultura, conhecida como a [[Escola de Argos]]. Apesar de ter estabelecido tradição desde os [[Período geométrico|tempos geométricos]], ter enviado várias vezes mestres seus para realizar obras de encomenda em outras cidades e ter-se tornado célebre na Antiguidade, esta Escola é pouco conhecida dos estudiosos modernos. Pouco se sabe sobre o que realizaram antes do aparecimento de Policleto, e muito do entendimento atual sobre a Escola se baseia no estilo do próprio Policleto, o que tem dado margem a erros ao se tomar o fruto pela árvore. As relíquias remanescentes, enfim, são poucas. De seus principais integrantes, [[Polymedes]] e [[Ageladas]], quase só conhecemos a fama, e o maior santuário argivo, o ''Heraion'', é pobre em decoração escultural. Dessa maneira faltam subsídios para conhecermos suficientemente como e em que medida a tradição da Escola de Argos modelou a personalidade artística de Policleto, e o estudo de sua formação depende mais de outras fontes. Infelizmente todas elas são de alguma forma imperfeitas <ref> HURWIT, Jeffrey. ''The Doryphoros: Looking Backward''. In MOON, Warren (ed). ''Polykleitos, the Doryphoros, and tradition''. University of Wisconsin Press, 1995. pp. 3-4. ISBN 0299143104 [http://books.google.com/books?id=gSS7zAfRQQkC&printsec=frontcover&hl=pt-BR]</ref>.

===O ''Cânone'', o ''Doríforo'' e o Alto Classicismo===

{{artigos principais|[[Cânone (Policleto)|Cânone]], [[Doríforo]], [[Escultura do Classicismo grego]]}}
O ''Doríforo'', a mais influente escultura de Policleto, foi criado em torno de 440 a.C., originalmente em bronze. Segundo escritores antigos a estátua foi elaborada paralelamente à composição de uma obra teórica, o ''[[Cânone (Policleto)|Cânone]]'', que versava sobre as proporções e beleza do corpo humano, e aparentemente o ''Discóforo'' teria sido o exemplo concreto oferecido pelo autor para ilustração de suas teorias <ref> LEFTWICH, Gregory. ''Polykleitos and Hippokratic Medicine''. In MOON, Warren (ed). ''Polykleitos, the Doryphoros, and tradition''. University of Wisconsin Press, 1995. p. 38. ISBN 0299143104 [http://books.google.com/books?id=gSS7zAfRQQkC&pg=PA38&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR]</ref>. Nem a estátua original nem o tratado sobreviveram. Da primeira ficaram algumas boas cópias romanas, resolvendo parte dos problemas para o estudo do seu estilo, mas do outro, muito menos, apenas alusões na obra de outros autores. [[Galeno]], em ''De Placitis Hippocratis et Platonis'', deixou um fragmento sugestivo, mas até hoje de interpretação controversa. Diz ele que

::''"... a beleza... não está na ''symmetria'' dos elementos, mas na adequada proporção entre as partes, como por exemplo dos dedos uns para com os outros, estes para com a mão, esta para com o punho, este para com o antebraço, este para com o braço, e de tudo para com tudo, como está escrito no Cânone de Policleto. Tendo-nos ensinado nesta obra todas as proporções do corpo, Policleto corroborou seu tratado com uma estátua, feita de acordo com os princípios de seu tratado, e ele chamou a estátua, assim como o tratado, de Cânone"'' <ref>[http://books.google.com/books?id=Zah23ru6oCMC&pg=PA39&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR STEINER pp. 39-40]</ref>.

[[File:Doryphoros.jpg|thumb|left|O ''Doríforo'', a melhor cópia antiga, hoje em Nápoles]]
Embora não seja uma unanimidade, hoje está estabelecido com pouca margem de dúvida que a estátua citada como se chamando ''Cânone'' é a que se conhece sob o nome de ''Doríforo'', cuja melhor cópia está no [[Museu Arqueológico Nacional de Nápoles|Museu Arqueológico Nacional]] de [[Nápoles]] <ref>[http://books.google.com/books?id=gSS7zAfRQQkC&printsec=frontcover&hl=pt-BR HURWIT, p. 11]</ref>. E por "cânone", a tradução literal do grego ''kánon'' significa simplesmente regra. O verdadeiro pensamento de Policleto, suas leis e sua didática continuam, porém, um enigma, mas podemos supor, a partir das evidências disponíveis, que ele se alinhava intelectualmente à vanguarda de seu tempo, partilhando idéias semelhantes com Fídias, Míron, e outros mestres coevos. Ao longo da história os estudiosos têm se esforçado por decifrar o que ele entendia exatamente por ''symmetria'', e por reconstruir o conteúdo perdido do ''Cânone'', tentando descobrir quais teriam sido os números exatos de Policleto para a composição de suas obras de arte. A despeito do esforço, pouco consenso se formou sobre isso, e muito folclore se enraizou mesmo entre os acadêmicos sobre a real substância do tratado, impossível de ser determinada até que se descubra uma cópia, mas todos os escritores modernos concordam que sua arte estava certamente baseada em conceitos matemáticos. É tradicional uma associação do ''Cânone'' com as idéias místico-científico-filosóficas de [[Pitágoras]], mas Jerome Pollitt não se arrisca a confirmá-la, considerando-a puramente especulativa, ou pelo menos impossível de ser provada com as evidências de que se dispõe até o momento, dizendo que o que as fontes literárias sugerem é que o tratado foi um manual bastante objetivo para escultores profissionais dedicado a resolver problemas puramente técnicos, antes do que uma preleção sobre [[estética]] ou [[metafísica]], como tem sido aventado <ref name="POLLITT 1995. p. 22">[http://books.google.com/books?id=gSS7zAfRQQkC&printsec=frontcover&hl=pt-BR POLLITT (1995). p. 22]</ref>. Jeremy Tanner e Deborah Steiner também são cautelosos, mas aceitam a possibilidade da dita associação. Tanner lembra que há uma boa justificativa para deixarmos especulações eufóricas de lado e pensarmos o tratado mais como um manual prático, pois na época de sua escrita ainda havia diversas questões técnicas mal resolvidas no terreno da transferência da forma da figura modelada em argila para sua versão definitiva em mármore, assim seu interesse pelos números bem poderia estar primariamente ligado a uma necessidade real de estabelecer uma régua abstrata única para os escultores, que lhes poupasse o trabalho de construir aparatos mecânicos de medição e transferência de medidas complexos como os que se faziam. De qualquer forma tudo não passa de suposições <ref>TANNER, Jeremy. ''The invention of art history in Ancient Greece: religion, society and artistic rationalisation''. Cambridge University Press, 2006. p. 165. ISBN 0521846145 [http://books.google.com/books?id=qmbctV2X-sEC&pg=PA164&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=Zah23ru6oCMC&pg=PA39&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR STEINER p. 40]</ref>.

Jeffrey Hurwit considera por outro lado um espelhamento da [[Pitagóricos|filosofia pitagórica]] nas concepções de Policleto não só plausível como provável, acrescentando a tudo a possível influência de outro Pitágoras, escultor. Do [[Pitágoras de Samos (escultor)|Pitágoras escultor]], bem reputado em sua época, ele teria adaptado princípios sobre a composição do corpo baseada no ritmo e na proporção das partes entre si. Uma obra que chegou aos nossos dias, intitulada ''Adrano'', e suposta ser de sua lavra ou pelo menos de seu círculo, oferece um elo entre o ''Efebo'' de [[Krítios]], escultor mais antigo, e o ''Doríforo'' de Policleto, na criação de um equilíbrio dinâmico para o corpo. O ''Adrano'' parece refletir o interesse do Pitágoras escultor pelos conceitos do Pitágoras filósofo, que igualmente teriam atraído Policleto. A filosofia Pitagórica, em torno da qual chegou a se organizar uma espécie de seita ou escola iniciática, tinha os [[número]]s como as potências originais do universo, como entes abstratos mas efetivos dos quais derivava a multiplicidade do mundo físico, o qual mantinha sua estrutura e coesão por uma série de relações definidas e harmoniosas, relações que podiam ser reconhecidas nos ciclos e objetos naturais, incluindo o [[corpo humano]], e ser matematicamente expressas. Mas as implicações da filosofia Pitagórica não paravam nas ciências, se estendiam à esfera moral e espiritual. Para Pitágoras até mesmo a ''[[aretê]]'', a virtude por excelência da antiga sociedade grega, podia ser expressa como uma "harmonia quadrada". É importante lembrar que a arte da escultura entre os gregos antigos estava imbuída de uma série de associações e propriedades morais. Em resumo eles buscavam na arte uma forma idealizada que expressasse a perfeição da alma e o bom caráter, e se apresentasse como um espelho dessas virtudes para a educação do povo, pois criam numa identificação tão próxima entre essência e forma que a estética se tornou um indicador de valor [[ética|ético]]. Uma boa estátua não era, pois, o retrato de um indivíduo, mas antes um símbolo de valores coletivos. Se inseria, desta forma, num espaço social bem definido e desempenhava um papel tanto estético como pedagógico dentro da economia da [[pólis]]. Esta coleção de valores sociais incorporados pela arte foi a outra fonte para o estilo de Policleto <ref name="POLLITT 1995. p. 22"/><ref>[http://books.google.com/books?id=gSS7zAfRQQkC&printsec=frontcover&hl=pt-BR HURWIT, pp. 11-12]</ref>.

A escultura grega então atravessava uma fase de profunda e rápida transformação das suas [[escultura da Grécia arcaica|raízes arcaicas]] por meio das recentes inovações dramáticas e naturalistas do [[estilo Severo]], e o estudo da [[anatomia]] humana com fins de reprodução artística em estilo naturalista estava muito avançado no tempo de Policleto, já bem longe da rigidez hierática da arte arcaica, como se observa no ''[[Discóbolo]]'' de Míron, que antecede o ''Doríforo'' em cerca de dez anos. E Policleto na verdade foi um dos inovadores mais importantes, contribuindo decisivamente para a formulação de um estilo escultural a que se chamou de Alto Classicismo, ou Classicismo inicial, de enorme importância para a arte do Ocidente <ref>[http://books.google.com/books?id=gSS7zAfRQQkC&pg=PA38&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR LEFTWICH. p. 38]</ref>. O Classicismo, contudo, iria moderar e controlar a intensidade da expressão emocional que havia sido conquistada pelos escultores Severos, e nesse sentido representou um retrocesso em direção à antiga formalidade arcaica. Por outro lado, levaria a anatomia figurada a um grau de semelhança com a natureza até então inédito na tradição ocidental, e sem paralelos com quaisquer outras tradições de escultura pelo mundo afora. De fato os avanços naturalistas na escultura foram celebrados com o mais vivo entusiasmo pelos escritores e poetas da época, e segundo tudo indica para todos as novidades estavam sendo realmente excitantes. Essa fusão única entre formalismo idealista e veracidade naturalista é a marca do Alto Classicismo, uma tentativa altamente bem sucedida de restaurar o antigo senso de monumentalidade na escultura sem sacrificar a vivacidade e dinamismo, preservando suas capacidades [[mímese|miméticas]] <ref>[http://books.google.com/books?id=Zah23ru6oCMC&pg=PA39&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR STEINER, p. 20] </ref><ref>[http://books.google.com/books?id=gSS7zAfRQQkC&printsec=frontcover&hl=pt-BR HURWIT. p. 12]</ref>. Uma derradeira referência antecessora de Policleto tem sido identificada nos princípios da [[medicina]] de [[Hipócrates]], com sua leis de equlíbrio e compensações de forças antagônicas<ref>[http://books.google.com/books?id=gSS7zAfRQQkC&pg=PA38&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR LEFTWICH, p. 38]</ref>.

O ''Doríforo'' constitui, então, o primeiro grande bronze classicista. Sua figura é a de um atleta nu no auge de seu vigor, trazendo uma lança sobre o ombro esquerdo. O termo δορυφόρος ''doryphoros'' em grego significa "o portador da lança". Seu corpo está em equilíbrio dinâmico, numa solução conhecida como [[contrapposto]] - o peso se apóia sobre uma perna enquanto a outra se encontra fletida em repouso ou a sugerir um movimento congelado no tempo. Esse ligeiro balanço obriga o torso a se curvar em S, emprestando dinamismo à composição. O que parece mais essencial ao ''Doríforo'' é o seu equilíbio postural perfeito. Nele confluem atividade e repouso, tensão e relaxamento, estabelecendo relações dinâmicas entre pares de opostos de formas, num elegante jogo de linhas sinuosas que se fortalecem e se anulam simultaneamente, encontrando expressão nas variadas atitudes dos membros, no desvio da linha frontal na cabeça e na curvatura do torso. Ele parece andar mas ao mesmo tempo a impressão de repouso é perfeitamente convicente, sendo uma brilhante representação da [[harmonia]], da moderação, do autocontrole, da autoconfiança, da beleza, de um princípio ordenador inteligível, tão prezados pelos gregos. Para Christine Havelock, mantendo um pé no ideal e outro no real Policleto conseguiu criar uma ponte efetiva para o entendimento do que pode ser a grandeza humana, e de como essa grandeza pode ser disciplinada e controlada <ref>HAVELOCK, Christine Mitchell. ''The Aphrodite of Knidos and Her Successors: A Historical Review of the Female Nude in Greek Art''. University of Michigan Press, 2007. p. 19. ISBN 0472032771 [http://books.google.com/books?id=1tPxDE8Ul-oC&pg=PA17&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR] </ref>. Algo que se pôde descobrir do sistema de medidas de Policleto a partir do ''Doríforo'' é que ele construía o corpo tendo a cabeça como medida modular para a altura - o ''Doríforo'' tem a altura de sete cabeças. Relações numéricas mais detalhadas são impossíveis de precisar, pois as cópias remanescentes variam ligeiramente entre si <ref>[http://books.google.com/books?id=qmbctV2X-sEC&pg=PA164&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR TANNER. p. 166]</ref>. Sua identificação aconteceu pela primeira vez através do estudo de Karl Friedrichs em 1863, dando início à pesquisa moderna sobre o escultor <ref>[http://books.google.com/books?id=7qSsh7agZxEC&pg=PA66&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR BORBEIN. p. 67]</ref>. Sua anatomia é no conjunto essencialmente correta mas não chega a se demorar em detalhes, e a julgar pelas cópias Policleto antes definia as massas principais, os princípios ideais e gerais da construção, de uma forma sucinta e compacta <ref>[http://books.google.com/books?id=gSS7zAfRQQkC&printsec=frontcover&hl=pt-BR HURWIT. pp. 11-13]</ref>.

Mesmo que só possamos nos fiar com alguma segurança em um punhado de obras para fazermos idéia de sua estatura artística, o que há basta, segundo Adolf Borbein, para formar o quadro de um artista inteligente, perfeitamente consciente de seu trabalho, sumamente habilidoso na técnica e original na concepção, que ocupou uma posição destacada num contexto sociocultural muito dinâmico que tinha a arte nos termos mais altos e lhe dava um papel de relevo na sociedade. Seu estilo revela elementos conservadores dialogando com outros progressivos, sempre sob o controle do intelecto. O Alto Classicismo que ele contribuiu para construir, contudo, não foi senão uma rápida etapa num ''continuum'' de transformação. Seus próprios discípulos já não entendiam perfeitamente ou não queriam seguir à risca a palavra do mestre. Ele mesmo fugiu ao cânone em alguns momentos, e em poucas décadas já se havia criado um novo cânone a partir do trabalho de [[Praxíteles]] e [[Lísipo]], com uma figura mais alongada e uma abordagem mais sentimental e mais sensual, mais humanizada, mesmo quando se retratava as divindades, descartando boa parte do idealismo para se aproximar do individual <ref>[http://books.google.com/books?id=7qSsh7agZxEC&pg=PA66&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR BORBEIN. pp. 84-90]</ref>.

[[Ficheiro:Discophoros BM.jpg|thumb|O ''Discóforo'', cópia do [[Museu Britânico]]]]
[[File:Amazon03 pushkin.jpg|thumb|''Amazona Sciarra'', cópia moderna no Museu Pushkin]]

==Outras obras==
Crê-se que Policleto tenha sido um escultor prolífico. Os relatos históricos, apesar de registrarem diversas obras, mui provavelmente não deram a lista completa. Plínio elenca uma série de obras de Policleto: o ''[[Diadúmeno]]'', o já citado ''Doríforo'', um homem esfregando a pele, um grupo de homem e javali, dois meninos jogando dados, um [[Hermes]], um [[Hércules]], um comandante militar envergando sua armadura, e uma estátua de Artemon. Dessas todas apenas as duas primeiras foram identificadas com boa segurança em cópias romanas. Outras identificações são mais controversas. Pausânias aumenta a lista de Plínio, mencionando um par de carregadores de cestos, chamados ''Kanephoroi'', e uma série de estátuas de atletas; não as descreve, mas cita os nomes dos modelos: Pythokles de Elis, Thersilochos de Corcyra, Aristion de Epidauros, Xenokles de Mainalos, Antipatros de Miletos e Kyniskos de Mantineia. O mesmo autor refere estátuas de deidades: um [[Zeus]] Meilichios para Argos, um grupo de [[Apolo]], [[Leto]] e [[Artemis]] instalado no monte Lykone, e uma [[Afrodite]] para Amyklai, mas sobre todas destaca a imagem de [[Hera]] feita para o templo da deusa em Argos <ref>[http://books.google.com/books?id=XoCNQwkNsLAC&pg=PA78&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR POLLITT (1990). pp. 76-78] </ref>.

===Discóforo===
O ''[[Discóforo]]'' é provavelmente a mais antiga obra de Policleto que conhecemos. Sua identificação foi estabelecida por Carlo Anti em 1920, em seu livro ''Monumenti Policletei'', trabalho que permanece até hoje a referência essencial dos estudos sobre a obra de Policleto, mas que também marcou o início de uma fase de estagnação nas pesquisas, só reativadas na década de 60 <ref name="BORBEIN, p. 67">[http://books.google.com/books?id=7qSsh7agZxEC&pg=PA66&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR BORBEIN, p. 67]</ref>. O ''Discóforo'', como seu nome descreve, segura na mão esquerda, pendente junto ao corpo, um disco. Mas o disco é uma reconstrução tardia do modelo, é possível que ele segurasse originalmente outro objeto. Existem três variantes do modelo, infelizmente nenhuma delas uma cópia literal, mas elas sugerem que o objeto faltante poderia ser uma lança, o que faria do atual ''Discóforo'' um outro ''Doríforo''. O que ele teria na outra mão, cujo braço se projeta tão decidido para a frente, continua um mistério <ref>[http://books.google.com/books?id=7qSsh7agZxEC&pg=PA66&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR BORBEIN, p. 74]</ref>.

===Amazona ferida===
Plínio cita que certa ocasião Policleto participou de um concurso, juno com Fídias, [[Kresilas]], [[Phradmon]] e [[Kydon]], para elaboração de uma ''Amazona ferida'', saindo-se vencedor. Três modelos de ''Amazona ferida'' chegaram à atualidade, com várias cópias, mas sua atribuição é altamente controversa. Um deles, o tipo ''Amazona Mattei'', parece plausivelmente descartável, contudo a crítica não conseguiu decidir se é a ''Amazona Capitolina'' ou a ''Amazona Sciarra'' a criação de Policleto <ref>[http://books.google.com/books?id=7qSsh7agZxEC&pg=PA66&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR BORBEIN, p. 83]</ref>.
[[Ficheiro:Diadoumenos-Atenas.jpg|thumb|left|O ''Diadúmeno'', exemplar do [[Museu Arqueológico Nacional de Atenas]]]]

===Diadúmeno===
Segundo Pausânias a importância do ''[[Diadúmeno]]'' se provou logo, na soma de cem talentos, imensa para a época, paga por ela. Foi criado em torno de 440-430 a.C. e copiado várias vezes; diversos exemplares ainda existem, mas todos incompletos. Seu nome significa "o portador do diadema", e ele de fato está em atitude de atar a fita de um diadema à cabeça, sinal de sua vitória nos Jogos. A cópia de Atenas mostra ao seu pé um arco e uma aljava de flechas. Foi identificado modernamente com argumentos convincentes por Wolfgang Helbi e Adolf Michaelis pouco depois da identificação do ''Doríforo'' em 1863 <ref name="BORBEIN, p. 67"/>. O Diadúmeno apresenta uma versão modificada do Cânone, mais flexível, e privilegiando a frontalidade em detrimento dos outros pontos de vista, o que para Borbein o torna um elo de ligação com o Classicismo Tardio <ref>[http://books.google.com/books?id=7qSsh7agZxEC&pg=PA66&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR BORBEIN, p. 79]</ref>.

===Estátua de Hera===

Foi obra da fase final de Policleto. Pausânias a descreve como sentada em um trono, de grandes dimensões, e coberta de ouro e marfim. Sobre a cabeça tinha uma coroa com as figuras das [[Graças]] e das [[Estações]]. Numa das mãos tinha uma [[romã]], e na outra um cetro. Ele recusa-se a entrar em detalhes sobre a romã, dizendo que se tratava de um mistério que não devia ser profanado. Mas fala que no cetro havia um [[cuco]], e explicava dizendo que no [[mito]] quando Zeus se apaixonara pela deusa se transformara nessa ave para se aproximar amigavelmente da amada. [[Strabo]] disse que ela era a mais bela de todas as obras já criadas, mas que perdia para as obras monumentais de Fídias em termos de grandiosidade <ref>[http://books.google.com/books?id=XoCNQwkNsLAC&pg=PA78&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR POLLITT (1990). p. 78] </ref>.

==Recepção moderna ==

Em vários parágrafos acima já foi aludido à fama e influência de Policleto em seu tempo e ao longo dos séculos, e como ele foi citado por autores antigos em termos sumamente favoráveis. Seu prestígio sobreviveu através da Idade Média, do Renascimento e dos períodos seguintes, recebendo nova força no século XIX, com os estudos de [[Johann Joachim Winckelmann|Winckelmann]], [[Adolf Furtwängler|Furtwängler]], Brunn e vários outros peritos. Depois do estudo de Anti no início do século XX o interesse por Policleto se dispersou, mas as academias já haviam sido feito um trabalho importantíssimo. Nos anos seguintes o foco se dirigiu para outros temas, mas em vários deles um maior conhecimento sobre Policleto se revelou indispensável, como a [[escultura do Helenismo]], por causa da grande quantidade de cópias de suas esculturas feitas nessa época e pela duradoura escola de discípulos que Policleto fundou, e a [[escultura da Roma Antiga]], porque a recepção de sua obra ali foi sempre favorabilíssima e influente. Com isso nas últimas décadas ele novamente tem ganhado uma apreciável quantidade de estudos concentrados em sua obra individual. Na década de 90 foi saudado como o fundador do Classicismo grego, recebendo grande atenção da mídia e das instituições ligadas à arte e arqueologia na [[Europa]] <ref>[http://books.google.com/books?id=7qSsh7agZxEC&pg=PA66&dq=polykleitos&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR BORBEIN, pp. 66-68]</ref>.

== {{Ver também}} ==
{{Commonscat|Polykleitos}}

*[[Escultura da Grécia Antiga]]
*[[Fídias]]
*[[Mímese]]
*[[Aretê]]
*[[Kalokagathia]]

==Referências==

{{reflist}}

[[Categoria:Escultores da Grécia Antiga]]

[[ar:بوليكليتوس]]
[[bg:Поликлет]]
[[ca:Policlet]]
[[cs:Polykleitos]]
[[de:Polyklet]]
[[en:Polykleitos]]
[[es:Policleto]]
[[ext:Policleto]]
[[fi:Polykleitos]]
[[fr:Polyclète]]
[[gl:Policleto]]
[[he:פוליקליטוס]]
[[hr:Poliklet]]
[[hu:Polükleitosz (szobrász)]]
[[is:Polýkleitos]]
[[it:Policleto]]
[[ja:ポリュクレイトス]]
[[lt:Polikletas]]
[[nl:Polykleitos de Oudere]]
[[pl:Poliklet]]
[[ru:Поликлет Старший]]
[[sh:Poliklet]]
[[sr:Поликлет]]
[[sv:Polykleitos]]
[[tr:Polykleitos]]
[[uk:Поліклет із Аргоса]]

Revisão das 10h44min de 27 de outubro de 2009

nao tira seus viadinho